Não deveria ser assim tão esquisita

2661 Words
            Enquanto todos os moradores daquela casa estavam preocupados em cuidar de suas vidas, Brianna estava preocupada com as intermináveis tarefas de matemática e física então, depois que Dulce ajudou-a com a sua higiene e que ela tomou o seu café da manhã, foi verificar os meus emails, e sim, havia uma mensagem do diretor Guedes:  “Querida Brianna             Sim, eu me lembro das suas dificuldades, já conversei com os professores responsáveis pelas disciplinas e estamos elaborando uma solução conjunta. Eu tive uma ideia brilhante, sim! Em breve volto a entrar em contato sobre como iremos proceder. Desejando sua pronta recuperação, Guedes”             Aquele email a fez voltar a ter esperanças de um dia, terminar o colégio. E então, voltamos a normalidade: receber os médicos, receber a ex sogra que fez questão de vir lhe ver, e logo depois do almoço, quando a irmã entrou em seu quarto, Brianna estava exausta, mas ainda tentou ser paciente: - Bella -  disse sonolenta - eu preciso descansar agora. - Mas você ficou deitada ai o dia todo - ela disse sorrindo - preciso conversar uma coisa com você. - Certo - responde Bri a encarando com os olhos pesados - que coisa? - O diretor me chamou hoje no intervalo - ela disse - falou sobre um email, e você precisar de uma ajuda em algumas disciplinas... - Sim - responde a irmã - eu realmente enviei o email... - Você não podia ter feito isso - ela grita - não pode mesmo pensar que alguém vai querer te ajudar depois do que você fez! -  O que eu fiz, Bella? - Brianna grita, encarando a mais nova.  - Você sabe - ela gritou - e agora vem com esse vitimismo...  - Diga, o que eu fiz - grita novamente. - Você se jogou do mirante - ela gritou - não suportou saber que Marco não amava mais você e tentou se m***r, foi isso o que você fez.  - Não - Brianna responde furiosa - fui eu mesma quem terminou com o Marco, todos sabem disso...  - O que está acontecendo aqui? - Benjamin ainda com o uniforme invade o quarto - Bella, porque esta gritando com a Bri?  - Não bastasse tudo isso - ela continua, ignorando totalmente Ben - agora pede ajuda, pede que alguém venha ensinar as coisas para você... Você não deveria ser assim, tão esquisita...              Bella sai batendo a porta e deixando Bri e Ben um tanto perplexos. Ben decidiu não dizer nada e apenas sair atrás dela para quem sabe, dizer alguma coisa - ou tentar apertar o pescoço dela.  " Dia 10 do meu processo de recuperação Querido diário,          Hoje a Bella veio aqui acusar-me de estar sedo esquisita e de estar me vitimizando, ela gritou comigo e disse que eu tinha me jogado do mirante, que tentei me m***r porque Marco não me amava mais... Eu lembro claramente de ter terminando o namoro com o Marco, isso aconteceu mais de um mês antes do meu acidente, então essa coisa de eu te me jogado porque não suportava o fato de que ele não me amava, é bem absurda, na verdade. Eu não sei o que deu na minha irmã, porque ela está ainda pior do que costumava ser.          Recebi adoráveis visitas - não sei escrever demonstrando ironia, então, fica o aviso de que isso foi totalmente irônico: minha ex sogra, a Mãe do Marco Antônio. Sim, ela veio aqui me ver porque estava, segundo ela, morrendo de preocupação... Nós costumávamos nos dar bem quando Marco e eu namorávamos, mas eu sempre achei ela um pouco falsa, e hoje eu tive ainda mais certeza disso.          Remoendo as coisas super empolgantes que aconteceram na minha vida nos últimos dias, volto ao meu telefone celular, eu liguei para o Marco, eu poderia estar com ele? Será que realmente brigamos e eu decidi me jogar daquele mirante? Que coisa mais i****a de se fazer, não me imagino fazendo tamanha babaquice...          Pensei muito sobre o Marco também, e acho que é hora de falar sobre isso, sim, escrever sobre isso: as coisas que passam pela minha cabeça quando eu penso no Marco, não parecem muito sobre coisas que a gente lembra quando lembra do cara que era pra ser o grande amor da nossa vida, será que eu sempre pensei assim? Quer dizer, éramos bons juntos, tínhamos uma química legal, mas se eu fechar meus olhos agora, eu vejo Marco Antônio como o meu melhor amigo desde sempre, todas as coisas legais que fizemos juntos... Não consigo sentir meu coração disparando ou um friozinho na barriga... Será que eu algum dia senti isso tudo por ele?          Quando eu revisei minhas mensagens e fotos, e todas as coisas de antes do acidente, encontrei muitas coisas sobre o Marco, e nós parecíamos estar nos dando bem, mesmo após o término... Ele enviou uma mensagens uns dias atrás, dizendo que estava desejando que eu ficasse bem logo, apenas isso, mas não sei se é o tipo  de coisas que o cara do qual eu me lembro faria, acho que ele teria vindo até aqui, umas duas ou três vezes e insistido para ajudar em alguma coisa, ou contrabandearia sorvete para o meu quarto - não que eu estivesse proibida de tomar sorvete, mas só pela emoção.         Acho que eu sinto falta disso, não apenas do Marco e as loucuras dele, mas dos meus amigos... Eu tinha amigos! Pelo menos costumava ter, verifiquei minhas redes sociais e eu não estou ficando louca, andava em um grupo, acho que eu era bem popular, mas aparentemente, apenas a Celina teve a consideração de vir até aqui me ver - ou, a julgar pela empolgação dela, perdeu no jogo do palitinho para ver quem faria o sacrifício de ver a louca suicida... (perdoe-me Dr. Mendez, caso um dia venha a ler, sei que eu não devia pensar nessas coisas, mas eu pensei isso achando graça, certo?).          Não consigo mais escrever... São três da tarde e depois de tudo o que aconteceu com a Bella e eu, eu acho que eu preciso dormir um pouco"          Brianna m*l largou o seu diário sobre a mesa lateral quando ouviu alguém batendo a porta, revirando os olhos com raiva ela gritou: - Entra.  - Oi - Dulce, a sua cuidadora, aparece a porta sorrindo - Bri, tem um homem querendo te ver, ele disse que é o Diretor Guedes, da escola.  - Tudo bem - ela suspira - pode deixar entrar.          A moça afasta-se da porta e Bri a ouve falar com alguém, mas parece ter mais de uma pessoa na sala. Logo a silhueta conhecida do diretor aparece no corredor semi-escuro: um homem baixo, forte e careca, aquele homem era diretor desde que Bri se lembrava, e ela não fazia nem ideia de quem ele era direito. - Boa tarde mocinha - ele trazia flores - achei que margaridas podiam alegrar o seu dia.  - Obrigada, diretor - ela disse sorridente ajeitando-se na cama.  - E então - ele sorri - como vai sua recuperação?  - Lenta - Bri responde sem jeito - de verdade, fazem dez dias que eu iniciei o processo de recuperação, de acordo com os médicos, isso são quase vinte do meu acidente - ela suspira - nem mesmo sei se isso tudo vai levar à alguma coisa.  - Claro que vai - o homem sorri - você é uma menina forte.  - Eu espero que eu seja mesmo...  - Arrumei uma solução para o seu problema - ele diz empolgado - quer dizer, eu arrumei uma solução para dois problemas, ou ainda, eu uni dois problemas em uma solução, como prefira pensar. - Uhm - Bri ri e o encara - certo, Diretor, qual foi a brilhante ideia? - Tenho um rapaz - ele começa - um menino novo, ele está com dificuldades no português - o professor diz - na pronúncia, e em algumas expressões locais e gírias... E acontece que ele veio apenas com os melhores conceitos em ciências exatas, e o melhor, está disposto a vir ajudar você, contanto que você o ajude.  - Porque eu tenho quase certeza de que você quer trazer o cara do intercâmbio aqui? - ela o encara brava. - Porque o quase ficou por sua conta - ele sorri sem jeito - tomei a liberdade de trazê-lo comigo, para que possa apresenta-los - o homem diz - ele é um bom menino, Bri, e quando comentei que...  - ... que tinha uma aluna suicida com dificuldades ele se compadeceu e se ofereceu para ajudar? - ela disse debochando - Achei péssima a ideia.  - Não - o diretor insistiu - na verdade, ele me procurou pedindo ajuda, e eu precisei contar à ele que minha melhor tutora estava afastada, e ai, comentei que inclusive eu precisaria de um tutor para exatas, eu nem mesmo mencionei o que aconteceu com você.  - Mas a escola toda mencionou - ela segue irredutível.  - Tudo bem - o diretor a encara - posso ir embora com o rapaz, e quem sabe, com sorte, arrumar outra pessoa para ajudar vocês, do contrário... Eu já havia inclusive conversado com os seus pais...  - Certo - ela diz, sabe que precisa de ajuda e principalmente, agora está curiosa para conhecer o moço que abalou as estruturas do colégio - eu aceito.          O diretor apenas sorriu e fez o sinal de positivo, saindo do quarto. Ela apenas esperou, de repente sentia-se ansiosa e nem mesmo sabia o porque: era só um garoto estranho entrando em seu quarto...  - Ola - o sotaque carregado anunciou-o antes que ele chegasse à porta. - Pode entrar - ela responde.          Assim que a porta termina de se abrir, Brianna entende perfeitamente o motivo pelo qual o colégio inteiro estava se derretendo por aquele garoto: ele era tão lindo que ela sentia que podia admirá-lo o tempo todo.  - Sou o Vincent Voller - ele aproximou-se estendendo a mão para ela - mas todos me chamam apenas de Voller. - Oi Voller - ela cumprimenta o rapaz: a mão dele estava quente, um pouco suada, ele estava nervoso? - Sou a Brianna, mas pode chamar de Bri.  - Bri - ele repete sorrindo: o sorriso dele é uma daquelas coisas que a gente nunca quer que acabe, traz uma sensação de paz, de calma - é bom conhecer você - ele diz lentamente - sinto muito pelo que houve com você.  - Não sinta - ela sorri - nem sabemos o que houve ainda.  - Você se lembra? - ele pergunta instintivamente - Me desculpe, eu... Sorry. - Tudo bem - ela sorri, não seria capa de nem mesmo ficar brava com ele, nem por um segundo - eu não me lembro, ainda - ela suspira - não precisa fazer isso.  - O que ? - ele questiona. - Vir me ajudar - ela responde - sei lá, deve estar dizendo coisas horríveis sobre mim na escola.  - Não ligo - ele responde - preciso da sua ajuda também, vai ser legal.  - Aposto que vai - ela sorri tentando parecer empolgada.          Logo o diretor volta e todos se despedem, deixando acordado que Voller iria estudar com Bri diariamente, até ela conseguir colocar as matérias em dias, e depois, duas vezes na semana para auxiliar nas tarefas escolares de ambos. O diretor lembra-os de trocarem os contatos, assim poderiam conversar caso algo não saísse conforme o planejado ou surgissem outras dúvidas.          Assim que eles saíram, Bri pediu a Dulce que alcançasse os seus papéis e lápis: ela sentiu uma imensa vontade de desenhar, e sim, ela queria desenhar o rosto perfeito e o sorriso lindo de Vincent Voller.          Com um pouco de esforço ela fez as linhas iniciais, ela não era boa em desenhos, não como o Ben ou como Lucas, que costumava ser seu amigo na escola também, mas arriscava. Obviamente que os seus traços amadores não fariam jus à beleza do rapaz: cabelos escuros, pele muito clara, olhos esverdeados brilhantes. Sobrancelhas perfeitamente desenhadas... Ele fazia as sobrancelhas? Que coisa i****a de se pensar. E o sorriso? Ele tinha um sorriso perfeito, alinhado, lábios naturalmente avermelhados e bem desenhados, a pele lisa, sem imperfeições e sem barba.    - Arghh - ela rosna furiosa batendo com o lápis na folha - que ideia i****a desenhar aquele garoto, ela m*l o conhecia. O tédio faz coisas estranhas com as pessoas, não é mesmo?          Ela respira profundamente, e é como se ainda pudesse sentir o perfume dele dentro do quarto. Estranho, enquanto ele estava lá, ela nem mesmo percebera, mas agora sentia um aroma herbal com fundo alcoolico, uma coisa fresca e leve. - Tá fazendo o que ai? - Benjamin invadia o quarto mordendo uma maçã e entregando outra para ela - Uhm - ele encara o bloco de desenho - expressões artísticas, de qualidade duvidosa - ele sorri.  - Nunca serei boa como você - ela diz sorrindo, tentando desconversar.  - Recebeu visitas? - ele deu ombros - A Dulce comentou algo sobre gente do colégio.  - Sim - ela responde - o Guedes e um garoto novo, vai ser meu tutor nas exatas e eu vou dar uma força no português para ele.  - Ah - Ben sorriu - o carinha do intercâmbio?  - Ahn? - como ele saiba do cara do intercâmbio - Como sabe disso? - A Bella estava surtando antes, ela falou alguma coisa sobre "até o garoto do intercâmbio saberia que ela era irmã de uma maluca".  - Ela não falou isso - Brianna encarou Ben. - Ah falou - ele suspira - e falou coisa pior também, acho que o pai devia colocar essa cobrinha de castigo - ele revira os olhos - já passou da hora. - Ele não vai fazer isso, por causa da mamãe - ela dá outra mordida na maçã - sempre defende, sempre justifica - Bri dá ombros - mas e ai, me conta, como foi o dia no trabalho? Não quero falar dessa maluca.          Ben rapidamente conta as novidades da delegacia e faz Bri rir alto com o tipo de ocorrências que haviam sido registradas naquele dia, Ben logo despede-se da irmã e dizendo que retorna depois de um banho, e Bri pensa em dormir, mas novamente é interrompida, dessa vez, pelo telefone celular com notificações de mensagens insistentes: "Oi" "Tudo bem?" "O que está fazendo?"            Bri reconhece o número e a foto: Voller, mas porque diabos ele está enviando mensagens de texto?  - Oi, tudo bem e com você? Fazendo nada, acho que não tenho muitas opções e você? - Tudo bem - ele responde rapidamente - porque não vê um filme? - Boa ideia - ela diz, mesmo estando sem vontade de ver filmes - alguma indicação?  - Que tal "O Segredo dos Seus Olhos"? - ele sugere e envia um link.  - Nunca ouvi falar - ela responde seguido de um emoji assustado.  - Um filme argentino, meio velho - ele diz - mas é interessante. - Quem sabe eu assista - ela responde - parece chato.  - Eu pareço chato? - ele questiona. - Não - m***a, ele não entendeu - o filme parece chato...  - Mas eu também pareço chato - ele responde - e mesmo assim me respondeu, dê uma chance ao filme. - Certo - ele me pegou, ela pensou, que boboca - vou assistir mais tarde. - Amanhã você me conta se gostou, boa noite.  - Boa noite, Voller.          Bri guardou o celular no bolso do robe felpudo que usava, essa cosia de ficar deitada a deixava sempre com muito frio. Era esquisito estar falando com aquele garoto pelo celular, porque ele estava falando com ela? Seria por pena?          Os devaneios foram interrompidos por Ben que invadia o quarto com pacotes do delivery de comida, o cheiro de coisas fritas e deliciosas tomavam conta do ambiente: - Benjamin Barnett, você sabe mimar uma garota - ela disse rindo.          
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