Capítulo 3

1808 Words
Dario O que era para ser uma noite agradável havia se tornado um pesadelo em questões de segundos. Agora eu estou aqui nesta delegacia escutando a mulher que quase atropelei, gritar irritada e esbravejar para o mundo inteiro o quanto queria me matar. Dizia que eu era um marginal inconsequente e que não deveria estar solto por aí por ser um perigo a sociedade. Sorri daquela ironia. Eu era um perigo para a sociedade? Só estou tentando sobreviver a ela. Um médico havia me examinado e isso não era um problema para mim, o pior era ver a repreensão nos olhos do meu pai. Não é difícil imaginar o que está pensando agora. Deve estar querendo me deserdar e provavelmente se arrependendo de ter um filho como eu, mas não me importava com o que ele pensava. Ele foi avisado do incidente logo quando eu cheguei aqui e por incrível que pareça não demorou a chegar. Estava fingindo fazer o papel do pai preocupado por um motivo que eu não entendo. O pai que eu costumava conhecer me deixaria nessa delegacia até o dia seguinte, isso se não me deixasse aqui por uma semana inteira ou mais. Eu não bati em uma casa, mas sim em uma escola de dança e pra piorar a situação foi na frente da Dona, e quase atropelei a mulher também. Eles iam me prender e uma sela, mas quando o Delegado viu que eu era filho de um homem importante, ele me tratou como se eu fosse a rainha da Inglaterra. Não me surpreende o que o dinheiro e poder podem fazer. Não que eu esteja reclamando, mas certas hipocrisias me fazem rir. Talvez eu fosse um sortudo de merda por ser filho de um homem rico, mas era azarado por ter um pai como ele que nem sequer me ama. — Pode manter a calma Senhora, que nós vamos resolver esse problema. — o delegado tentou acalmar a mulher histérica. Ela me fuzilou e eu desviei o olhar não querendo ver o quanto estava irritada. É claro que eu estava arrependido, não era i****a ou arrogante ao ponto de não saber que havia exagerado e passado dos limites. Poderia ser pior, eu poderia ter machucado aquela Senhora e não estaria satisfeito de algo assim. Eu poderia estar preso por matar alguém e me culparam por isso pelo resto da vida. Suspiro ao me lembrar da minha maldita sorte. Só me ferro nessa vida e isso não é uma novidade. — E vão fazer o que quando ele chegar? Soltar o filhinho de papai? tenho certeza que ele vai pagar uma grana para não prender o filhinho dele. Era exatamente isso que aconteceria. Meu pai apenas pagaria para me tirar dali para não manchar sua imagem, e era exatamente por isso que ele estava aqui. Se saísse nos jornais que o filho de um famoso empresário estava causando problemas e se encontrava em uma delegacia, meu pai infantaria e me mataria depois. Meu pai não gostou da forma que a mulher falou e deixou isso explícito em seu olhar. Marcos não gostava de ser contrariado ou que falassem da sua família, apesar de estar em silêncio desde que entrou na sala. Ele queria ter tudo em seu poder e evitava qualquer problema que pudesse ter sua família "perfeita". Tão irônico. — Não aceito que fale assim da minha família. — Marcos resolveu abrir a boca. — Mas aceita que seu filho saia matando pessoas por aí? — a mulher retrucou ácida. A forma que ela falou me deixou desconfortável. Eu não sou assassino e nunca matei ninguém, foi a primeira vez que quase atropelei alguém e isso foi um assistente que eu cuidaria para não se repetir outra vez. — Ele não matou ninguém. — meu pai estava irritado. — Quase matou. — grunhiu mais alto. — Quase não é matar, há uma grande diferença dessas duas palavras, eu poderia passar o resto da noite tentando lhe explicar, mas tenho mais o que fazer. Delegado decide logo o que irá fazer com o meu filho. A mulher praguejou olhando raivosa para meu pai, enquanto o delegado soltava um suspiro cansado, nenhum pouco animado com aquela discussão. Acho que já havíamos tomado o seu tempo demais. —Bom, o seu filho foi pego apostando rachas ilegais e bateu o carro em uma escola de dança causando sérios danos, além de quase ter atropelado essa mulher. A forma que ele jogava isso na minha cara me fazia parecer um criminoso, e eu não queria ser ou parecer com um criminoso. Fazia meus rachas, mas não fazia m*l a ninguém. Era um absurdo ser tratado dessa forma. — Eu poderia deixar esse imprestável preso, mas isso só vai me dar mais dor de cabeça, quanto eu tenho que pagar? — meu pai suspirou. Imprestável, era exatamente o que eu era para ele. Hoje eu tive certeza que meu pai me ama. Não era surpresa para mim o seu ódio, tudo bem que eu merecia naquele momento. — Bom, precisa pagar pelo estrago na escola de dança — O Delegado disse e a loira concordou. —Tudo bem. — Marcos suspirou e olhou para a mulher. — Quanto você quer para esquecer tudo isso? — Não quero seu dinheiro de merda, deveria educar seu filho no lugar de sair pagando as merdas que ele faz. A mulher bateu o pé raivosa continuando a dificultar as coisas. Ela parecia gostar de fazer isso, dificultar tudo e querer me ver na pior. Não duvidava do tamanho do seu ódio por mim agora. — O que você disse? — Eu não acho que isso seja certo. Ele merece um castigo. Se você ficar pagando por todas as besteiras que seu filho faz ele nunca tomará jeito. Eu não era nenhum delinquente que precisava tomar jeito. Aquilo foi apenas um acidente, mas naquele momento acho que ninguém ali quer saber a minha opinião, então é melhor ficar calado. — Tem razão. Em que ele pode te ajudar? — meu pai concordou. O que ele disse? Marcos concordou com ela? A mulher me lançou um olhar pertinente e zombeteiro. Alguma coisa me dizia que eu estava ferrado agora. — Precisamos de uma pessoa para ajudar na limpeza do estúdio de dança. Limpeza? Estava brincando comigo? Eu tenho cara de empregada? Isso parecia pior que a cadeia agora. — Trabalho comunitário. — o delegado concluiu. Não. —Tá legal, eu pago o prejuízo e ele faz serviço comunitário. — meu pai comentou. — O que? — gritei me levantando. Só podem estar de brincadeira com minha cara. Eu não sei fazer nada, quer dirar serviços comunitários. Esse é o pior castigo que eu poderia levar, era um pesadelo. — Ótima ideia, assim ele aprende a respeitar as leis de trânsito. Você fará serviço comunitário por 3 meses e será monitorado pela polícia. — o delegado assinou algumas fichas. — Deve haver outra possibilidade. — tentei fazê-los mudar de ideia. — A outra possibilidade é a prisão, qual você escolhe? — tinha deboche em sua voz. Fiquei em silêncio me sentindo um fracassado naquele momento. Não podia ir contra a palavra da polícia, seria burrice a minha achar que conseguiria me safar dessa sem uma pena grande. E entre limpar chão e ser preso, eu preciso escolher limpar chão. — Você começa amanhã. Amanhã, estou vivendo um pesadelo. Saímos da Delegacia em silêncio, não havia nada a ser dito naquele momento, era melhor ficar de boca fechada. Meu pai entrou no carro e eu o acompanhei. Ele começou a dirigir em silêncio, eu não queria falar com ele, mas tinha que saber do meu carro. Ele estava destruído quando o deixei lá sozinho. — E o meu carro? — ousei perguntar. Meu pai soltou uma risada irritada e irônica, como se estivesse se controlando para não me matar. — Tenho cara de mecânico? Se quiser consertar a porcaria do carro, trabalhe e pague. Talvez assim pare de ser um vagabundo e procure ter um futuro melhor. Eu não vou passar a vida tirando filho ingrato da cadeia. Curto e grosso e era apenas isso. Não havia mais nada a ser dito. Odeio esse cara. Chegamos em casa e eu desci do carro e fui entrando, encontrei minha mãe na sala nervosa andando de um lado para o outro. Quando ela me viu, correu até mim assustada. — Dario, meu filho, você está bem? — me abraçou inteiro. — Sim mãe. Tentei sair do seu agarre. — Vaso r**m não quebra — meu pai provocou ao passar por nós. — Não fale assim do seu filho. — Hana repreendeu. Não costumava vê-la batendo de frente com meu pai ou brigando com ele por aí. — Eu não me importo mãe. — suspirei sentindo sua mão acariciar meu cabelo. Ela me olhava com tristeza e eu não queria ver esse sentimento em seus olhos. Não queria deixá-la triste ou preocupá-la com os meus problemas, porque minha mãe já tinha problemas demais para lidar. Eu não queria ser mais um fardo na sua vida. — Vai ficar tudo bem meu amor. Ela me apertou e eu suspirei lhe contando sobre o trabalho comunitário, e o que aconteceu no acidente. Não queria lhe preocupar de forma alguma, mas infelizmente precisei aguentar ver seus olhos tristes. Diferente do meu pai ela era compreensiva e ainda demonstrava cuidado e amor por mim. Quando me deitei aquela noite pensei sobre como minha vida estava mudando do dia pra noite, estava virando de pernas para o ar e eu m*l podia controla-la. — Apareceu a margarida — meu irmão provocou quando cheguei a cozinha na manhã seguinte. Era outro que eu não suportava. Dean meu irmão mais velho só sabia me provocar e irritar desde que éramos crianças. Ele vivia sua vida ignorando o que acontecia com a nossa família e seu descaso com tudo isso me irritava profundamente. Por que fingia não ver a destruição da nossa família? — Vá a merda. — Olha os modos. — minha mãe repreendeu. — Com o Dario não existe modos — Meu pai disse sério como sempre. O ignorei porque minha cabeça estava doendo demais para brigas. — Quem diria. Dario fazendo trabalho comunitário — Dean continuou a provocar. Por que eu precisava ter um irmão tão insuportável? — Dean, faz um favor pra Humanidade e esqueça que eu existo. — grunhi irritado não querendo mais ouvir a sua voz. Ele me deu um tapinha nas costas com um sorriso zombeteiro insolente e provocativo. Dean gostava de me tira do sério. — Isso já é meio difícil irmãozinho, ainda mais com você fazendo várias merdas por aí. Cansei de ficar naquele lugar e me levantei da mesa levando uma maçã no progresso. Não me preocupava em parecer rude, ninguém estava se importando mesmo.
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