Eu: Tu me assustou. — coloquei a mão no peito.
Eduardo: Anda logo!
Fui guiada pelo Eduardo até a entrada da casa. Meu coração estava acelerado e as minhas pernas tremiam. Pareceu bem melhor na minha imaginação. Não achei que seria tão difícil.
Eduardo: Me ajuda com isso.
Eram os dois homem. Ambos estavam sem cabeça e... as línguas ao lado dos corpos. Tive uma ânsia de vômito imediata. Coloquei a mão na boca e segurei para não colocar tudo para fora.
Eduardo: Se você vomitar, te mato também. — apontou-me a faca — Procura alguma coisa pra gente comer.
Fui até a cozinha e encontrei várias taças de vinho e seringas usadas. Abri a geladeira e procurei alguma coisa que servisse. Felizmente, encontrei um frango e uma panela de arroz. Aqueci os dois no microondas e os coloquei no balcão. Eduardo veio até mim, limpando o sangue na camiseta, e largou a faca na pia. Senti calafrios.
Eu: Como tu... — respirei fundo — conseguiu?
Eduardo: Não interessa.
Devorou o frango inteiro. Juro. Não vi nem vestígios do frango. Eduardo o comeu como se estivesse faminto há dias. Me contentei com o arroz. Depois que terminamos, ele foi até a sala e se deitou no sofá.
Eu: A gente precisa ir.
Eduardo: Eu sei. — limpou os dentes com as mãos — Seu carro é bom?
Eu: Como assim?
Eduardo: Bom como o carro deles? — apontou os cadáveres.
Eu: É um Astra.
Eduardo: Velho. — afirmou — O carro deles é novo.
Eu: Não vou roubar carro de ninguém.
Eduardo: Alícia! — em tom severo — A hora que encontrarem os corpos e derem conta do meu sumiço, você acha que vão se importar com o carro?
No que eu me meti?
Fomos até o meu carro, libertei o Silver e ele foi logo fazendo festa para mim e o Eduardo. Para minha surpresa, o Eduardo se abaixou e acariciou a cabeça do cão. Aquilo foi tão louco de digerir, que achei que era sonho. Retiramos as coisas do meu carro e colocamos no Cruze do secretário.
Eduardo: Acabou.
Eu: O que a gente faz agora?
Eduardo: Some. — convicto — São Paulo, não é? Procurar seu irmão...
Eu: Vai fazer isso por mim?
Eduardo: Não. Só quero a carona. — sorriu — E também... se me acharem, posso dizer que você me sequestrou.
Eu: E matei aqueles dois no SEU modus operandi? Claro.
O assassino riu. Não daquele modo exibicionista, mas de uma maneira calma e sincera. Me senti confusa.
Eduardo: Entra aí, amigo. — abriu a porta para o cachorro, que pulou rapidamente — Bom garoto.
Dirigimos por duas horas. A estrada parecia infinita. E a minha fome também. Olhei para o Eduardo e fiquei encarando a forma como ele dirigia. Por um minuto, até me pareceu normal.
Eu: Tô com fome.
Não me respondeu. Vasculhei o porta-luvas do carro e liguei o rádio. Ele me fitou enfurecido. Ignorei.
Eu: Tu comeu, Eduardo. Eu não. Nem o Silver.
Eduardo: O nome dele é Silver?
Eu: É. — seca.
Eduardo: Combina com ele.
Eu: Tu não vai parar pra eu comer, né? — desesperançosa.
Eduardo: Pode apostar que não.
Eu: O cachorro vai morrer de fome.
Eduardo: Sério? — olhou-me com estranheza — Eu juro que carreguei um saco de ração pra cá.
Deus... eu só quero comer.
Quando eu já estava me conformando com a ideia de morrer de fome, ele estacionou em um posto fuleiro de beira de estrada. Cheio de caminhões e prostitutas.
Eduardo: Cinco minutos.
Eu: Tu não vem?
Eduardo: Ah... pode ser. — sorriu — Podemos comer, fingir ser uma família feliz... descer o cachorro também, né? Por que não? — irônico — Ninguém me conhece mesmo.
Eu: Já entendi. — abri a porta do carro.
Eduardo: Espera. Usa isso aqui. — me entregou dinheiro — NADA de cartão, ouviu?
Eu: Tudo bem.
Coloquei o capuz do moletom por cima da cabeça e fui até a lanchonete. Pedi alguns lanches de bauru e peguei coisas para comer durante a viagem. Voltei para o carro. Eduardo dirigiu mais alguns minutos e enfiou o carro dentro de uma floresta.
Eu: Que horror. — reclamei — Bom pra achar um... — olhei para ele — assassino aqui.
Eduardo: Engraçada.
O homem desceu do carro e abriu a porta para o cão. Serviu uma tigela de ração e se sentou em uma pedra. Entreguei um dos lanches a ele.
Eu: Comprei pra ti também.
Eduardo tomou o alimento da minha mão e o devorou como fizera com o frango. Minha ficha parecia não ter caído ainda.
Eu: A polícia deve estar atrás de mim. Dei o maior número de pistas possíveis para a Fernanda. Ela deve ter dito da minha obsessão por ti. — mordi meu lanche e falei de boca cheia — Tô ferrada.
Mais uma vez, ele não falou nada. Montou no carro e deu partida. Ele ia me abandonar ali. Não acredito. Depois de tudo que eu fiz...
Sentei-me de novo sobre a pedra e coloquei as mãos na cabeça, me sentindo uma i****a. Pouco tempo depois, os faróis do carro iluminaram a minha face e adentraram ainda mais a mata. Eduardo se juntou a mim novamente e disse:
Eduardo: Vamos dormir aqui.
Eu: Achei que tu ia me largar nesse fim de mundo.
Eduardo: Eu ia. — sorriu malicioso — Sorte sua eu ter gostado do cachorro.
O sol tocou meu rosto e me mostrou um lugar totalmente diferente da floresta. As árvores se moviam rápido e o barulho do motor era nítido. Olhei para o lado e vi o Eduardo dirigindo. O problema é que ele não se parecia com o habitual.
Eduardo: Você gosta disso, não? — sorriu — Gosta de ser fodido como uma puta... você é um bom irmão, passarinho. — riu de uma maneira enlouquecida — Ela não ia suportar como você suporta. Você sabe disso... por isso faz tão bem... ah... — gemeu — eu vou gozar!
Eu: Eduardo?
Eduardo: Shhh... — colocou o dedo na boca em sinal de silêncio — vai acordar sua mãe, Eduardo.
Falou isso e caiu desmaiado no volante. No mais rápido reflexo do meu corpo, puxei o freio de mão e fiz o carro parar em meio a estrada. Para nossa sorte, só havia a gente ali. Silver começou a latir nervoso.
Eu: Calma, Silver.
Desci do carro, puxei o corpo do Eduardo para fora e o arrastei até o banco do passageiro. Foi difícil, mas consegui. Coloquei-o de qualquer jeito onde eu queria que ele ficasse. Montei no banco do motorista e dirigi. Levou uma hora para ele acordar.
Eduardo: Que lugar é esse? — sonolento.
Eu: Estamos chegando na rodovia.
Eduardo: Ficou louca? — gritou zangado — Tenho que trocar esse carro antes.
Eu: Roubar outro carro?
Eduardo: Você quer passar na frente dos radares com isso? — bateu no painel do carro — Estamos sendo procurados, Ivanov! Eles vão rastrear a placa.
Encostei o carro na estrada e o olhei desesperada. Nos encaramos por alguns minutos. Tive vontade de bater nele e ele em mim.
Eu: Se prometer não surtar, pode dirigir.
Eduardo: E-eu — gaguejou — tive um apagão?
Eu: Sim. Só por isso eu peguei o carro.
O silêncio reinou. Eduardo abriu a porta e se retirou do carro. Trocamos de lugar novamente. Ele ligou o rádio e colocou em uma música qualquer, talvez procurando evitar um diálogo comigo.
Eu: O que nós vamos fazer aqui?
Eduardo: Silver, diga para a sua dona parar de me questionar. — sereno — Quantos você contou?
Eu: Os dois velhos, um punhado de cães... só.
Eduardo: Mesma coisa que eu.
Abriu a porta do carro e saiu andando em direção ao portão de entrada da fazenda. Fui atrás.
Eu: Tu ficou maluco? Eles vão...
Tapou minha boca com a mão. Um velho com um macacão típico de fazendeiro veio nos receber. Meu coração ficou acelerado.
: Posso ajudar com alguma coisa? — enxugando as mãos sujas de terra na roupa — Não conheço vocês.
Eduardo: Minha esposa e eu nos perdemos. — coçou a cabeça — O senhor teria um telefone?
: Claro. — sorriu — Deus ensinou a ajudar todo mundo.
Eduardo: Isso... — olhou para trás — nosso cachorro também está faminto.
: Coloquem o carro aqui dentro.
Voltamos para o carro. Meu corpo ainda não estava confortável com aquilo. Meus nervos não pararam de tremer. Eduardo colocou o carro no gramado deles e nós descemos. A casa era simples e antiga. Uma senhora com um avental veio até nós e me saudou com um abraço.
: Essa é a minha esposa, Olga. — cordial — Eu sou o Basílio.
Eduardo: Alexandre e Silvana. — nos apontou — Aquele é o Silver.
Basílio: Gosto de cães, mas eles comem as galinhas. — riu — Tenho uns aqui também.
Olga: Vocês devem estar com fome, né? Entrem.
Nos sentamos à mesa. Não dei uma palavra. A minha voz simplesmente não saía. A preocupação não deixou que ela saísse.
Eduardo: Delicioso, Olga. — sorriu de orelha a orelha — Fico muito feliz pela gentileza de vocês.
Basílio: Por nada. Vocês são daqui?
Eduardo: Não... somos de Caxias do Sul.
Basílio: Engraçado. — riu — Não reconheci o sotaque.
Depois da refeição, fui tomar um banho. A água morna bateu nas minhas costas e relaxou meus músculos. Divino. Já estava sentindo falta disso.
Eduardo: Abre, Ivanov. — bateu na porta.
Eu: Não terminei ainda.
Foi impressão minha ou ele me chamou pelo nome? O que houve com a "Silvana"?
Eu: Tu está aí ainda? — minha voz saiu tremula.
Eduardo: Sim.
Peguei a toalha do gancho e a enrolei no corpo. Abri a porta e o encontrei parado lá. Eduardo me empurrou para dentro e entrou também. Minha garganta ficou travada com tanto nervosismo. Tive medo de perguntar se o casal de velhinhos estava bem.
Eu: Por que não me chamou de Silvana?
Eduardo: Seu nome não é esse.
O assassino se virou para o lado oposto ao meu e tirou as roupas. Não consegui tirar os olhos do corpo dele. As cicatrizes e os arranhões me deixaram perturbada. Ele ligou o chuveiro e começou a se lavar. Após encará-lo por muito tempo, desviei-me daquela visão incômoda.
Eu: Os velhinhos... — hesitei. Ele me encarou — eles estão bem, né?
Eduardo: Não. Estão morrendo.
Eu: Como assim? — desesperada — Eles foram legais e tu fez isso com eles...
Eduardo: i****a.
Eu: Vou ligar pra polícia! — me virei para procurar meu celular — Tu matou eles por nada... achou o que? Que o velho queria sexo contigo também? Ah, todo mundo quer f***r contigo, né? O viado mais desejado do...
Antes mesmo que eu dissesse mais alguma coisa, ele colocou as mãos no meu pescoço e me beijou. Minha toalha caiu. Senti meus pés de distanciarem alguns centímetros do chão. Com a mão que lhe sobrou livre, ele apertou forte o meu seio e depois deslisou o dedo até a minha v****a.
Basílio: Tá tudo bem aí, gente? — riu — Não vão provocar a minha senhora, hein... esse velho aqui está aposentado.