Capítulo 2

1808 Words
Dario Vida é uma palavra sem sentido para mim, como viver se não me sinto realmente vivo? O universo era uma grande hipocrisia. Quando você apenas sobrevive dia após dias, não pode chamar isso de viver. Estamos fadados a esse mundo e tudo de r**m que há nele, claro que há diversões a parte, não sou hipócrita ao ponto de negar. Mas são emoções passageiras que vem e vão como um sopro. Em um momento você está curtindo a vida e parece que está tudo bem, e em outro sua realidade bate a porta e nada mais é o mesmo. Tudo era um saco, eu não suportava nada, e no fim do dia me via agitado e louco pela minha dose de adrenalina diária. A velocidade, eu amo uma corrida e não perco nenhuma, correr me faz bem, me faz esquecer de tudo e toda merda a minha volta, para o desespero da minha família é claro. Uma família desestruturada e falsa, onde o felizes para sempre não existe. Meu pai é empresário e praticamente não para em casa, eu e ele temos brigas constantes e a maioria é por causa da minha mãe. Ele parece não gostar dela, vive a desprezando, estou cansado de ver minha mãe chorar. Ela é uma mulher doce e boa e não merece alguém como ele. Hana merecia ser amada e não maltratada, ou esquecida. Acordei irritado, o caminhão de mudança havia chegado com o resto das nossas coisas. Tínhamos mudado de casa e eu odiava mudanças, principalmente as mudanças de escola. Hoje começaria o dia em uma escola nova, em um bairro novo. Vivíamos mudando por aí, meu pai simplesmente não dizia o porque. Ele simplesmente aparecia e nos fazia arrumar as malas às pressas. Mamãe sempre o obedecia e achava que ele estava fazendo bem a nós, mas eu sabia que havia algo errado com ele. Sabia que meu pai escondia coisas da nossa família, só minha mãe não via isso. O novo bairro era tranquilo, mas eu não me importava nem um pouco. Não me importava com vizinhos ou amigos, porque eu me mudaria sempre, e os deixaria para trás. Me levantei e fiz minha higiene matinal vesti uma blusa branca com uma jaqueta de couro por cima,uma calça preta e um tênis branco. Peguei minha mochila e desci as escadas da mansão e encontrei meu pai lendo um jornal. Minha mãe ao seu lado tomando café e meu no seu celular. Passei direto por eles e fui em direção a porta, mas a voz do meu pai me fez parar. — Sente-se a mesa Dario. — meu pai ordenou. Ele nem ao menos me olhou, apenas gostava de dar ordens por aí para se sentir no poder. — Estou atrasado. Não lhe dei chances para retrucar, ao sair da casa desviando dos entregadores que entravam no local com as nossas caixas. Peguei meu carro e dirigi em alta velocidade pelas ruas de Seattle, respeitando as leis de trânsito, não queria levar uma multa e ouvir as reclamações do meu pai. Ele sabia ser insuportável quando queria. Aquele era o melhor momento, me trazia uma tranquilidade inexplicável. A escola nova não era nada demais, já estava acostumado a mudar de escola por aí e sentir olhares de pessoas por toda parte. Não estava interessado em me enturmar, mas um garoto logo de cara me chamou para sentar ao seu lado e começou a tagarelar. Não estava interessado em nada daquele lugar e ignorava os olhares e cochichos das pessoas em minha direção. Uma garota de olhos verdes e cabelos castanhos me intrigou, a forma que ela me olhou era diferente, mas logo depois pareceu não se importar. Eu não me envolvia com garotas locais, não me apegava na verdade, porque isso era perda de tempo. Não queria viver um romance ou um relacionamento, porque isso só trazia dores de cabeça e eu não precisava de mais problemas na minha vida. As aulas passaram rápidas e foram um tédio, não gostava de estudar, mas era bom. Léo conversava ao meu lado o tempo todo e eu tentava ignorá-lo. Não havia gostado dele, mas apreciava sua tentativa de tentar uma amizade. Foi o único naquele lugar que tentou falar comigo. Quando as aulas acabaram e eu saí da sala, aquela garota intrigante se esbarrou em mim quase levando uma queda feia por andar distraída demais. A segurei pela cintura e um choque elétrico passou por todo o meu corpo naquele ato inocente. Fiquei preso nos seus lindos olhos verdes, me sentindo um i****a por um momento. O que estava acontecendo comigo? Isso é estranho e nunca havia acontecido antes, eu a soltei juntamente com um insulto que escapuliu sem que eu desse conta e ela saiu apressada com um olhar desagradável. Pelo visto a irritei e isso era bom porque não precisava de ninguém perto de mim. Não precisava de amigos, porque me virava muito bem sozinho e não havia espaços para eles na minha vida. Quando Léo se aproximou para se despedir, eu ignorei e apressei os passos para o estacionamento, onde meu mustang me esperava, sendo observado por alunos curiosos. Cheguei em casa e corri em direção ao meu quarto. Só minha mãe estava em casa agora e pudia imaginar o que ela estava fazendo. Passei pela porta de seu quarto e escutei um barulho de choro. Era sempre assim e isso me irritava. Apertei os punhos e fui para o meu quarto, porque não queria saber o motivo daquela nerda. Sabia que o motivo era sempre meu pai, ele estava conseguindo deixar sua mulher louca e depressiva. Meu pai estava a magoando outra vez, ela vivia fingindo que estava bem quando na verdade chorava e lamentava escondida da sua vida miserável todos os dias. Era o preço de se casar com um ordinário. Abri minha janela para tomar um ar e ao observar uma árvore no quintal vizinho, avistei a sombra de uma garota na janela do quarto da frente. Ela mexia em alguns livros e eu pude ver a silhueta dos cabelos castanhos. Era a garota da escola, a mesma que esbarrei. Suspirei odiando aquela coincidência, aquilo estava indo longe demais. Ela era minha vizinha? Talvez não tenha se dado conta disso. Assim que me viu a encarando a garota se espantou e ficou calada por um momento, fechando as cortinas em seguida. Fechou as cortinas na minha cara, que abusada. Pelo visto ela me odiou, mas isso não era problema meu. (...) Correr por aí era o que eu fazia de melhor. Quando anoitecia na cidade eu simplesmente fugia de casa sem que ninguém visse e andava sem rumo por aí até encontrar um racha. Eles apostavam tudo, mas eu não estava lá pela aposta, mas sim pela adrenalina e a sensação de me sentir vivo. Naquele momento eu não estava sobrevivendo, mas sim vivendo intensamente, e precisava daquele adrenalina para manter minha sanidade intacta. Os rachas aconteciam em lugares diferentes por conta da polícia. Tínhamos um grupo no w******p e eles sempre mandavam uma localização nova, seja dentro da cidade ou fora dela. Você chegava, apostava e corria. Não precisava fazer amigos ou criar relacionamentos. As pessoas apenas curtiam. Estava indo em uma agora quando algo me destruiu. Ao parar em um semáforo um carro esportivo barulhento parou ao meu lado. Ele me olhou desafiadoramente com sorrisos debochados, acelerando e chamando para uma corrida e eu ignoraria se ele não estivesse me provocando tanto. — Ei mauricinho mostra aí o que esse carro pode fazer. Ou você não consegue? — o babaca gritou com um braço apoiado na janela. Respirei fundo não dando moral, estava evitando problemas ultimamente, era o melhor que eu poderia fazer. A última vez que dei moral para um babaca, acabei sendo expulso de uma corrida por arrebentar a cara dele no painel do seu carro. Odiava idiotas mesquinhos cheios de marra que se achavam. Pessoas assim só se ferram na vida. — Está com medo? Covarde. — continuou as provocações. Odiava quando tentavam me diminuir ou provocar e mesmo que tentasse ser paciente, não tinha sangue de barata ou deixava qualquer um me humilhar. Torci os lábios soltando um suspiro. Eu precisava ser mais tranquilo em relação a babacas como este, ou passarei a vida espancando pessoas. Não sei ficar calado a provocações o que acarreta sempre me meter em encrencas. Não é culpa minha se as pessoas gostam de provocar e merecem receber uma lição para pararem de ser idiotas. Por mais pessoas sensatas no mundo. Quando o semáforo abriu ele acelerou em alta velocidade. Fui atrás na mesma velocidade, o alcançando em questões de segundos. Era apenas um babaca se amostrando com uma ferrari nova. Ele poderia ter um motor potente, mas eu era melhor. Ele arqueou uma sobrancelha e eu mudei de marcha ao fazer uma curva ouvindo alguns carros buzinarem. Deixei o babaca convencido para trás e sorri ao observá-lo pelo retrovisor. Estendi o braço pela janela e lhe mostrei o dedo do meio. Era isso que ele merecia por ser um filho da p**a provocador. Quem procura acha. De repente um cachorro entrou na frente do meu carro, e em uma velocidade absurda tentei desviar e acabei saindo da pista e bati meu carro em um portão. Meu corpo chacoalhou e o cinto de segurança apertou meu peito, fazendo-me soltar um grunhido de dor e raiva. Estava zonzo, mas consegui ouvir o grito de uma mulher e ver uma silhueta gritando raivosa na minha janela. Droga. Isso não estava nos planos. Eu nunca saia da pista ou batia, e essa corrida rápida não foi nada demais. Só pode ser uma piada. Ouvi uma sirene e logo a polícia estava ali, consegui identificar sua farda. Não era o que eu esperava para o fim daquela noite. Soltei um suspiro de frustração. —Saia do carro com as mãos para o alto rapaz. — o policial gritou. Pisquei os olhos tentando afastar as luzes coloridas, e tirei o cinto de segurança empurrado a porta, saindo inteiro do veículo. Passei a mão pelo meu corpo e vi que estava bem, mas olhando para o portão amassado e o estado do meu carro percebi que estava ferrado. A frente estava toda detonada. —Está muito encrencado, rapaz. — o policial avisou e a mulher que eu quase atropelei e dona da casa, brigava me chamando de marginal e toda ofensa possível. Sim eu estava encrencado, mas a única coisa que realmente me importava naquele momento era a frente destruída do meu carro. Isso nunca havia acontecido antes, eu era um bom motorista e amava aquele carro. O que eu faria para pagar aquele concerto agora? O concerto ficará caríssimo e meu pai vai me matar, isso se eu não for preso agora e apodrecer na cadeia. Droga de vida.
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