Júlia
— Qual? — Felipe cruzou os braços, torcendo o bico.
— Eu conheço um monte de gente dessa parte de “playba” — fiz aspas no ar, um pouco preocupada com esse detalhe.
— Ah... mas aí, ninguém nem vai saber que é tu quem manda no bagulho. — ele deu de ombros, como se a solução fosse somente esta e basta.
— Tá bom. — o imitei.
O meu ex-namorado nunca irá aparecer num lugar desses, mesmo. Nunca. E o Léo... eu nem sei do Léo. Não é nem bom ele saber que eu resolvi ir em frente com essa história.
Ele me abraçou de m*l jeito e me apertou toda. Tem horas que eu acho esse Felipe doido de pedra.
Fiz careta para ele. — Você é estranho.
— E lindo. — Beta completou, aparentemente deslumbrada.
Eu, hein...
Felipe me soltou, suspirando. — Bora planejar como as coisas ficarão, então? Eu tenho uns moleque que são a aposta pra animar as festas por aqui. — ficou com os dentes na fresca.
— Pois é. Eu tô muito animada. — Beta transparecia a sua felicidade.
— E não esquece das Maria-fuzil que o Felipe chamou pra aparecer aqui. — não deixei de zuar e ele revirou os olhos.
Ele me apontou o dedo. — Você é morredora. — saiu andando para trás.
Ignorei sua opinião e me virei para a Beta, abrindo um sorriso simpático. Ela parece gente boa.
— Então, como funciona esse lugar? Eu serei crucificada? — fiquei receosa.
Ela sorriu. — As coisas mudaram com o Felipe. Pode ficar tranquila.
— E você vai passar os recados para mim?
— Vou sim. — ela continuou sorrindo. — Você quer ver o meu observatório? — perguntou quase sussurrando.
— Quero sim. Eu sempre quis usar um telescópio. — me animei.
[...]
Felipe me deixou em casa e logo que tranquei tudo e cheguei na sala, alguém ligou para mim. Eu não sabia quem era até ele se identificar como o nosso advogado.
— Ah, oi. Aconteceu alguma coisa? — fiquei um pouco preocupada. Ele tem contato com meus pais e sempre que aparece notícia r**m, ele me liga.
— Está tudo na mesma. Liguei para falar que hoje eu falei com a sua mãe e ela disse que era para eu saber como você estava.
— Tô bem. — desabei no sofá, tirando o coturno. — Tô comendo bem e dormindo muito.
— Ela disse que é para você voltar pra faculdade.
Ai... essa história de novo...
— Eu ainda não posso e também eles deram 2 semanas de férias, para quem terminou o período. Nem adianta ir lá. — cheirei meu pé. Nossa, a coisa ficou feia. Preciso colocar um talco...
— Certo. Eu avisarei a ela então.
— Ei, tem alguma previsão de liberdade para a minha mãe ou o meu pai? — fiquei com o coração apertado, mas com um pouquinho de esperança.
— Ainda não. Pela sentença, ou eles cumprem a pena, ou paga uma multa... mas como aqui no Brasil tem brecha pra tudo, pode ser que diminuam a pena por bons modos.
— Ah, sim. Espero que sim.
De qualquer forma, pensarei na possibilidade da grana.
— Se fosse para pagar a multa... de mais ou menos quanto estamos falando?
— Bem... de muito.
— Muito quanto?
— Pela cara daquele juiz... acho que uns 200.
Nossa...
Mas pelo menos não é 1 milhão.
— Tá bom. Qualquer coisa me liga. — deitei no sofá e liguei a tv.
— Ligarei sim. E você, não abra a porta pra estranhos.
Eu ri, lembrando do estranho do Felipe. — Tá bom. Tchau.
Ele se despediu e eu desliguei.
Eu só queria a minha mãe agora, fazendo uma boa janta para mim.
Nem dinheiro para comprar comida fora eu tenho. Tomara que o Felipe abra logo esse lugar que vai me dar dinheiro.
Levantei me arrastando e fui para a cozinha. Não sei fazer muita coisa, mas tenho assistido programas de culinária e o que eu aprendi foi a fazer carnes passadas e grelhar legumes. Pelo menos eu tô me alimentando bem e sendo saudável.
Comecei a preparar a minha janta e fiquei lembrando do Léo. Bem que ele poderia aparecer... jantar comigo. As provas já acabaram e ele deve estar sem fazer nada. Mau conversamos... será eu ele tá me evitando?
Terminei de cortar tudo limpei a minha mão, para pegar o celular e ligar para ele. Chamou por alguns segundos e nada de ele atender.
Resolvi insistir e ele finalmente atendeu. — Júlia? — a mãe dele respondeu.
— Oi! Tudo bem? — fiquei um pouco contente. Mas porque não foi ele quem atendeu? — Léo tá aí?
— Léo! — ela gritou e eu afastei o telefone rapidamente para longe do meu ouvido. — Vem falar com a sua namorada! — gritou de novo e eu fiquei rindo, depois coloquei o telefone no viva-voz. — Como você tá, querida?
— Tô bem.
— Me dá. — a voz do Léo foi estava distante. — Oi. — desta vez estava bem alta.
Fiquei nervosa e nem sei o porquê.
— Oi. Tá ocupado?
— Não.
— Vem aqui em casa... vou fazer um jantar pra gente. — fiquei dengosa. — Você vem, né?
Ele ficou em silêncio por um instante.
Não é possível que ele vai me dizer um “não”!
— Mais tarde eu passo aí.
Nossa, que frio!
Agora sou eu quem não o reconheço mais.
Não vou aceitar isso. — Daqui a meia hora. Sem atraso. — bati o martelo.
Se ele não aparecer nesse horário, as coisas não ficarão boas entre a gente.