Capítulo 1
- Cara, corre que o montanha tá fazendo mó zueira lá na pracinha por causa de uma mina lá. A Kéka disse que viu a menina aliciando o filho da tia Lourdes e falou pro Montanha, agora ele tá chutando a mina de tudo que é jeito e gritando igual louco que vai matar a menina
O vapor diz em tom de deboche e um sorriso maroto no rosto. É típico do montanha mesmo e se a mina fez isso, tem mais é que dar bom dia ao d***o, tô pouco me lixando, é assim que as coisas acontecem aqui no morro, lei e é lei e quem mora aqui já sabe, fez o que não deve, leva bala no meio da testa.
Pego minha moto, subo pra pracinha e não tem como não dizer que o espetáculo tá acontecendo, parece que a comunidade toda veio ver o velório da bicha. Esse povo não pode ouvir uma notícia r**m que tá logo ali pra poder verificar.
O problema é que quando chego mais perto a visão não é a que eu espero, vejo minha coroa gritando aos quatro ventos pedindo pelo amor de Deus pra o Montanha parar senão ela morreria junto. Cara, acho que a raiva dele já explodiu a cabeça porque ele empurra a coroa com tanta força que ela se rala toda ao cair no chão, que inferno está acontecendo aqui?
A p***a da multidão me atrapalha a chegar com rapidez e saio dando bicudo em todo mundo, era minha coroa caramba, a minha rainha, porque o Montanha tinha feito aquilo? Ele sempre acolheu o léque dentro de casa e não é porque o cara é dono do morro não, é porque a gente é praticamente irmão, é um pelo outro véio, apesar de termos nossos segredos.
- Mãe, o que tá acontecendo?
Ela soluça até perder o ar, não consegue me explicar o que se passa e a única coisa que consegue dizer é “minha filha, minha filha, minha filha”.
A ficha cai, não é possível, não podia ser a Ísis, nunca a Ísis, ela m*l saía de casa, caramba, ela nem fala com ninguém por causa do trauma dela, não podia ser a Ísis, simplesmente não podia.
Eu perco o ar e meus olhos esbugalham, a única coisa que consigo pensar é que minha mãe tá enganada e que minha irmã tá lá dentro de casa, como sempre fica, lendo seus livros preferidos ou assistindo os filmes que amava ou só escutando a minha mãe tagarelar na cozinha enquanto faz comida.
Mais um grito do Montanha e parece que saio do transe, olho pra cena e vejo a Kéka com o sorriso mais macabro que já vi na minha vida, instigando o puto do irmão a apertar o gatilho da desgraçada da glock, cara, eu vou matar ela.
- Vai Montanha, mata logo, mostra pra comunidade como faz. Essa vagabunda aliciando menores, aqui no nosso morro né galera?! Vê se tem cabimento, mostra pra ela o que acontecesse.
Ela ria e ria muito. O cara vai matar minha irmã enquanto a bicha ri igual a uma hiena.
- Fala aí desgraçada (bicudo), fala quem te ajudou (bicudo), fala senão vai apanhar mais (bicudo).
Eu saio correndo, não vejo ninguém na minha frente, apenas saio correndo. Ele não pode fazer isso, não com ela.
- MONTANHAAAAAAA, ABAIXA A ARMA PORRAA!
O cara se vira como se tivesse levado um soco na boca do estômago, ningém nunca ia se atrever a falar com ele assim, com o monstro do Montanha, com o dono do morro da Rocinha.
- Qual foi pô, tá louco? Abaixa a p***a do tom antes que eu te mande dar bom dia ao capeta igual a p**a aqui.
Eu passo por ele como se o cara não existisse e pra mim não existe mesmo, não quando é minha irmã que tá ali caída quase se afogando com o próprio sangue. Eu vou matar quem fez isso, eu com certeza vou matar quem fez isso com a minha bebê.
- Qual foi JL, tá defendendo p**a agora? Ainda mais essa que gosta de ganhar dinheiro a custa de criança? Achei que fosse outro tipo de gente. A vagabunda da Kéka desfere com orgulho o seu veneno e nessa hora eu não consigo mais aguentar, largo a cabeça toda ensanguentada da minha pequena na beira da calçada e parto pra cima.
Kéka é irmã do Felipe, vulgo Montanha, um brutamontes com sangue no zóio, que mata sem dó nem piedade e ainda com um sorriso no canto da boca. A bicha é uma p**a de uma gostosa com aquela tanajura pendurada abaixo da lombar e aqueles melões que ela chama de seio e que cabem perfeitamente na minha boca. A f**a dela é bem dada, pensa num negócio bom pra caraleo léque, eu como com gosto, mas não curto quando ela fica no meu pé não e essa, essa não desgruda, parece mais uma marmita de bóia fria querendo ser comida de qualquer jeito, a única coisa boa é que ela se dá o respeito de sentar só pra mim.
Agora? Agora eu tô puto com ela porque pelo o que tô percebendo, essa palhaçada toda aqui foi por culpa dela e nem sei porquê, mas ela me paga, entre ela e minha irmã, com certeza será minha irmã.
Ainda continuo ouvindo o choro desesperado da minha coroa quando me levanto pronto pra dar uns belos solavancos na Kéka e devolver o posto de p**a, mas o Montanha é o Montanha né bebê e com sua irmã ninguém mexe, nem mesmo eu, aquele que ele chama de irmão.
- Qual é muléque, tá fazendo o que desgraça? Perdeu a noção do perigo?
- Eu perdi a noção do perigo? Eu? Quem enfiou a p***a da noção no ** foi a sua querida irmãzinha por estar fazendo você perder o controle e querer matar A MINHA IRMÔ!