Muito animada, para uma aleijada em uma manhã de sábado

1120 Words
Brianna poderia dizer que conseguiu acordar estranhamente de bom humor. Talvez fosse a possibilidade de esclarecer algumas coisas com Marco ou ainda, conseguir absorver alguma coisa importante que a fizesse se lembrar das coisas sobre a noite do acidente no mirante. Provavelmente isso não seria muito fácil mas ela estava totalmente disposta a tentar e essa sensação de que “era possível” fez com que ela saísse do seu quarto animada, ainda durante a manhã: - Bom dia – ela diz sorrindo, enquanto percebe a irmã e a mãe tomando café da manhã juntas na sala de jantar. - Bom dia – a mãe responde, desde o incidente com os advogados e as acusações de Bella, a mãe simplesmente a evita – passou bem a noite? - Sim – ela responde – eu passei bem sim, obrigada. - Sim – Bella responde com certo desdém, como se a sua opinião pudesse ser minimamente importante para qualquer pessoa – deve ter dormido muito bem, não vê como ela está animada? Talvez até muito animada, para uma aleijada em uma manhã de sábado... Aquilo tinha sido c***l. O tipo de coisa c***l e absurdamente s*******o que Bella diria para absolutamente qualquer pessoa, porque ela não tinha o menor filtro. A mãe até pensou em expressar uma certa perplexidade no momento, mas essa ideia acabou deixando sua boca antes mesmo que ela pudesse ser totalmente desenvolvida para ser dita. Brianna simplesmente encarou a irmã e saiu da sala, rindo alto com um certo desdém que impressionaria todos que conheciam sua personalidade forte, porém dócil e incapaz de criar qualquer tipo de problemas para qualquer pessoa. Achou melhor ir para o seu quarto e descansar um pouco mais. Tinha pouco ou quase nada para fazer em casa quando Ben não estava e devido ao seu progresso na reabilitação, ela estava dispensada das sessões de sábados. Precisava de Benjamin por perto, mas sabia que o irmão estaria fora o dia todo, primeiro trabalhando e depois do fim do seu turno, ajudando Carol com o pub. Não podia fazer muito pela cunhada e sabia disso, por isso, achava melhor ficar de fora. O pai foi a visita que a surpreendeu durante a manhã: - Como se sente hoje? – ele pergunta. - Acordei bem – ela responde – é claro que Bella fez um bom trabalho para saturar a minha paciência logo cedo... - Precisamos conversar – ele diz pacientemente – que tal darmos uma volta? - Porque dar uma volta? – ela questiona. - Por que a sua mãe tem uma mania irritante de ouvir por trás das portas – ele ri – e isso anda bem mais acentuado nesses últimos dias. Brianna concordou em sair com ele para dar uma volta. No fim ela sabia que ele a levaria para o escritório e foi exatamente o que ele fez: - Acho que aqui podemos conversar com calma – Patrick diz sentando-se em sua mesa, depois de ajudar a filha se acomodar em uma das poltronas – e também acho que é bom para você sair um pouco de casa e espairecer. - Sim – ela concorda – com toda a certeza é sim... - Quando aos últimos acontecimentos: aquele advogado porta de cadeia que apareceu em nossa casa aqueça noite, eu não sei como foi que a sua irmã teve acesso à ele – o pai parece um pouco preocupado – tem coisas demais acontecendo e eu acredito que vocês duas precisam se acertar. - Eu não fiz nada para ela – Brianna diz, em sua própria defesa. - Ela está se sentindo ameaçada pelas coisas que Benjamin falou para ela e principalmente sobre a história daquela jaqueta – o pai termina. - Mas você sabe que eu sai de casa com aquela jaqueta – ela protesta – e com foi que ela simplesmente aparatou dentro do guarda-roupas da Bella? Ela sabe de coisas, sabe de coisas que não quer contar! - Tem ideia do quanto essa picuinha entre vocês duas pode ser prejudicial para a imagem da nossa família? Para os negócios... – ele pergunta. - E a sua única preocupação é essa? – Brianna questiona – O fato de que minha irmã sabe mais do que diz saber e de que está notoriamente encobrindo alguma verdade, não te incomoda nem mesmo um pouco? O clima passa a ficar um pouco mais tenso: Patrick tenta explicar que não tem a ver apenas com ela e sim com toda uma cidade esperando pela solução daquilo que ele chama de “pendência” e não deixa de esconder que o desfecho mais simples e aceitável para toda a população da pequena cidade seria, sem sombra de dúvidas, ela admitir tentativa de suicídio por não se conformar com o fim do seu relacionamento com Marco ou por qualquer outro motivo banal. É claro que a simples menção à aquele absurdo deixava Brianna totalmente possessa, tão possessa que simplesmente deixara o pai falando sozinho e saíra do escritório dele, caminhando com dificuldades até o elevador, de onde desceu até o estacionamento, para telefonar para o seu irmão, pedindo um resgate. A intenção era essa, mas assim que chegou ao vazio e frio espaço no subsolo, o telefone tocou: era Voller. - Oi Brri – ele diz com o seu sotaque carregado – tudo bem com você? - Oi Voller – ela diz, menos animada do que estaria, caso ele tivesse atendido no dia anterior – eu estou... Mais ou menos, mas não importa. E como você está? - Acho que bem – ele diz – e sentindo a sua falta. - Acho que eu também sinto a sua falta – ela confessa. - Pensei em passar pela sua casa para te ver, o que você acha? – ele pergunta. - Não estou em casa – ela responde – na verdade, eu estou pensando em como fazer para voltar para casa, nesse momento. - Onde foi que se meteu? – ele pergunta, preocupado. - Estou no estacionamento do supermercado do papai – ela conta – eu vim com ele, mas discutimos... - Chego até ai em alguns minutos – ele diz – ai pegamos um táxi, o que acha? - Pode ser – concordo e desligo o telefone, para aguardar pacientemente pelo meu inesperado resgate. Voller não demorou. Ele misteriosamente nunca demora, parece que está sempre um ou dois passos à frente de qualquer coisa, principalmente quando essa coisa tem a ver com salvar a minha pele ou me tirar de alguma situação realmente r**m na qual eu me coloquei totalmente sozinha. Ninguém espera passar tanto ódio em uma conversa informal com o próprio pai, então, não posso estar sendo julgada por estar metida nessa encrenca.
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