- O que é isso? – Benjamin está em meu quarto, curioso, encarando um pacote de papel pardo bem feito no qual estou trabalhando.
- Uma coisa que eu preciso fazer – respondo – na verdade – corrijo – uma coisa que você vai precisar fazer por mim, maninho.
- Porque é que eu acho que não é uma boa ideia? – ele pergunta, aproximando-se para ver mais de perto.
- É uma ótima ideia – eu digo entusiasmada – remessa internacional, vamos enviar isso aqui, para o Doutor Mendéz – digo decidida.
- Certo – meu irmão parece um pouco contrariado – e oque exatamente é isso? – ele aponta para o volumoso pacote.
- O meu diário – respondo.
- Não é mais fácil manda um email? – pergunta Ben.
- Acho que papel tem mais impacto – respondo.
- Claro, se ele precisar jogar na cabeça de alguém, mas é para ler – ele debocha.
- Sim, eu sei – respondo – ainda assim, existe uma arte por trás de toda a estrutura da caligrafia, que pode ser analisada, por exemplo, ao ler um manuscrito, ele poderia compreender se eu tinha pressa ou se escrevi com calma, se senti raiva ou se estava tensa...
- Quem foi que te falou isso? – pergunta Ben com um sorriso brincalhão.
- O próprio Jorge Mendéz – eu respondo – me lembro de ter pedido para digitar o meu diário e ele mandou que eu escrevesse a mão – eu ri – agora ele que trate de ler.
- Tudo bem – suspira meu irmão por fim – amanhã cedo deixo isso no correio para você.
- Muito obrigada, irmãozinho – respondo e logo o encaro – reabriu?
- Entrei com o pedido... – ele suspira – complicado, acho que eu se eu não fosse o seu irmão, teria sido mais fácil, mas ainda posso apelar.
- Tudo bem – eu respondo – não quero reabrir o caso, eu só quero me lembrar.
- Mas se nós tivermos alguma coisa, quem sabe te ajude – ele diz.
- E a jaqueta? – pergunto.
- Vamos esperar a Bella sair e vou dar uma olhada – ele diz – sabe como ela é pegando suas coisas emprestadas.
- Tudo bem – resmungo – mas eu sei que não emprestei.
- Vou pedir uma pizza – ele diz – vamos comer na sala e esperar aquele b****a vir buscar a nossa irmã mais nova, e ai, você pode tentar reconhecer o som da moto.
- Obrigada – eu digo sorrindo.
- Não me agradeça – ele beija minha testa enquanto pega, por fim, o pacote das minhas mãos – eu quero que você fique bem, Bri, bem mesmo.
- Eu vou ficar – suspiro – tenho certeza de que um dia, eu vou ficar.
Benjamin tomou o banho dele e logo me ajudou a ir para a sala, a Bella estava se arrumando e não parecia lá muito confortável com nossa presença na sala. Para variar, nossos pais estavam fora e eu começava a questionar se eles não estavam fugindo do ambiente hostil que nossa residência estava se tornando.
- Parem de controlar a minha vida – Bella gritava – ninguém nunca liga para onde eu vou, e agora querem bancar os superprotetores – ela estava histérica, apenas porque Ben lhe perguntava com quem ela sairia.
Apenas nos olhamos, sabíamos o que aquilo queria dizer: ela estava sob pressão. Tal como a grande maioria dos meus “amigos”, ela provavelmente também sabia mais do que estava realmente disposta a nos dizer.
Quando ela por fim parou de protestar, eu ouvi... O som do motor da motocicleta de Marco. Senti um arrepio na espinha, o motor ligado... Ele parou e deixou a motocicleta funcionando em frente a nossa casa, aquele não era o som. Ele não desliga, mas eu quero ouvir o som da partida. Preciso fazer alguma coisa.
- Você é ridícula – digo para Bella que para no meio do caminho – nunca teve nada seu de verdade, sempre catando as migalhas dos outros – eu digo com ar de desdém, em parte é verdade, eu penso isso dela, mas eu não sou c***l assim, eu jamais falaria uma coisa dessas para a minha irmã mais nova se não fosse a situação extrema: precisava atrasar ela.
- O que foi que você disse? – ela dá meia volta e mexe rapidamente no celular antes de voltar sua atenção à mim, o som da moto para, era isso o que eu queria.
- Exatamente o que você ouviu – eu digo e Ben me encara confuso – patética, pequena e pobre de espírito – eu respondo.
- Está com inveja – ela diz, prepotente – porque eu sou mais bonita, mais popular e o seu ex namorado me acha mais gostosa e mais divertida do que você.
- Que se f**a, você e aquele i*****l – digo com raiva, ela também pegou pesado, mas consegui o que eu queria – vai lá, não vá se atrasar, não.
Ela sai furiosa, e eu faço sinal para que Ben não fale nada, ouço ela dar um ou dois gritos histéricos ainda na entrada da garagem. Estou com o celular, gravando e bingo! Ele dá partida e o som, é exatamente o som do qual eu me lembrava e por um instante, eu tenho a nítida sensação de que eu ainda estou caindo...
- Brianna – meu irmão chama pela quarta vez, parece que eu apaguei – olha pra mim...
- Ahn? – digo confusa – O que houve?
- “Ele é alguém que você deve esquecer” – murmuro.
- Quem, Brianna? – pergunta Ben confuso.
- O Marco... Disse isso, disse que ele era alguém que eu deveria esquecer – respondo.
- Ele mesmo? Você deveria esquecer ele? – meu irmão insiste.
- Não – eu respondo – tem uma terceira pessoa...
- Terceira pessoa? – meu irmão me encara um pouco confuso.
- Jonah Andrews – eu digo decidida.
- Como sabe que esse é o nome...? – pergunta Ben.
- Eu sei – respondo – não sei como, mas eu sei.
- E onde é que esse cara está? – pergunta meu irmão.
- Não tenho muita certeza – respondo – mas algo me diz que ele nem mesmo sabe o que aconteceu comigo.
- Vamos encontrar ele – meu irmão diz decidido – e agora, eu vou procurar pela jaqueta.
A missão leva um tempo – tempo demais – e meu irmão retorna à sala de mãos vazias e semblante perdido:
- Não está com ela – ele responde – e isso pode significar que ainda está com quem você esteve naquela noite – ele diz – pedi a foto ao papai...
Perdi totalmente o clima para filmes, aquela noite de sexta feira não estava tão legal como eu havia pensado que seria, e o nome “Jonah” martelava em minha cabeça o tempo todo. Eu não tinha uma amiga para telefonar e perguntar quem era Jonah, simplesmente, eu precisaria encontrar esse cara e descobrir por mim mesma quem era e o que ele tinha a ver com tudo o que estava acontecendo comigo. Esse era o plano para o meu sábado e focada nele, eu dormi cedo, determinada a encontrar o al Jonah, quem quer que ele fosse e onde quer que ele estivesse.