Capítulo 17

1603 Words
INTERIOR DO INGLATERRA, 18 DE AGOSTO DE 1965 Quatro meses haviam se passado desde o primeiro beijo entre Henry e Franchesco, e ainda mantinham o relacionamento escondido no jardim secreto. Não se importavam com isso, por mais que Henry preferisse deixar claro que Franchesco lhe pertencia, não de corpo e sim de alma, saberia que isso não traria coisas boas. As brincadeiras sobre a sexualidade do garoto de boas notas não haviam diminuído, apesar de sempre interrompidas por Franchesco. Uma hora ele apagava o quadro “por engano”, rasgava as folhas para colocar “outro anuncio mais importante” (que pertenceria a algum clube como os leitores de hq’s recrutando alunos). E a favorita de Henry, quando a bola de papel “escapava das mãos” de Franchesco ou “escorregavam” na cabeça do aluno que estivesse perturbando Henry. Mas o que ele não sabia, era que o mais alto já havia mandado bilhetes a alguns valentões chamando para brigas fora da escola. Tentava evitar de ser pego para não ser expulso e muito menos receber broncas de Henry. Tudo para proteger aquele garoto. No final das contas estavam se dando bem, o namoro às escondidas parecia bem mais gotoso do que esperavam. As atividades do jardim secreto começavam com o cuidar de alguma planta, mas terminava com os dois deitados na grama apenas se beijando. Não teriam ido além daquilo. Por outro lado, Camille suspeitava do relacionamento dos dois mesmo recebendo investidas de Adrian, que não se importava com o amigo de cabelos brancos. Tudo o que garota queria era o Bailey. Tivera de respeitar o pedido de restrição do diretor, mas ao visitar os pais em um final de semana acabou se interessando em um assunto que a faria ganhar o jogo. Sendo assim, mantinha-se afastada como o diretor havia pedido. Por mais que fosse uma quarta feira, Franchesco já ansiava pelo domingo onde iria se encontrar com os pais para esclarecer sua dúvida da carta que recebera. Estava claro naquela caligrafia que os pais haviam encontrado a noiva perfeita para o filho, que precisaria manter a linhagem “pura”. Obviamente o rapaz alto desgostou daquilo e respondera a carta negando qualquer intenção dos pais em lhe controlar na vida amorosa. No entanto a resposta recebida fora que seria apenas uma apresentação, já que ainda era menor de idade e não poderia se casar. De repente Franchesco se via passando as noites em claro imaginando seu futuro. Dali alguns meses encerraria o ano e iria para o terceiro. Teria que escolher uma faculdade que fosse de seu interesse e ainda pensava sobre Henry. Parecia tão incerto como se sucederia aquela relação, pensar sobre aquilo lhe deixava angustiado. Deveria pensar apenas no presente, onde aproveitaria cada segundo ao lado do garoto. E somente quando fosse necessário, iria pensar alguma forma de manter aquele relacionamento entre os dois. Aquela quarta feira parecia estranha em demasia, o céu nublado enquanto um vento forte soprava o lado de fora. Ah como aquilo lhe arrepiava a espinha. Henry sentia o mesmo arrepio quando passava pelos portões da escola e encontrara Camille à sua frente de braços cruzados olhando com ferocidade. Sabia muitíssimo bem que a culpada pelas ultimas “brincadeiras” fora ela por conta de seu ciúme. ― Olá Fontenelle, pensei em ter sido bem clara com você na última vez. Tinha pensado que ir para escola mais cedo do habitual lhe traria paz o suficiente para ler um livro. Entretanto segurava a alça de sua mochila com tanta força, que sabia estar arrependido de ter acordado antes. ― Sobre o quê? ― Sobre se afastar de Franchesco. Saberia muito bem que todos ali eram de famílias ricas, e aquela garota estava obstinada em conseguir algo com o rapaz alto. O que lhe deixava curioso era entender o que exatamente esperava que Franchesco pudesse lhe dar, já que o rapaz ainda era herdeiro sem suas posses. ― Não sei do que está falando. Mas se Franchesco me segue é por vontade própria. ― Deve ser por pena, não acha? ― E nem por pena ele quer ficar do seu lado, que irônico não? O olhar da garota, que parecia esnobe e cheio de malicia, se perdera com aquela frase. Os inspetores passavam por entre os alunos sussurrando as regras para se lembrarem com perfeição, evitando que a garota pudesse fazer algo contra Henry. Jogando o cabelo e fazendo uma pose inocente, ela sorria docemente para o rapaz. ― É a última vez que eu espero ter que te pedir isso, querido Fontenelle. Fique longe do Bailey. ― Não quero. Deixando a garota, Henry adentrava na escola sentindo suas pernas bambearem tamanho o seu nervosismo. Mesmo que devesse tomar todo o cuidado para que seu relacionamento não fosse descoberto, principalmente por Camille, não poderia continuar dependente de Franchesco. Na verdade, queria ser dependente dele assim como sentia possessividade em mantê-lo só para si. Enquanto o garoto se ajeitava no refeitório e esperava pelo sinal das primeiras aulas, ficara lendo o seu livro sem se importar com o número de alunos que iam ocupando as mesas em sua volta e do falatório. Permanecia silencioso em seu canto, sem se importar com absolutamente nada. Franchesco estranhara tal comportamento. Mesmo que conversasse com seus amigos, como de costume, não deixava de olhar para Henry que mantinha a testa franzida e o olhar fixo sobre o livro. Quando ficava de tal maneira saberia que algo ocorreu, e somente de imaginar já era o suficiente para seu sangue ferver de raiva. Ao sinal das aulas, cada aluno seguiu sua respectiva sala e então o silencio reinava o prédio. Franchesco sequer se concentrava direito nas explicações. Parte do tempo ficou a olhar Henry, que se distraía com as árvores no lado de fora. Perguntava-se o motivo de sua distração, só conseguindo imaginar que algo r**m teria acontecido. Havia aprendido ao longo daqueles meses que Henry guardava seus sentimentos somente para si, sem deixar que os outros lhe desvendassem. Não demorou para perceber os alunos afoitos com algo, vira um ou outro repassando uma folha enquanto o professor estava de costas. E para a sorte do mais alto, a folha recaíra sobre sua mesa. Lendo o conteúdo, fingindo ler suas anotações, percebia um novo rumor sobre Henry se iniciando, e os alunos estavam sendo maldosos em aumentá-lo. Amassando a folha e a deixando no bolso de seu blazer, soltou um rosnado baixo para quem bufasse ao espiá-lo em tal ato. Deveria aumentar a sua autoridade naquela sala, deixar claro que suas ações e palavras eram leis. Somente então Henry poderia ser um aluno comum. Não demorando para que o sinal do almoço soasse, os alunos saíram em disparada para fora das salas. Henry desejou permanecer dentro. Sendo assim Franchesco conseguira convencer os dois amigos a ficarem também. Enquanto o almoço ocorria, os três amigos estavam imersos na conversa quando viram Camille entrar na sala de aula acompanhada de alguns garotos. Franchesco ficara em estado de alerta quando notara os garotos carregarem algo. Não demorou para que as pedras fossem jogadas na direção de Henry. Alguns acertavam os vidros que ficaram rachados, outras acertavam o corpo do garoto, que se protegia para não ficar ferido. Ver aquilo fez surgir uma raiva grandiosa emergir no corpo do maior, que só pensaria em alguma forma dolorida de afastar os agressores. Franchesco retirava a gravata de seu pescoço e marchava por detrás dos garotos. O sorriso malicioso fora reconhecido por Adrian e Vincent, que já faziam o mesmo sem deixar o amigo se envolver em algo tão excitante quanto uma briga, e ainda mais sozinho. A gravata fora colocada em volta do pescoço de um dos rapazes, que ria e se divertia ao ver uma pedra atingir próximo do olho de Henry. Sua risada fora cortada pelo engasgo. A gravata exercia uma força enorme, enquanto Franchesco parecia se divertir em apertá-la cada vez mais. O rosto do garoto ficava vermelho, e aquilo fazia o maior rir. ― É divertido, não acha? Adrian e Vincent amarraram as mãos dos demais agressores, desferindo socos e ponta pés. Camille assistia tudo assustada. Um garoto estava sendo enforcado prestes a cair no chão sem poder respirar quando um toque gentil intervira. Sobre as mãos de Franchesco, Henry o fizera soltar a gravata antes que a situação saísse do controle. Os alunos se aglomeravam na porta da sala assombrados em ver Franchesco Bailey agir de tal maneira. Não demorou para que a secretária do diretor descobrisse a situação, convocando todos os envolvidos na sala do diretor. Tendo a situação como de emergência em primeira mão o diretor conversou com os agressores, inclusive Camille. Franchesco esperava no lado de fora com o olhar perdido no corredor. Quando os agressores se retiraram não foram capazes de olhar Franchesco. Apenas o que havia uma marca em seu pescoço, que parecia um misto de raiva e medo. ― Cuida disso aí, ou vou ser obrigado a fazer de novo. Franchesco não se importava em estar na sala do diretor, sua raiva ainda estava fazendo seu sangue correr rapidamente. Adrian e Vincent entraram em seguida, deixando os outros dois sozinhos no corredor. Henry segurou a mão de Franchesco e entrelaçara os dedos. ― Farei o possível para que isso não recaia em seus ombros ― Sussurrava o garoto, que ganhava a atenção do outro ― Se acalme, tá legal? Balançando a cabeça fora tudo o que o rapaz alto conseguira fazer. Minutos depois estavam ambos na sala do diretor, com o homem sentado na cadeira atrás da mesa, avaliando-os com o olhar.
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