Não partiram em um voo comercial.
Juno pensou que provavelmente o jato que usavam era de Saiko, mas não ousou perguntar, decidiu que se desviar dos problemas era melhor, do que enfrentá-los de vez.
Durante o voo conversou com a mãe, que tagarelou animadamente, como se estivessem indo em uma viagem muito esperada e não para um casamento com um maluco japonês.
Na verdade, o que Hagabi fazia era distrair a filha, e não deixar Juno cair na autopiedade, porque seria um caminho sem volta. E ao menos Saiko era jovem e bonito, poderia ser pio.r, e Juno ser obrigada a se casar com um velho lunático e perigoso..
Não que Saiko, não fosse lunático, mas ao menos não era velho.
Hagabi jurou para si mesmo que se o marido dela fosse alguém muito rui.m não reclamaria e não choraria na frente de Juno, sofreria calada e resignada, se Juno fosse bem tratada já bastava.
Hagabi tinha trinta e nove anos, não se considerava jovem para construir uma família, de maneira alguma, quem sabe os soldados de Saiko achassem fei@? Seria maravilhoso.
Acariciou os cabelos da filha. Parecia que Juno escondia uma tristeza tão grande, tão grande. Hagabi ainda tentou perguntar diversas vezes, mas Juno dizia ser somente o cansaço da faculdade, depois o fim do namoro, e por último o casamento.
A viagem seguiu tranquila,a não ser por Saiko vociferando ao telefone por alguns momentos.
Ele era um lunático, Juno teve certeza, o humor dele era imprevisível, mas Saiko podia ser imprevisível, mas não imprudente, cada passo dele era calculado.
De repente, Juno se lembrou que não perguntou à mãe quem era o pai dela, foram tantos problemas e tantos sentimentos, que se esqueceu, mas também não valia a pena, a mãe tinha sido abandonada. Na época de sua concepção, o pai podia ser também um adolescente, mas não era mais e não a procurou.
— mamãe.. O homem, que deveria ser o meu pai.
– faça de conta que ele está morto, Juno.
– mas não está, não é
– não, mas ele não vale a pena.
— ele também era jovem?
— Era, mas não tanto quanto eu. Ele tinha vinte cinco anos e eu quatorze.
Era mais velho, bem mais velho, e abandonou a mãe grávida, uma adolescente sozinha e com um filho na barriga.
Um homem que se deitava com uma adolescente e a abandonava, não devia ser chamado de homem, muito menos de pai.
Juno não sentiu vontade nenhuma de conhecer o pai biológico, mas alguém dentro do avião sentia vontade.
Yan e não era para uma visita social.
Honra podia ser lavada muito anos depois, antes tarde do que nunca.
E a sociedade japonesa adorava um provérbio que dizia muita verdade.
Acabaram dormindo, era uma viagem considerada demorada, mesmo de modo aéreo.
Quando acordaram foi com o jatinho iluminado pelo suave tom de luz artificial.
Juno sentiu fome, mas não tinha muito o que fazer. Havia uma aeromoça, mas não quis pedir nada, porque era mais uma funcionária de Saiko.
A funcionária pareceu ler os pensamentos dela. Em um delicado equilíbrio entre eficiência e elegância, a aeromoça se levantou avançou pelo corredor, empurrando o carrinho de serviço de bordo com habilidade e graça.
Hagabi e Saiko receberam uma bandeja.
No centro do prato, repousava um elegante conjunto de sushi meticulosamente disposto, onde fatias de peixe fresco contrastavam com o arroz de grãos perfeitos.
Juno não entendeu de onde surgiu aquele alimento, mas se lembrou dos dois frigobares e entendeu.
Os rolos de nori exibiam uma mistura de sabores, desde o suave sabor do salmão até a cremosidade do abacate. Ao lado, um pequeno prato continha molho de soja, e delicadas fatias de gengibre e wasabi completavam a experiência.
Ao observar o passageiro iniciar a refeição, a aeromoça compartilhava breves explicações sobre cada componente, garantindo que a experiência culinária fosse não apenas deliciosa, mas também informativa. O aroma sutil dos ingredientes frescos preenchia o espaço, criando uma atmosfera acolhedora.
mas no momento em que os olhos de Saiko encontraram o rosto de Juno, ela falou em forma de sussurro, mas com a boca articulada, para que Saiko entendesse.
__ A sua comida é horriv£l.
Saiko entendeu,e Hagabi também.
__ Você sempre gostou de comida japonesa, não pode passar os seus dias provocando o seu marido, Juno. Quer viver em uma guerra, minha filha?
__ Não quero me casar com ele.
__ mas é para esse destino que está caminhando, e contra o destino ninguém vai. A sua fugiu, e estamos voltando tantos anos depois. Colabore, sim?
__ Vou tentar, mamãe, vou tentar.