Capítulo 07

1407 Words
INTERIOR DO INGLATERRA, 15 DE FEVEREIRO DE 1965 Uma vez mais Franchesco se pegava mordendo a borda do copo de plástico, enquanto olhava para a janela grande do refeitório. Mesmo com os seus amigos conversando consigo sobre como teriam passado o dia anterior sem o mais alto, o rapaz tatuado não se mantinha interessado. Ficou com o olhar preso na janela até que um movimento se fez em frente a seu campo de visão. Com o livro da Alice no País das Maravilhas e a caixinha de suco, o mesmo rapaz de sempre estava se sentando. Espreitando os olhos reconhecera sua feição, era um mais baixo que si com os cabelos castanhos ajeitados em uma franja, o mesmo penteado que Adrian. Tinha a pele branca e os lábios finos e avermelhados. Era o mesmo garoto que havia visto no dia anterior naquele jardim. Deixando o copo descartável sobre a mesa, Franchesco se levantou com sua mochila e se aproximou daquele garoto. Todos do refeitório o seguiam com o olhar curiosos para saber onde ele iria parar. No final das contas a surpresa fora grande quando Franchesco se sentara de frente a um garoto estranho. O rapaz desviou o olhar do livro assim que percebeu movimentação na cadeira à sua frente. Arqueando a sobrancelha e terminando de beber o suco continuou a encarar Franchesco, assim como o mais alto também o fazia. O refeitório fora sucumbido por murmúrios, Vincent e Adrian apenas observavam de longe com surpresa. ― Acho que temos contas a serem acertadas. O rapaz deixara a caixa do suco vazia sobre a bandeja, pegou do salgado e voltou a ler do livro. Mordia um pedaço enquanto seus olhos passavam entre as linhas do livro. O momento de silêncio se prolongou entre os dois, o rapaz somente fechou o livro quando terminou de ler o capítulo e perceber que Franchesco continuava na sua frente esperando por sua resposta. ― O que quer? Franchesco olhava em volta sabendo que chamavam muita atenção. Estava fora do seu círculo de amizades. E como todos queriam estar ao seu lado, talvez abrira uma brecha para ser observado esperando a chance para também se aproximarem. Inclinando-se sobre a mesa, esperou que o rapaz a sua frente fizesse o mesmo. Assim que os rostos estivessem próximos o suficiente, começou a sussurrar. ― Era você que estava ontem naquele jardim, não era? O rapaz ficou a observar a fisionomia de Franchesco. Soltando um suspiro recordou-se dele dormindo no banco do jardim. ― Ah, o pão de ontem. ― P-Pão? ― O sorriso sorrateiro de Franchesco aumentara com a gíria, mas a fisionomia do rapaz se mantinha séria. ― Enfim, contou a alguém sobre ontem? ― Sobre você ter matado as últimas aulas? O rosto de Franchesco exibia surpresa. O rapaz acabou por se afastar cruzando os braços. Não parecia ser alguém que o seguiria, já que não demonstrou nenhuma euforia em falar consigo ou de tentar algo enquanto dormia no banco no dia anterior. ― Como sabe sobre isso? ― Sou da sua sala ― O garoto respondia guardando o livro na mochila ― E não eu não contei a ninguém, isso não é um problema meu. Se era isso, com licença. O rapaz não dera tempo para que Franchesco lhe respondesse. Ele apenas se levantou se retirando do refeitório tendo vários pares de olhos lhe seguindo. Franchesco se virou assistindo o garoto sair, soltou uma risada abafada antes de pegar sua mochila e seguir para a sala de aula. Em seu caminho ficava se perguntando quem eram seus colegas de classe, nunca teria visto ele entre os alunos. Por mais que quisesse se lembrar, iria saber quando passasse pela porta da sala. E quando o fez, encontrou o garoto na fila que ficava próxima à janela em uma das primeiras carteiras. Deixando a mochila sobre a mesa e se sentando, Franchesco ficou a encarar o garoto que estava de costas para si. ― Você conhece ele? O rapaz alto se assustara com o sussurro de Adrian, que soltou um riso baixo enquanto se sentava ao seu lado. Franchesco fizera uma careta antes e voltar a encarar o rapaz. ― Ele me viu cabulando aula ontem. Quero ter certeza que ele não vai contar a ninguém. ― Posso cuidar disso. ― É meu assunto, deixa comigo. Com o passar das aulas, Franchesco intercalava entre copiar a matéria e olhar para o garoto da outra fileira. Percebia que o mesmo se distraía com facilidade ao observar a janela. O mais alto saberia que nos momentos em que se sentia entediado, como no dia anterior, o lado de fora poderia ser mais divertido. Mesmo com o horário de almoço o rapaz alto não deixava de observar o garoto, que apenas lia o seu livro. Suspirava indignado temendo em ter seu nome chamado pela secretária do diretor. Desistiu de olhar o garoto para comer do almoço junto com os amigos, que ainda se vangloriavam de ter perdido as últimas aulas. Queriam repetir a aventura entretanto Franchesco negou com a cabeça, já que pretendia fazer outra coisa. Antes que o sinal soasse, Vincent e Adrian juntaram suas mochilas seguindo o caminho para escaparem dos muros da escola. Franchesco resolvera regressar à sala de aula, onde se sentou e esperou pelo professor de educação física. Não tinha interesse em correr pela quadra e praticar o mesmo esporte que aprendeu no ano anterior, juntou seu material indo em direção do estacionamento dos professores. Dessa vez não havia pressa em seu caminhar, e muito menos estava sendo seguido por algum inspetor. Apenas andava com as mãos no bolso da calça parando em frente à porta de madeira. Abrindo-a seguiu pulando as pedras atravessando as folhagens de árvores. Havia parado no caminho, suspirando baixo. ― O que faz aqui? Virando-se rapidamente, Franchesco voltou a se encontrar com aquele garoto. Soltando uma risada nervosa, coçara sua nuca sem saber o que exatamente deveria responder. ― Queria saber se realmente não vai contar a ninguém sobre ontem. ― Eu disse que não irei ― O rapaz seguia para além das árvores à direita de Franchesco, onde ao meio havia uma pequena construção de madeira que serviria como estufa. O rapaz alto seguiu o garoto e o observou tirar o casaco da escola, para então vestir o avental sujo de terra. ― E por causa disso está me devendo um favor. Franchesco soltou um riso abafado, no final das contas o garoto iria se aproveitar de um Bailey. Entretanto ser denunciado ao diretor poderia lhe resultar em problemas em casa. Sendo assim optou por entrar naquele jogo, tomando o cuidado para não ser passado para trás novamente. ― E que tipo de favor? O garoto terminava de arrumar o avental em seu corpo, pegando um pacote de sementes e mais alguns utensílios e virou-se para Franchesco. ― Quando um professor pedir para fazer algum trabalho em dupla, faça comigo. ― Ah quer fazer o trabalho comigo então? ― Poderia ser com qualquer um, desde que eu não fique sozinho de novo. O garoto sorria passando por Franchesco, deixando o rapaz alto perplexo. Estava sentindo-se levemente furioso por conta da sensação de estar sendo usurpado. Seguindo o garoto para próximo da porta de entrada do jardim, Franchesco cruzava os braços franzindo a testa. ― Eu sinto muito, mas acho que não sabe com quem está falando. O garoto começava a tirar da grama com a espátula, fazia um pequeno buraco enquanto enterrava uma semente. ― O grande herdeiro de uma agência de entretenimento ― Respondia o garoto que cobria a semente com um punhado de terra ― Mas me parece que você olha para o próprio umbigo. Franchesco soltava outra risada abafada se agachando encarando o garoto. ― Escute aqui, eu não olho para o meu próprio umbigo. ― Se não olhasse não estaria conversando comigo ― O garoto direcionou sua atenção para Franchesco sorrindo tristemente ― Você não é a única pessoa que os alunos fofocam. O garoto se afastava de Franchesco dando continuidade ao seu trabalho. O rapaz alto permaneceu em silêncio tentando se lembrar de alguma coisa que pudesse circular entre os alunos. Mas não conseguia discernir. No final das contas acabou por se levantar e passar o restante do tempo dormindo no banco do jardim. Olhando para trás, para esta estrada, minhas lágrimas não param de cair Esconderei tudo isso em meu coração Promise― Exo ━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
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