Brianna tentou telefonar para Voller durante o dia, mas foi em vão. Primeiro, fora de área ou desligado e no fim do dia, simplesmente chamou e ele não atendeu. Ela estava se sentindo extremamente i****a pro ter brigado com ele: sentia falta dele e dos momentos que os dois tinham passado juntos então, acabou passando a tarde de sexta feira sozinha em seu quarto, porque não tinha absolutamente nada mais para fazer.
Benjamin sabia que Marco havia enviado mensagens para a sua irmã na noite anterior, e disse à ela que deveria telefonar, que deveria ouvir o que ele tinha para falar, por mais irrelevante que pudesse parecer. Segundo o seu irmão, ele acabaria deixando alguma coisa importante escapar. Bri pegou o telefone, discou os números e deixou gravando a ligação:
- Alô? – ele atende com voz sonolenta às três e meia da tarde de sexta feira.
- Oi Marco – ela diz tentando parecer animada – é a Bri.
- Oi Bri – ele diz – tudo bem com você?
- Tudo bem sim e com você? – ela continua a conversa trivial.
- Eu estou bem – ele responde – feliz por ter ligado...
- Sim – ela responde – você me disse que precisávamos conversar.
- Claro – ele suspira – eu não sei como é que vou te dizer isso...
- Isso o que? – ela pergunta.
- Tem muita coisa que eu preciso te dizer, Brianna – ele continua – eu só não sei como vou fazer isso, entende?
- Sim – ela responde um pouco desanimada – eu entendo.
- Será que podemos nós nos encontrar? – ele pergunta.
- Acho que sabe que eu tenho limitações de locomoção – Brianna diz de forma a tentar deixar aquilo um pouco mais divertido do que realmente era.
- Eu posso ir até ai? – ele pergunta.
- Claro – Brianna responde.
- Amanhã à tarde, pode ser? – ele pergunta.
- Pode ser sim – ela confirma e eles ficam combinados para que ele a visite na tarde seguinte.
Bri sabia muito bem que o irmão, Benjamin não ia gostar da ideia e que muito provavelmente mandaria que ela deixasse um gravador ligado dentro do quarto e que tivesse cuidado, muito cuidado, mas ela ainda se mantinha confiante, acreditando que qualquer coisa que pudesse ter acontecido com Marco e ela naquele mirante tenha sido apenas um infeliz acidente.
Conforme o dia se aproxima do seu fim, ela já começava a ficar ansiosa... Ela sabe que essa ansiedade toda é para poder falar com Jorge e logo começa a aguardar pela ligação dele enquanto faz de conta que está arrumando alguma coisa dentro do seu quarto – que está arrumado, não tem nada para fazer lá, especificamente – mas ela fica por lá, querendo paz e privacidade para atender aquela chamada. São sete e meia da noite quando o telefone celular finalmente toca. Sem nem mesmo olhar quem está ligando, apenas atendo:
- Jorge? – ela pergunta.
- Oi Bri – ele diz animado – tudo bem por ai?
- Tudo bem sim – ela diz – e por ai? Tudo certo?
- Sim – ele diz – fora o excesso de trabalho e de horas de estudo, acho que eu consegui me adaptar.
- Fico feliz – ela diz, mesmo tendo uma parte dela absurdamente triste pela ausência dele.
- E como vão as coisas? Está registrando tudo? – pergunta.
- Sim – ela confirma – eu estou fazendo um bom trabalho com isso – na verdade, está mentindo, tem dias que não escreve nada em seus registros.
Talvez por uma desconfiança de que ela estivesse mentindo, Jorge insiste em uma conversa breve sobre a importância de registrar e então, Jorge toca no assunto que no fundo, ela não queria que ele tocasse:
- E o rapaz, Jonah? – ele questiona.
- Bem, aparentemente, nós estávamos realmente saindo juntos – Brianna conta – ele tinha diversas fotografias nossas, algumas até com meus amigos...
- E os seus amigos? – ele pergunta.
- Não tem muita gente falando comigo, como se eu tivesse feito algo de errado – ela conta contrariada – e eu não sei exatamente se posso confiar neles. Marco pediu para falar comigo.
- E você aceitou? – ele pergunta.
- Sim – ela responde.
- Sabe que pode ser perigoso, não sabe? – ele pergunta.
- Eu sei – ela diz – mas ele pretende vir até aqui, acho que não tem muito o que ele possa fazer.
- Concordo, mas ainda assim, esteja atenta – ele pede e depois de uma breve pausa, admite – sinto a sua falta.
- Também sinto – ela diz com imenso pesar e sente que muito provavelmente, a falta que sentia dele era diferente do que a que ele dizia que sentia dela.
Os dois de despedem depois de um tempo e Brianna se mantém imóvel, encarando o seu diário sobre a mesa de cabeceira: estava até mesmo empoeirado, tinha muitos dias que ela não escrevia nem mesmo uma única linha e podia confessar que tinha um pouco de medo de que, com o passar do tempo, as coisas passassem a ficar ainda mais confusas do que já estavam em sua cabeça.
Havia uma grande quantidade de páginas arrancadas naquele que era para ser o seu diário: ela havia enviado todas essas páginas para Jorge, semanas antes e é claro, que havia ficado realmente estranho de manusear. Não havia nada antes...
“Dia sabe-se lá Deus qual...
Querido diário,
Sei que talvez eu tenha sido bem negligente com as minhas lembranças nos últimos tempos: muita coisa aconteceu, muita coisa foi revelada e no fim das contas, eu não registrei nem mesmo uma pequena parcela disso – e sei que isso é uma coisa da qual eu não deveria me orgulhar.
As páginas anteriores – onde eu registrei coisas das quais eu me lembrei – acabei enviando para que Jorge pudesse ler e dar o seu diagnóstico e sim, parece bizarro precisar enviar coisas para ele e não poder sentar-se em frente dele e reclamar por longos e exaustivos minutos sobre tudo o que tem acontecido.
Apareceu um cara, que aparentemente, era o cara com quem eu estava saindo antes dessa m***a toda acontecer. Eu tenho certeza de que realmente nós estávamos saindo, porque temos fotos juntos e um histórico de coisas que parecia ser exatamente o tipo de coisas que eu adoraria ter feito com alguém como ele. O nome dele é Jonah e agora, parece fresco em minha cabeça, várias coisas que fizemos juntos.
Ao mesmo tempo que me lembrei disso, eu me lembrei de Marco Antonio dizendo para mim que era para que eu esquecesse Jonah, e bem, acho que eu me esqueci. Ainda não consigo saber o que houve comigo no dia do meu acidente, mas eu tenho certeza de que Marco estava lá, e ele disse para mim, naquele mirante, que eu deveria esquecer de Jonah.
Eu estou tentando parecer um pouco mais “normal” e fisicamente, consigo fazer várias coisas e ser mais independente. Fui à inauguração do gastropub da minha cunhada e bem, estive saindo com Voller algumas vezes, antes de brigarmos. Mas enfim, eu resolvi escrever isso para falar de coisas que agora eu consigo provar. Espero que eu me lembre, eu preciso realmente me lembrar”.
Brianna largou o seu diário de volta na mesa de cabeceira e tentou dormir. Ela sabia que o dia seguinte seria com toda a certeza, um dia difícil então, realmente precisava estar preparada para isso e uma boa noite de sono era, sem sombra de dúvidas, uma das melhores maneiras de se preparar.