Capítulo 19

1148 Words
O chapeleiro foi o primeiro á quebrar o silêncio. “Que dia do mês é hoje? ”, perguntou virando―se para Alice: ele tinha tirado seu relógio do bolso e olhava para ele ansiosamente, chacoalhando―o de vez em quando e levantando―o no ar. – Alice no país das maravilhas, Capítulo 7, um chá maluco ●●● Para que serviria um chuveiro? Um objeto bem espalhafatoso com alguns furinhos em uma espécie de base, sendo que em uma extremidade haveria muitos fios. Para quê exatamente iria usar aquilo? Senhor Bailey estava debaixo do chuveiro sem saber como que o mesmo funcionava. Não saberia ser necessário girar o registro para que a água quente caísse sobre seu corpo. Mesmo assim permanecia, ainda com roupas, dentro do box olhando sem se cansar para aquela geringonça. Coçava a cabeça e negava em desistência, optou por sair do banheiro e ir até a sala onde pediria ajuda aos filhos. Teria dito que iria se banhar, mas como que iria quando aquele chuveiro teria complicado tudo? Resmungava diversos palavrões para demonstrar sua indignação, queria tomar banho para esquentar o corpo e não conseguia fazê-lo. ― Lucius! ― Chamando o filho caçula, que assistia televisão junto ao marido, o pai continuou ― Como que usa aquele negócio pendurado na parede? ― Negócio? O filho seguia para o banheiro imaginando que o chuveiro teria caído da parede, mas o encontrara em perfeita condição. Logo ajudou o pai a entrar no box e mostrou como ligava o aparelho e tão breve se retirava. O pai ainda estava senil para saber como era tomar banho. Poderia muito bem se despir e apoiar-se, dessa vez sem escorregar, na barra de inox e tomar um banho adequado. Mesmo assim o caçula se mantinha no quarto. Não teria ouvido a porta do banheiro se trancar, ficando aliviado que poderia entrar em caso de emergência. Olhou o armário do pai separando uma calça de moletom escura, deixou sobre a cama e logo tratou de escolher algumas blusas. Estava nublado naquela noite, o natal chegaria em menos de algumas poucas horas. As crianças já estavam ansiosas para ganhar os presentes. Algumas acreditavam no papai noel ainda e por isso ansiavam em irem dormir para acordar no dia seguinte com os presentes sob a árvore. Na verdade, o pinheiro estava sendo enfeitado por Emma e Millena, enquanto Cristal preparava sua receita especial para o jantar. Estavam todos ocupados, de certa forma, mas aquele era o primeiro natal que passariam sem nenhuma briga, sem birras, argumentos ofensivos ou mágoas. Todos estavam de bem. Era isso que Lucius ansiava por cumprir. Ao ver o pai sair do banheiro de toalha, ajudou-o a se vestir devidamente. Mesmo que o idoso sorrisse e dissesse que saberia como colocar um casaco, o rapaz formava um bico nos lábios implorando para que o fizesse. Queria guardar muitas memórias, antes que as perdessem. Logo o sentava na cadeira de rodas, ajeitando a almofada para que sua cintura não doesse demais. Empurrando-o para a sala onde os netos estavam, não se demoraram em subir no colo do avô para brincarem de carrinho. Héctor sorria com a visão de seus filhos brincando, até mesmo pegou o celular para tirar algumas fotos, e se pegar rindo da forma como o pai parecia entrar na brincadeira dos pequeninos. Quando que suas mágoas teriam sido apaziguadas? Mesmo que ainda lhe incomodasse a curiosidade em saber o que causara o fim do relacionamento de seu pai com Henry, não sucumbiria a mesma naquela noite. Pelo menos não por enquanto. Próximo às onze da noite todos se reuniam em volta da mesa que estava repleta de um banquete. Os pratos feitos pelas noras e genro pareciam apetitosos pela cor dourada da carne e o cheiro suculento dos refogados. Antes de comerem, realizaram um brinde pelo bom natal e as ótimas férias, que apesar da notícia da doença do patriarca, estavam sendo bem aproveitadas. Uma foto em família fora tirada em formato de selfie. Lucius o fizera com ótima qualidade. iria imprimir para fazer um quadro e deixar sob a lareira da sala, assim como distribuir cópias para os irmãos. A meia-noite se aproximou e com ela os gritos das crianças que queriam ver o papai noel, mesmo que Cristal afirmasse que o mesmo só viria quando fossem dormir. Senhor Bailey ria deliciado com a visita, e até mesmo fazia questão de aumentar a folia batendo palmas e cantando as canções antigas que ouvia quando era um menino. Millena, Cristal e Emma ficaram na cozinha junto ao patriarca brincando com as crianças, ouvindo suas histórias – que se repetiam. Oliver e Lucius trocavam caricias e sorrisos bobos próximos à lareira. Benjamin dava um jeito de esconder as sacolas de presentes das crianças, precisava deixar em um canto para que pudesse ajeitá-las após irem dormir. No final das contas, o quarto do pai se tornou um ótimo esconderijo. Enquanto isso Héctor se encontrava perdido em pensamentos, fitando a janela observando a chuva cair suavemente. Bebericando o vinho tinto, sentiu vontade em acabar com todas as suas dúvidas. Não queria mais esperar pelo pai para contar-lhe sobre sua juventude. O idoso estava ficando cada vez mais doente, e não saberia dizer em que parte teria parado de narrar. Quando menos esperava contava tudo do início, às vezes repetindo alguns fatos. Como isso lhe angustiava. Virando o copo despejando todo o liquido em sua boca, o filho do meio ia até a estante de livros procurando pelo diário do pai. Lucius observara tal ato, mas não disse nada já que esperava que isso tornasse a reconciliação de pai e filho mais fácil. Sentando-se no sofá e abrindo o diário no dia em que teria ouvido a última parte, o rapaz lia com atenção. Seus olhos, que de início eram sérios, passaram por surpresa e um sorriso despontava em seus lábios. E assim permaneceu lendo até que o final da noite. Por volta das duas da manhã as crianças teriam se cansado e ido dormir. Tão breve Benjamin trazia os presentes e os ajeitavam abaixo da árvore de natal, tendo certeza de que cada pacote teriam os nomes dos presenteados. Aos poucos cada um seguia para seus respectivos quartos deixando apenas Héctor sentado no sofá lendo o diário. Quando chegara na parte que mais lhe angustiava, e que iria responder suas perguntas, soltou um suspiro sentindo os olhos marejarem. ― Se separaram por besteira, tsc. Fechando o diário e o guardando na estante, Héctor suspirava olhando uma vez mais para a janela. Mesmo que achasse o motivo da separação boba demais, saberia que quando seu irmão mais velho soubesse iria se sentir m*l. Além do mais, sempre era triste ver um casal que tanto se ama, se separar. Com as mãos no bolso seguiu para o seu quarto, onde iria dormir ao lado da esposa.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD