Os seus mais novos companheiros noturnos

1314 Words
        Dormir estava se tornando mais difícil a cada dia para Brianna, a mistura de suas sessões de fisioterapia que a deixavam cansada, com algumas dores que sentia no corpo e na cabeça e com mais a ansiedade pelas provas da semana seguinte, todos os seus sentimentos confusos e ainda, para completar, com os seus mais novos companheiros noturnos: seus pesadelos.          Durante o final da semana, ao invés de conseguir descansar e apenas revisar um pouco do conteúdo da primeira prova, ela acabou evitando dormir. "Dia não tem nem mesmo importância Querido diário Comecei a ter pesadelos estranhos, tem coisas que eu sei que são reais neles, coisas que eu já vivi, e tem coisas que não tem pé nem cabeça… Eu discutia com alguém naquela noite no mirante, eu tenho certeza disso! Mas eu não lembro quem era. Tinha uma música tocando, eu cantava, ela era em inglês mas eu não lembro que música era. O resto do sonho tinha coisas desconexas: minha mãe, ela parecia brava comigo, uma sensação de frio, eu acordei com frio, gelada… Lembrei de flashes da ambulância, alguém com farda azul me tirou do local do meu acidente. Preciso confirmar isso, essa pessoa estava na ambulância, eu me lembro do rosto dele e do cheiro, ele usava um perfume bom.  Acordei pensando no Dr. Mendez, então eu acho que eu devia enviar um e-mail para ele depois... Ou não, não sei se eu posso ou se eu devo, quer dizer, é estranho pensar sobre isso, ainda mais escrever, sinto falta dele, uma falta estranha"          Brianna deixou o diário de lado, sobre a mesa de cabeceira e espreguiçou-se: agora podia mexer seus dedos dos pés, e se fizesse bastante esforço, o seu tornozelo direito.  - Bom dia - Ben entra no quarto sorridente, quem podia estar feliz em um sábado antes mesmo das nove da manhã? - Oi Ben - ela diz num suspiro. - E aí? Como passou a noite? - ele perguntou sem muitas cerimônias. - Mais ou não - ela responde - tive um pesadelo. - Um pesadelo? - ele a encara - Esclarecedor?  - Confuso - Brianna responde - bem confuso, do tipo que parece que vai me levar a algum lugar mas, no fim, não me apresenta nada. - É claro - responde o irmão - quer falar algo sobre ele?  - Tinha uma música, em inglês, acho que era uma mulher cantando - ela suspira - eu discuti com alguem no mirante, Ben, eu não sei se essa pessoa estava comigo ou se eu estava ao telefone…  - Não - ele responde - ao telefone não, verificamos por diversas vezes todos os seus registros de chamadas recebidas e efetuadas, a partir do telefone e de todo e qualquer aplicativo de comunicação possível.  - E se nós deixamos passar algo? - ela insiste - Eu não vi ninguém…  - Tem tempo - ele responde - em breve vai lembrar de mais detalhes.  - Preciso de um terapeuta - ela responde - não sei e o cara que eu Jorge indicou ou se você pode encontrar outro…  - Tudo bem - Ben aproxima-se da irmã beijando sua testa - vou providenciar, fica tranquila.  - Sim - responde ela - obrigada, Ben.  - Não me agradeça - ele brinca - ao menos não ainda. - Preciso de outra coisa - ela diz - queria encontrar com a equipe do meu resgate - ela diz - se possível, com o soldado que me resgatou.  - Porque? - o irmão pergunta.  - Por que eu acredito que eu tenha me lembrado dele ontem, eu quero vê-lo, se for possível - ela insiste.  - Tudo bem - Benjamin por fim concorda e logo despede-se da irmã prometendo fazer o possível para que ela encontre os integrantes da equipe de resgate.          Sábados eram dias estranhos: ela não tinha muito o que fazer, mas sentia, desde o momento em que havia acordado, que precisava fazer alguma coisa "mente vazia, oficina do d***o" era o que a sua falecida avó dizia, e com esse mantra em sua mente, Brianna decidiu tentar escrever ou ao menos, lutar com as playlists do aplicativo de músicas para ver se encontrava algo que fizesse ao menos um pouco de sentido no meio daquele turbilhão.          Na metade da tarde, depois de não aguentar mais de ansiedade, decidiu enviar um email à Jorge, mas surpreendeu-se ao ler o que ele havia enviado e sorrindo, começou a digitar novas palavras para enviar à ele:  "Fiquei feliz de receber o seu email, acho que sinto a sua falta, mas do que eu poderia imaginar. Como estão as coisas por ai? Já está pensando em voltar correndo, não é? Brincadeira... Pedi para o Ben me ajudar a encontrar um terapeuta, acho que realmente preciso de ajuda"         Pareceu-lhe uma mensagem estranha, mas enviou mesmo assim. Depois de alguns minutos, o ´pai e a mãe entraram no quarto para vê-la e ela nem mesmo conseguia lembrar do ultimo dia em que os dois haviam se dado à este trabalho. A conversa foi rápida e bem formal:  - Como se sente? - pergunta o pai.  - Normal - responde Bri - aos poucos eu sinto um pouquinho mais, ao menos tenho esperanças.  - Vai ficar bem - diz a mãe - lembrou de alguma coisa? - Não - ela mente - vocês têm certeza de que eu não falei com quem eu iria sair naquela noite? - Temos - responde a mãe - você disse que sairia com amigos, nem vimos como foi que saiu.  - Certo - ela esfrega as mãos no rosto mais uma vez - cheguei em um ponto que se eu não tiver alguma ajuda, eu sei que vou acabar não conseguindo ir para frente - ela suspira.  - Em breve vai lembrar-se - diz o pai.  - Ou vai aceitar que não vai se lembrar - a mãe diz - sei que parece pessimista, mas talvez este seja m quebra-cabeças difícil demais para montar e ai no fim, minha querida, quem garante que vai gostar do desenho que vê? - Eu quero descobri o que aconteceu comigo - ela responde decidida  -gostando ou não da resposta final, é meu direito e minha vontade saber o que houve, saber a verdade.  - Tudo bem - a mãe da ombros - não tem muito o que eu possa fazer por aqui, então.  - O objetivo era me convencer a desistir de tentar me lembrar? - Bri questiona. - Era te apresentar uma alternativa, caso queira desistir, Brianna, já faz mais de um mês e meio. - Sim - Bri responde - e eu sei disso, muito bem, aliás.              Logo os pais a deixam sozinha novamente e ela decide que precisa conversar com alguém, e então envia uma mensagem à Voller:  Brianna: Heeey, ocupado por ai? Voller: Não - e envia a fotografia de um televisão - só vendo uma série e você?  Brianna: Nada demais, estava conversando com os meus pais... Voller: Quer falar sobre isso? Brianna: Na verdade, eu quero sim.  Voller: O que aconteceu? Brianna: Acho que eles acreditam que é melhor para mim desistir de tentar me lembrar. Voller: Como isso pode ser bom? Brianna: Não sei, não faço a menor ideia.  Voller: E o que decidiu a respeito? Brianna: Não vou desistir. Voller: É o mínimo que eu espero.              Conversaram amenidades por mais um tempo, ao menos até Benjamin chegar e dizer que havia marcado um encontro entre ela e a equipe de resgate na tarde de domingo, no quartel dos bombeiros e que ele mesmo a levaria até lá. Bri ficou feliz e agraceu diversas vezes ao irmão que logo a deixou pois tinha um compromisso: conhecer a família de sua namorada que vivia em uma cidade próxima, ou seja, passaria a noite fora, mas ao menos Brianna sabia ele estaria de volta na tarde seguinte.  
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