Depois que ouvi o irmão da Mirela dizendo aquelas coisas, eu não aguentei e fui em direção a minha casa, corri tanto que quando olhei para trás não vi mais os dois irmãos, quando cheguei em casa, minha mãe ainda não tinha chegado, então fui para o meu quarto e tirei a roupa que eu estava vestida.
As coloquei no varão, vesti uma calça folgada e uma blusa, me sentei no tapete da sala para esperar a minha mãe chegar e nesse meio tempo chorei, chorei muito, e nem percebi a hora que minha mãe chegou, todo esse preconceito está me matando aos poucos, e eu já não estou aguentando mais.
Olho para minha mãe e ela vem transbordando de felicidade, ela traz duas sacolas de supermercado.
— Posso saber o porquê desse sorriso no rosto, dona Maria?
— Arrumei um emprego, filha — ela deixa as sacolas em cima da pequena mesa e me abraça forte.
— Que bom, mamãe, no que a senhora vai trabalhar? — deixo um beijo em sua testa.
— No hospital samaritano.
— Sério mamãe? Esse hospital é muito chique, mas o que a senhora vai fazer lá?
— Auxiliar de limpeza.
— Ganha quanto?
— 1.164,00 por mês e um vale alimentação, inclusive essas compras, já foi com ele.
— Obrigado mamãe!
— Pelo o que meu amor?
— Por cuidar de mim esse tempo todo — abraço ela mais uma vez.
— Faço isso de coração, e quando eu receber meu primeiro p*******o, vou levar você para comprar umas roupas novas e um celular.
— Não precisa mãe, a senhora tem que descansar para o seu novo dia.
— Precisa sim, mas mudando de assunto, por que você veio mais cedo hoje do colégio? — ela ergue uma sobrancelha.
— É que eu acabei caindo e uma menina me ajudou, e ainda me deu uma roupa para vestir e poder vim embora. – Ela omitir alguns fatos do que realmente aconteceu.
— Que bom que já fez amizade no colégio — fala feliz.
— É sim mãe — ela sorri.
OLAVIO
Estava sentado na cadeira do meu escritório com os pensamentos a 17 anos atrás, enquanto eu conhecia o grande amor da minha vida, chorando em uma cadeira de uma lanchonete. Ela era tão linda e estava com uma menininha no colo, ela era loirinha. Me aproximei delas e falei com a mesma.
— Oi.
— Quem é você?
— Eu sou Olavio, não precisa ter medo de mim não, eu não vou te machucar.
— Sou Maria, e essa é minha filha, Mirela.
— Ela é linda, parece com você.
— Obrigada.
— Mas, por que você está chorando?
— Tenho que deixar minha filha, eu não posso cuidar dela.
— Mas, por quê?
— Minha família.
Depois que Maria disse isso, ela saiu correndo com a menina nos braços e não disse mais nada. Eu chamei a garçonete da lanchonete e paguei o lanche que ela estava tomando e fui para minha casa que era muito humilde, pois ainda não era rico.
Quatro meses depois, me encontrei com a Maria de novo. Ela estava um pouco triste e sempre ficávamos nos encontrando, até o dia em que pedi ela em namoro e ela aceitou.
Ela me contou que estava procurando a filha que tinha deixado na casa de uma família rica, e eu perguntei se ela lembrava onde era a casa. Ela disse que já foi lá, mas a família tinha se mudado, depois ela disse que estava grávida de uma menina e nós nos casamos.
Quando a criança nasceu, eu tinha ido em uma festa que havia tido na empresa de um amigo meu, que estava namorando uma secretária muito oferecida. Ela viu me darem um beijo bem na hora que um fotógrafo ia passando e depois disso publicaram as imagens e eu me separei de Maria.
Até hoje, não consegui encontrar elas, mas não vou descansar enquanto não encontrar a minha família e mostrar que tudo não passou de um engano.
Saio dos meus pensamentos com alguém batendo na porta do meu escritório.
— Pode entrar.
— Como você está? Não apareceu mais!
— É que eu estava resolvendo aqui uns assuntos, e pensando se abro outro hospital na França.
— E por que não? Lá é legal.
— Eu sei, só que nesse momento estou focado em um caso mais importante.
— Posso saber do que se trata?
— Claro, você é meu melhor amigo de todas as horas, e claro que pode saber, mas antes o que você veio fazer aqui?
— É que eu queria ter mais uma semana de férias para o aniversário da minha filha Mirela, que vai ser na semana que vem, e a propósito, você está convidado.
Quando eu ouvi o nome Mirela, os meus pensamentos voltaram a mil e eu só consegui pensar em uma única coisa, será que essa é a mesma Mirela de 17 anos atrás? Tenho que descobrir.
— Quantos anos ela tem?
— Ela tem 17, vai fazer 18.
— Eu vou sim, mas agora tenho que ir.
Disse já me levantando e saindo do escritório, deixando meu amigo lá me gritando para saber o caso que eu ia contar para ele, eu fui direto para o estacionamento do hospital, chegando lá, peguei meu carro e fui dirigindo para o escritório do meu amigo.
Durante o caminho eu vou pensando na filha de Paulo, pois o nome dela é Mirela e tem 17 anos, vai fazer 18 e as datas batem com a da filha da Maria, mas para eu ter certeza preciso saber se ela é adotada ou filha legítima dele mesmo.
Não demorou muito, e eu já estava batendo na porta do meu amigo e também detetive e ele logo me manda entrar.
— Pode entrar.
— E aí Jorge, como vai?
— Eu vou bem, mas parece que você é que não está nada bem com essa cara.
— Está tão na cara assim?
— Dá para ver de longe.
— É que eu queria saber como anda a investigação, pois queria que você me descobrisse mais uma coisinha.
— O que é Lavinho?
— Não me chama assim, eu não gosto, já sou bem crescidinho para esse apelido i****a!
— Tudo bem, como você quiser, agora me diz...
— Quero que você descubra tudo sobre a Mirela, filha do Paulo Mitchell Perez.
— Como assim? Você quer s********r a menina? Eu não vou participar dessa sua loucura Olavio!
— Por favor Jorge, eu não vou s********r ninguém, só quero saber uma informação sobre minha família.
— Está bom, está bem, eu faço isso por você.
— Que bom, mas isso tem que ficar só entre nós!
— Pode deixar, aliás, tenho novidades do outro caso.
— Qual?
— Eu descobri que a Maria, está aqui na cidade.
— Graças a Deus, isso é uma notícia maravilhosa!
— É verdade, qualquer coisa, eu te comunico.
— Então tá, eu já estou indo e não deixe de me comunicar sobre qualquer coisa que você souber.
— Pode deixar, tchau.
Assim Olavio saiu do escritório, e foi em direção de sua casa feliz por saber que seu grande amor está mais perto... Do que nunca.
AUTORA
Na casa dos Mitchell Perez
Parecia que era mais um dia normal como qualquer outro, se os dois irmãos não tivessem brigados sem se falar direito. Já era sete e quarenta, Mirela já estava no banheiro tomando banho, pois acordou muito cedo.
Depois de banho tomado e cabelos lavados, ela pegou duas toalhas e se enrolou em uma e a outra colocou nos cabelos, ela foi para o closet, pegou um par de lingerie preta, um short curto amarelo e uma camisetinha branca, secou os cabelos e os cacheou.
Também fez uma maquiagem um pouco forte e passou um batom rosa, calçou um par de tênis da Puma e se olhou no espelho, mas antes de sair do quarto pegou uma blusa de moletom cinza, manga comprida e amarrou na cintura.
Logo depois ela pega a bolsa, os livros e um óculos escuro, junto com o celular e quando estava saindo pela porta, viu que estava esquecendo de usar o perfume, ela colocou um pouco de perfume essencial que era o seu preferido no momento, e quando chegou na sala onde seria o café da manhã, viu seu pai que estava vestido em uma calça jeans branca e uma camisa polo também branca, com o tênis da Nike branco também.
Sua mãe estava vestida em uma calça social preta e uma blusa branca social, com os cabelos amarrados em um coque e um batom vermelho, calçava um salto vermelho, já o irmão estava com uma calça jeans azul forte, uma camiseta preta com uma camisa de manga comprida xadrez com seus inseparável tênis da Nike brancos.
— Bom dia!
— Bom dia querida.
— Bom dia!
— Bom dia Christy.
Depois de alguns minutos sentados na mesa, uma empregada veio e colocou a comida na mesa e Mirela se serviu com um copo de vitamina de morango, junto com duas panquecas de chocolate. Paulo com um copo de vitamina de abacate e um pedaço de bolo de fubá.
Cecília com um copo de suco de laranja e duas torradas de pão com requeijão. Jaime com um copo de vitamina de frutas vermelhas, uma panqueca de morango e também uma torrada de pão com requeijão.
Todos começaram a comer no mais absoluto silêncio, até que o celular de Paulo toca, ele olha e vê que é uma chamada do hospital, ele nem termina de tomar café e sai correndo e só fica na mesa os três, mas como continuava com aquele silêncio todo, Cecília percebeu que tinha alguma coisa de errado com os filhos, até que ela resolveu falar.
— Quem vai falar primeiro? O que foi que aconteceu entre vocês? — ela olha para os filhos.
— Do que a senhora está falando?
— Você sabe Mirela, vamos Jaime, eu não tenho muito tempo.
— Por que eu?
— Porque você é quem apronta mais!
— Está bem, mas dessa vez não foi eu!
— Claro que foi você seu i****a!
— Não me chame assim, o que aconteceu não foi culpa minha!
— Se não foi sua, foi do papa então!
— Chega! me digam logo o que está acontecendo!
— É que como o coração da Mirela é muito bom, ela resolveu trazer uma menina para cá e diz que ela é amiga pois encontrou hoje no colégio, e bem que eu não tratei ela muito bem, mas a mesma foi embora.
— Isso não pode mais acontecer, você tem que respeitar as amigas da sua irmã, como ela faz com os seus amigos! Qual é o nome dela?
Mirela responde com um sorriso no rosto pôr a mãe ter defendido a sua amizade.
— É Christy!
— Bonito nome, mas e o sobrenome dela? De que família ela é? De qual cidade ela veio? É daqui mesmo?
Jaime estava em tempo de estourar em uma grande gargalhada com as perguntas da mãe sobre a tal Christy, e quando olhou para o rosto incrédulo da irmã, não aguentou e começou a rir alto.
— Respondendo às suas perguntas, ela é simples e é daqui mesmo, e eu também não sei o sobrenome dela.
— Como assim filha?
— Resumindo: ela é uma morta de fome e suja que não tem nem onde cair morta — Jaime falou.
Assim que ele acabou de dizer essa frase, ele se sentiu m*l e viu os olhos da irmã ficarem cheios de lágrimas, e os da sua mãe se arregalar.
— Eu não acredito, Mirela! Não acredito que você anda se misturando com um tipinho desses! Qual foi o modo que eu te ensinei menina?
— Chega! Eu não suporto mais pessoas assim, que ficam tratando m*l os outros por conta de um status social, isso é desprezível!
Ela termina de falar e leva uma bofetada no rosto.
— Você me respeita, Mirela! Nunca mais grite comigo e você está proibida de andar com essa menina ou qualquer pessoa desse gênero, você está me ouvindo? Agora vão para escola, se não vão se atrasar.
Mirela não diz nada, só coloca a mão no lugar onde a mãe bateu, e sai em direção a garagem chorando, ignorando os chamados do irmão, quando ela chegou no carro, pediu para o motorista levar ela para o colégio.