O melhor irmão do mundo

1436 Words
        O domingo se arrasta lento e preguiçoso. Apesar de não ter tido outros pesadelos, Brianna demorou para dormir: na verdade, ficara conversando com Jorge Mendez pelo aplicativo de mensagens durante a noite e boa parte da madrugada. Benjamin passara quase todo o dia fora, e Bri estava muito ansiosa ara encontrar a equipe de resgates por ter quase certeza de que se visse novamente o rosto do homem que a encontrara, ela lembraria de mais  algua coisa: "Dia não sei qual, mas deve ser um dos mais importantes para o meu processo de recuperação - sim , eu sinto isso, então deve ser real: Querido diário,      m*l posso conter a ansiedade: o Benjamin vai me levar para ver a equipe que me resgatou, e eu sinto que encontrar alguém cuja lembrança me ocorreu nesses últimos dias pode me ajudar a lembrar de mais alguma coisa. Meus pais não sabem que eu me lembrei de coisas, eles parecem inclusive nem mesmo querer que eu me lembre, dizem ter medo sobre o que eu posso me lembrar... E do que adiantaria esquecer que tentei me m***r - se é que eu tentei - se mesmo não lembrado eu já sei porque todos falam sobre isso, pensam e me encaram com seus olhares piedosos - ou acusadores, como as vizinhas da igreja - o tempo todo?     Conversei com o Jorge ontem, quer dizer, ontem e hoje, quase a madrugada toda - sim, eu sei, isso é estranho - mas eu me sinto bem conversando com ele, bem demais, na realidade. Acho que eu não gosto da ideia de não ter ele por perto, conversamos sobre isso também, mas ele não pareceu querer falar muito sobre isso, acho que não é recíproco.      De toda forma, Voller se ofereceu para ir comigo e Ben ao encontro da equipe de resgate - sim, eu estava conversando com ele também - mas achei melhor não: sinto que devo fazer isso sozinha, quer dizer, com o mínimo de pessoal possível, sem interferências.              Brianna deixou o diário de lado e pediu a Dulce que e a ajudasse a se arrumar. Benjamin chegou perto das quatro horas e o encontro deles estava agendado para as cinco. O caminho foi silencioso, mas assim que chegaram ao quartel dos bombeiros, a equipe já estava aguardando na sala de reuniões. E assim que Brianna entrou dentro do cômodo, ela o reconheceu, e isso foi um momento bom e r**m ao mesmo tempo: no exato segundo em que ela viu o rosto do soldado que a encontrara, o primeiro a ter contato com ela depois do acidente, a cabeça começou a doer absurdamente, deixando-a um pouco tonta: - Tá tudo bem Bri? - Ben pergunta baixinho ao ver a irmã com a mão na cabeça. - Sim - ela responde sorrindo para o homem que a resgatou, ninguém diz nem uma palavra - foi você, não foi? - ela pergunta ao homem que parece emocionado. - Sim - ele responde e se aproxima, ajoelhando-se em frente à ela e segurando o rosto de Bri com as mãos - eu encontrei você, mocinha. - Eu lembro de você - ela o abraça e todos ao redor estão emocionados - você estava na ambulância, certo? - Sim - ele responde - eu a acompanhei até o hospital e depois de duas visitas, antes de você acordar, a equipe médica sugeriu que eu esperasse que você acordasse para ver se você lembraria... - Obrigada - ela agradece - obrigada por me encontrar...              Toda a equipe estava comovida, e logo Brianna ficou conhecendo Fernando Almeida, vinte e sete anos, bombeiro há cinco, transferido da capital há pouco mais de três meses. Ela lembrava perfeitamente dos olhos dele, cor de mel, parecendo ter pontinhos esverdeados, e sim, ele usava o mesmo perfume. Passaram um tempo com a equipe e Bri voltou para casa muito, muito feliz, mas assim que chegou, no entanto, as coisas não pareciam muito bem: - Onde estavam? - questiona Bella. - Resolvendo umas coisas - responde Ben.  - A mãe e o pai já sabem - ela disse muito séria - alguém telefonou e contou que estavam lá, eles pediram que você, Benjamin, vá conversar com eles no escritório, agora - ela sorriu - eu levo a Bri.                 Benjamin correu para encontrar os pais e Bella acompanhou a irmã até o quarto, ajudando-a, o que era muito raro: - Porque fez isso? - a mais nova questiona. - Por que eu preciso saber o que aconteceu... - Brianna suspira - você não tem ideia de como é, Bella.  - Eu ia querer esquecer - a mais nova suspira - eu quero esquecer essa m***a toda, e nem mesmo foi comigo, se quer saber.  - Justamente por não ter sido com você, Bella, que você quer esquecer.              Brianna desiste da discussão. Sabe que pensar e raciocinar não é bem o forte da irmã mais nova, ela é muito boba ainda, para muitas coisas, e facilmente manipulável, Bri lembrou-se disso e resolveu não falar mais nada, ao menos não com ela, e assim que a irmã deu uma desculpa para deixa-la, Bri pegou seu diário: "Querido diário,      Ainda é hoje: ou seja, eu acabei de voltar do quartel dos bombeiros e sim, eu estava certa: o rosto do qual eu me lembrei é o do soldado que me encontrou, que me resgatou: o nome dele é Fernando. Eu também estava certa sobre ele estar na ambulância e parece uma coisa boba, mas me deixou muito, muito feliz: finalmente eu lembrei de alguma coisa coerente e que faz sentido, eu lembrei de alguma coisa importante e principalmente real. Preciso contar para o Jorge."             Assim que deixou seu diário ao seu lado, sobre a mesa de cabeceira, Brianna concentrou-se em ouvir os gritos de seus pais com Benjamin vindos do escritório, eles nem mesmo estavam tentando ser discretos - "não poderia ter feito sem nos consultar" "quem é você para saber o que é melhor para Bri" "não se pode confiar em gente como você" "maldita hora que voltou para casa" - e ao ouvir tudo isso, a única certeza que Brianna tinha era a de que Benjamin era o melhor irmão do mundo: sem ele e o seu apoio, ela não teria conseguido encontrar aquela lembrança e mesmo sabendo que ele estava fazendo de tudo por ela, ele ainda aguentava, sem protestos, os absurdos que os pais lhe diziam.  "Oi Jorge,      Acabei de chegar do quartel dos bombeiros, e como eu te disse, tinha me lembrado de um cara, que eu pensei ser quem me resgatou, e sim, era ele mesmo. Eu estou tão feliz de ter conseguido me lembrar de alguma coisa que faz sentido que se você estivesse aqui, eu ia fazer aqueles seus exercícios ridículos sem nem mesmo reclamar. Queria que estivesse aqui"             Enviou o email sem pensar, depois leu novamente: "queria que estivesse aqui", meu Deus, onde estava com a cabeça? Riu sozinha até Ben entrar no quarto dela: - Tudo em paz - ele brinca - imagina que nossos pais acham que eu posso ter feito m*l à você. - Imagina que eu não contei à eles que eu havia me lembrado de coisas - ela suspira - então posso dizer que eu entendo a preocupação deles, pelo menos até certo ponto.  - De toda forma - Ben senta na poltrona ao lado dela e a encara - acho que eles não podem querer decidir sobre tudo o que faz ou deixa de fazer para tentar ou não sua recuperação, acho que essa escolha é sua. Então me conta, como esta se sentindo? - Incrível - ela reponde - e muito obrigada por isso. Eu estou realmente muito feliz de ter conseguido me lembrar de coisas que têm sentido, sabe?  - Sim, eu sei - ele sorri - feliz de poder ajudar você.  - Acho que precisa descansar - ela diz ao irmão. - Eu acho que eu estou bem - ele espreguiça-se na poltrona.  - Ben - ela insiste - vai descansar, é sério - ela o repreende - amanhã tem que trabalhar.  - Verdade - ele diz - sua primeira prova, né? A Carol vai levar você.  - Sim - ela suspira - obrigada por lembrar. - Acha que está preparada? - ele questiona. - Eu tenho certeza de que eu estou - ela responde.              Assim que Ben deixa o quarto, Brianna envia uma mensagem à Voller, depois de tantas conversas e tanto apoio que ele vinha prestando, atualiza-lo do que ela havia descoberto com a equipe de resgate era, definitivamente, o mínimo que ela poderia fazer. 
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