Serei tia?

1143 Words
JADE Acordei com o alarme faltando 5 minutos pra tocar. Eu sempre acordo antes de ele tocar. Era 6 horas da manhã quando levantei. Minha mãe e eu eramos as únicas a andar pela casa a essa hora. Tomei meu banho e vesti o uniforme do mercadinho onde trabalho. Não é longe daqui. Fica na segunda esquina. Eu fico repondo os produtos. Tomei um bom cafezinho com pão e segui viagem junto com a minha mãe. Ela vai comigo até o mercadinho, depois segue direto pro ponto de ônibus, porque o trabalho dela é mais longe um pouco. Além de mim, tem mais dois funcionários. A balconista e o marchante. Eu nunca me dei o trabalho de aprender seus nomes. Sempre estou de fones de ouvido e faço o meu trabalho calada. A minha mente é uma bagunça, eu penso demais, o tempo inteiro. Sempre pensando em alguma coisa. Talvez seja loucura, mas ajuda a organizar a minha vida e a me tirar dessa merda de situação presente em que me encontro. Meses atrás eu estava buscando meu sonho de ser farmacêutica. Os farmacêuticos conseguem as coisas muito rápido, assim como os pastores. Rapidinho eles abrem o estabelecimento e logo já tem carro e outros bens. Eu não tenho vocação pra pastora, resolvi ser farmacêutica. Eu gosto de estudar saúde e não sou a aluna turista. Consegui bolsa e tudo, mas por enquanto vai ficar trancada. Eu acredito que esse seja o tempo de resolver a vida da minha família. E quando eu voltar, ao menos quando alguém perguntar sobre eles eu poderei dizer que não estão fodidos. A dona do mercadinho é uma perua. Ela aparece duas vezes ao dia. Na hora de abrir e na hora de fechar. Ela faz isso pra garantir que não chegaremos atrasados nem sairemos adiantados. Fiz meu trabalho tranquila, como sempre e no almoço a minha irmã me mandou mensagem, pedindo que quando eu saísse do trabalho, passasse na farmácia e comprasse um teste de gravidez. Se ela desconfia, quem sou eu pra não desconfiar também? Eu sempre sobro pra essas palhaçadas. Alexia no início do namoro com o Charada me fez comprar uns 5 testes de gravidez meses seguidos. O pessoal da farmácia já estava me julgando, achando que era pra mim. Isso fora as pílulas do dia seguinte. Ela era muito medrosa e mesmo tomando os comprimidos, não confiava. Mas melhor ser assim do que ser como a minha irmã, que confia no coito interrompido, que eu duvido muito ser interrompido. Falei a ela que compraria. Vou comprar 2 só pra garantir. Depois do almoço, nada de especial aconteceu no trabalho, depois que terminei e que deu meu horário, eu saí dali e fui procurar uma farmácia. No meio do caminho recebi uma ligação da Alexia. Atendi pelos fones de ouvido. — Fala, vaca! — Ei, Charada disse que vai rolar bailão esse fim de semana. Bora? — Você fala como se independente de mim, você não fosse. Mas eu vou sim. É no lugar de sempre? — É sim. Se você quiser carona. — Quero não. Vou a pé mesmo. É perto de casa. E assim eu não me comprometo com ninguém. — Então a gente se encontra lá. Quer fazer as unhas? Dei uma olhava nas minhas unhas e não vi nenhum problema além dos esmaltes descascando. — Só se for uma pintura. Não tem cutícula. — Passa aqui no salão amanhã de tardezinha que eu p***o. — Tá certo. Quando eu sair do trabalho eu vou aí. — atravessei a rua e cheguei na farmácia. — Beijos. — Bye bye. — desliguei e me encostei no balcão. — 2 testes de gravidez, por favor. — abri a minha bolsa. A atendente ficou rindo enquanto pegava. — O que foi? — Eu já te vi aqui outras vezes. Me deixa adivinhar. Você é a amiga que sobra pra comprar os testes. — ela colocou as duas caixas encima do balcão e começou a registrar a compra. Eu ri, me apontando no balcão. — Infelizmente. — Eu sei como é. Já fui uma dessas. — ela puxou a notinha e me entregou. — O p*******o é ali, você pega aqui. Fui até o caixa e paguei os exames. Depois eu vou cobrar àquela descarada. E aí eu meti os exames na minha bolsa e fui embora. Segui o caminho de casa. Nessa rua tem de tudo. Mas de tudo mesmo. E todo mundo me conhece. Mas quando entra no beco da minha casa é que as coisas apertam. Não tenho rivalidade com ninguém, mas muita gente se incomoda com o jeito que me visto. Elas tem medo dos maridos tarados delas não aguentarem. Acontece que todos são quebrados, então eu não dou moral pra nenhum. — Vai vestir uma roupa maior, Jade! — uma delas gritou da janela, quando eu chegava na porta de casa na noite passada. Quando eu saio e chego do trabalho ninguém me critica, porque eu vou de legging e farda. A minha mãe chega um pouco mais tarde do que eu, já o meu pai chega mais tarde que a minha mãe e meu irmão é o último de todos, se é que este aí trabalha mesmo. Driele já estava em casa, sentada no sofá, assistindo tv. Assim que eu entrei, ela saltou do sofá. — Você comprou? — Sim. — abri a bolsa revirando os olhos. — Eu vou fazer agora. — Não mesmo. É de manhã cedo que faz. Amanhã cedo a gente vê isso. — Porque não agora? — Porque na primeira urina que é mais fácil detectar o HCG. Amanhã a gente faz. — eu deixei os exames com ela.— Aliás, você deveria deixar logo alguns desses em casa, porque anda vacilando demais. — eu fui pro nosso quarto. — Vou ter que esperar até amanhã? Merda. — ela os guardou debaixo do travesseiro. — Sim e foi 38 reais. Aceito pix. [•••] A ansiedade foi tanta que no outro dia, logo cedo, bem antes de eu acordar pra desligar o alarme, ela me acordou. — Ei. — falou baixinho. — Vamos fazer o exame, antes que a nossa mãe acorde. Ainda tem isso. Ela quer esconder da nossa mãe, mas se der positivo não vai ter como esconder uma gravidez. Levantei ainda sonolenta e a acompanhei. — Vê se lê o passo a passo direitinho. — Eu li ontem a noite. Ela entrou no banheiro e eu fiquei encostada na parede, cochilando de braços cruzados. Não sei quanto tempo se passou, mas ela saiu com os dois resultados na mão e uma cara de quem tava muito fodida. Tava positivo nos dois. Pra terminar de f***r com a gente. — Me diz que não é... — Parabéns, futura mamãe. — dei as costas pra voltar pro meu quarto.
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