CAP 9 "As vezes meu problema é maior que eu, mas tenho certeza que não é maior que Deus."

1026 Words
Triana Muller... Não conseguiria dormir de maneira alguma, Rachel ligava para os nossos conhecidos e hospitais em busca de Alexei. Se ele não chegasse logo, íriamos até o necrotério da cidade. Não queríamos nem pensar nessa hipótese de morte, porém não poderíamos simplesmente descartar e ignorar o desespero de Marcela, ao praticamente nos expulsar da favela. De tudo que ela me falou, uma frase martelava minha mente incessantemente... se não for embora, o Monstro aparece aqui. Quem era o tal monstro? Era por volta das seis da manhã e Rachel ligou a tv, quem sabe alguma reportagem não nos ajudaria a saber o paradeiro de Alexei. Por outro lado cogitava se não estávamos paranoica e nosso amigo logo chegaria arrasado e cansado, por ter passado toda a noite com um carinha qualquer. Infelizmente as notícias no jornal local da manhã, não eram tão otimistas quanto os meus pensamentos. "O rosto de Monstro, o traficante no topo do poder na comunidade Faz Quem Pode, ainda é desconhecido pela polícia. Porém, parte do seu nome foi revelado. Segundo fontes fidedignas, o bandido se passou por um sambista de nome Maxsuel dos Santos na quadra de escola de samba da favela." Olhei para Rachel que apenas conseguiu esboçar: — Putta que pariiu!!! Em mim, subiu uma náusea incontrolável e corri para o banheiro. No sanitário expeli apenas gosmas, meu estômago estava vazio. — Você está bem Tri? — Rachel gritava da sala. — Não, mas eu vou ficar. Fechei a tampa do sanitário e sentei sobre ela. Depois da ânsia de vômito, veio a vergonha, a decepção e por último, a sensação de medo, do quão me arrisquei por um carinha podre. Escovei meus dentes para tirar o amargor da boca, depois tomei um banho esperando que a água me purificasse de alguma forma. (...) Sai do banheiro secando meu cabelo com a toalha. Rachel estava na sala em posição de preocupação. Sentada ao sofá, sua cabeça estava inclinada para frente, repousada sobre as duas mãos. Os cabelos cor de mel, caídos a frente do rosto, tapando um pouco sua face. Me pus a sua frente, me ajoelhando no tapete, com as mãos joguei suas madeixas para trás e pude ver que minha amiga chorava. — Não Rachel! Por favor não. — Eu já pensava o pior. — Um grupo de colegas da facul, fizeram contato com conhecidos que estavam na quadra e receberam essa foto. — Rachel tinha a voz embargada, foram as mãos trêmulas que ergueram o celular para me mostrar uma imagem perturbadora. Alexei com os olhos revirado, rosto espancado e boca espumando. — Morto? — Pergunto o óbvio. E minha amiga e eu apenas nos abraçamos em um pranto de profunda tristeza. — O que será que aconteceu? — Não faço ideia Tri. Temos que avisar a família do Alexei. — Sim, e ajudá-los no que for preciso. — Corroboro. (...) As últimas horas foram sofridas, depois que soubemos da morte de nosso amigo. Rachel e eu tivemos que assumir algumas responsabilidades. Alexei morreu de overdose por ingestão de cocaína, eram o que dizia no laudo necroscópico. No parecer do legista, informava que ao invés de inalar, meu amigo ingeriu uma extensa quantidade da droga. A mãe de Alexei, era uma senhora viúva e de idade e a ajudei em toda essa parte, o fato de ser enfermeira me faz ter um pouco mais de estômago para aguentar esse tipo de assunto. A polícia abriu inquérito para saber o que levou meu amigo a morte, havia dois indícios a serem seguidos, suicídio e homicídio. Senhor delegado apostava mais na segunda opção, segundo ele, Alexei parecia ter sido vítima de uma prática dita como espumante, onde forçam a pessoa ingerir uma grande dose de cocaína, até que ela venha a óbito. Fora que ele tinha evidentes sinais de espancamento. O delegado precipitadamente, já falava em homofobia. Foi duro, muito sofrido se despedir de alguém tão jovem e cheio de vida. O enterro de Alexei foi realizado em sua cidade natal, sua mãe estava inconsolável e culpando a cidade do Rio de Janeiro. A entendo, mas isso não tinha apenas a ver com o local dito violento. Tinha mais a ver, com as escolhas erradas que fazemos, tinha mais a ver, com o que eu deixei se aproximar de mim e dos meus amigos. Por mais que Rachel me diga mil vezes que não sabemos o que de fato aconteceu e que mesmo que tivesse relação com Max, a culpa não era minha. Me sentia sim, muito culpada. Rachel com medo de represálias, queria mentir para a polícia e que eu fizesse o mesmo. Tentei avisá-la que isso não daria certo, mas seu medo foi maior que a razão. E eu a deixei me dominar com suas súplicas. No dia de nosso depoimento, marcaram as duas para o mesmo horário, quando chegamos, fomos postas em salas diferentes. Fiz o que ela havia me pedido e menti dizendo que viemos para casa tranquila como em um dia normal e achamos que Alexei ficou namorando com alguém. Estava nítido que o delegado não acreditava em nada do que eu dizia, contudo fui até o fim. Tive que voltar atrás, quando o policial me pediu o celular, dizendo que ficaria retido para averiguação. Foi aí que contei toda a verdade. Não irei dizer que sofri para apontar a foto de Maxsuel dos Santos para a polícia. Se fazendo de falso ele ganhou o meu carinho, mas a pessoa que criei afeto, não existia, era totalmente uma farsa e se ele é o responsável pela morte de Alexei, que apodreça na prisão. A investigação seguiu em segredo de justiça, contudo, uma semana depois, Maxsuel dos Santos de vulgo Monstro, estampava as páginas de recompensa aos traficantes mais procurados do Rio de Janeiro. Nesse período pequeno que passou, tentei pôr minha vida em ordem, cogitei ir para O Sul morar com minha mãe, dada as circunstâncias, qualquer pessoa diria ser o melhor a fazer. No entanto, não estava em meus planos largar tudo o que conquistei por medo de sofrer represálias. O que tiver de acontecer, será apenas a vontade de Deus.
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