O dia em que iria se casar, amanheceu frio e chuvoso, e Mori precisou escolher outra roupa para usar, porque costumava sentir muito frio.
Foi até o guarda roupa e escolheu o que vestir.. Encontrou um kimono branco, de um tecido mais quente.. Deixou a roupa na cama, provavelmente ela seria a única noiva a usar aquela vestimenta, mas não se importou.
Ligou o som.. Uma melodia preencheu o quarto.. A tentativa era relaxar.
Foi para o banho, provavelmente seria o último banho que teria na casa em que cresceu. Ficou horas embaixo da água morna, quando não podia mais ficar ali, desligou o chiveiro e foi se preparar.
Mori se vestiu na frente do espelho, mas fez isso lentamente.
Olhou em direção a janela e sentiu vontade de pular, não morreria, mas ao menos se machucaria, e isso adiaria o casamento em alguns dias.
Tinha sido um esforço imenso não chorar.. mas prometeu para ela mesmo que não faria isso.
Deixou os cabelos soltos..porque não sabia fazer penteados. Sobre isso, o pai ainda quis levá-la para um dia de noiva, mas se recusou. Porque iria fingir que queria se casar?
Olhou para janela mais uma vez.. Se ela se machucasse e ficasse com algumas cicatrizes, Amon não ia subir ao altar.
O pai bateu na porta e ela desistiu de fazer besteira, mas a vontade de pular era grande, muito grande.
Não se achava medrosa, nem de fazer loucuras para fugir da realidade, mas daqui a algumas horas estaria nas mãos de um homem que seria o seu marido. E na realidade em que viviam, podia se dizer que teria um dono, e como objeto que se tornava, podia ser facilmente quebrada, afinal, objetos quebravam e se deterioravam.
— Está bonita, minha filha. E eu sinto muito, não sabia que esse seria esse o preço, ou não teria feito o que fiz. Se a sua mãe estivesse aqui, nunca iria me perdoar.
– Ia sim, papai, minha mãe perdoava tudo, ia perdoar isso também, mas eu não sei se consigo perdoar o senhor um dia. Me sinto vendida como uma boneca de pano, que o senhor não queria mais..
– Não a ofereci para pagar a dívida.
– Neste momento não importa mais, não importa..
Desceram as escadas.
A tia estava na sala..
– Quer que eu vá junto, minha filha?
– Não, tia, já basta, eu que sofrendo. Ir para chorar ? apesar de tudo não vai ser meu funeral, ou talvez seja em breve.
– Pelo amor de deus, Mori, não fale isso, minha filha.
– É brincadeira, tia.
Mori ofereceu um abraço para a senhora. Amava a tia, mas se ela estivesse no casamento, choraria e isso ia deixar o noivo consciente do pavor que ele causava, alguns homens se aproveitaram disso.
Mori caminhou para o carro com o pai, viu um dos soldados fazer um aceno para ele, isso significava que o noivo estava aguardando, tinha tido a esperança que o Amon não quisesse se casar com ela, mas Amon era leal e cumpria ordens.
Enquanto o pai dirigia, Mori teve uma crise de choro intenso..
Kazuo precisou parar para oferecer água e acalmar a filha, se sentiu culpado.
– Ninguém foge da máfia, foge papai? – Mori perguntou.
– Não, se tivesse um jeito, eu teria tentado, tenho muitos erros, mas não deixaria você sofrer, se pudesse impedir, não deixaria. Tudo que falei foi , porque estava de cabeça quente.
– Eu sei, desculpas pelas coisas que disse. Estou magoada e nervosa, é isso.
– Eu sei.. também sei, e não o culpo.
Escutaram uma buzina, era um dos soldados..
Kazuo foi obrigado a dirigir, Mori secou o rosto, ainda bem que não havia maquiagem, ou ficaria com o rosto todo manchado.
Ela passou a mão no rosto quando estacionaram.
O pai tentou segurar nas mãos dela, mas MOri não permitiu.. Não queria ser tocada naquele momento.
Desceram..
Era um cartório pequeno.. Dessa vez ela segurou as mãos do pai, pois sentiu medo.
Queria ser corajosa..mas tremeu e o pai dela apertou a mão de Mori para passar força, mas não resolveu, o medo queimava o estômago feminino.
O cartório estava praticamente vazio.. Dois homens estavam em pé lado a lado, e Mori desejou correu quando reconheceu o seu salvador da noite da fuga..
__ Papai que é Amon?
__ O homem que usa a camisa branca, minha filha..
__ Oh, Deus.
Estava perdida..
__ Se o senhor não me segurar, eu vou cair.
__ Estou segurando, minha filha.. Pelo menos para isso, eu sirvo..
Ela encontrou os olhos de Amon.. e sentiu vontade de correr.
__ Papai, faça o jurar pelo oyabu que não vai me bat£r..
__ Assim que o casamento acabar minha filha. Eu ao menos tento.
Ela caminhou até Amon, mas nem mesmo sentia suas pernas.