Capítulo 17 - P.O.V - LILY
Eu conseguia perceber o incomodo dele com o fato de eu estar andando ao seu lado, ele me olhava com aqueles olhos de caçador, mas ainda assim, desconfiado.
- O que acontece com você? Não gostou de mim desde o início... o que eu fiz para você? eu não entendo... - eu o questionei do outro lado da rua, ele pediu para eu andar ali, parecia querer me repelir.
- Eu disse que não gosto de você? eu m*l a conheço! - ele fechou os olhos, parecia estar contando uma mentira.
- Você acabou de me conhecer e eu estou andando do outro lado da rua...
- São exatamente cinco horas da manhã, eu não acho que o seu MARIDO - falou como um xingamento - iria gostar de me ver andando perto de você.
- Por quê? Vamos nos pegar? - eu provoquei - que eu saiba eu pedi para caminhar com você e não para transarmos no mato - eu estava falando mais do que podia, mas as palavras saiam de mim como balas, não eram planejadas... só saiam.
- Não. - ele respondeu seco, e continuou caminhando, eu poderia jurar que ele estava com um sorriso estampado no rosto, mas ele logo virou para eu não conseguir ver - Mas me conta, Sra. Baker... como é viver nesse maldito subúrbio? - parecia um deboche a pergunta que ele me fez, eu juro.
- Bom, eu não gosto muito..., mas me acostumei - respondi um pouco seca, eu não sabia o que falar, e se ele fosse espalhar o que eu dizia?
Eu cometi esse erro no início, quando contei minha vida inteira para a maldita Vivian, a fofoqueira chefe da associação da p***a do bairro.
- E por que não mora em Manhathan? Seu marido dirige muito todos os dias para chegar aqui... ele não é médico no memorial? Não faz sentido o caminho que ele faz até aqui apenas para morarem em um subúrbio praiano.
- Eu sei, mas ele gosta de morar aqui... e eu não sei se eu conseguiria viver no upper east side, eu odeio morar aqui, mas por algum motivo eu sei que lá seria muito pior... então, é isso. Mas e você? por que mora aqui?
Eu sentia a cabeça dele queimar, o meu coração acelerou mais do que o normal, como se a resposta dele fosse mudar alguma coisa para mim, como se o que ele fosse falar pudesse definir como eu iria viver e me comportar no restante da semana.
Que sensação esquisita que estava me invadindo.
Ele parou no meio da rua... atravessou olhando diretamente nos meus olhos, chegou perto demais, o suficiente para eu sentir o cheiro da pele dele entorpecer os meus pensamentos, segurou o meu queixo e eu fechei os olhos sentindo o hálito dele bater diretamente no meu rosto, eu não acreditava que estava vivendo aquilo de verdade.
Senti a quentura de seus lábios em meus ouvidos, e finalmente a resposta - Eu me mudei para cá por sua causa... sempre... por sua causa!
E de repente eu estava no meio da rua novamente, mas do outro lado enquanto Lucio gritava - Ei, você está bem? comecei a falar e você entrou em transe?
A minha fantasia saiu pelos meus poros, e eu imaginei o que eu queria na realidade, o que eu queria que se materializasse de fato na minha realidade.
- Você está bem? - ele perguntou de novo, mas sem atravessar a p***a da rua.
- Eu estou, só... minha... pressão... baixou um pouco.
- Você quer que eu te deixe em casa? se você não está bem...
Finalmente ele atravessou a rua, e a minha realidade era ele perto de mim.
- Não... eu quero ouvir... o porquê você se mudou para cá!
Ele não encostou em mim, mas estava próximo, o cheiro dele me invadia de muitas formas, eu tinha que me concentrar de verdade para não acabar me perdendo.
Ele me olhou nos olhos e ali eu senti todos os meus sentidos desaguando em um só, o meu desejo por ele que parecia ficar cada vez mais apurado e mais cheio de mim e dele, ele se misturava em minhas veias e me pegava em cheio em tudo o que eu podia pensar e fazer, por que eu era feira dele só dele olhar... se ele me tocasse seria ainda pior, eu sentia que ele estava armando uma bomba relógio dentro de mim e dentro do meu coração, e só ele poderia apertar a p***a do gatilho, por que só ele poderia acessar o meu coração.
- Eu me mudei para cá por causa da minha irmã, Anne, então ela quis morar no subúrbio, e eu aceitei... somos muito próximos um do outro. - pode ser idiotice minha, mas na verdade eu sentia que ele estava falando alguma mentira, com certeza, pelo jeito que ele estava olhando para mim eu sabia que ele estava mentindo. - Ah é mentira, nossa, eu não sou um bom mentiroso.... isso me atrapalha bastante na realidade, por que era pra eu saber o motivo de eu estar aqui, mas a realidade é que não é um bom motivo... não é um bom motivo por que eu não consegui nem saber ainda... é f**a, desculpa, sei que parece confuso, acho inclusive que eu nem deveria estar aqui... não faz parte de mim e de quem eu sou, não gosto de jantares pomposos, e muito menos bailes ou associação de moradores... mas ainda sim estou aqui.
- Eu entendo você.... como eu me disse também não sou fã de morar aqui, obrigada pela sinceridade, é difícil achar alguma coisa assim aqui... as coisas acabam se confundindo no meio desse chiffon todo... - eu sorri e ele parou para me olhar, droga, eu não sabia nem reagir, e isso me tirava do eixo, não saber como agir diante dele.
- Obrigada também pela sinceridade, eu sei que é algo que falta aqui... essas pessoas são fáceis de ler... até demais! - ele disse com um ar até um pouco arrogante, mas eu deixei passar, já que eu já estava nervosa o suficiente com a situação. - Estás amanhecendo... precisamos voltar... - eu não queria na realidade, não queria de jeito nenhum dizer adeus para ele, então ao invés de eu dizer - NÃO POR FAVOR... VAMOS FICAR AQUI - eu disse...
- Vamos... você tem razão, logo Ben nota a minha ausência... pode se preocupar...
Ele fechou a cara na hora, será que não gostou de ouvir o nome do meu marido? eles tinham alguma rixa que eu não sabia?
Existiam tantas coisas que eu não sabia sobre o Benjamin, que se fosse o caso eu não ia me surpreender.
- Vamos então... eu vou deixar você na sua casa, não quero preocupar o seu marido - ele disse com a cara ainda fechada.
- Você parece chateado... - eu disse andando agora ao lado dele.
- Você não me conhece Lily... - ele disse apertando os lábios - e eu espero que nunca chegue a acontecer.
- Por que não? são tão ruins assim? - eu disse curiosa, ele causava em mim um certo fascínio - quem foi a mulher que conheceu você realmente e te magoou? - eu disse em um rompante, mas me arrependi no mesmo momento quando eu vi o olhar dele ficando mais sombrio - Desculpa... eu não deveria ter dito nada disso.
- Não, tudo bem... realmente existiu uma mulher que eu conheci, e ela me conheceu... e depois que eu entreguei tudo para ela... ela... tirou tudo de mim.
- Nossa, que filha da p**a! - eu disse ainda olhando nos olhos dela.
- Sim...
- Vocês mantêm contato?
Ele deu uma gargalhada bem longa - recentemente? sim... e eu tento cortar mas eu não consigo, é mais forte do que eu. Ridículo, não é?
- Você está apaixonado por ela então... é óbvio... deve ser difícil.
- Eu sou louco por ela... pensei nela por muitos milênios até o dia de hoje, mas eu sei o que devo fazer.
Milênios? que escolha interessante de se falar.
Aquilo me causou um certo frenesi no estômago.
- Eu sinto muito, não deve ser fácil amar quem te faz tão m*l.
- Não é - ele olhou na direção da minha casa - chegamos, entra... vou esperar para ter certeza de que te entreguei viva.
- Obrigada... Lucio... eu te vejo no jantar da associação? sei que a Vivian deve ter vindo até aqui entregar o convite... - falei sem graça
- eu vou tentar ir, eu prometo. Mas é aquilo... eu estou tentando ficar longe dela...
- Ah meu Deus, ela mora aqui no bairro?
- Deixa isso para lá Lily - sorri - entra! - me deu a voz de comando.
Eu entrei, mas ainda olhei para ele antes de fechar a porta, e ele ainda estava parado ali. Eu não sei o motivo pelo qual ele mexia tanto com a minha cabeça, mas mexia... me tirava o juízo.
Eu sussurrei - TCHAU
E ele levantou a mão e acenou para mim também.
O coração queimava, o meu rosto estava queimando, tudo em mim estava se confundindo dentro do meu coração, da minha mente e na minha alma.
- Se divertiu? - disse Benjamin descendo as escadas parecia de mau humor, me arrancou daquele mundo onde só existia o Lucio.
- Como assim? - eu disse irritada, andei até a cozinha.
- Você não acabou de chegar com o vizinho aqui da frente?
- Você está querendo me dizer alguma coisa Benjamin? alguma indireta? - eu fui até a cozinha e peguei um suco na geladeira, Benjamin se encostou no balcão.
- Não, mas acho que eu tenho direito de saber se a minha esposa estava andando por aí com o vizinho da frente às cinco horas da manhã... ah que surpresa... seis da manhã... o sol demorou a nascer hoje, não é? estranho, deve ser por isso que você perdeu a droga da noção do tempo não foi?
Os olhos dele estavam vermelhos, e ele arregalava muito.
Me julgando.