Pequeno grande progresso

1002 Words
            Sem sonhos ou pesadelos, Brianna acordou no meio da madrugada de repente. Sentiu algo estranho, mas a princípio, não entendia muito bem o que sentia... Era como uma coceira, na panturrilha esquerda. Tentou, por diversas vezes, mover-se na cama para coçar, mas não conseguiu, e então, quando estava prestes à chamar alguém para ajuda-la, aconteceu: involuntariamente, Brianna dobrou a perna direita, e surpresa, esticou novamente e dobrou... Apenas a direita, mas ela tinha conseguido: um movimento de verdade. Conteve sua alegria: não iria acordar ninguém, eram três da manhã, mas precisava dividir isso com alguém...             O celular toca no meio da noite: Jorge está acostumado com notificações noturnas, mas raramente as checa. Aquela noite, por exemplo, ele nem mesmo se daria ao trabalho afinal, não estava de plantão, mas alguma coisa o fez pegar o telefone celular, e assim que reparou no nome do remetente, colocou os óculos e sentou-se na cama: apenas o nome de Brianna Barnett já causava nele uma sensação esquisita: "Boa noite , Jorge,      Espero não te acordar com esse email bobo - e eu juro que pensei muito se eu deveria escrever essa hora ou não, mas enfim... Todos por aqui estão dormindo, e eu não quis acordar, mas quer saber? Eu precisava dividir isso com alguém e a primeira pessoa que me veio em mente foi você.     Antes mesmo de contar sobre o meu pequeno grande progresso, peço desculpas pela hora, enfim... Acordei há pouco tempo com uma coceira na perna direita (viu como era bobeira?) e ai, tentei coçar e não consegui, e no fim das contas, acabei dobrando o meu joelho direito. Jorge, eu dobrei o meu joelho! Não é como um leve mover de dedos, ou uma viradinha no tornozelo... E quando eu tentei, eu fiz de novo. Foi difícil, mas eu fiz. Acho que estou com medo de dormir e acordar pensando que eu apenas sonhei...      Vou usar esse email para lembrar que foi real, ao menos uma coisa real... Enfim, boa noite"                       Largou o telefone celular, acendeu a luz, pegou o diário e começou a escrever, meio que no piloto automático, sem nem mesmo pensar muito sobre o que escrevia:  "Querido diário,      Já tem mais de setenta dias do meu acidente e eu lembrei de muito pouco, quase nada. Eu estou empenhada, mas tem sido complicado esse lado, principalmente depois que o Jorge se foi, eu ainda não encontrei outro terapeuta, enfim...        A verdade é que eu preciso falar sobre o Jorge, e não sobre ele sendo o melhor terapeuta possível, eu preciso falar sobre o meu peito apertando quando penso nele, sobre a estranha sensação de ter deixado alguma coisa pendente, sobre sentir falta de uma coisa irreal e que eu não vivi. Preciso falar sobre um sentimento que eu tenho por ele, que eu nem mesmo consigo mensurar ou explicar.          Acho que eu estive tão ocupada em ser totalmente intragável depois do acidente, que eu não reparei em algumas coisas, e agora, conforme os dias passam e a ausência dele incomoda, eu apenas fecho os meus olhos e lembro do jeito como ele me olhava, lembro do perfume, lembro do sorriso - eu acho que o sorriso dele devia ser proibido por lei, é sério - e fico constantemente me perguntando se as coisas que eu penso ter percebido com o tempo, foram reais, porque hoje, quando eu analiso, parece que havia reciprocidade, mas eu devo estar maluca.          Não sei porque eu estou escrevendo sobre isso, deve ser porque eu fiz um pequeno progresso e a primeira pessoa que eu imaginei que deveria saber, era ele... "         E assim, com os olhos marejados e uma sufocante sensação de vazio, Brianna fechou o diário e  o deixou novamente no lugar: caso acordasse pela manhã e não conseguisse repetir o movimento, ela saberia que tinha sido real, e quanto à Jorge, bem, isso poderia muito bem ter sido apenas um dos seus sonhos...         Quando acordou na manhã seguinte, a primeira coisa que tentou fazer foi repetir o movimento e com um pouco de esforço, conseguiu. Neste momento, Brianna chamou Dulce e mostrou à ela, que comemorou muito, chorando de emoção. Logo chamaram por Ben e mais uma vez comemoraram, e quando os pais de Bri souberam, também estavam felizes e satisfeitos com a evolução, mas o assunto não parecia tão importante quanto a temporada de turistas na cidade.          Antes de sua sessão de fisioterapia, Brianna checou os emails: "Oi Bri,     Eu estou muito, muito feliz... Acho que duplamente feliz: primeiro pelo seu pequeno grande progresso e segundo por você ter pensado em mim - e aqui esta uma frase que talvez pareça tão confusa quanto realmente é - enfim, sempre confiei na sua plena recuperação, então é sempre maravilhoso saber do seu progresso.      Espero - de todo o meu coração  - que esteja dedicando a mesma atenção, o mesmo esforço e o mesmo empenho de sua recuperação física, em sua recuperação psicológica, de verdade, quero te ver bem, e em breve. Com carinho, Jorge."         O coração disparando, e os sentimentos ainda mais confusos... Por falar em sentimentos, lembrou que deveria enviar uma mensagem à Voller, isso também a deixava confusa, mas era necessário, ateve-se a dizer que tinha novidades e que estava ansiosa para encontrá-lo, e ele respondeu que estava duplamente ansioso, o que a fez rir: a palavra duplamente estava pontuando o seu dia, e ela sentia-se duplamente confusa também.          Com todo o frenesi de seu progresso, Brianna quase esqueceu-se de suas provas da tarde, mas Voller a lembrou com outra mensagem de texto, a namorada de Ben buscou-a em casa conforme o combinado e antes das duas da tarde elas estavam indo em direção à escola e com isso, Brianna sentia tantas coisas que m*l conseguiria explicar, um misto de medo, ansiedade, angustia, alegria... Era bom estar de volta, o r**m era estar lá naquelas condições. Era terrível a ideia de fazer provas, mas ela sentia-se normal fazendo isso, afinal, era o que todos os adolescentes normais fazia... Provas. 
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