Mori acordou com o coração acelerado e a mente bagunçada pela confusão que era a história de seu casamento, sentiu que precisava respirar.
Se levantou e vestiu um kimono, pegou o primeiro sapato que encontrou.. Ia sair.
Os soldados caminhavam lá fora, mas ali era sua casa, e sabia como fugir sem ser vista. Pelo menos isso, podia decidir.
Nesse momento, ela só queria fugir da pressão e das expectativas que cercavam a ideia de casamento, era somente isso, mas precisava sair de casa por algum tempo, o pai dormia, então ninguém conseguiria impedir.
Saiu pela porta da sala.
Havia uma parte do muro da propriedade completamente coberta por vegetação, mas nessa mesma parte, faltava uma parte do concreto, um homem não conseguiria passar pela passagem, mas Mori sim, porque era pequena. A passagem dava direito para rua.
Tinha medo do escuro e de pessoas ruins e desconhecidas, mas neste momento, o medo de ser infeliz, era maior.
Deu boas vindas a rua deserta que encontrou.
Enquanto caminhava pelas ruas desertas, o brilho fraco dos postes de luz era sua única companhia, tinha como companhia também os pensamentos em conflitos.
Caminhou sem rumo, chorou mais uma vez, colheu algumas flores em canteiros e reclamou de sua sorte para ela mesmo, afinal, era uma noiva infeliz.
Uma hora depois de sua fuga, decidiu retornar para casa.. Se o pai sonhasse que ela saiu naquele horário, talvez, nem se casasse, porque noivas mortas, não subiam ao altar..
Caminhou em direção a sua casa, mas Mori sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir alguns passos.
Estava sendo seguida.
Ela olhou por sobre o ombro e viu um homem que deu um sorriso para ela, se sentiu estúpida por sair naquele horário.
Os passos de Mori, que antes eram lentos, ficaram rápidos, mas logo se transformaram em uma corrida desesperada, o coração batendo forte no peito enquanto ela tentava encontrar alguém que ajudasse, mas a rua estava deserta.
A sensação de perigo iminente a consome, mas Mori se recusou a desistir, correu ainda mais, mas foi derrubada no chão de concreto, os joelhos arderam.
Nesse momento, o casamento pareceu um mar de rosas, ela não gritou ou implorou, porque teve certeza que não adiantaria, mas o estômago embrulhava e as lágrimas desceram..
Ela escutou mais alguns passos, viu os pés de mais um homem e tremeu mais ainda. Esse homem estava de calça preta e camisa branca, permaneceu em pé e ele pareceu bater o dedos se decidindo o que fazer.
Estava decidindo se fazia o mesmo com ela, quase vomitou..
– Eu divido com você, mas sou o primeiro.. – o homem que a segurava e fedia a álcool afirmou.
Como se fosse um pedaço de carne..
Ela tentou chutar o homem, mas não conseguiu.. O que estava a segurando era americano, mas o homem em pé era japon£s, e Mori pediu aos céus para que isso a salvasse, mas no momento em que ela mexeu tentando lutar, e a lua iluminou o rosto dela.. algo mudou.
O japon£s pareceu se decidiu, uma katana foi tirada e jogada no braço daquele que a segurava. Logo depois, Mori assistiu horrorizada um homem ser morto em cima dela, o sangue manchou todo o seu kimono, e ela não conseguiu nem se mover, também estava com medo que ela poderia ser a próxima a morrer.
O corpo foi tirado de cima dela e o "seu salvador" se agachou bem perto
– Uma mulher sozinha, uma hora dessa. Só tem duas explicações: ou ela é uma qualquer que não se importa com quem toca seu corpo, ou uma idiot@, e nem uma das opções me agrada..
Havia raiva.
– Eu só queria caminhar um pouco.. __ Mori chorou, porque o olhar daquele homem era de acusação.
– Encontrou o que queria nessa rua escura? __ O japon£s perguntou olhando nos lábios dela.
– Não.. Me deixe ir para casa.. Me solte..
Ela evitava olhar para o corpo daquele a atacou.
– Eu devia oferecer o que estava procurando, moça. Não era o que queria atrás de uma rua de uma casa de prostituiçã.o?
Ela não sabia desse detalhe.
– Eu não sabia, moro na rua debaixo, e não sabia, me deixe ir para casa, por favor!
– Não corra.
– O que?
– Não corra, moça. Ande..
Mori foi levantada..
E viu o homem estranho olhar para os lados.. Foi imprensada na parede.. e ele tirou o sobretudo que vestia e arrancou o kimono dela em um único puxão, da mesma maneira rápida, ela foi coberta com o sobretudo dele.
Ela amarrou o cordão da peça, ainda tremia.
– Vá..
Ela precisou respirar fundo para ter forças para caminhar.. Percebeu que ele a seguiu, mas não se importou..
Entrou no lugar que morava pela mesma passagem que saiu..
Entrou em casa silenciosamente, mas quando entrou no quarto, caiu no chão chorando desesperadamente.
Quase tinha sido violentada, viu um homem ser morto, foi despida por um estranho com uma katana e ainda tinha que se casar.
A sorte não estava com ela, foi tomar banho, e ficou uma hora embaixo do chuveiro.
O cheiro de sangue ainda estava em seu nariz e parecia que tinha sentido o cheiro da morte misturado com algo mais, ela não sabia se esse cheiro de algo mais era o cheiro do homem que a salvou ou se era impressão.
Se sentou na banheira que ficava embaixo do box, mas precisou sair para vomitar, porque a realidade do que viu a dominou, nunca tinha visto alguém ser morto..
A imagem do corpo ensaguentado e com as vísceras para fora se instalou e sua mente.
Voltou para água morna, escovou os dentes.
Saiu do banho tremendo, e se deitou, mas não conseguiu fechar os olhos, porque quando ensaiva fazer isso, via aquele que a atacou, mas via também os olhos do homem que a salvou..