Ah-Ri estava encostada na bancada com as mãos cruzadas ao peito e parecia discutir consigo mesma enquanto encarava o vestido de balé estendida sobre a mesa em sua frente. Com olhos fechados sussurrava e balançava a cabeça em discordância.
ChaYung observava a cena em silêncio se decidindo se rompia aquele momento ou se voltava outra hora.
— Ah-Ri?
A mulher encarou a detetive e abriu um sorriso tentando disfarçar a cena constrangedora. Havia uma piada de quando a médica legista é flagrada falando sozinha, na verdade ela está falando com os mortos. E na realidade ela tinha medo dessa teoria ser verdade.
— Encontrou algo?
— Pode entrar detetive. Quero que veja isso.
Elas caminharam até um microscópio onde a barra do vestido estava posta no pires transparente.
— Veja e me diz se vê algo. – Ah-Ri pediu indicando o objeto.
A detetive posicionou os olhos no mecanismo e avistou partículas de tecido, muitas linhas brancas, nada diferente.
Vendo que a chefe não veria o que ela queria mostrar decidiu ajudar.
— Da mais um zoom, e perceba que há uma letra no canto superior do tecido, um C, feito com uma única linha preta em meios aos fios brancos, é quase imperceptível. – sussurrou ao lado do rosto da detetive enquanto a mesma fazia o que ela dizia – Não sei o que significa, pesquisei por inúmeras possibilidades e há muito mais opções com uma única letra que você ficaria louca com a infinita opções oferecidas.
— C? Poderia ser algum nome de fábrica? – a detetive se afastou do microscópio e observou a jovem doutora.
— Poderia ser se existisse. Procurei por isso também, mas não tem. A letra foi posta numa parte do vestido que ninguém poderia imaginar, vasculhei outras partes, porém esse único pequeno pedaço há, seria bem incomum algo assim.
— A não ser que o assassino esteja nos testando. Quer nos dar pistas para ver se estamos fazendo o serviço direito.
— Ou a pessoa que esteja confeccionando os vestidos esteja nos mandando uma mensagem.
— Mandando uma mensagem? Quer dizer que não seja uma fábrica comum. – ChaYung pensou – Seja talvez uma clandestina?
— Se não há registro legal sobre a roupa, pode ser que sim. Se pesquisar pelo modelo e ver que há réplicas no mercado por um preço baixo, talvez possa encontrar algo.
— Boa ideia, espero que Soe Joon e Tom encontre algo na loja com o laço.
— Posso procurar no laço se há alguma letra oculta no tecido, quem sabe encontramos algo.
— Podemos tentar. Vou pegar para você.
A detetive voltou para seu escritório apanhando o saquinho de evidências onde o laço continuava dentro e levou para Ah-Ri.
Com uma luva cirúrgica a doutora procurou por pequenas evidências no objeto com o microscópio, girando e esticando e até mesmo removendo o elástico dentro dele. Aquela situação permaneceu por longos momentos.
— Soe Joon disse que não encontrou nada no laço. – ChaYung informou vendo que Ah-Ri havia terminado.
— Ele estava certo, não há nada.
— Nada mesmo? – perguntou com um pingo de esperança.
— Nada.
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— Baek, conseguiu a quebra de sigilo da linha telefônica da Byeol Hoo? – ChaYung segurava dois copos de café e entregou um para o parceiro, ela se sentou em sua frente e observou a papelada em sua mesa.
— Sim, demorou um pouco porque depois do desaparecimento dela a linha foi cancelada e vendida para outro, por sorte tudo ficou gravado pela operadora. – ele estendeu uma folha contendo datas e números de telefones e duração das conversas.
A detetive observou o papel vendo que a vítima ligava para o mesmo número por volta das vinte e três horas todos os dias por um mês antes do desaparecimento e um segundo número onde ela ligava por volta das oito da noite durante muitos meses.
— E as mensagens?
— Nada, eles disseram que só são responsáveis pelas ligações, as mensagens são por responsabilidade dos donos dos aplicativos por onde eles se comunicavam.
— Esse número – apontou – Eles disserem de quem é?
— Sim – ele pegou seu bloco de anotações – Antes da vítima desaparecer ele pertencia à Soo Jong, só que a linha foi cancelada após o desaparecimento da jovem, a linha foi vendida para outra pessoa.
— Ele tem uma nova linha?
— Aí é que está esse Soo Jong não existe. Ele usou um documento falso.
— d***a. E o outro número?
— Pertence à Eun Jim, provavelmente é a amiga dela.
— Ótimo, mande um policial lá e a traga aqui. E o dono do teatro?
— Recebemos a informação que ele voltou da palestra há quinze minutos – observou o relógio de pulso – O que acha de ir conversar com ele? – sugeriu com um sorriso sabendo que aquela seria uma ótima notícia para a detetive.
— Só se for agora.
O homem estava bem à vontade sentado em sua cadeira giratória do seu amplo escritório, havia uma janela de vidro dando a visão privilegiada da melhor parte de Seul. Acendeu um cigarro oferecendo para a detetive e o investigador que recusaram gentilmente.
Ele não passava dos trinta anos, o cabelo era sempre bem penteado, terno passado e sapato de marca sem cadarço, era o tipo de homem que não nascera rico, mas que teve uma ajudinha do destino. Estava quase na hora do almoço, e todos estavam bem agitados para desenrolar aquele mistério antes de engolir algo.
A detetive ChaYung observou a pasta que carregava e se pronunciou.
— Senhor Yeon Tae-Suk, nos disseram que o senhor estava em uma palestra, é isso?
— Sim. – Ele abriu o canto da boca permitindo que a fumaça saísse de um modo espremido obrigando a voar longe numa linha reta.
— Quando o senhor fez essa viagem?
— Há três noites.
— Onde o senhor estava exatamente entre a meia noite às seis da manhã de ontem?
— Em meu hotel, as câmeras de segurança podem provar isso. – deu um sorriso sarcástico e deu outro trago.
— Sobre a segurança, quem tanto tem acesso as chaves das portas?
Ele deu um último trago e apagou a bituca do cigarro e o jogou no lixo. Se endireitando fitou os dois.
— Apenas o segurança Cho e eu temos a chave, mais ninguém. Além de nós o alarme é controlado pela empresa que contratamos, nenhum outro funcionário teria acesso.
A detetive observou cada detalhe de sua fisionomia enquanto falava. O homem estava despreocupado de mais.
— Tem ideia se alguma outra pessoa possa ter clonado a chave?
— Não.
— O senhor não está preocupado por um corpo ter aparecido em seu teatro em plena madrugada? – questionou incomodada pela infinita despreocupação do homem.
— Olha detetive, o meu trabalho é cooperar com as informações, vocês são responsáveis em descobrir o resto. Meu teatro está aberto para cooperação e todos os meus funcionários estão à disposição. Precisa de mais alguma coisa?
Indignada pelo jeito desleixado do rapaz, a detetive respirou fundo agarrando a pasta de investigação sobre a mesa.
— Sim, o senhor tem algum inimigo ou alguém que queira fazer do seu teatro um local de desova? – falou um tanto desafiador.
O homem pareceu sentir o peso daquela conversa, pela primeira vez desde que os detetives entrara em sua sala ele se tornou sério. Endireitou as costas e estalou levemente o pescoço torcendo-o para o lado.
— Sou um investidor, detetive. Todos os investidores fazem inimigos até chegarem aonde estão.
— Pode me dizer que tipo de investimentos?
— Sou dono de um teatro, procuro por novos talentos. Sabe quantos outros teatros ficam furiosos por eu tomar deles as moças talentosas?
— Imagino. – ela ergueu a sobrancelha achando aquilo desinteressante – quem são seus inimigos?
— Pan Yong-nam é um deles, ele tem uma escola de teatro, depois das formações das jovens ele manda para o teatro Nam para que elas possam atuar.
— E o senhor vai e as convida antes. – concluiu ela entendendo onde ele iria chegar. Típico de qualquer outro investidor, pescar antes de outro pescador.
— Já terminamos?
— Claro, qualquer outro detalhe me ligue – ela se levantou e estendeu a mão para cumprimentá-lo e ele apertou com firmeza – Vou precisar da lista de todos os funcionários do teatro, me mande por e-mail. – finalizou antes de se retirar.