Capítulo 1
O corpo estava numa posição comum de balé, com o corpo esticado nas pontas dos pés, com o pé direito tocando gentilmente no joelho esquerdo, os braços curvados delicadamente numa posição formal da dança, como se fosse dar um abraço; o rosto sutilmente inclinado para o lado, nos olhos o brilho da esperança de conquistar a vitória.
O cabelo estava bem penteado, nenhum fio saia do lugar respeitando a posição de cada fio, um laço de cabelo da cor azul escuro sustentava com perfeição o coque e era enfeitado por bordas de ceda e sementes plastificadas da cor vermelha.
O vestido de balé azul estava grudado em seu corpo numa perfeição assustadora, as sapatilhas estavam amarradas perfeitamente. Estava a um passo da vitória, se algo não tivesse acontecido com ela.
A detetive ChaYung observava o corpo tão pasma como os demais. Baek tirava fotos de todas as evidências e do corpo. Soe Joon conversava na arquibancada com o senhor que encontrara o corpo enquanto os peritos faziam seus trabalhos.
Estavam todos pasmos, o clima era de puro terror. A jovem estava no centro do palco virado para o público, aquele era o maior teatro do país e o mais visitado. Por conta do que aconteceu o show daquele dia fora cancelado.
ChaYung observava o corpo minuciosamente colocado no palco, foi posto de modo que ficasse equilibrado num pé só como se estivesse viva
Uma coisa que chamara sua atenção além dos fatos até ali, era a cor de sua pele, tão pálida quanto gesso, tendo apenas os lábios rosados e um leve sombreado em cima dos olhos e bochechas. Lembrava bonecas de porcelana.
— Sinistro né?
A detetive tirou os olhos da vítima e notou a presença do investigador Baek ao seu lado.
— Quem faria uma coisa dessas? – o indagou surpreso.
— Um doente mental. – respondeu voltando a olhar para a jovem.
— Não só isso, veja, parece que ele conhecia muito bem as técnicas. As cores que ele pintou os olhos e os lábios. Contornou com perfeição cada detalhe de teu rosto – observou apontando e vendo a reação da detetive – Viu a orelha? Ele pôs um par de brincos.
ChaYung se aproximou e notou um brinco pequeno e redondo da cor azul, combinava com o vestido e o laço no cabelo. Ou o assassino era muito detalhista, ou era um perfeccionista.
— Assassino c***l e calculista. – Ele se aproximou da vítima e tirou fotos dos brincos.
— Temos que conversar com todos que trabalham aqui, ver as câmeras de segurança e conversar com o dono.
— Já averiguamos, não há câmeras e o dono está participando de uma palestra longe daqui.
— Quem é o senhor que a encontrou?
— Cho Jai-Wong, ele é o segurança, disse ter chegado às seis e quando entrou se deparou com o corpo, de início pensou ser um manequim e achou estranho, pois não há manequins aqui, então decidiu ligar para a polícia.
ChaYung ao lado do investigador seguiu até onde o senhor que estava sentado na arquibancada, tinha os cabelos grisalhos e olhos inchados pelo cansaço da vida, suas pernas tremiam de nervosismo e um suor surgiu de suas têmporas. Por julgar sua aparência estava chegando aos 80 anos.
— Senhor Cho Jai-Wong? Sou a detetive ChaYung, o senhor é o único segurança aqui?
O Senhor aflito se levantou em sinal de respeito e concordou.
— Sim senhora.
— Quem toma conta a noite? Creio que tem alguém que vigia durante a madrugada.
— Não, sou o único segurança, a central de segurança fica responsável depois do meu turno.
— Quando o senhor fecha o turno?
— Às oito da noite, depois só volto às seis.
— Tem câmeras? – procurou pelas laterais do amplo salão.
— Não, o senhor Yeon Tae-Suk confia muito nos funcionários. – deu um meio sorriso tentando afastar o tremor que ainda era visível em suas mãos – Mas tem alarme em todas as portas e janelas, não tem como entrar sem desativar o alarme – esticou o braço indicando duas portas, uma atrás do palco que levava ao camarim e outra a que eles entraram.
— Quem são responsáveis pela ativação do alarme?
— Somente eu, sou o primeiro a chegar e o último a sair.
— Mais alguém?
— Não senhora.
— Quando o senhor Yeon Tae-Suk viajou? – perguntou sobre o dono do teatro.
— Já tem uma semana.
— Mais algo que precise nos contar? Viu alguma coisa diferente, alguma pessoa estranha.
O senhor negou voltando a se sentar após ver que a conversa acabaria ali. ChaYung voltou a se aproximar do corpo suspirando, aquilo seria um caso bem difícil de resolver.
— Já identificaram a vítima?
— Sim, ByeolHoo, ela está desaparecida há dois anos. – Baek informou lendo o relatório.
— Quero que espalhe luminol pelo local e veja se há vestígio de sangue, veja se consegue impressões digitais nas roupas ou até mesmo em sua pele, na parede caso o assassino tenha se encostado e também nas portas e janela. Contate a família dela.
— Sim senhora.
ChaYung se abaixou, observou o único pé da garota que tocava no chão, estava bem apoiado, a sapatilha com laço estava amarrado com perfeição.
O assassino teria muito tempo para conseguir deixá-la em pé daquela maneira, não era fácil equilibrar um corpo e mantê-lo por muito tempo, então aquilo aconteceu por volta da meia noite e teve seis horas até o segurança chegar.
Por baixo do vestido havia um laço em sua coxa cuja perna estava dobrada e tocava na perna esquerda, era comum ver aquele tipo de laço em lojas de roupas íntimas. Ela se levantou, olhou para cima onde muitas colunas de ferro sustentavam parte dos objetos do palco.
A detetive passou a mão por cima da cabeça da vítima e viu sua mão ir e vir sem nenhuma obstrução, significava que o assassino não usou nenhum fio ou corda para mantê-la em pé. Suspirou observando com cuidado a jovem, ela se viu não diante de um assassinato comum, mas sim de um psicótico c***l.