Maxsuel, vulgo Monstro...
— Fala pra mim Max, na moral, ta amarradão na crente? — Enquanto voltávamos de moto para casa, Marcela não parava de tagarelar.
— Tô afim da galega ué, qual problema?
— Não é só tá afim, tô sacando você todo emocionado para cima da mina, escondendo quem é de verdade. Tá com vergonha de ser o Monstro?
No mesmo instante eu faço um muxoxo. — Fala sério pirralha, vai brincar de boneca e não me enche p***a.
Vi pelo retrovisor Marcela subir e levantar os ombros, como quem diz... f**a-se. Contudo, assim que desceu da moto na porta de casa, minha irmazinha terrível me fez um alerta. — Não deveria mais vou te deixar ligado. Se a crente é importante pra você, é bom contar logo a ela quem de verdade você é, o viadinho está te sacando e se ele fizer primeiro, talvez ela fique na raiva contigo.
Não respondi nada, apenas fiquei a olhando entrar dentro de casa. Não daria razão a uma pirralha. Acho que a Galega não é do tipo que babaria por um rei do tráfico. Agora iria fortalecer o movimento, o pessoal que saiu da quadra deve está todo indo para boca. Tenho que me manter por perto senão n**o doidão chapado no pó, faz do movimento uma zona.
(...)
Triana Müller...
Toda vez na volta para casa, sou obrigada a dirigir, mesmo detestando andar pelas ruas do Rio na madrugada. O problema é que Rachel e Alexei sempre queimam o pé e sobra para mim o volante.
— Mona me diz uma coisa. — Do banco detrás Alexei inicia uma conversa, enquanto ao meu lado no carona Rachel dormia. — O bofe gostoso, ele te disse que faz o quê da vida?
— E precisa? Bom, ao menos sei que ele é sambista. E depois a gente só ficou, não rolou nada demais para eu pedir o currículo dele.
— Ai Mona, estou te achando tão envolvida que fico preocupado. — Alexei discorre, e bom, fico sem entender o porquê da preocupação.
— A gente trocou telefone, se ele me chamar, na primeira oportunidade sutilmente eu pergunto. Assim tirar grilos da sua cabeça. Bandido sabemos que ele não é, ao menos não procurado. Com tanta reportagem cobrindo a escolha do samba da Faz Quem Pode, seria improvável ele fazer parte estampando a face.
— O Nem da Rocinha, era traficante, procurado e compositor do samba da Estação primeira de Mangueira, então não diz nada. Para de bancar a Alice querida.
— Deus me livre Alexei, vou procurar saber sobre isso. Mas traficante tenho certeza que não é.
Max não tinha o perfil, não o estereótipo que existia na minha cabeça. O corpo lotado de tatuagem como se fosse um jornal, cheio de ouro e roupas parecendo outdoor de marca cara. Chegamos em casa, tomei um banho e foi dificíl dormir, minha cabeça fervilhava entre as lembranças dos beijos de Max e as desconfianças de Alexei.
(...)
Era um plantão tranquilo, até a ala de Alexei que costumava ser a mais movimentada, estava um marasmo. Eu pensei que Max me chamaria, depois dos amassos que demos no dia da quadra, estava muito enganada. Passaram se três dias e nem um oi. Também não o chamaria, de certo para ele eu não passo de um lance, tola sou eu que fico querendo romance.
Meus pensamentos foram contrariados assim que meu celular apitou informando que havia chegado mensagem. Peguei o aparelho despretensiosa, poderia ser Rachel, minha mãe, ou qualquer um dos meus irmãos. Foi o que pensei erroneamente, pois era o Max.
"Bom dia, Galega!"
"Bom dia!" Um tempo ocioso se formou, maltratando minha ansiedade, até que ele voltou a escrever.
"Hoje tive coragem para te chamar, não queria parecer um grudendo, um cara chato que fica em cima."
"Não iria parecer, estava mesmo esperando me chamar."
"E porquê não me chamou." Ele me contestou.
"Não queria parecer uma grudenta, uma garota chata que fica em cima." Ele riu, pondo como resposta várias letras k em sequência. Depois, disse uma frase que fez meu ventre ascender.
"Gruda em mim amor! Pode ter certeza que eu não vou querer soltar." Respirei fundo e fingi não ver o que ele havia escrito, mudando totalmente o assunto. Conversamos bastante naquele dia, entre uma troca de sonda ou soro ou qualquer outro procedimento, eu respondia as mensagens tentando não parecer tão efusiva. Assim seguimos, conversando todos os dias por horas, até o dia da escolha do samba na quadra da Faz Quem Pode.
(...)
O clima era total de festa, já se sentia do lado de fora da quadra. Max e eu vinhemos nos falando por meio de mensagem, em todo o trajeto da minha casa até a quadra. O bobo disse que me esperaria ao lado de fora, à direita da quadra, segundo ele não se aguentava de saudade. Tinha uma pequena multidão a frente do local em que Max disse que ficaria, tentava vê-lo por entre as brechas que os corpos vestidos de verde e branco brilhos os me permitiam.
— Calma mona! O bofe vai aparecer. — Alexei fala com seu tom debochado, Rachel havia ido estacionar o carro.
— Não enche Alexei. — Ele apenas ri.
Por fim, o pequeno agrupamento se dissipou, revelando por trás o homem que anda preenchendo meus pensamentos. Assim que me viu, abriu seu sorriso branco e perfeito. Queria diminuir com rapidez a distância entre nós, apertei o passo deixando Alexei para trás, quando já me aproximava, Max fechou o semblante e fez um gesto com a mão pedindo para eu parar. Não entendi o que se passou para que ele me impedisse de ir ao seu encontro. Observei parada ele empurrar o peito de um sujeito m*l encarado, corpulento como ele, um pouco mais velho, lotado de ouro e armado, dava para ver os volumes ao redor da cintura.
Não sabia o que estava rolando, mas não deixaria Max sozinho com aquele sujeito. Eu tinha esse lado defensora sem juízo, por sorte, Alexei me alcançou e me segurou, impedido que eu fosse me meter em um B.O. que não tinha a menor ideia do que se tratava. E poderia me prejudicar.
— Ficou biloló Mona?
— O mau encarado foi para cima dele e se...
— E se nada! Ele é cria daqui, sabe se virar. Não pode sair se metendo em problema dentro de favela não sua doida. — Era difícil confessar, mas Alexei tinha total razão.
— E aí, vamos entrar? — Rachel chegava por ali, e colocou um braço sobre o meu ombro e outro sobre o ombro de Alexei, abraçando nós dois simultaneamente.
Eu olhei na direção em que Max havia ido com aquele homem estranho e ele já tinha saído do meu campo de visão. Não os via mais. — Bora entrar Mona, quando menos esperar seu Bofinho vai está contigo lá dentro.
— O que tá pegando? — Rachel perguntou curiosa.
— Nada, vamos entrar. — Aceito a proposta. — Sou só eu pagando de preocupada com um cara que conheci ontem.