************ Capítulo 3 *************
************** Secan *************
Podia sentir a respiração serena dela enquanto ouvia meu irmão soltando leves reclamações subjetivas pelo corredor. Ter Naira em meu colo, sentindo seu calor, e incrivelmente seu cheiro, amenizava minha raiva. Não conseguia imaginar a vida sem essa terráquea, não porque ela era a esperança da nossa nação, mas... pela razão de realmente ter me deixado levar pelos sentimentos... humanos.
Antes da praga, éramos um povo afetivo, tínhamos aquele amor pelo parceiro, porém ao longo dos anos vivendo nessa escassez, nessa incapacidade de gerar um soldado saturniano sequer, nos fez ficar frios. Assim começara uma prática bastante peculiar entre nós.
Tudo começou quando Saturno foi acometido por uma forte e terrível profecia que anos mais tarde se concretizou; os ventres das mulheres secaram e os homens ficaram incapazes de expelir sua semente fortificada. Os gametas, necessários para concretizar a fecundação no terreno fértil e consequentemente realizar a reprodução natural de nossa espécie. Por causa dessa crise mundial ocasionou um desânimo em massa entre as famílias e futuras gerações.
O reino era próspero, reproduziamos grandes quantidades de seres viventes, nenhum nati-morto. Somos fortes.
Lembro-me da mamãe falando que existiam saturnianas que conseguiam produzir dez crias em dois ventres. Algumas nasceram com um dom espetacular, e devido a maldição, este foi arrancando delas. Muitas não sobreviveram. Acarretando para a nossa definida extinção. Mas o rei proclamou um novo mandato; a prática da poliandria.
As parcerias tomaram conta da população. Os machos que ainda continham sua companheira, precisava dividi-la com outros. De preferência um amigo em comum, ou m****o da família. Dando início ao nosso sistema, mantendo o povo ativo nas relações. Dando uma certa esperança, um consolo. Até a chegada da futura rainha de Saturno. A libertadora terráquea, a escolhida para romper o ciclo da secagem.
Eu e meu irmão nascemos antes dessa condição atual. Papai disse que todo nosso infortúnio se deu por ele não ter cedido. O rei não disse claramente, mas segue a lenda pregada nas paredes do nosso castelo que a feiticeira escarletiana, além de tentar dizimar nosso planeta, foi aos derredores do sistema solar, do universo. Conquistando outras culturas, sucumbindo outros seres a sua paixão, que era se tornar a única imperatriz dos nove planetas. Agora resta o nosso. Mais uma razão para Naira ter chegado em nossas vidas no momento certo... No tempo da sua maturação. Sua excitação natural estava empreguinando meus sentidos de macho.
"Olha só você irmão, sendo dominado por uma bucet.a da terra."
- Cale essa boca Sean!
"Meus lábios estão selados"
" Mas sua voz nojenta está entranhado em meu cérebro. Saia!!"
- Ok, precisa de um tempo sozinho para avaliar o material?
Parei em frente ao meu aposento, cansado, me sentindo frustrado por ele não ter o mesmo nível de aceitação. Não permitiria que tal reação afetasse em nosso acasalamento.
- Naira simboliza muito mais que noites inteiras de sex.o.
As portas se abrem de dentro pra fora, pelos guardas. Entramos e logo em seguida a coloquei na cama redonda. O colchão estava programado para se adaptar ao indivíduo sendo ele de qualquer estirpe, portanto seu gel de fibra seca, mas aderente, se acomodou em seu molde. Desta forma vimos a jovem mulher ficando encapsulada. Ali ela poderia receber oxigênio da terra, encher seus pulmões com ele, e ainda obter nutrientes necessários para a sua curta hibernação. Dentro de três dias ficará como nós, adaptada a nossa atmosfera.
- O rei quer que eu fique assim? Parado admirando uma raça inferior?
- Sean... - Me virei, tirando os olhos do meu bem mais precioso de todas as galáxias.
Ele me olhava com rancor e pena. Era difícil compreender o motivo por trás de tanto ressentimento. Nós não havíamos criado vínculos com as serviçais que se prontificaram a nos mostrar as artes sexuais e suas práticas em conjunto. Existiam aquelas que conseguia dar atenção para uma quantidade infinita de machos, tamanha era sua vontade de que uma dessas relações pudessem finalmente gerar algo mais do que apenas prazer ou satisfação feminina.
- Acha que a sua rainha vai gostar do modo que o acasalamento acontece aqui em Saturno? - Questionou passando o dedo no queixo, abaixando o olhar daquela forma arrogante.
- É só um mero festejo...
- Diga isso para Naira quando ficarmos sete dias dentro dela. - Interrompeu-me. - Apresentando as cenas de pura paixão carnal diante do povo, como prova de reconhecimento real.
Pensar nisso agora me dava ânsia. Tenho certeza que essa moça nunca seria capaz de entender nossa forma de festejar um matrimônio.
- Sim irmão... Sua rainha...
- Nossa Rainha! Entendeu?! Nossa!
Sua mágoa ficou ainda mais evidente.
- Está se dirigindo ao seu irmão como o rei supremo?
- Sim! - Fechei as mãos, apertando tanto que pude escutar as juntas estalando.
- Te encontro no salão então. - Falou com desdenho. - Não há nada que posso fazer aqui no seu quarto.
Mas uma vez me deu as costas. Odiava quando fazia isso.
- Por acaso a odeia? Está apaixonado por outra? Me diz? - Perguntei em aflição.
Sean parou perto da porta, mas não se deu o trabalho de me olhar. Contudo notei menear a cabeça na direção dela. Foi quase imperceptível, mas eu reparei.
- Não odeio a salvadora da nossa nação, como poderia? Está mulher deitada confortavelmente na sua camera de proteção, é a mãe dos nossos futuros rebentos. Teremos filhos saudáveis. Acredito sim que essa gerará guerreiros fortificados. Assim que a nossa rainha dê a luz, trará a tão sonhada iluminação na vida do nosso povo. Portanto não tenho razões para odiá-la.
Então... Qual é a verdadeira questão que ronda seu coração? Será culpa da lacuna existente entre eles ou algo mais o incomodava?
- E sobre a outra pergunta? Preciso ouvir sua resposta.
Ele bufou, retornando seu olhar na direção da porta.
- Meu coração não conhecê o amor, muito menos uma paixão proibida ou fulgaz. Irmão, sabe disso. Pode soldar os meus pensamentos. Nossa ligação é presente do nosso pai. O rei.
- Sim, no entanto precisava escutar dos seus lábios. Posso te pedir um favor?
- O rei suplemo manda, de jeito nenhum pede favores.
Sorri internamente ao me aproximar, tocando em seus ombros. Sentindo ele se desarmando ao poucos, devido nosso laço de parentesco.
- Entendo sua preocupação. Acredite quando digo que está virgem nos dará grandes vitórias.
- Quando isto realmente enfim acontecer, tomarei a mulher com mais gosto... Por favor... pare de me influenciar.
Pediu-me ao arrancar seus ombros das minhas mãos e sair.
Dez minutos depois, o encontrei no salão real.
Sentado, ele me olhava seriamente. Tentou se erguer mas eu o detive.
- Vamos falar de irmão para irmão. Temos que ter uma boa convivência com a Naira, senão...
- Ela pedirá para ir embora antes do casamento acontecer. - Continuou ele. - Sei disso, e nada poderemos fazer se tal coisa acontecesse.
O mirei com cuidado.
- Pensa que ela desistiria de nós assim com essa facilidade? Não a conhecê.
- Nem você irmão. - Disse-me revirando os olhos.
- Eu a sinto... - Toquei meu peito. - Sei da sua falta de ligação, devido a falha daquele dia, contudo posso fazer essa ponte entre vocês se tornar mais inabalável.
Seus olhos azuis expressaram pela primeira vez algum interesse emocional.
- Interessante. Diga-me mais sobre esse assunto.
Dei um largo sorriso, em decorrer expliquei detalhadamente, ganhando sua total... devoção.
Pensei em Naira o tempo todo durante nossa conversa.