Prazer, Alexia.

2260 Words
ALEXIA Moro num lugar alto, porém, no ponto mais alto é a mansão do Danilo, meu namorado, vulgo Charada. Da janela do meu quarto dá pra ver a casa dele e dá pra ver também o que ele anda fazendo. Sempre me pego observando sua casa daqui do meu cantinho e eu vejo cada coisa... Ele leva outras mulheres pra lá e ele sabe que eu vejo tudo, mas não se importa. Eu já cansei de cobrar respeito. Poxa, eu mereço ser tratada como rainha. Eu sou fiel, não sou barraqueira, sou educada e parceira pra todas as horas. Porque ele não me dá valor? — Acho que ele nunca vai mudar. — comentei com a minha mãe, enquanto assistia ali de longe dois corpos se esfregando no quarto dele naquela noite. — Fecha essa janela, Alexia. Não vale a pena ficar se torturando vendo essas coisas. Você sabia que ele não era de confiança quando começou e você sabe que agora não tem mais como se sair. Eu já tentei terminar com ele. 2 vezes, mas ele não quer. Ele não aceita. Ser capacho no namoro não é a minha vocação, mas eu entrei numa coisa que é longe daquilo que eu defendia. O que me resta é aceitar. Fechei as janelas e tentei dormir. Deitei na minha cama, nem mexi mais no celular e só tentei relaxar. Quem será que é aquela garota? Deve ser qualquer uma que ele chama no f*******: ou aquelas garotas que têm no grupo de w******p. Quase sempre quando vejo isso eu choro. Vou dormir chorando. Quem não faria o mesmo? Quem faria diferente depois de ver o cara que você namora ficando com outra? O pior que eu gosto dele, não que isso me impeça de ter coragem pra pôr um fim no nosso relacionamento, como eu já disse, eu já tentei terminar, mas ele não deixa. Eu gosto dele porque tirando esse ser babaca, galinha, infiel incorrigível, ele ainda é um parceiro tanto quanto eu. Em todas as situações que eu preciso ele larga tudo pra ficar do meu lado e sempre me ajuda. É muito chata a minha situação. Eu tenho o costume de pensar muito nas situações e em diferentes ângulos. Às vezes eu durmo chorando, mas as coisas ficam bem resolvidas na minha cabeça. É como se eu me conformasse com tudo. Eu não queria seguir o exemplo da minha mãe. Ela vive uma situação bem semelhante a minha. Mas parece que não é algo que possamos mudar. Espero que minha filha também não herde este fardo. A minha filha que eu terei no futuro, espero que não com o Danilo. [•••] Acordei com o alarme e já fui me alongar. Eu amo me exercitar, mas os ciúmes do Danilo às vezes me atrapalha. Ele fica com ciúmes dos outros caras que estão na academia e acaba que eu não posso ficar frequentando por muito tempo em paz. Como se alguém em sã consciência, que sabe do nosso relacionamento, fosse dar encima de mim. . Acho que os caras até evitam de me olhar, para não serem m*l compreendidos. É como se eu fosse aquelas vacas nelore, que foram ferradas com as iniciais do dono. Nem precisei de tatuagem pra que o Charada me marcasse. Todo mundo no bairro sabe que sou sua namorada. Faz 1 mês que parei de ir na academia que pude frequentar esses últimos meses, então tenho me exercitado em casa. Acordo 30 minutos antes pra me exercitar, depois descanso fazendo meu café da manhã e me arrumo pra ir pro salão. Eu e minha mãe temos um salão e nosso salão é muito bom, viu! A gente faz toda a higienização precisa para procedimentos seguros e ainda caprichamos no serviço, por isso temos muitas, mas muitas clientes mesmo. Tem dias que trabalhamos até às 21 da noite, porque as clientes não querem ir pra outras manicures e a gente não quer desapontar. Fazemos isso com muito amor. O meu pai tem outra mulher. Ele usa a minha mãe e esta outra. Ele só aparece em casa quando briga com a outra. Aí passa alguns dias até brigar com a minha mãe e ir pra casa da outra e fica nesse bate e volta irritante. Ele não interfere na minha vida, não usa drogas ou se mete em dívidas, mas ele é infiel e a minha mãe não é como eu, que não tem escolha, ela simplesmente não quis desistir dele. A outra também não quis e fica as duas no cabo de guerra por um pedaço de lixo. Sinceramente, eu tenho nojo dele e às vezes delas também. Eu e minha mãe temos uma moto e vamos juntas para o salão, porque ele fica a 5 minutos da nossa casa. A pé demora mais. Todos os dias nós temos tudo programado e o dia passa no corre, quando pisco os olhos, já estou em casa. Só que era sexta e como eu havia falado a Jade, eu pintaria as unhas dela pra gente ir pro baile no outro dia. Jade é muito pontual. No horário marcado ela chegou. A minha mãe tava terminando de limpar o salão e eu arranjei um cantinho pra fazer as unhas da Jade. Eu e ela somos amigas de longa data e nos damos muito bem. Eu admiro muito a coragem da Jade. Ela é o tipo de pessoa que no meio de uma tempestade, seja na vida dela ou na dos outros, segura sua mão e lhe carrega pra resolver tudo o que for preciso, além de que ela sempre se põe no meu lugar. Não de falar "se eu fosse você..." E dar a opinião dela. Ela diz "Estando no seu lugar, com a forma que você enxerga as coisas, eu entendo..." E por isso a gente se dá tão bem. — Oi oi. — ela fechou a porta depois que entrou e deixou a bolsa pendurada no gancho. — E essa sexta, heim? — Barril dobrado. — apontei o banquinho pra ela sentar. — Não, amiga, e eu. E eu! Além de ter chegando caminhões de produtos que eu tive que arrastar no braço, mesmo com aquele carrinhozinho que não facilita no peso, ainda tem a situação lá em casa, que só vai ladeira a baixo. — O que aconteceu agora? — molhei uns algodões com removedor pra tirar os esmaltes das unhas dela. — A Driele descobriu que tá grávida. — Oi? — eu olhei bem pra minha amiga pra ver se não era pegadinha. — É sim. — ela assentiu bem séria. — Queria estar brincando, mas não. É verdade. Ela tá ficando com aquele Juninho, que aliás, hoje eu vou procura-lo pra lhe pôr contra parede. Acredito que ela já deve ter contado a ele sobre a descoberta. — Juninho trabalha pro Charada. — Eu sei. O que me deixa mais desapontada ainda pelas escolhas da minha irmã. Todos aqueles meninos que trabalham pro Charada são sem futuro. — Eles são talentosos. Eu já vi o que eles fazem lá. — Eles podem fazer um Fusca 2004 virar um JEEP 2022, mas ainda sim são sem futuro, porque a gente sabe que aquela autopeças é só uma fachada pra os negócios ilegais que fazer o seu namoradinho bancar de playboy na cidade. Olha o pai que o meu sobrinho vai ter?! — ela estava decepcionada e inconformada. Tirei os esmaltes ouvindo seu desabafo. — A sua mãe falou o que? — Ela nem sabe. Vai saber agora de tarde. Hoje cedo a Driele não teve coragem de contar. — E que milagre foi esse que você não contou? — eu fiquei rindo. Ela sempre bate de frente com os problemas. — Eu acho que isso é muito particular pra me meter, apesar de que quem vai sobrar pra acompanhar em pré-natal, maternidade e tudo aquilo que vem pela frente será eu. E ainda não serei a madrinha, guarde isto. Mesmo sendo uma tristeza, eu não consigo ficar sem rir do jeito que a Jade conta as coisas. — Eu tia. Repara, Alexia! — Tadinha da criança. Não vai sobrar orelha. — Pois é. Se bem que o pai é orelhudo. Eu terei onde puxar. Desta vez eu ri com gosto. — Que piada de péssimo gosto, Jade. Ela também ria. — Rindo pra não chorar, amiga. E você, como vai? — Eu vou indo... — Tô indo, viu. — minha mãe avisou, já com a bolsa pendurada no ombro. — Tá bom. Pode deixar que eu fecho tudo. — a tranquilizei. Eu sei que seria o próximo pedido que ela faria. Depois que ela se foi, que foi até bom, assim eu fiquei mais a vontade pra conversar com a Jade, eu pude continuar. — ... Ontem o Danilo levou uma garota pra cama. — E você tava olhando da sua janela, era? — ela não estava nem um pouco surpresa com isso. — O que eu posso fazer, Jade? É de frente com a minha janela! Ele é um... i****a! — apertei meus olhos irritada. — Ainda bem que não vai usar alicate hoje. — debochou minha amiga. — Olha, Alexia, eu entendo que você, do jeito que você é, não se aguenta, mas amiga, isso aí é tortura. Você não merece. — Eu sei. — fiquei entristecida pela situação. — Eu fico preocupada por ele estar com outras, de ele dar encima de você ou de outra amiga minha, mas tem horas que tudo o que eu queria era que ele se apaixonasse por outra e me deixasse livre. Eu gosto dele, mas eu preferia sofrer pra o esquecer do que com as traições que eu vejo com meus próprios olhos. Jade suspirou em lamento. — Olha, se você quiser eu te ajudo a fechar a janela. A gente arranja uns blocos ou então faz parede de gesso. Ela não perde a piada. — Você não presta. — ri da minha desgraça. Era o que me restava. Fazer o que, né? — Desculpa, Alexia. — ela também ria. — Olha, se quer uma orientação, já que está disposta a viver sem ele, acho que não deveria esperar que ele te deixe livre. Viva agora e quem sabe com isso ele não enxerga que você merece tudo de bom?! — Você sabe que isso pode me matar, não? — Prefere morrer sem saber o que seria se tivesse tentado ou tentando? — ela ergueu a sobrancelha, jogando a filosofia do carpe diem na minha cara. — Faça o que você quer, garota. Você tá deixando de fazer o que gosta por causa de um cara que te trata como um chaveirinho! — Ok. Chaveirinho é demais. — eu não aceitei. Aí já é esculhambação! — Mas você tá certa. Eu não posso deixar de viver por causa do Danilo. Eu vou fazer o que quero. — Ótimo. Vai começar com o que? — Com a academia. Eu sinto falta de malhar e o Charada fica com ciúmes de todo mundo. Eu sempre acabo abandonando uma academia e procurando outra repetidas vezes. Isso me cansa. — Olha, eu sei de uma academia que não é da quebrada e será difícil o Charada passar por lá. Se você quiser eu até te levo hoje quando a gente tiver voltando pra casa. — A minha levou a moto. — lamentei. — Vamos a pé. Não tem problema. Acho até que nem é tão longe daqui. — Tá bom. — resolvi dar essa chance a ela e me dar essa chance também. [•••] Quando saímos do salão, a Jade com unhas lindas, nós fomos até a tal academia. Só pra dar uma olhada aonde era pra na segunda eu me matricular. Era contramão da nossa casa, mas era perto do salão. Paramos ali na frente e eu resolvi tirar uma foto da fachada só pra ficar mais fácil lembrar. Jade contou que malha ali. — Gostou da fachada? — um rapaz passou na frente da minha câmera e eu quase caí pra trás, pois tentava me equilibrar no final da calçada para tirar a foto sem ficar no meio da rua. Era um rapaz bonito, cabelo cortado baixo, lábios corados, sobrancelhas escuras, olhos levemente puxados, físico bonito. Um perfeito marrento. — Hein? — ele insistiu na pergunta e a Jade ficou rindo. — Gostei. — guardei meu celular. — Alexia, esse é o meu amigo de faculdade, Juan. E esta é Alexia. Minha melhor amiga. — ela deixou que ele me cumprimentasse depois que a cumprimentou. — É um enorme prazer. — ele me olhou de cima a baixo mordendo o lábio e olha, eu tenho que admitir, um t***o essa pose e depois ele olhou pra Jade. — Você não me disse que tinha amigas assim. — Essa é única. Não tem igual. — Jade passou seu braço pelo meu. — Nos vemos por aí. A gente já tá atrasada. — ela me arrastou sorrindo pra ele e eu fiquei foi encabulada com o jeito que ele me olhava. Ele acenou e eu também, depois nós partimos. Quando estávamos longe eu comentei com a minha amiga. — Você viu como ele me olhou? — Ele te comeu. Se o Charada vê um cara olhando do jeito que ele olhou pra mim, é morte na certa. Mas ele tem bem cara de suicida. [Galera, a história tem diferentes pontos de vista. Não tem só um casal de protagonistas, apesar de no início ser focada mais na Jade].
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