Canibal,
Quando vi minha mulher ali ferida naquela maca, meu mundo caiu.
Queriam me deixar do lado de fora.
-Eu vou junto C*****o é minha mulher e se acontecer alguma coisa com ela, todos vocês morrem.
- Calma chefe, acompanha o enfermeiro, ele irá lhe ajudar com a lavagem correta das mãos e colocar uma roupa especial. Enquanto isso, estamos entrando com ela.
Sara entrou por uma porta e fui com o enfermeiro até uma sala, coloquei touca, uma roupa especial e um protetor nos pés, que se pareciam com a touca da cabeça. Lavei as mãos conforme ele orientou e seguimos pelo corredor até entrar em uma casa e lá estava a minha vida, deitada naquela mesa.
- Chefe, retiramos o projétil e conseguimos conter a hemorragia em sua esposa. Ela vai precisar ser intubada, mas acreditamos que a cirurgia deu certo e logo diminuiremos os sedativos para que ela possa acordar.
Infelizmente, não conseguimos salvar o bebê. Ela chegou aqui sofrendo um aborto e devido ao pouco tempo de gestação, não teve o que fazer.
- Bebê?
- Sim, vocês não sabiam?
Ela estava grávida de mais ou menos 12 semanas conseguimos visualizar perfeitamente o sexo da criança.
- Eu posso vê?
-Claro chefe.
Ela pega uma cuba e entrega em minhas mãos.
Que bagulho estranho, eu acostumado a torturar e matar vagabundo na maior tranquilidade.
Hoje me sinto impotente diante ao pequeno corpinho da minha filha que não chegou a nascer.
Sinto um nó na garganta, eu queria essa criança mesmo sem saber que ela estava ali, eu quero que a minha Sara acorde logo.
Apesar de pequena, consigo identificar os bracinhos, perninhas, cabeça. Lágrimas rolam pelos meus olhos e penso em como vou contar pra minha mulher.
Após oito horas de cirurgia, eles conseguiram parar a hemorragia e a levaram para o CTI, paro do lado de fora, e fico ali parado, olhando a Sara através daquela parede de vidro, ela que é tão falante, está imóvel, cheia de tubos, respirando pelos aparelhos
Eu ligo pra minha mãe.
Ligação on:
-Alô
-Oi mãe, sua bença!
respiro um pouco recuperando a sanidade que me resta para contar a ela o que ocorreu .
- Deus lhe abençoe, está tudo bem filho?
- Mãe, a Sara foi baleada por um policial. Estou aqui no hospital com ela, ela perdeu a nossa bebê e
Eu não consigo falar, me falta ar e tento me recuperar.
-Estou voltando pra casa, fica calmo meu filho. Aí você me conta melhor o que aconteceu, pelo seu estado eu sei que precisam de mim.
- Obrigado mãe
Ligação off.
Sinto uma mão em minhas costas, me tirando do transe.
- Como ela está irmão?
- Ela estava grávida p**a p*u, eu vi a menorzinha.
- Sei que é um momento f**a, mas ela vai sair dessa e você vai fazer quantos filhos quiser parceiro. Levanta a cabeça que ela precisa de você.
Resolve aí as paradas que eu e o MT estamos assumindo tudo no morro pra você ficar mais tempo aqui, até ela se recuperar.
- O tiro atingiu o abdômen na parte lateral, parceiro. Ela fez isso tudo pra me salvar. eles dizem que a cirurgia foi um sucesso, mas apagaram ela um pouco
Conseguiram descobrir quem comandou essa invasão. p**a p*u, levanta tudo que você conseguir.
- Tamo junto Viado, se preocupa aí com a patroa, eu e MT damos conta do morro até você voltar. Agora vou lá fora da notícia para as amigas dela.
- Valeu parceiro, ele vai embora e eu vou até a médica, quero um lugar pra eu ficar ao lado da minha mulher.
- Patrão, ali a área é restrita, mas vou providenciar algo para que o senhor possa ficar com sua esposa.
-Apenas concordei com a cabeça, estava destruído demais para pensar em outros assuntos que não fosse a Sara.
Vejo o MT se aproximar.
- p**a p*u Já lhe deu a visão que estamos resolvendo tudo aí.
Reforçamos a segurança do postinho. Seus segurança estão na parte interna do posto. Cada um em um ponto estratégico.
Como te conheço, trouxe umas roupas aí, e uns bagulhos pra tu e o mais importante algo pra você se alimentar.
Você precisa está bem quando a Sara acordar.
Quem vai cuidar dela se você não se alimentar e ficar doente, pensa nisso Viado.
- Valeu mesmo irmão.
- Nós é parceiro Canibal, come logo aí a lasanha que a mina do p**a p*u mandou e bebe esse suco. Maior louca falou pra ter cuidado com as vasilhas da mãe e está lá fora aguardando.
Eu não falo nada, me sento em um banco fora da sala abrindo o potinho, saboreando a lasanha que está uma delícia, parece que ela fez agora, bebo o suco e ele segue com a vasilha da mina. Me deixando com uma mochila pra que eu não precise me preocupar com nada.
A enfermeira fala pra eu entrar, colocaram um leito ao lado da cama da Sara pra eu ficar. Assim que ela sai eu seguro nas mãos da Sara choro. Sei que sou um fudido e não tenho direito de pedir nada por mim. Mas Deus, salva minha mulher, ela é boa e sempre está envolvida em projetos sociais. Não deixa que nada aconteça.
Eu acabo adormecendo e acordo com uma mão alisando meu cabelo. O cheiro é familiar, abro os olhos e minha mãe está ali. Sentada na beira da cama onde acabei dormindo.
Ela beija minha testa e me abraça sem dizer uma palavra. Nesse momento eu desabo, choro feito uma criança deixando limpar minha alma com essa dor que me aflige.
Depois de um tempo, me sinto melhor.
- Tudo vai ficar bem meu filho.
A médica me passou o quadro, Seus amigos me contaram o que aconteceu e lembre-se, tenha fé, a Sara é forte e logo eles irão retirar o sedativo.
A médica entra e explica como irá agir, em três dias ela irá retirar os sedativo e Sara irá acordar.
Fiz da enfermaria minha casa, minha mãe, Priscila, Clara, MT e p**a p*u vinham aqui todos os dias.
Os médicos tinham tirado os sedativos e nada dela acordar.
Fazem 8 dias e não tenho resposta, hoje conseguimos chegar ao mandante daquela invasão. Um comandante safado amigo do Justiceiro, que entrou aqui a mando dele por pura vingança. Minha mãe continua não acreditando.
Pica p*u conseguiu colocar um grampo na sala do cara, agora estamos um passo na frente.
As gravações estão sendo feitas e monitoradas, diariamente , mas vou agir na hora certa. Preciso que a Sara esteja bem.
Ela sabia, que assim que a Sara acordasse eu cuidaria disso pessoalmente.
Em meio a tudo isso eu sinto que Sara acaba apertando meus dedos e assim que o médico entra diz que são espasmos involuntários, mas ela não acordou.
Nao importa o que seja, é um bom sinal e sei que ela respondeu quando eu a estava chamando.
Continuei narrando pra ela as coisas do dia a dia, contando o quanto estou sentindo sua falta, falando que a amo e pedindo pra ela voltar.
Ontem o médico falou que caso ela não acorde até a segunda, irá realizar um procedimento para colocar o tubo pela garganta.
Estou aqui no postinho faz 14 dias hoje, minha mãe veio vê como ela está e trazer meu café da manhã. Ela ainda acha o marido inocente. Mas descobri que a emboscada era pra me matar, ele só não contava que a Sara entrasse na frente.
Em uma das conversas ele falou que o pai dela é alguém influente, mas pera aí, ele não pegou ela no orfanato. p**a p*u está levantando tudo, vamos pegar esse velho quando ele menos esperar.
Continuo conversando com a minha mãe, enquanto aliso as mãos geladas da minha menina, como sinto falta do seu sorriso.
Derrepente ela aperta minhas mãos, dessa vez está mais forte, eu começo a chorar, a Sara acabou com a minha fama de bandido durão. O médico entra e mais uma vez diz que é espasmo. Não dou ouvido, sei que ela está voltando pra mim.
Minha mãe me pede calma e voltamos a conversar, mas noto as pupilas da Sara mexerem, ela está chorando e Derrepente pisca e abre os olhos.
Meu coração até errou a batida, ela apertou minha mão e nossos olhos se encontraram, esqueci que ela está operada e no impulso a abracei, mas senti seu corpo irrigecer, levantei apressado com a minha mãe brigando.
- Solta ela Vitor, já chamei o médico.
Ela olha pra nossa mãe que pede ssilêncio, afinal pode se machucar com o tubo.
Os médicos entram na sala pra examinar, e a enfermeira tira o tubo de sua boca, ela olha o curativo e parece está perdida olhando em meus olhos. Será que ela se recorda da invasão. Minha mãe a abraça e começa a falar com ela.
- Meu amor, que susto vc nos deu. porque foi atrás do Vitor no meio de uma invasão. Você poderia ter morrido.
- Eles iam matar o Vitor, eu vi nas câmeras e fui avisar.
Eu a olho, ela está falando baixinho.
- Sara, me promete não fazer mais isso, eu enlouqueci com você nesse hospital. Digo de coração, o que eu faço sem essa mulher.
Foram as duas semanas mais longas e angustiantes da minha vida.
- Duas semanas?
-Sim, você levou um tiro no abdômen, perdeu muito sangue, no momento da cirurgia descobriram que você estava grávida, mas a criança não resistiu.
- Grávida?
- Filha você precisa descansar, amanhã Vitor conta tudo que você quiser saber.
Minha mãe a corta e sei que ela acabou de acordar, mas não posso esconder nada.
- Não, eu quero saber agora. Descansei por muito tempo. Agora me conta o que aconteceu.
- Amor eu vou lhe contar tudo, mas está na hora do seu remédio, eu quero você bem. Fiquei triste pela nossa cria, mas preciso que você fique bem.
- Hora do remédio, a enfermeira diz e a Sara faz um bico enorme.
Durma um pouco, você não pode se agitar.
Ela aperta minha mão, que alívio vê-la fora de perigo.
Minha mãe foi embora assim que ela pegou no sono. Disse que precisava resolver umas coisas em casa.
Eu aproveitei pra tomar um banho rápido, e ficar ali admirando o meu amor.