Capítulo 09

1556 Words
INTERIOR DO INGLATERRA, 23 DE FEVEREIRO DE 1965 Ir para o jardim secreto, como Franchesco resolvera denominar, passou a ser um ponto crucial de sua rotina. Após o término das aulas passou a ir ao jardim para conversar com Henry. Nos primeiros dias a sua desculpa seria por conta da atividade de história, mas após o seu término não saberia qual o novo motivo de sua vinda. Depois de descobrir sobre os boatos que rondavam aquele garoto, Franchesco percebia estar interessado sobre aquilo. No refeitório e em sala de aula, seguia Henry imaginando como teria acontecido toda aquela situação para que os boatos começassem. No final de seus pensamentos sempre se perguntava como era ficar com um homem. Por mais que isso lhe deixasse confuso, o que resultava em tapas em sua própria cabeça e xingamentos, Franchesco não conseguia não pensar em se aproximar de Henry. Sentado no banco ficava observando o garoto cortar alguns espinhos e folhas das roseiras. Era um cuidado exímio que tinha com aquelas plantas, suas mãos pareciam delicadas quando tocava em uma flor. Todas as vezes que vinham se encontrar ali, a pedido do próprio Henry para evitar rumores, Franchesco ficava observando-o mexer com maestria com aquelas plantas. Mesmo que pudesse ficar olhando-o, saberia que o silêncio entre eles era tenso demais. Soltando um pigarro, e tentando encontrar outro assunto, Franchesco iniciou uma conversa. ― Nós estraçalhamos, não é? Henry se virou para olhar Franchesco, que sorria grandiosamente como se participasse de alguma brincadeira. Por mais que seus avisos para que ficasse longe de si estivessem sidos dados ao rapaz alto, parecia que os mesmos foram ignorados com plenitude. Os cochichos que o garoto ouvia cada vez que andava nos corredores, passaram a lhe incomodar por justamente ouvir o nome de Franchesco junto ao seu. Não saberia dizer se ele entendia tudo aquilo, se saberia o motivo de Henry não ser escolhido para fazer dupla, ou de não participar das aulas de educação física. E se soubesse, então queria saber o porquê de Franchesco Bailey estar lhe dando atenção daquela maneira. ― É, estraçalhamos, apesar de alguns alunos quererem fundir a cuca. Franchesco soltava uma risada baixa em ver o garoto usar gírias. Henry não aparentava alguém tão atualizado, e acreditava que ele usaria palavras difíceis para conversar consigo. ― Aliás, por que falta as aulas de educação física para ficar aqui? ― Pedi ao diretor para fazer essa troca, já que nas aulas de educação física de repente eu viro a bola. O olhar perdido do rapaz não passou desapercebido por Franchesco. Talvez fosse um assunto que ele gostaria de não falar e por isso preferiu não dar continuidade. Ao som do fim da aula os dois seguiram para a sala de aula onde iriam ter a última aula antes do almoço. Henry fora o primeiro a entrar na sala, e ao ouvir os risos dos alunos com os olhares sobre si, já saberia que algo aconteceria. O quadro n***o estava enfeitado, as palavras coloridas pareciam ser um chicote no coração do garoto. “Doença homoafetiva, Henry tentando flertar um Bailey?” Por mais que doesse e sentisse vontade de sair chorando, permaneceu parado olhando para o quadro. Não demonstrava emoções em sua fisionomia, apenas lia o que estava escrito. Henry sentia algo em sua cabeça pesar, olhando levemente para cima tendo Franchesco se apoiando em si enquanto lia o quadro. ― Ah isso é interessante. ― Deitando a cabeça sobre o braço, ainda apoiado no garoto ― Estamos flertando Henry? ― C-Claro que não! Franchesco segurou o apagador e passou sobre o quadro. Henry o observava surpreso, esperando ainda alguma reação repulsiva do maior. Mas nada era direcionado para si. Com o quadro apagado, o rapaz de cabelos brancos se virou para a turma que teria cessado dos murmúrios. ― Seja lá quem escreveu isso, espero não saber ― Franchesco seguia para sua carteira com as mãos no bolso, e o sorriso diabólico em sua face ― Porque senão, terei o prazer de infernizar sua vida. Não demorou para que aquele evento fosse contado de aluno para aluno, passado de classe em classe. No horário do almoço, aquele era o assunto em pauta. Vincent e Adrian haviam aconselhado o amigo para que não fosse ao refeitório, já que muitas pessoas iram querer conversar consigo sobre o assunto. Sendo assim seguiria para o ponto de refúgio que haveria descoberto, o jardim. Ao passar pelas árvores, encontrara Henry sentado com o rosto avermelhado. Coçou a nuca sem saber se deveria se aproximar ou apenas fingir uma conversa habitual. Com sua demora em escolher sua ação, percebia Henry deslizar os dedos por suas bochechas, como se limpasse algo. O som de um ofego fez Franchesco ter certeza que aquele garoto estaria chorando. Aproximou-se ficando de frente a Henry, que se assustara com a súbita presença do maior. Franchesco inclinou-se de frente para o garoto. ― Por que está chorando? ― Porque gosto de chorar inutilmente. Franchesco sorria sorrateiramente assentindo ao ajeitar a postura. Tirando as mãos do bolso e as erguendo em sinal de rendição, manteve o bom humor. ― Continue, está se saindo bem. Vou cair fora para que fique a vontade. Franchesco estava prestes a sair do jardim, mas seu braço fora segurado por Henry. Olhando para o garoto encontrava a face ruborizada. Os olhos ainda marejados deixavam um brilho peculiar em seus orbes castanhos, os lábios avermelhados estavam comprimidos em sinal de nervosismo. Por que teria achado aquela visão tão bela? ― Obrigado por hoje ― Sussurrava o garoto evitando o olhar de Franchesco. Respirando fundo deixou seu nervosismo de lado, soltando o braço do rapaz alto sorria levemente ― Agora entende, o porquê eu ter pedido para que não conversasse comigo? ― Eu entendo, mas não significa que não irei conversar com você ― Franchesco levara os dedos aos cabelos de Henry, fazendo uma caricia. Os fios macios que sentia em sua palma pareciam penetrar em suas veias. Ao olhar para a feição do garoto, que avermelhava ainda mais com o toque, Franchesco o desfez. ― Enquanto estiver comigo não precisará se preocupar com nada. Indo para o gramado onde se deitaria, Franchesco fechou os olhos enquanto esperava pelo término do horário de almoço. Henry ficou a observar o rapaz mais alto, suas mãos acariciaram seus cabelos enquanto um sorriso singelo crescia em seus lábios. ― Que toque quente. ●●● A luz voltara cerca de três horas depois. Senhor Bailey resolvera ajudar no jantar, e por isso já havia levantado da poltrona se apoiando no andador ortopédico. Com a ajuda de Oliver e Emma, os três começaram a revirar a cozinha iniciando uma bagunça de ingredientes sobre a bancada, apena para preparar algo diferente naquela noite. Enquanto isso os três irmãos estavam juntos sentados em frente a lareira, ainda digerindo a história contada naquele dia. Não teriam muito o que pensar, eram fatos e não seria necessária aprovação deles para declarar aquilo como verdade. Além do mais, isso seria possível de ser comprovado somente olhando para aquele idoso. ― Então nosso pai é gay. Héctor quebrava o silêncio mais uma vez, olhando para Lucius que soltava uma risada enquanto meneava a cabeça. ― Bissexual talvez, já que sentiu atração por mulheres antes. ― Isso explica muita coisa. Benjamin se mantinha em silêncio por ser difícil para si, e talvez de fato fosse ao imaginar o pai tendo um relacionamento homoafetivo dentro de uma escola. Não sabia o quê exatamente iria se dar depois da aproximação do senhor Bailey para com Henry. E para ter um olhar vazio durante anos, só poderia ser algum sentimento forte. Se assim for, o que teria acontecido para que se separassem? Nunca havia ouvido falar de um Henry, teriam sido separados? Benjamin sentia que de alguma forma sua mãe estaria envolvida nisso. Lucius passava para os irmãos a foto que mostrava Henry e Franchesco naquela época, e ambos ficaram surpresos. Já teriam vistos fotos do pai, e sabiam que ele era bonito. Mas ali a sua beleza parecia ter sido realçada com o sorriso que dava ao lado daquele garoto baixinho que também sorria. ― O famoso Henry. ― É, o que será que aconteceu com ele? ― Héctor olhava para Lucius. Os olhos pedintes era algo comum entre os irmãos, e Lucius ria divertido com o olhar que recebia de Héctor. Mesmo com tamanha súplica, negou-se a contar o final da história. Benjamin bagunçava os cabelos negros de Héctor, enquanto os dois irmãos ainda tentavam persuadir o caçula a revelar pedaços da história. Senhor Bailey observava os filhos da cozinha, enquanto amassava uma massa de pizza. Tão breve a bagunça fora aumentada quando as quatro crianças saíram do quarto cansados de brincar com as mães. Oliver fora tirado de seu serviço na cozinha para que fosse brincar, entrando em seu lugar Lucius tomando as rédeas das panelas. Parecia que a vida naquela casa teria retornado. E com aquilo mais um dia de senhor Bailey havia saído de sua rotina com sorriso, risadas, saudades e sensações nostálgicas. Olhando para a janela, não deixou de alargar o sorriso com o fim da chuva. Agora conseguiria ir cuidar de suas plantas. Irei proteger os seus olhos sorridentes independente de tudo Só por você Promise― Exo ━━━━━━ ◦ ❖ ◦ ━━━━━━
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