Capítulo 08

2123 Words
“Eu acho que não deveria ter mencionado Dinah”, ela disse em um tom melancólico. “Parece que ninguém gosta dela aqui em baixo, e eu tenho certeza que ela é a melhor gata do mundo! Oh minha querida Dinah! Eu queria saber se volto a vê―la algum dia!” – Alice no país das maravilhas Capítulo 3, uma corrida de comitê e uma longa história ●●● Com o céu nublado e a chuva ainda caindo, todos estavam aconchegados no sofá enquanto olhavam atentos para Senhor Bailey que dava continuidade à sua história. Benjamin e Héctor eram os mais atentos, a curiosidade para tantos segredos sendo revelados crescia a cada palavra dita pelo pai. ― No final das contas aquele garoto tinha razão ― Senhor Bailey bebericava um gole do café, feito por Emma. ― No dia seguinte o nosso professor de história tinha pedido por um trabalho em dupla... ●●● INTERIOR DO Inglaterra, 16 DE FEVEREIRO DE 1965 Franchesco olhava para o professor de forma incrédula. Aos poucos os alunos começavam a opinar sobre quais seriam os parceiros. Adrian, assim como outros, queriam fazer com o rapaz de cabelos brancos, e aquilo apenas aumentou a discussão entre os estudantes. Soltando um suspiro o professor ajeitava os óculos no rosto pedindo pelo silêncio, que fora feito de imediato. Olhando para o aluno em questão, o professor pigarreava. ― Já que não entramos em um acordo, senhor Bailey com quem você fará o trabalho? O rapaz alto recebia todos os olhares curiosos. Adrian juntava as mãos movendo os lábios rapidamente implorando para fazer consigo. A matéria de história não seria um problema para si, gostava e até fazia questão de esbanjar o seu conhecimento com notas altas. Entretanto sabia que seu amigo não era bom na disciplina, por isso o seu desespero em fazer com o mais alto. Os olhos do rapaz passaram por todos os rostos na sala, e apenas uma pessoa não lhe encarava. Era aquele do jardim, que parecia mais interessado em observar o lado de fora. Lembrando-se do pedido dele no dia anterior, Franchesco soltou um suspiro apontando para o garoto em questão. ― Farei com ele. Todos seguiam a direção apontada por Franchesco, os sobressaltos além dos cochichos se iniciaram. O rapaz alto sequer se importava. Mas parecia querer cumprir parte do acordo, além do mais gostou de ver Adrian fazendo careta enquanto lhe xingava. O professor apenas sorria enquanto anotava. ― Tudo bem, Senhor Bailey fará dupla com o Senhor Fontenelle. O garoto citado acordara do devaneio olhando surpreso para o professor. Franchesco abria um largo sorriso por observar aquela descrença em seu colega de classe. Assim o professor deu continuidade à divisão dos grupos, quando terminado explicou a atividade e concedeu aos grupos o restante da aula para dar início ao trabalho. Franchesco ajeitava a carteira ao seu lado, vendo que o garoto guardar seu material para se ajuntar ao mais alto. Assim que próximos o garoto sentia os olhares quentes sobre si, e por algum momento arrependeu-se por ter pedido aquilo a alguém tão popular em uma escola. ― Por nada ― Sussurrava Franchesco abrindo o caderno. O garoto ao seu lado lhe olhava surpreso, e claramente nervoso. ― Cumpri o que me pediu, espero que faça o mesmo. ― Eu disse que faria ― Resmungava o garoto. ― Aliás ― Franchesco olhou para o garoto, percebendo que o mesmo lia a folha de atividades. ― Qual teu nome? O garoto em questão desviou os olhos da folha de atividades para encarar Franchesco. Sabia muito bem quem era ele, não apenas por dividir a sala, mas por conta de sua popularidade com os demais alunos. O consideraria uma pessoa que saberia o que acontece em toda a escola. Porém a fisionomia séria, como se de fato o rapaz à sua frente fosse um desconhecido, lhe surpreendia cada vez mais. Nunca teria ouvido falar de si. ― Henry. Henry Fontenelle. Franchesco assentia e logo deixou a conversa de lado. Os dois rapazes se debruçaram sobre as atividades, as cumprindo até o sinal do final daquela aula soasse pelos corredores. Com o horário de almoço, Franchesco apenas via o garoto desaparecer de sua vista junto com seu material. Sem se incomodar com aquilo se juntou aos amigos seguindo pelos corredores até o refeitório. ― Pensei que iria me escolher para fazer o trabalho. Sabe que preciso de nota. Adrian ainda resmungava, e por mais que mostrasse uma fisionomia brava, tudo o que arrancava de Franchesco eram risos. O mais alto acariciou os cabelos do amigo deixando que um riso sorrateiro escapasse de si. ― Essa é a sua prenda, por terem se divertido sem mim no outro dia. Com a capital inglesa em pleno inverno, os alunos se sentiam aliviados com o sol que saía naquele dia. Sendo assim, a maior parte dos estudantes estavam indo almoçar nos pátios da escola, deixando o refeitório quase vazio. Os três amigos seguiam na fila, e ao pegarem o almoço optaram por permanecer no refeitório onde poderiam ter um pouco mais de privacidade para conversar. ― Sabe Franchesco, o que te deu para escolher o Henry como sua dupla? Vincent, que estudava em outra sala, pareceu interessado no assunto. Ficando de cócoras na cadeira se inclinou para os amigos, enquanto limpava os lábios sujos do molho de tomate com o guardanapo. ― Henry? Está falando do Henry Fontenelle? Franchesco arqueava a sobrancelha para os dois amigos, que pareciam se divertir às suas custas. Continuou a comer tentando não dar muita atenção, entretanto a forma como Vincent havia se referido ao colega de trabalho de Franchesco, haveria de fato algo que o próprio não saberia. Recordou-se do dia anterior onde Henry teria lhe dito que não era o único a ser fonte de rumores. Franchesco saberia muitíssimo bem que aquele garoto não era popular, caso contrário estaria naquele círculo de amizades. Levando tudo aquilo em consideração, e ainda somando com as reações de seus amigos, resultava em algo que queria descobrir. ― Vocês conhecem ele? Os dois amigos ficaram a observar Franchesco. Tentaram encontrar algum traço de brincadeira em seu rosto, mas a seriedade prevalecia. Entreolhando-se soltaram um suspiro voltando a comer sob os olhos vigilantes de Franchesco. O rapaz alto puxou a bandeja dos amigos franzindo a sobrancelha. ― Vou ter que repetir? Vincent soltou outro suspiro pesado, olhou em volta vendo que ninguém prestava atenção neles. ― Henry é gay, todo mundo sabe disso. Adrian cuspira o suco que bebia, Franchesco inclinava a cabeça fazendo careta diante da fala do amigo. Vincent contava aos amigos sobre os boatos que rondavam na escola acerca de Henry. Ninguém saberia de quem ele era filho, sendo mais provável dizer que era um bolsista levando em consideração suas notas. Os boatos se iniciaram no ano anterior quando alguém disse ter visto o garoto em um momento íntimo com outro estudante, da qual o nome era desconhecido. Haveria muitas histórias, e Vincent afirmava que sempre davam um jeito de tentar de irritá-lo e humilhá-lo. O preconceito na escola era grande, mas Franchesco nunca teria visto algo do tipo. Sequer sabia sobre o seu colega de sala, e agora que o conhecia não saberia o que pensar dele. Mesmo tendo tais informações para sanar sua curiosidade, Franchesco dava de ombros devolvendo as bandejas aos amigos. Ao final do almoço os três rapazes seguiam para suas salas, quando entraram no corredor percebiam uma garota bonita, cabelos medianos e ondulados, a pele levemente bronzeada e os lábios pintados com uma cor rosada. Vincent dera alguns tapas no ombro de Franchesco antes de seguir para sua sala. O rapaz alto arqueava a sobrancelha sem saber o motivo do amigo ter agido de tal forma. Antes que os dois amigos entrassem na sala, a garota segurou o paletó de Franchesco, fazendo o rapaz lhe olhar. ― Olá, posso conversar um instante com você? ― E quem seria você? A garota soltou o paletó do rapaz sorrindo grandiosamente. ― Camille, estou no terceiro ano. ― Franchesco assentia, recordando de os amigos terem a mencionado em uma conversa. ― Sabe, acho que seria interessante que duas pessoas populares da escola finalmente se conhecessem. ― Boa sorte para se conhecerem então. Franchesco ria entrando na sala, deixando a garota perplexa na porta. ●●● ― Foi assim que conheceu nossa mãe? Héctor finalmente quebrara o silêncio, senhor Bailey ajeitava a coberta sobre suas pernas ao sentir o vento gelado passar pela fresta da janela. Ao olhar o filho do meio, o senhor sorria levemente assentindo. ― Não sei se foi para minha desgraça ou por uma benção. Os filhos saberiam que o pai não iria mentir, e muito menos deixar de falar m*l da mãe em sua frente. Héctor suspirou ignorando a pequena raiva que veio ao ouvir aquilo de sua mãe. Se estava ali para descobrir coisas, então teria de ter a paciência. Ao contrário do filho do meio, Benjamin estava imerso em seus pensamentos. Recordava das palavras de Lucius quando chegaram, dizendo sobre o pai já ter passado por uma situação de ser expulso de casa e não ter a quem recorrer. Antes daquela parte da história ser contada, Benjamin havia descartado a hipótese sobre o pai ser homoafetivo. Mas naquele momento parecia que isso teria sido verídico. Olhava para o senhor Bailey e o analisando não conseguiria imaginar o pai em um relacionamento com outro homem. Se o que pensava fosse o correto, então entenderia o conforto que Lucius teria recebido, e o motivo do pai ter ficado tão bravo com a ex-esposa, para irem discutir sobre o assunto. ― Isso explica muita coisa. ― Mas mesmo que esse Henry fosse gay, qual seria o problema? Emma tinha dificuldades em imaginar a realidade dos anos 60. Saberia que na atualidade havia muitos problemas, mas naquela época teria sido tão difícil quanto hoje? ― Ninguém gostava disso na época. E como se tratava de um internato, então relacionamentos eram estritamente proibidos. Todos assentiam com a explicação. Tão breve a chuva começara a soar alto e o vento soprava batendo contra as paredes. Não demorou para que a energia da casa caísse, as crianças soltando gritos dos quartos fez com que os pais corressem até eles. Benjamin se levantou do sofá colocando mais lenha na lareira, iluminando parte daquela casa. Apenas ele e o Senhor Bailey estavam na sala, já que o restante foram procurar por velas e acalmar as crianças. ― Quando falou que não sabia se conhecer nossa mãe foi uma benção ou uma desgraça... a que se referia? Senhor Bailey observou o filho, estava sério enquanto ajeitava as lenhas próximas a lareira. O semblante do filho poderia ser daquela maneira, o que de certa forma fazia se lembrar de si mesmo quando tinha sua idade. ― A única benção que sua mãe me deu foram os meus filhos ― Resmungava o idoso, logo abrindo o sorriso para o filho ― Do restante, nenhuma outra memória boa. ― Nem para se deitar na mesma cama com ela, para nos conceber, você a amou? ― Você foi o único filho da qual eu precisei me deitar com ela. ― Senhor Bailey encarava os quadros de fotos que haviam sobre a lareira. ― Seus irmãos foram através de inseminação artificial. ― Espero que eles não saibam disso. ― Lucius já sabe. Senhor Bailey puxava mais da coberta tossindo sentindo o peito arder. Assim que conseguiu ajeitar as cobertas sobre seu peito, sentiu-se aquecido. ― E ele mesmo assim te ama, que filho não? ― Benjamin aposto que já teve essa conversa com sua filha ― Senhor Bailey voltava a olhar o filho com seriedade ― Nunca se deve f********o apenas por prazer. E a minha única vez que fiz com sua mãe, ela acabou por engravidar de você. Mas o modo como ela me persuadiu a me deitar na cama, nunca a perdoarei. Benjamin teria feito mais perguntas ao pai, contudo o restante da família retornara a sala para continuarem a ouvir o restante da história do senhor Bailey. Entretanto o frio passando pela casa de madeira fazia com que todos ficassem juntos ao redor da lareira, era um momento familiar que o senhor Bailey agraciava em silêncio. ― Então vô, depois de saber sobre esse Henry o senhor foi conversar com ele? ― Ah acho que fui, não me recordo muito bem dessa parte ― O Senhor Bailey olhava para a neta mais velha, a curiosidade como poderia ser tão conveniente naquele momento ― Para ser sincero depois de saber sobre esses fatos, não cheguei a conversar sobre isso com ele. Apenas falávamos sobre a atividade que tínhamos de fazer.
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