Se eu soubesse que era assim eu nem vinha...

1374 Words
A terça feira por fim amanheceu. Talvez minha expectativa pelo encontro com Jonah fosse tão alta que eu simplesmente não olhei a caixa de emails... Erro bobo, eu sei. Mas vamos lá, acordei e fiz minha sessão de fisioterapia. Evoluí consideravelmente, dou vários passos, mas ainda tenho momentos onde minhas pernas falham, e eu acabo caindo. Essa era a parte mais difícil, estar confiante e decidida e de repente, cair. Era como reaprender a caminhar, era como começar lá da estaca zero, e eu me sentia uma i****a às vezes, fazendo alguns exercícios, porque pareciam bobos demais e desnecessários, mas naquela manhã, poderiam pedir-me que engatinhasse pelo chão como um bebê que eu o faria, faria com o coração leve: eu estava confiante de que daria mais um passo em direção à minha recuperação. Voller chegou no horário de sempre: perto das duas da tarde, e meu encontro com Jonah era as três. Ele parecia nervoso – será que foi a pegação no tapete da sala ontem? Provavelmente foi! – mas não me deixou na mão, e quando faltavam cinco minutos para as três, ele saiu contente empurrando a minha cadeira de rodas. Sentamos na mesa que costumávamos sentar – e a atendente já a deixava sem uma das cadeiras, no corredor, para que eu pudesse me acomodar mais rapidamente – nunca soube se ela fazia isso para que eu me sentisse melhor ou para que eu não atrapalhasse o intenso fluxo de clientes naquele que era um dos poucos points daquele fim de mundo. - Tudo bem? – Voller pergunta, nervoso – Sabe, que se sentir desconfortável é só me avisar que eu te levo de volta, certo? - Certo – respondo – obrigada – encaro ele sorrindo – obrigada de verdade por vir comigo. - Brianna – ele diz sorrindo, enquanto desliza os dedos pelo meu rosto – sabe que eu faria tudo por você, não sabe? Eu estou olhando para Voller – estou sim – mas alguém chegando toma a minha intenção de imediato: Jonah, com certeza aquele era o cara, e o motivo pelo qual eu provavelmente deveria esquecer ele, era o sorriso lindo, as roupas escolhidas a dedo, o perfume intenso e delicioso e o ramalhete de flores coloridas que ele trazia. - Bri – ele diz assim que me avista e caminha rapidamente em minha direção, sem nem mesmo cumprimentar Voller: quando dou por mim o estranho sorridente está ajoelhado ao meu lado, ele tem os olhos marejados e segura meu rosto – eu rezei para que estivesse bem - Oi Jonah – eu provavelmente não escondi a expressão de quem não consegue sentir toda aquela i********e, o que é bom, porque ele levanta e vai para a cadeira, contendo a sua efusividade – tudo bem? Obrigada por vir... - Eu estou bem – ele diz sorrindo – e não me agradeça, sabe que eu queria vir – ele encara Voller – oi, eu sou o Jonah, ex namorado da Bri. - Oi? – eu o interrompo – Ex namorado? - Não se lembra? – pergunta ele. - Infelizmente não – eu respondo sem jeito. - Tudo bem – ele pega minha mão com delicadeza e a beija – tudo bem mesmo, a gente conversa sobre isso... - Eu sou o Voller – ele diz corajoso, era franzino e esquisito perto de Jonah, com seu lindo e sexy porte atlético – amigo da Bri – ufa, amigo, menos m*l, pensei por um segundo que ele se apresentasse como atual... - É um prazer – sorri Jonah e logo volta-se para mim – Bri, é muito bom te ver. - Obrigada – digo sem jeito. - Como lembrou? – ele pergunta. - Não sei – suspiro – um som, e eu lembro de ouvir “alguém que você deveria esquecer” e aí, eu lembrei do seu nome, no mesmo segundo... - Nós namoramos – ele diz de repente – por três meses e meio – ele completa. Eu sou primo do alemão, enfim, eu vim em um feriado, nos conhecemos... – ele parece nervoso – as coisas fluíram, sei lá, era legal, e eu pedi você em namoro, prometi voltar nas férias... Mas eu passei na prova para fazer o meu intercâmbio, estávamos curtindo muito o verão juntos – ele sorri – mas seus pais me pegaram no seu quarto naquela noite – ele diz sem jeito – e a briga foi bem f**a, eles me proibiram de te ver – ele ri – a gente saia escondido, vê se pode... - Eu não... – fiquei sem jeito, como assim pegaram no meu quarto? Não levava nem mesmo Marco para o meu quarto, imagina o que meu pais teriam pensado? - não me lembro de nada disso. - Tudo bem - ele novamente pega a minha mão e a beija - eu não esperava que lembrasse, é tanta coisa. E as nossas fotos? - Provavelmente eu apaguei tudo - digo envergonhada - procurei e não encontrei nada, a não ser a foto no seu Instagram.... - Eu falei que ia deixar aquela foto lá, você ficou furiosa, ficou triste quando eu fui, mais triste ainda quando eu falei que era melhor terminarmos e que você devia aproveitar o seu último ano. - Você terminou comigo? - pergunto, um tanto desolada. - Achei que era o melhor a ser feito - ele diz, ainda que pareça contrariado - Talvez eu tenha me enganado, acho que eu embarquei e o Marco veio correndo atrás de você, com o papo de conversar, acertar as cosas... - Éramos amigos, ele sempre esteve comigo - digo em defesa. - Sim, mas depois de mim, ele tentou voltar, várias vezes... - suspira Jonah. Aquilo começava a fazer sentido, de verdade. A playlist, eu estava triste por Jonah, Marco realmente poderia ter ido atrás de mim, poderia ter dito que Jonah era alguém que eu deveria esquecer, e tudo fazia sentido. Ele pode ter ficado com raiva, pode ter me empurrado, eu posso ter ficado com raiva, e ter caminhado sem olhar para onde ia, pode ter sido um acidente, eu poso ter apenas me desequilibrado... Mas ele não me ajudou, ele simplesmente, foi embora. Ele falhou comigo, em um momento, ou em vários e aquilo doía. Não por ele ter sido meu namorado, mas porque éramos amigos, por que ele me ligou, porque eu liguei para ele, ele sabia que eu estava perdida e triste, e procurando respostas, mas ele simplesmente me deixou perdida, sendo que era a única pessoa que sabia exatamente tudo o que havia acontecido naquela noite no mirante. Conversamos por mais um tempo, por vezes, Voller fazia alguns comentários, sobre coisas que eu comentara saber ou conhecer e não saber de onde, muitos flashes, eram desses momentos que eu aparentemente havia vivido com Jonah. Quando o meu ex finalmente foi embora, horas depois, eu me sentia exausta e sim, precisei encarar a fúria nos olhos de Voller: - Se eu soubesse que era assim, eu nem vinha – ele diz sério. - Não entendi – falo fingindo estar confusa mas sim, eu entendi sim. - Eu não precisava vir encontrar o seu ex namorado atleta intercambista – ele diz bem magoado. - Não sabia que ele era meu ex namorado - respondo. - Vem cá, você se lembra? – Voller me encara sério e por uma fração de segundos meus olhos se fecham e eu não escuto nada, nem mesmo a musica insistentemente alegre daquela sorveteria, naquele segundo, lembrei de muitas coisas. Como se um filme passasse em minha mente. - Preciso ir para casa – digo com a mão na cabeça – Voller, eu sinto muito. - Está tentando fugir da nossa conversa? – ele pergunta e percebo que ele está com ciúmes de Jonah. - Eu juro que não – suspiro – eu só não estou... m***a – coloco a outra mão na cabeça. - Tudo bem – ele diz por fim – vou te levar. Minha cabeça parecia que iria explodir, meu olhos pareciam que saltariam das órbitas a qualquer momento... Voller despediu-se de mim com um "fica bem" e saiu sem nem mesmo me deixar responder. Sim, eu estava totalmente perdida e ele, estava com ciúmes.
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