P.O.V LILY
Vocês já tiveram a sensação pura de já ter visto alguma coisa e que aquela coisa chamou tanto a sua intenção ao ponto de você sentir vertigem? Aquela sensação de deja-vu que nos invade? porque sabemos que na verdade já vivemos aquela cena mesmo que seja em algum universo alternativo ao nosso.
quando eu vi aqueles trens parados na árvore foi o que eu senti, mesmo que eu não tenha enxergado o rosto dele.
Mesmo que eu não tenha visto a cor dos seus cabelos ou de seus olhos... a minha mente criou isso para mim, criou a imagem perfeita dele na minha cabeça como se eu já tivesse essa imagem cravada em mim há séculos.
Não era fácil, ainda mais para mim, vivendo o mesmo dia várias e várias vezes.
Eu me sentei na pequena poltrona da minha sala, naquela escuridão que combinava com a escuridão que eu tinha dentro de mim e fiquei pensando.
Remoendo aquela situação
Eu nem percebi que o dia já estava raiando lá fora, e que o meu marido já estava estacionando o carro na nossa garagem.
Era normal que ele chegasse aquele horário, não sei nem por que reagir como se fosse uma surpresa muito grande ele apareceu na própria casa após o expediente.
- O que você faz acordada Lily? o que faz aqui na sala? – disse ele me encarando um pouco mais assombrado do que o normal.
Tratei logo de inventar uma desculpa que colasse.
- Nossa devo ter bebido muito vinho, me sentei aqui na poltrona e acabei pegando no sono, acordei com o barulho do seu carro chegando.
Eu disse isso com os olhos até fundos de não dormir, mas ele engoliu.
estava tão cansado do plantam que nem se preocupou em me questionar algo que facilmente ele faria considerando o fato de que o homem era médico.
- Vamos lá para a cama então, senti sua falta hoje...aconteceu uma coisa tão curiosa lá no hospital, eu ia esperar para te contar amanhã, mas já que você está acordada... eu vou te dizer agora. – disse ele já se liberando de suas roupas
Ele começou a rir como se tivesse sido a situação mais engraçada do mundo, e não sei porque dentro de mim eu sabia que não era? já sentiram essa sensação de você saber que alguém vai falar uma coisa completamente sem graça e que você na verdade vai ter que aturar aquilo sem a mínima vontade de realmente aturar?
- Um homem foi ao hospital hoje procurar a esposa que parecia estar internada, e aí ele disse o nome Lily...
Eu gelei no mesmo momento, será que alguém no meu passado estava me procurando? eu tinha um marido antes de tudo isso? ele estava me procurando?
E se sim porque demorou 5 anos para tentar me encontrar?
- E então...
Eu falei extremamente irritada já com a demora que ele tinha de fornecer as informações que eu precisava.
- Achei engraçado ele dizer Lily, e aí eu falei para ele que talvez ela tenha tido alta. Só que depois eu fui procurar nos prontuários eu não tinha nenhuma paciente com aquele nome, pelo menos não uma paciente que tivesse a idade para ser casada com aquele cara. A única Lily era uma mulher de sessenta e quatro anos, e mesmo assim, passou no hospital pela manhã.
“E não te ocorreu em nenhum momento que talvez ele estivesse perguntando de mim?” – EU pensei nisso imediatamente
eu ia dizer isso eu juro, mas isso só ia fomentar uma coisa que eu não precisava... pensei em contar para ele que tinha um estranho no nosso arbusto, para ele ter medo para não levar tão na brincadeira assim o assunto sobre a mulher no hospital internada. Mas resolvi que não, Ele não levaria a Sério provavelmente que eu estava dizendo,...E aquilo ia me irritar... eu conhecia os meus limites.
- ,Vamos então, eu vou tomar um banho estou ansioso pela minha cama hoje... e de preferência que minha esposa esteja nela.
Ele me deu aquele Sorriso brilhante lindo que eu estava acostumada,. Por um segundo eu me esqueci dos entraves daquele dia terrível. Era estranha a minha sensação quando eu estava com Bem, eu o amava com a mesma intensidade que eu o repelia de mim.
O Vinho, as mulheres, o cara no arbusto, dormir no sofá toda torta a mulher do hospital aquela história absurda... tantas coisas que pareciam borbulhar, a verdade é que minha vida era tão sem emoções reais que eu inventava isso para me sentir um pouco melhor, era melhor uma quase emoção do que nada.
- Você é o melhor, eu vou te esperar lá na cama está bem?
Eu dei um beijo nele e como sempre foi delicado ele segurou os meus cabelos, mas não foi forte, ele passou a língua pela minha boca mas não com fome de mim.
Eu me contentei, me deitei esperei ele sair da ducha e ele me abraçou bem forte aquela noite... ou madrugada, e eu me senti protegida... nada poderia me tocar naquele momento, nenhuma maldade do mundo ou meu passado.
O Problema por trás disso era provar para mim que isso bastava.
E eu acho que estava bom na verdade, eu estava inventando demais com os meus devaneios.
- Você está tão gelada Lily, quer que eu pegue mais um cobertor? – disse Ben docemente nos meus ouvidos.
- Não, só me abraça o mais forte que você conseguir.... Que já vai estar bom....
Eu fechei os meus olhos bem forte, eu não queria sonhar, eu não quero ouvir os meus pensamentos ... Não queria me pegar pensando na imagem que eu montei daquele homem, eu não queria pensar nem na possibilidade de aquilo acontecer.
Eu me concentrei tanto nisso que eu não consegui dormir, com medo de sonhar.
As horas passaram rápido, e a mesma rotina aconteceu... Novidade.
Benjamin acordou, foi correr pela vizinhança, ele tomou o seu café da manhã saudável, ele sorriu para mim lendo a droga do jornal.
- Tem alguma coisa te incomodando Lily? – disse depois de um tempo.
- Por que algo me incomodaria?! – falei mais irritada que o normal.
- Você m*l olhou para mim, você está parada na pia olhando para a janela como se esperasse alguém... Então me diz, está tudo certo?
- Sabe Ben, eu só tenho pensado muito no meu passado. Na verdade, na falta dele! Isso tem me incomodado... Por isso estou estranha.
- Entendo, o que na verdade te incomoda? O cara ter ido perguntar de uma Lily no hospital memorial?
Eu fui pega.
Claro que eu seria, Ben era extremamente inteligente e analítico.
Não ia deixar isso passar nem em um milhão de anos.