O sábado amanheceu estranho: nublado e pesado, e em parte, meu mau humor contribuía para um clima não muito amigável. Recusei um convite de almoço com meus pais, um convite para ir ao parque com meu irmão e Carol e um convite de Voller para tomarmos um sorvete, eu queria ficar sozinha em meu quarto, para poder procurar o máximo de informações sobre aquela pessoa cuja qual eu somente sabia o nome: Jonah Andrews.
Comecei pelo óbvio: redes sociais e bingo! Eu o encontrei, e uma parte de mim o reconheceu instantaneamente: ele tinha os olhos castanho escuros, pele morena, cabelos longos, trançados e um sorriso lindo, eu conseguia lembrar daquele sorriso, eu com certeza conhecia aquele cara. Éramos amigos, estávamos presentes nas redes sociais um do outro e com um pouco de paciência, inclusive, encontrei uma foto minha, quer dizer, comigo, no perfil dele. A legenda dizia apenas "ao infinito e além" e eu sorri, parecia que conseguia ouvir alguém dizendo aquilo para mim.
Tentei o numero de telefone que havia em minha agenda, e parecia não existir mais. Arrisquei uma mensagem nas redes sociais, nunca, em toda a minha vida, eu precisava tanto me lembrar de alguém que eu deveria esquecer.
"Oi Jonah, tudo bem? Tentei contato pelo seu celular e não tive retorno... Mudou de número? Precisava conversar com você"
Enviei - não havia outro jeito, precisava esperar pacientemente por uma resposta que talvez nunca chegasse, mas era um risco que eu havia decidido que iria correr. Soltei o notebook ao meu lado e esperei pacientemente por horas, até acordar assustada co ma notificação de nova mensagem:
" Bri, quanto tempo! Eu estou bem sim, e você? Se recuperando? Pensei que nem mesmo se lembrasse de mim, quando eu soube do houve, eu pensei em voltar, mas sabe que eu não podia... Lamento tanto! Lamento também não ter enviado mensagem, o pessoal contou o que houve e disse que você estava confusa, não quis te confundir ou prejudicar ainda mais. Mas estou feliz que ainda se lembre de mim. Sinto saudades suas, de verdade... Aqui está meu novo número, me chama, por favor"
Encarei com seriedade a tela do meu computador: éramos íntimos? Ele sabia que tinha acontecido comigo? Que pessoal? Tínhamos amigos em comum? Que vida era essa que eu estava levando que não conseguia me lembrar..? Digitem os número me meu celular e chamei, chamada internacional, Nova Zelândia? Que m***a era aquela?
- Oi Bri - a voz grave e rouca atende empolgada - que bom que ligou.
- Oi Jonah - engulo em seco, eu reconheço a voz, sim, mas não sei exatamente o que ela deveria me dizer - tudo bem com você?
- Acho que agora eu estou melhor, eu falei ainda ontem com o Alemão sobre você, vou passar uns dias por ai, tem uns feriados aqui e eu pensei em te ver - ele suspira - ele achava melhor não, mas agora que ligou, talvez possa decidir isso por si mesma.
- Claro que eu quero te ver - eu respondo, mas logo me controlo - quer dizer, se você soube o que houve, sabe que eu não estou bem, tipo, caminhando e tal... - digo sem jeito, porque estou dizendo isso?
- Tudo bem - ele responde - eu não me importo, quero ver você, preciso saber se está bem, eu fiquei preocupado... Mas depois de tudo o que aconteceu, achei melhor não tentar contato com a sua família.
- Jonah - eu digo séria - eu lamento, mas eu só consigo me lembrar do seu nome - digo sem jeito - não recuperei minha memória, é um grande quebra cabeças e não sei se em algum momento eu vou conseguir montar.
- Isso é sério? - ele parece desconcertado - apenas o meu nome?
- Sim - eu digo sem jeito - e lembrei e achei que eu precisava falar com você, eu nem mesmo sabia que você não estava aqui...
- Podemos nos ver quando eu for? Quer dizer, eu chego na segunda feira à noite, podemos marcar? - ele parece estranho - Os seus pais, eles não gostam muito de mim, caso não se lembre, então não acho que te visitar em casa seja uma ideia boa.
- Tem uma sorveteria aqui perto - respondo - pode vir aqui na terça, à tarde?
- Sim - ele responde - com toda a certeza, estarei aí às três, pode ser?
- Pode sim - eu respondo - e muito, muito obrigada, Jonah, você parece ser um cara bem bacana.
- Com certeza eu sou - ele diz brincando - ou você não teria nem mesmo olhado para mim, Bri.
Nos despedimos e eu procurei por horas alguma coisa que me remetesse à esse cara, uma foto, uma anotação, um papel de bala... E não encontrei nada. Aquela situação era totalmente terrível, como eu poderia ter "olhado" para alguém e nem mesmo registrado algo? Porque ele tinha uma foto minha com aquela legenda esquisitona e veio com esse papo estranho de eu nunca ter olhado para ele se ele não fosse legal? Namorei com esse cara, é isso?
Benjamin chegou em casa e queria saber do meu progresso, eu não parecia muito empolgada, mas ele certamente ficou, além de preocupado, é claro:
- Como espera que eu deixe você ir encontrar um desconhecido que os nossos pais não gostam? - ele pergunta.
- Acho que eu não pedi permissão - respondo - sabe que eu preciso ver esse cara... Vou pedir ao Voller para ir comigo - eu digo decidida - sempre vamos à sorveteria, seria bem comum.
- Sim, super comum - meu irmão concorda.
Passei o resto do fim de semana nervosa, ansiosa, com a mente muito, muito mais agitada do que normal. Eu não conseguia lembrar de nada a respeito dele, mas parecia que eu confiava nele, independente dos meus pais não terem aprovado. Voller passou a tarde de domingo comigo. Eu não estava muito confortável com isso, à princípio, mas conforme o tedio ia me dominando, acabei por aceitar a visita e foi divertido, de toda forma. Acho que meus pais não gostam muito dele, ele é bem esquisito, inclusive, ri como uma hiena raivosa e as vezes parece estar no mundo da lua...
A Bella detesta quando ele vem aqui. Repete que não basta ser irmã da esquisita, ainda precisa receber o cara que todas as garotas estão afim e que ela desconhece a razão – mentira, ele é lindo, meio boboca, mas lindo, e ela sabe disso, tanto quanto eu sei, mas faz de conta que não, porque parece encantada demais com a ideia de "namorar" o Marco...
Então, no domingo à tarde, eu pedi carinhosamente ao Voller para que ele me acompanhasse na tarde de terça feira, na sorveteria, para encontrar o tal do Jonah. Ele pareceu meio receoso no começo, mas eu o chantageei, lembrei que ele disse que me ajudaria no que fosse possível, e eu o lembrei que ir à sorveteria era algo totalmente possível e fácil de ser feito, não precisava de nenhum esforço absurdo. Tínhamos um acordo, assim como tínhamos um acordo sobre estudar gírias e ditados populares na segunda feira, durante a tarde.
Foi difícil dormir, eu estava agitada e ansiosa, esperava que Jorge respondesse minhas mensagens, que me enviasse ao menos um "recebi" sobre o diário, mas eu não era i****a e sabia que aquilo nem mesmo havia chegado na casa dele no Chile, mas meu coração não parecia muito preocupado com isso não, ele me fazia checar a caixa de emails a cada dois minutos, mais ou menos, normalmente menos, e quando eu finalmente consegui adormecer, sonhei coisas estranhas, realmente estranhas e totalmente sem sentido.