Capítulo 15

1345 Words
Por um minuto ou dois Alice parou olhando para a casa, tentando imaginar o que fazer a seguir, quando repentinamente um lacaio vestido com libré apareceu correndo vindo da direção da floresta. – Alice no país das maravilhas Capítulo 6, porco e pimenta ●●● Assim como o médico teria recomendado, senhor Bailey deveria distribuir seu tempo entre ficar sentado e caminhar. Mesmo que tivesse se esquecido de poucas coisas, ele começava a ficar confuso sobre suas memórias, já que sua família o perguntavam coisas como “você se lembra disso?” o tempo todo. Além de testarem sua memória, os filhos começaram a ser cuidadosos com sua saúde. Levando em conta que estava calor durante o dia e ventania próximo da meia-noite, nenhum dos filhos deixaria Senhor Bailey andar lá fora em meio a chuva. Ainda era cedo e ninguém teria levantado. Sendo assim, aproveitaria aquele horário matutino para fazer uma caminhada. Ajeitando o chapéu de palha segurou o andador ortopédico, que consideraria seu camarada, pronto para sair de casa. O céu estava azulado com um vento gelado, as árvores balançavam em sincronia. Enquanto caminhava em seu ritmo lento, senhor Bailey apreciava o ambiente e a visão do campo. Estavam no inverno e mesmo assim haveriam árvores e plantas florindo fora de época. Sua mente divagava sobre o presente, aquilo que estava acontecendo. Sendo assim não percebia que estava se esquecendo de uma coisa ou outra. Mesmo estando ciente de sua atual condição, não se permitia deixar abalar. Sabia muito bem que chegar naquela idade com saúde era algo extremamente difícil. Mas como sujeito que portava Alzheimer, não saberia dizer com precisão o que sentia. Às vezes lembrava e às vezes não. O problema era com o passar do tempo. O que antes poderia ser algo ocasional (de se lembrar e não se lembrar), passava a ser algo convicto no dia seguinte. O que lhe angustiava, minimamente, era o fato de saber que algo estava se perdendo. Mas não saberia dizer o quê. Parando de caminhar olhava em sua volta percebendo estar em meio a uma plantação. Não saberia que horas eram, mas acreditava já ser o momento de voltar para casa. Virando-se retornou o trajeto que acreditou ser o certo, já se esquecendo do mesmo. Passava por árvores, por alguns pequenos animais (acreditou ter visto um esquilo carregando algo). No final de sua caminhada estava de frente a uma casa de madeira com um estábulo próximo. Coçando a cabeça ficara em dúvida se estava certo. ― Mas essa não é a minha casa. Dando as costas tornou a caminhar. Enquanto isso na casa de madeira, Cristal fora a primeira a despertar. Notando o ambiente silencioso e a porta do quarto do sogro fechada, acreditou que todos estariam dormindo. Fizera a sua nova rotina de preparar o café da manhã, e não demorou para que o cheiro do café despertasse os demais aos poucos. Evitavam de falar alto, não queriam acordar o Senhor Bailey. Preferiram se aglomerar em na cozinha, onde poderiam conversar. Com o passar das horas Lucius ficara preocupado, o pai estaria dormindo demais. Sem falar para ninguém, entrou no quarto do pai tendo a grande surpresa de encontrar a cama vazia. Os passos apressados do filho caçula foram ouvidos pelos demais, que o encaravam atentos. ― Cadê o papai? Cristal fora a primeira responder. ― Não está dormindo? ― Ele não está na cama! Não demorou para que os seis adultos entrassem em pânico, começando a vasculhar a casa de madeira e os estábulos. Benjamin e Héctor faziam a contagem dos cavalos suspirando alto em perceber que senhor Bailey teria saído sozinho. Sem tempo a perder, preferiram procurar o idoso com o carro. O trajeto percorrido foi baseado em achismos. Senhor Bailey gostava de apreciar a paisagem, por isso achavam que o encontrariam onde haveriam plantações. Entretanto nenhum sinal dele. O centro da cidade não haveria nada em especial. Na verdade estava tudo abandonado. Deveria ser fácil de encontrar um senhor de sessenta e oito anos andando. ― Vamos dar uma olhada na rodovia! Benjamin virava o volante seguindo para a rodovia que dava para a cidade vizinha mais próxima. Não demoraram para verem de longe a figura de senhor Bailey caminhando com seu andador ortopédico. O carro parou e os três filhos saíram em disparada até o pai. ― Pai! Ouvindo os gritos atrás de si, senhor Bailey se virou lentamente rindo com a cena dos filhos correndo em sua direção. ― Bom dia meninos, dormiram bem? ― O senhor está indo aonde? ― Para casa, oras. Benjamin segurou o braço de Héctor, que pretendia repreender o senhor. Tinham de se lembrar da condição dele, e por isso não adiantaria represálias. Deveriam ter esperado aquilo acontecer. ― Vamos de carro pai, assim chegaremos mais rápido. O que acha? O senhor Bailey esticou o pescoço para ver o carro mais ao longe, e então para os filhos que pareciam preocupados. ― Acho melhor que andar. Lucius e Benjamin ajudavam o senhor a caminhar para o carro, enquanto Héctor soltava o ar de seus pulmões. Precisava se acostumar com a sua condição, e também com estar preocupado com o pai. Em alguns minutos os quatro retornavam para a casa de madeira, onde Oliver mascarava a preocupação perguntando ao sogro se sua caminhada fora satisfatória. ― Oras foi estupenda. Acho que posso ficar sentado o restante do dia! Millena confortava o marido, que ansiava bater a testa na bancada da cozinha. Faziam poucos dias que estavam ali e já se sentiam esgotados. Enquanto tomavam café, os três filhos se reuniam em um quarto vazio para conversarem. O olhar raivoso de Héctor sobre Lucius fazia o menor encolher os ombros e procurar pelos braços protetores do irmão mais velho. Sua raiva não era desnecessária, fora o último a descobrir a doença do pai. Apesar de parte da culpa ser sua, por rejeitar as ligações do irmão, continuava a se sentir traído. ― Sinceramente, quantas vezes passamos o natal aqui? Nunca percebi nada e você sequer nos contou! ― É uma data comemorativa e tento evitar assuntos sérios para não estragar o clima ― O caçula mexia na blusa, fazendo um pequeno bico nos lábios. ― Vocês só notaram por causa da história que o papai estava contando a gente. ― Isso eu não n**o ― Benjamin dizia ― Realmente prestei mais atenção nele depois desse natal. ― Viu só? Héctor bufava e mexia nos cabelos. Mesmo que fosse pai de duas crianças, que faziam uma bagunça em sua casa, mesmo que fosse dono de uma revista, as mais vendidas de Londres, nunca passara por tanto estresse como havia passado naqueles poucos dias. Parte disso era o sentimento de arrependimento por negligenciar o pai. ― Agora que todos nós sabemos disso, acho melhor dividirmos nosso tempo. Um de nós tem que ficar aqui. Lucius fora o primeiro a levantar a mão. Morava na cidade vizinha, não teria nenhum problema em vir cuidar do pai. ― Eu posso. ― E o seu trabalho? A mão de Lucius se abaixara e um pequeno muxoxo escapara de seus lábios. O grande problema entre os três filhos eram suas responsabilidades. Benjamin tinha a empresa que herdara do pai, e por sua filha ser adulta não precisava se preocupar demais com as coisas em casa. Héctor com sua revista tinha sempre de cuidar dos seus funcionários dos assuntos do momento, além de seus dois filhos pequenos precisarem de sua atenção. Lucius era a mesma coisa em relação aos filhos, e seu trabalho como professor de universidade poderia ter os horários mais flexíveis possíveis. ― Bom, eu posso cuidar do pai o dia todo e deixar Oliver cuidando à noite enquanto dou aulas ― Dizia o caçula ― Além do mais, acho que as crianças serão uma ótima terapia para ele. ― Podemos fazer um rodizio então. Nos próximos minutos os três criaram uma agenda de compromissos. Cada um olhando o celular para dizer as datas que mais tinham coisas a resolverem, e as datas disponíveis para cuidar do pai.
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