Quando Ben e eu voltamos para casa, o clima estava ainda mais estranho do que quando havíamos saído e em parte, eu tinha certeza de que era por causa da advertência de Ben para Bella, sobre a “obstrução de justiça” antes de sairmos. Papai e mamãe estavam sentados na sala, o que era estanho pro já ser tão tarde, havia um carro estranho estacionado em frente à nossa entrada e eu sabia que Bella estava em casa, havia mais alguém. Ben tentou adivinhar quem era antes de entrarmos. Segundo ele “era melhor prevenir do que ter de remediar”, mas foi apenas perda de tempo. Decidimos entrar:
- Boa noite – Ben diz assim que entramos.
- Oi pessoal – eu digo, passando pela porta logo atrás dele e a fechando.
- Venham até aqui, por favor – o nosso pai pede, em seu tom autoritário.
- Acho que estamos encrencados – Ben diz em tom de brincadeira, tentando deixar o clima mais descontraído.
- Esse é Anderson Marques – papai apresenta um homem na casa dos quarenta anos, sentado na poltrona ao lado de onde estava a minha irmã – ele é advogado.
- Prazer, senhor Marques – eu digo tentando ser simpática.
- E ai? – Ben simplesmente ignora o homem para encarar o nosso pai – O que um advogado faz em nossa casa, uma hora da manhã?
- Vocês poderiam me responder – papai diz – já que foi Bella quem chamou ele até aqui.
- Entendam – minha irmã diz – eu me senti coagida e ameaçada...
- E agora – o homem encara meu irmão – sabe que eu preciso fazer uma denúncia formal, que provavelmente vai te afastar – o homem diz sério, encarando Ben.
- É sério isso, Bella? – ele pergunta.
- Sim – ela diz, mas já está um pouco hesitante – é bem sério, o que você fez, é absurdo.
- Preciso levar Bri para o quarto – Ben disse – eu volto em um instante.
Eu entendi que tudo o que meu irmão queria, era ganhar um pouco de tempo para pensar ou mesmo consultar alguma coisa. Caminhei lentamente até o meu quarto, com ele atrás de mim. Nossos pais não fizeram objeções e com isso, eu entendi que talvez, ele estivesse nos ajudando com o que Ben precisava:
- Desgraçada – ele diz baixinho assim que entramos no quarto – o seu notebook...
- Claro – eu alcanço o computador para ele que logo que liga o aparelho, começa a digitar freneticamente – era Marques, não era? – ele pergunta.
- Sim – eu respondo – era sim...
- Ele representou diversos familiares do seu ex namorado em processos pequenos – ele diz – ele é associado do escritório de advocacia “oficial” da família.
- Acha que ele está aqui para que? – pergunto.
- Nos deixar com medo – ele responde – vai propor um acordo, tenho certeza.
Ben pesquisa mais algumas coisas. Três minutos haviam se passado e eu já estava de pijamas, afim de não levantar suspeitas. Desligo o notebook e ele volta para a sala. Eu fico escutando atrás da porta não posso negar que eu estou morrendo de curiosidade.
- Certo, senhor Marques – Ben diz assim que volta para a sala – essa visita não é bem oficial, não é mesmo?
- Não entendo a sua pergunta – o homem responde.
- Quer dizer, o senhor está na minha casa, fora do seu horário normal de trabalho e tudo mais... – Ben o encara – eu sei que não é minha irmã que está pagando os seus honorários, bem como sei que não é o meu pai.
- Está me acusando, Benjamin Barnett? – o homem parece nervoso.
- Não – meu irmão sorri – o senhor me ameaçou, tão logo entrei por aquela porta... Enfim, quero compreender com o que eu estou lidando aqui... Eu não vejo motivos para Bella sentir-se ameaçada com o que eu falei para ela, somos irmãos. Foi uma brincadeira de mau gosto.
- Mas a sua irmã pode entrar com uma representação contra... – o homem protesta.
- Será mesmo? – Ben pergunta – Ela tem quinze anos, meu pai ainda é o responsável legal por ela. Mas, caso ela venha a dar continuidade, tenho certeza de que vai precisar se preocupara mais com o que ela anda escondendo do que com o que eu ando falando por ai...
Benjamin sai da sala. O homem despede-se e vai embora. Bella corre para o seu quarto e o meu pai, caminha apressado atrás de Benjamin até o meu quarto:
- Que história é essa? – papai pergunta em voz baixa, furioso.
- Eu falei “obstrução de justiça” para a Bella mais cedo – Ben confessa – ela ficou no caminho, fazendo cara f**a para nós dois antes de sairmos.
- E de onde foi que ela conseguiu esse advogado? – eu pergunto.
- Não sei – papai responde – ela perguntou à mãe de vocês dois quando é que voltavam e depois de um tempo, esse cara chegou, apresentou-se como representante dela...
- Ele não pode representar ela – Ben diz – e vamos precisar entrar com um processo contra ele, apenas por ele ter atendido ela e vindo até aqui. Ela tem quinze anos, ela não fez isso sozinha...
O silêncio toma conta do quarto. Papai pergunta se tem alguma coisa a ver com a jaqueta que encontramos nas coisas dela e Ben confirma. Nosso pai pede que nenhum de nós faça idiotices, nos deseja boa noite e sai do quarto. Benjamin, que havia prometido à Carol que voltaria para dormir com ela, acaba telefonando e dizendo que precisa ficar em casa. Sei que ela não vai gostar disso, mas entendo que ele possa se sentir um pouco ameaçado com tudo o que está acontecendo.
Na manhã de sexta-feira as coisas não parecem muito melhores: Bella passa o dia no quarto e nossos pais entram e saem de lá por diversas vezes. Nosso advogado aparece perto do meio dia, papai e Bella assinam um termo e Benjamin é convocado para assinar também. Eu não faço ideia do que esta escrito, mas meu irmão comenta que é alguma coisa um “pedido formal de desculpas” e que qualquer coisa que tenha sido encontrada com ela, não pode entrar como prova em nenhum tipo de processo, o que a eximiria de qualquer culpa, afinal, éramos família, independente de qualquer outra coisa. E é claro que Ben não concordava, mas no fim das contas, ele tinha consciência de que a ameaça havia sido uma brincadeira de muito mau gosto.