Brianna acreditou que fora o fato de pensar nos estudos antes de dormir, ou menos tentou convencer a si mesma disso para não enfrentar a realidade: mas a verdade é que ela sonhara com Voller. Estranhamente, nesse sonho, ela estava ao lado do mirante, e quando ela sentia que estava caindo, ele simplesmente segurava a mão dela e dizia repetidamente "eu não vou te deixar cair, entendeu?"
Benjamin invadiu seu quarto com o almoço e falou sem parar enquanto comiam: nos últimos dias, Ben pegava seu prato e ia almoçar com ela no quarto para que ela não se sentisse sozinha. Ela sabia que ele fazia tudo por ela, e mesmo que ainda estivesse um pouco incomodada com a situação do namoro dele, ela apenas contentou-se em provoca-lo um pouco:
- E a sua namorada? - ela questiona.
- Vai bem - ele responde - vai trabalhar até tarde hoje e amanhã - ele suspira - pensamos em fazer algo no fim de semana, ela queria cozinhar para você e assistirmos um filme...
- Não sei se eu quero ser a vela do seu relacionamento, Ben.
- Não vai ser uma vela, apenas pensamos em fazer algo juntos - ele sorriu - podia convidar o seu amigo..
- Não - ela responde subitamente - ele apenas é o meu tutor, nós dois nem somos amigos.
- Uhm - ele grunhiu - pareciam se dar bem anteontem...
- Nem tudo é o que parece Benjamin - responde Bri.
- Mas ele realmente parece gostar de você... - o mais velho insiste.
- Benjamin, responda uma coisa - ela o encara - quem vai gostar de alguém com tantos problemas?
A conversa é interrompida por Bella que invade o quarto com uma caixa:
- Encomenda para você - ela entrega a caixa para Bri, não era muito grande.
- Eu não lembro de pedir nada... - ela diz confusa.
- Mas é seu - Bella dá às costas para os irmãos antes que Ben consiga dizer alguma coisa.
Brianna começa a abrir a caixa, é relativamente pesada e não tem remetente. Ela por fim livra-se da embalagem e encontra três livros e um bilhete:
“Oi Bri
Pensei que talvez gostasse de um pouco de distração. Estou pensando em passar ai para ver você no próximo fim de semana, o que acha? Me liga. Beijos, Marco Antônio”
- Quem mandou, hein? - pergunta Ben com a boca cheia.
- Marco - Bri responde ainda confusa - livros... - ela sorri.
- Sim - Ben sorriu - pelo menos pensou em algo que você gosta.
- Ele sempre soube agradar... Desde quando éramos somente amigos.
- Nunca gostei dele - diz Ben - nem quando eram somente amigos, muito menos quando namoravam.
- Não era bem você que precisava gostar - ela riu alto.
- Sim - ele concordou - mas tenho o direito de expressar minha opinião.
- Certamente sim - ela sorriu - mas você nunca vai gostar dos meus namorados, Ben, é ciumento demais para aceitar dividir qualquer coisa, até mesmo sua irmã favorita.
- Principalmente a minha irmã favorita - ele responde rindo - e olha quem falando em ciúmes, quem foi que estava tendo um chilique ontem?
- Não foi por ciúmes - ela disse irritada - foi por não ter me contado nada...
O assunto "namoro relâmpago do Ben" seguiu por mais alguns minutos, ao menos até ele terminar de almoçar e dizer que precisava voltar ao trabalho:
- Preciso ir - ele beija a testa da irmã - quero que pense no fim de semana, certo?
- Sim - ela responde - bom trabalho para você.
A mãe passa pelo quarto antes de sair, dizendo que tudo estava certo com a fisioterapeuta e que ela iniciaria no outro dia. Brianna tentava mexer alguma coisa, e por vezes, conseguia, com muito esforço, mas acreditava que com a ajuda de um profissional, poderia fazer progressos. Voller chegou como sempre, bem no horário marcado, às três da tarde:
- Oi Bri - ele disse assim que passou pela porta.
- Oi - ela responde espreguiçando-se - como foi a aula hoje?
- Não me faz essa pergunta - ele riu - hoje foi um dia daqueles em que qualquer mosquinha voando parece mais interessante...
- Estava com a cabeça longe - ela disse, em tom de deboche.
- Acho que ela estava perto demais, Bri - ele suspira - enfim, o teste de Física.
- Ai meu Deus - ela esfrega o rosto com as mãos.
- O professor deu três opções: na primeira, você vai fazer o teste na sala, com toda a turma; na segunda, vai até a escola fazer o teste com ele e na terceira, agenda um horário para que ele venha até aqui, acompanhado do diretor...
- Eu vou até a escola- responde Brianna, interrompendo o raciocínio do rapaz- só vou tentar marcar os testes todos no horário da tarde, porque tenho minhas visitas médicas e as sessões de fisioterapia - ela responde.
- Você começou? - ele pergunta animado.
- Começo na segunda...
- Fico feliz - ele sorri - sabe o quanto é importante para a sua recuperação.
- Sei sim - ela suspira - e depois que eu senti algumas coisas, me parece que tem alguma esperança.
- Claro que sim - ele responde - fico feliz com o seu progresso.
- Obrigada - ela responde, e decide mudar de assunto - e então? Quanto tempo tenho até os testes?
- Acredito que duas semanas - ele responde - não parece muito, mas você está indo bem...
Os dois voltam a manter o foco nos estudos, e quando percebem, o dia está terminando e Benjamin está voltando do trabalho:
- Olha ai - o rapaz ainda vestindo o uniforme da polícia entra no quarto - o que me diz, Voller - ele encara o rapaz - ainda existe esperança para a minha irmã?
- Claro que sim - responde o colega - Brianna está indo bem.
- Alguém precisa ser inteligente nessa família - ela diz debochada.
Logo Voller despede-se de Brianna, mas não sem antes fazer uma pergunta estranha:
- E então? - ele diz - O que pretende fazer no fim de semana?
- Ah - ela revira os olhos - cê sabe, nadar, correr...
- Estou falando sério - ele a encara.
- Não sei - ela lembra-se do convite do irmão - meu irmão quer me convencer a fazer algo diferente, mas não sei se eu estou preparada para isso.
- Uhm - Voller responde - acredito que seja bom para você, se sentir-se segura, é claro.
- É - ela suspira - mas não sei, ele quer sair comigo e a namorada...
- Não parece tão legal assim - riu o garoto- mas enfim, se quiser fazer alguma coisa, ou quiser companhia, pode me chamar, certo? Estou sem planos e gosto da sua companhia,
- Ah - ela riu alto - deve ser maravilhosa a minha companhia.
- Eu gosto - ele aproxima-se e beija a testa de Bri em despedida - até mais.
- Até - ela responde.
Ela não espera mais do que dois minutos da partida de Voller para pegar o seu diário:
“Querido diário,
Sei que eu disse que não tinha muitas coisas para dizer, mas agora, aconteceram coisas que eu acho que eu preciso escrever, não que tenham alguma coisa a ver com o meu processo de recuperação, porque na verdade, não têm, mas apenas acho que é importante falar sobre como eu me sinto sobre as coisas, ao menos foi o que o Dr. Mendéz – ela risca e escreve novamente – Jorge me disse.
O Voller esteve aqui hoje à tarde, e estudamos para os testes... Ele parece que se preocupada, realmente comigo, sabe? E além disso, pareceu bem feliz quando contei que decidi começar a fisioterapia. Mas o mais estranho foi quando ele estava indo embora, perguntou o que eu faria no fim de semana e disse que eu poderia chama-lo, que ele não tinha planos e gostava da minha companhia.
Como alguém vai gostar da companhia de uma pessoa que fica o tempo inteirinho deitada? Que não pode sair para fazer algo diferente ou divertido? Acho que esse garoto não é lá muito certo da cabeça, não...
Outra coisa muito estranha: o Marco Antônio me mandou um presente. Uma caixa, com três livros e um bilhete, dizendo que pesou que eu precisava de distração e que queria vir me ver... Eu não sei se eu quero ver ele, eu não me lembro como foi nossa última conversa, ou ainda, quem sabe, nosso último encontro. Será que eu estou preparada para ver ele?
De toda forma, ele pretende vir no fim da semana e pediu que eu ligasse para ele. Acho que eu preciso decidir se quero vê-lo e entrar em contato... O que será que eu devo fazer? Amanhã tenho uma sessão com o Jorge, acho que vou pedir a opinião dele sobre isso.
O Ben quer fazer algo diferente no fim de semana: nossos pais e a Bella vão viajar para um encontro de marketing na capital – eu nem sei porque minha irmã vai junto – e ele pensou em trazer a Carol, e enfim... A Dulce vai estar em casa, caso eu precise de ajuda, mas não decidi se estou segura para sair do meu quarto, ou ter outras pessoas em casa.
Pensei em talvez convidar o Voller... Ai meu Deus, porque eu pensei nisso? Deve ser porque o Benjamin deu essa ideia! Mas é péssima! Eu preciso dormir. Acho que os remédios e estudar tanto estão me deixando mais cansada do que o normal, mesmo sem ter feito nada. Vou tentar fazer isso”
Quando Benjamin pensou em voltar ao quarto para conversar com Bri, foi informado por Dulce que ela estava dormindo e que não queria nem mesmo comer. Ele compreendia o sono, todos os remédios, a tensão e o esforço para tentar lembrar-se das coisas, somado à um grande acúmulo de conteúdos da escola provavelmente estariam deixando-a um tanto sobrecarregada, ele pensaria em alguma coisa para ajuda-la.
Brianna adormeceu rapidamente, e provavelmente descansara mais do que nas outras noites: não teve nenhum tipo de sonho ou pesadelo, apenas um silencioso vazio em sua mente.