Quando o domingo amanheceu, Brianna sentiu-se ainda um pouco mais i****a do que na noite anterior: com tudo o que tinha acontecido, ela nem mesmo lembrara de ligar para Marco Antonio e agora o telefone celular tocava insistentemente e era ela. Ela apenas suspirou e atendeu, quando percebeu que não teria nenhum outro jeito:
- Alô - ela atende com a voz sonolenta.
- Oi Bri - ele diz - eu acordei você?
- Sim, acordou - ela responde - mas está tudo bem, porque eu precisava mesmo acordar.
- Claro - ele diz - e então? Recebeu meu presentinho?
- Sim - ela suspira - me desculpa, Marco, eu acabei me envolvendo com outras coisas e nem mesmo liguei para te agradecer.
- Sem problemas - ele responde - sei que deve estar sendo difícil e cansativo...
- E está - quando percebeu ela estava chorando - mas vai... Vai ficar bem.
- Claro que sim - ele responde - queria ver você.
- Eu não sei se isso é uma boa ideia, Marco.
- Claro que é, Brianna, ainda somos amigos - ele protesta - sabe que eu me preocupo, não pode me afastar assim, ainda mais quando sei que não está bem. Posso te ver hoje à tarde?
- Acho que sim - ela concorda derrotada, não fora r**m falar com ele, ela apenas não sabia se queria se sentir vulnerável daquela forma novamente.
- Tudo bem, então, eu vou aparecer ai antes das cinco.
- Vou te esperar - ela responde.
O domingo foi a definição de tédio: além da ligação de Marco, Bri ainda respondeu mensagens de Voller, que dizia estar preocupado com ela, e ela apenas respondera com "conversamos amanhã" porque ela já sabia exatamente o que precisava dizer à ele. E quando Marco chegou, ela riu e lembrou-se porque ele era o cara que melhor a conhecia naquele mundo: chegou às quatro horas, com um balde de sorvete de chocolate.
- Você não existe - ele disse sorrindo.
- É tão bom ver você - ele a abraça apertado e beija sua testa - fiquei preocupado...
- Sim - ela suspira - soube que esteve no hospital.
- Sim, eu estive, mas precisei voltar aos estudos, sabe como é ...
- Sei, é claro - ela responde - obrigada, de toda forma.
- Não me agradeça, sabe que eu faria de tudo para estar por perto.
Os dois conversam por horas, até Marco olhar para o relógio espantado e dizer que precisa ir, porque está atrasado para um compromisso. Brianna sabe que ainda gosta dele, como o melhor amigo, como o cara com quem ela vivera muito de sua infância e adolescência, mas não sentia com ela o que sentia com Voller, ou com... Melhor não pensar naquilo.
Quando falaram sobre o telefonema anterior ao acidente, Marco disse que ele ligara convidando-a para sair, e reunir-se com os amigos, mas que ela negara o convite, dizendo ter outro compromisso, apesar de não ter dito à ele que compromisso seria aquele, o que a deixou intrigada, ela costumava contar coisas para Marco, e a única explicação para não dizer sobre o seu compromisso, seria o fato desse compromisso ser com outro garoto... O que ela não acreditava que poderia ter sido, ou ela teria encontrado conversas ou indícios de que sairia com alguém.
“Querido diário,
Não sei porque ainda faço isso, acho que eu acabei me acostumando à esse hábito pouco convencional de lidar com meus próprios problemas. Enfim... O Marco veio aqui hoje, e depois de ontem, acho que foi bom ver ele.
Eu estava realmente confusa – e ainda estou – sobre as coisas que eu sinto e sentia, e uma coisa é certa: por mais que a i*****l da minha irmã tenha dito que me joguei daquele mirante porque Marco não me amava mais, sei que é mentira, por mais que ele não me ame, eu não sinto por ele algo tão profundo a ponto de fazer-me tomar uma decisão i****a como essa... Conversamos sobre o telefonema naquele domingo e ele contou-me sobre o que falamos, acho que ele falava a verdade, só não entendo porque eu não teria dito qual era o meu compromisso.
Quanto ao restante da minha confusão, acho que eu não saberei lidar com ela ainda. Sei que devo um pedido de desculpas ao Voller, posso ter sido extremamente cansativa e entediante noite passada, não sei no que ele estava pensando quando aceitou o meu convite, de verdade, ele é legal demais.
Quando à outra metade, acho que eu não tenho nada que fazer... Nunca imaginei que eu estaria escrevendo uma coisa dessas – acho que nem mesmo tem cabimento – mas sentirei saudades do Dr. Mendéz, e não apenas como meu terapeuta, acho que eu sentia algo além disso, algo que ele nunca vai saber e que eu vou precisar guardar em algum cantinho do meu peito, por saber, lá no fundo, que era algo totalmente impossível"
Brianna largou o diário e pegou o notebook, encarou a aba em branco de um email para redigir e concentrou-se em escolher boas palavras que deixassem uma mensagem impactante, mas sem revelar seus confusos sentimentos:
“Jorge,
Eu poderia ter escrito “estimado Dr. Mendéz”, mas não somos mais paciente e médico e mesmo que fossemos, você deixou claro que eu deveria te chamar apenas pelo primeiro nome... Talvez se arrependa disso em um dia, quando estiver mais velho e cansado, fumando um charuto ao lado de uma lareira com uma taça de vinho, vai pensar “aquela garota nunca me levou a sério porque eu disse que deveria chamar-me pelo primeiro nome”, enfim, foi para descontrair.
Eu realmente sinto muito por ter sido grosseira – para não dizer que fui m*l educada, eu jamais admitiria isso – em sua visita no sábado. Acho que você me pegou de surpresa com a sua decisão e sinceramente, acho que eu não estava preparara para te perder.
Você tem sido crucial nas últimas semanas, e não apenas em minha recuperação, é uma boa companhia e eu me sinto feliz em poder compartilhar meus pensamentos terríveis com você e sim, aproveite esse momento, doutor, eu vou sentir muito a sua falta.
Lamento por ter sido uma péssima paciente, espero que não desista da profissão por minha causa – risos, isso seria difícil de aguentar – e que ainda possamos nos manter em contato, acho que eu gostaria de poder conversar com você, ao menos às vezes.
Eu espero, se coração, que você seja extremamente feliz e que tenha um futuro brilhante na Universidade, acho que o seu perfil é perfeito para ser professor, de verdade, vou torcer para o seu sucesso. Sentirei a sua falta, com carinho, Brianna”
Contentou-se em enviar o email, deixar de lado o computador e dormir, sabia que o dia seguinte seria pesado demais, a sessão de fisioterapia a deixaria realmente cansada e ela ainda teria que concentrar-se de alguma forma em seus estudos com Voller, tendo em vista que a última tutoria não tinha rendido nada além de muitas risadas. Quando por fim ajeitou-se, pronta para adormecer, a porta do quarto abriu-se e Bella entrou:
- Oi - disse Brianna - eu estava me preparando para dormir, nem mesmo ouvi que tinham voltado.
- Sim - ela responde - acabamos de chegar. Cadê o Benjamin?
- Acho que esta com a Carol - responde Brianna.
- Quem é Carol? - questiona Bella.
- Namorada do Ben - boceja Brianna.
- Não sabia - a mais nova dá ombros - então, recebeu visitas?
- Sim - responde Bri confusa - como sabe?
- Marco me disse que veio até aqui - ela revira os olhos.
- Uhm - Brianna nem mesmo sabia que os dois costumavam conversar - tá bem, então.
- Não - responde a irmã - não está bem! Fica sabendo que o Marco não veio ver você pelos motivos que você imagina...
- Eu não entendi.
- Sim - ela responde - Marco veio ver você: não por amor, mas por culpa.
- Garota - Brianna suspira - sério mesmo que você veio aqui falar m***a no meu ouvido?
Bella apenas ri e sai, e Brianna - apenas de nunca dar muita atenção às besteiras da mais nova fica com a pulga atrás da orelha: porque diabos Marco sentiria culpa a ponto de ir procurá-la? E porque ele e Bella conversavam? Será que eles estavam tendo um caso e ela nem mesmo sabia? Deu ombros, aquilo simplesmente não fazia a menor diferença, com exceção da parte da culpa, aquilo realmente a deixava incomodada e pensativa.