Capítulo 3

942 Words
Flasback on - Como você foi aceitar isso n**a? E ainda sem vir falar comigo caramba? - Mas como eu ia poder aceitar ela entregar essa princesa pras freiras, eu não posso n**o, não ia conseguir. Eu vi que ele queria, mas ao mesmo tempo não queria. Minha pequena ainda tinha algumas marcas roxas no rostinho frágil. Não teve como não fazer nada, todo mundo tava escutando a gritaria que vinha da casa da Nete. p***a, eles tavam fazendo o maior show e todo mundo queria ver no camarote, mas não o Ademar, não o meu Grandão. Ele saiu puto da vida, com a arma já na mão e o Gui nem teve tempo de ouvir o g**o cantar de novo. - Ela é tão linda, tão linda, é a nossa princesa... Ele ainda andava de um lado pro outro passando a mão na cabeça, custando a crer que minha melhor amiga tinha deixado a filha pra trás só porque a menina era doentinha. Era simples, pelo menos na minha cabeça, era só levar ela no médico e ir tratando, eu podia fazer isso. E os choros? Nossa que exagero, a menina quase nem chorava, acho que o que ela tinha era fome e a descabeçada da Nete nem percebeu que não tinha mais leite naquelas t***s caídas. - Vai n**o, deixa eu ficar com ela. O Juliano já até chama ela de irmãzinha. Vai, por favor. - Tá bom, mas não quero dor de cabeça por causa disso hein, se a p**a da Janete voltar querendo a menina, eu mato ela também. Aonde já se viu, deixar uma cria desse tamanho pra ir curtir a vida. É uma p**a mesmo. - Ela não vai voltar n**o, eu tenho certeza que não. É, realmente minha pequena Ísis tinha uma doença mais grave do que imaginava, mas fui levando, ela nem dava tanto trabalho assim tadinha, acho que era criancice daqueles dois mesmos, vontade de farrear. O que mais me preocupa é que acho que a bichinha ficou traumatizada com o que aconteceu porque ela era tão falante sabe, ainda mais menina né, sempre começam a falar antes que os meninos e a pensar nos inúmeros argumentos pra provar o porquê tá certa. Mesmo fraquinha, isso ela fazia, nossa, ela falava demais, mas depois daquela briga, depois do maldito do pai dela ter jogado ela com aquela força no chão, a bichinha não falou mais. O médico disse que é para eu esperar, que ela vai superar e voltar a falar, mas não sei não, a menina já tá com quase 4 anos e faz mais de um que tudo aconteceu, não sei não. - Tata, quer mingau? Vejo ao longe JL tentando fazer com que Ísis converse com ele. Eles são muito unidos e o menino me ajuda demais cuidando dela. Depois de 6 anos ela evolui muito, não tanto quanto eu gostaria sabe, ela não conversa como as outras pessoas, pra falar a verdade, conversa mais com o JL e nem assim é muito, mais balança a cabeça e faz som com a garganta do que fala mesmo, mas fico feliz com isso, ela é tão companheira, tão carinhosa, nunca que eu ia querer outra filha que não fosse ela. O ano passado foi um perrengue só, eu já não aguentava mais o Grandão reclamar que estava gastando uma fortuna pra não ver resultado, que ele queria levar nossa Ísis pra outro lugar, que ele queria tentar outro tratamento e blá blá blá. Mas finalmente tinha aparecido um doador de medula e minha menina ia poder viver uma vida normal, igualzinho às outras crianças e eu não aguentava de felicidade, a gente só precisava esperar um tiquinho mais por causa da papelada toda. A cirurgia correu tudo bem, eu quase nem acreditava que tudo tinha acabado. O médico ainda avisou que isso podia voltar com o tempo, mas eu não acredito, ela já sofreu demais, Deus tem que dar uma treguinha agora né, por favor. Flashback off Minha Ísis cresceu e aos poucos a gente conseguiu superar toda aquela agonia de antes. O receio sempre está aqui, mas me certifico de deixar ele lá no fundinho do meu coração. Ela não merece que eu fique triste só por algo que pode acontecer, porque venhamos e convenhamos, não aconteceu. Apesar de tudo, não consigo negar que Ísis é uma menina que me preocupa muito em todos os sentidos, mas o principal deles é a falta de comunicação da menina. O médico tinha me dito pra ter paciência e eu tive, ainda tenho, porque ela nunca foi uma criança normal. Me preocupo em como ela pode sobreviver sem a gente, já que não fala por nada na vida. Eu sempre digo que ela é minha melhor ouvinte, e realmente é. Não retruca, não reclama, não discute, apenas ouve e consente. Minha bebê, ela sempre será a minha bebê. Não sei se fiz certo ou errado, mas escondi a Ísis do mundo. Acho que muito mais que ela, eu tinha medo de acontecer coisas ruins enquanto ela tava crescendo e também, que de uma hora pra outra a louca da Janete aparecesse como se nada tivesse acontecido e arrancasse minha menina de mim, por isso nunca me importei em não apresentar minha bebê ao mundo. Talvez eu possa pagar caro lá na frente, talvez eu posso ter prejudicado minha criança, mas não me arrependo. O Juliano e o Grandão sempre me entenderam. Pensa num pai babão e num irmão ciumento, valha me Deus, nunca vi igual. A Ísis sempre foi muito mimada, sempre e é por isso que tenho medo de soltar sua mão.
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