Prólogo
Amon estava sentado na sala de espera do cartório, olhando ao redor com uma expressão neutra, mas por dentro, uma sensação de desconforto e irritação o consumia. Ele preferia estar em qualquer outro lugar do que ali, lidando com questões burocráticas sobre seu casamento.
Casamento que não queria, nem mesmo tinha ido conhecer a noiva. Se casava porque jurou obedecer ao seu oyabun, o seu líder supremo da yakuza, era só por isso que iria se casar.
Enquanto esperava, Amon não podia deixar de sentir uma grande irritação por ter que usar o aparelho auditivo. Para ele, não era uma questão de vergonha ou preocupação com opiniões externas, mas sim de desconforto com a necessidade de depender desse dispositivo para se relacionar com o mundo exterior.
Ele podia ler lábios muito bem, mas em um lugar como aquele, as pessoas não falavam olhando no rosto, até, porque olhar nos olhos do açougueiro da yakuza, não era fácil, mesmo que não soubessem quem ele era, parecia que as almas daqueles que mandou para o “nada” assustava as pessoas..
Odiava a ideia de ter que dar o seu nome e dar também um lar para um desconhecida.. e para isso, ainda ter que sair de seu lugar de trabalho, para preparar um casamento.
Preferia a companhia silenciosa dos mortos, do que estar cercado de pessoas, nem gostava de pessoas, essa era a verdade.
Ele preferia a familiaridade e o conforto do seu próprio espaço, e estar cercado por pessoas desconhecidas só aumentava sua irritação e raiva por aquele casamento imposto.
Enquanto aguardava sua vez no cartório, Amon tentava manter a calma e a compostura, mesmo que por dentro estivesse ansiando por deixar aquele ambiente o mais rápido possível. Ele sabia que essa era apenas mais uma tarefa a ser cumprida, mas isso não diminuía a sua aversão ao mundo exterior e às suas demandas.
Ao menos poderia se casar em um cartório, não necessitava de uma cerimônia religiosa tradicional japones@, ao menos isso.
Olhou o documento da sua futura esposa, tinha a certidão de nascimento, Mori Ikeda..
A filha do gerente Kazuo Ikeda, gerente esse que foi burro o suficiente em roubar Saiko Nakamoto.. Só gente estúpida roubava a Yakuza..
E agora?
Agora, Amon também pagava a sentença do oyabun, era obrigado a se tornar um marido, quando não servia nem mesmo para ser um namorado ou noivo.
Amon era a punição do gerente, mas também Amon era a punição e o pesadelo de Mori Ikeda.
E ele só desejava continuar sendo o açougueiro da Yakuza, aquele que terminava o trabalho sujo, que retalhava a carne dos inimigos até que não restasse nada, aquele que destroçava os ossos, até que nada fosse real.
E agora?
Agora precisava receber uma mulher em seu local de trabalho, uma mulher que não fazia ideia do que a esperava, e a perda auditiva do açougueiro era o menor dos problemas que Mori Ikeda enfrentaria.