Episódio 6

4466 Words
Luiz conferiu o seu relógio pela terceira vez em uma demonstração desnecessária de ansiedade. Porém, dessa vez - diferente das muitas outras que ocorreram durante o dia -, o homem ficou mais do que satisfeito ao ver que faltavam poucos minutos para o momento que estava esperando ansioso nas últimas horas. E daí que não estava na hora exata ainda? Não era como se ele tivesse algo mais para fazer naquele final de tarde. Então, sem pensar duas vezes, ele se levantou e pegou seus pertences, caminhando rapidamente em direção a saída de sua sala clínica. Sua animação era quase palpável, o que deixava visível para qualquer um que passasse ao seu lado. Era como assistir um daqueles personagens de comédia romântica, tendo o melhor dia de suas vidas, o que só tornava tudo estranho, afinal, Min havia trabalhado por pelo menos 08 horas naquele dia e seu turno ainda não havia terminado. Na verdade era até mesmo um pouco assustador, não ver aquele olhar sério e profissional no rosto do Médico Min. Mas Luiz não ligava nenhum pouco para o que aqueles idiotas pensassem ou achassem. Ele nem conseguia fingir se importa. Estava bem demais para isso. Já haviam se passado longos dias - quase quatro meses - desde que iniciaram a segunda fase do tratamento e as coisas não poderiam estar indo melhor. Onix - o mais novo nomeado híbrido - vinha colaborando mais do que poderia se esperar. Ele até tinha aceitado conversar com a psicóloga e estava lidando muito bem com a interação social - isso significava que não estava mais tentando morder ninguém sempre que se aproximava demais de si, pelo menos não na maioria das vezes -. E, sem nenhuma real surpresa, a i********e entre os dois homens estava ainda maior. E uma prova explícita disso, era onde o ômega estava no momento. Luiz não sabe quando a pouca hora que passava no dia com o outro homem, se tornou incomodamente pequena. Apenas que aqueles míseros 60 minutos, não era mais o suficiente. Então, munido de toda sua coragem, Luiz reestruturou toda a sua rotina médica, para que seu último paciente atendido em todos os dias semanais, fosse Onix. Assim, como ele seria seu último compromisso do dia, não seria necessário sair do dormitório do mesmo, até que fosse altas horas da noite. E era onde ele se encontrava agora, apertando o botão magnético com mais força do que precisa. _Olá, Onixie! Como você está hoje?- Luiz cumprimentou assim que entrou no dormitório do hibrido, abrindo um sorriso ao ver o mesmo se levantar rapidamente e intercepta-lo no meio do caminho, o alcançando para um abraço apertado. _Senti saudades...- respondeu em um tom baixo, fazendo o sorriso de Min aumentar um pouco mais. Desde aquela primeira interação, a comunicação entre eles foi se desenrolando ainda mais. Uma coisa que surpreendeu muito o ômega, foi o fato do alfa se comunicar muito bem e entender bem a maioria das coisas que dizia, jogando por terra a sua dúvida de está falando para o nada quando desabafava com o seu eu animal. Entretanto, apesar de ser bom em se comunicar, ele ainda optava por usar sempre frases curtas e diretas. _Não seja dramático, não tem nem 24 horas que você me viu...- brincou, sentindo o outro se afastar e se deixando ser conduzido até a cama de solteiro que parecia ter se tornado mais conhecida por si, do que sua própria cama. Devia ser uma espécie de alerta, que os lençóis mesmo recém lavados, ainda mantinham o seu perfume misturado com o do alfa. Se sentando sobre o colchão macio, ele encarou o outro se posicionando ao seu lado sem soltar sua mão por um segundo sequer e perguntar. _O que nós iremos fazer hoje?- a algumas semanas atrás, Luiz havia feito uma piadinha sobre sua alma gêmea ser seus fones de ouvido. Imagina a sua surpresa, quando o hibrido de pantera afirmou não fazer ideia do que era aquele objeto? No mesmo dia, ele o explicou e mostrou como funcionava, vendo o olhar de adoração que Onix havia destinado ao aparelho eletrônico e sua extensão. Foi algo muito fofo. Mas também muito triste. Aquilo só ressaltava a maneira desumana que o outro havia sido criado. Então, essa havia se tornado nova missão de vida de Min. Ou seja, resumidamente, todo dia apresentar algo novo para o hibrido. E isso estava se seguindo como uma nova rotina. Com o passar dos dias, eles começaram a explorar várias outras coisas. Livros e mangás - Luiz se esforçou para o ajudar a aprender a ler e hoje ele até conseguia distinguir algumas sílabas sozinho - músicas de todos os tipos e estilos. Também haviam assistido a filmes e séries de TV, tentando sempre inovar no repertório, indo de conteúdos históricos há aventuras "nerds". Eles até tinham se arriscado em alguns vídeos games e descoberto que Onix era um talento nato para o Just Dance. Ao contrário de si e seus quadris duros. Eles intercalaram os dias para que não atrapalhasse o tratamento e vinha dando muito certo. Para ambos. Era uma espécie de diversão diferente que nenhum dos dois já tivera com outras pessoas. _Eu não sei. Pensei em deixar que você escolhesse hoje...- comentou com um pequeno sorriso em seus lábios, sentindo o hibrido brincar com seus dedos. O moreno pareceu pensar por um momento, antes de apenas dar de ombros e empurrar o corpo de Min para trás, logo o colocando de lado e se envolvendo contra o mesmo. O sorriso nos lábios do médico aumentou, enquanto ele se rendia aos braços a sua volta, muito confortável com aquela i********e, para ficar envergonhado como acontecia antigamente. _O que é isso? Não iremos fazer nada?- questionou levemente divertido, sentindo um beijo carinhoso ser deixado contra seu ombro. _Não.- murmurou simples, voltando a apertar o ômega em seus braços, a ponta de seu nariz deslizando lentamente pela pele macia de seu pescoço. _Você não quer nada?- perguntou em quase um suspiro, sentindo seu corpo se tornar mais sensitivo ao ter uma parte tão sensível sendo tocada. _Você. _Como?- Luiz sabia que estava fazendo muitas perguntas. Porém, em sua defesa, sua mente já não parecia mais estar funcionando 100%. Era sempre assim quando ele estava perto demais daquele alfa. _Eu só quero você.- declarou seriamente, ganhando um suspiro como resposta do ômega abaixo de si.- Senti sua falta. _Ah...- foi tudo o que conseguiu formular, levando um tempo para digerir aquela afirmação. Qualquer um, qualquer um mesmo, que ouvisse aquela frase sendo dita enquanto não houvesse quase nenhum espaço entre seus corpos ou com o ar ao seu redor cheirando aos seus feromônios misturados, levaria a situação para um lado mais... maduro? Um duplo sentido, antes das coisas esquentarem como normalmente ocorria entre casais? Sim, esse normalmente seria a dedução mais lógica. Entretanto, apesar de todo os carinhos, beijos, mordidas, abraços e as vezes até alguns chupões, Onix nunca havia realmente tentado algo indevido com Luiz. Claro, ele sempre o agarrava e tudo mais. Todavia, seus atos eram tão cheios de carinho e uma espécie de respeito, que nem devia mesmo usar o termo "agarrar" como referência. A verdade em si, era essa. O hibrido de pantera nunca havia tentado "algum movimento". Nenhum toque indevido ou que gritasse segundas intenções. E Luiz estava feliz por isso. Mas havia aquela partezinha de si, aquela que se tornava maior a cada novo dia, que queria... algo mais? _Como foi o seu dia?- Min questionou em voz alta, tentando aliviar sua cabeça daqueles pensamentos. Ele quase não se reconhecia! Até alguns meses atrás, ele era o último que queria um alfa, quanto mais um para f********o, sendo muito bem celibatário nesse quesito. No entanto, agora ele está quase estudando todas as atitudes de Onix, só para saber se ele se sente atraído por si. _Chato.- simples e direto. Luiz abriu um sorriso gengival. _Vamos, não seja assim. Deve ter acontecido algo de bom...- ele observou o outro levantar seus olhos e o encarar por um tempo, antes de concordar com a cabeça, como se houvesse encontrado algo bom em suas memórias.- Então? Algo bom aconteceu? _Sim. Você veio me ver.- Luiz teve que sufocar um grito muito expressivo mordendo a ponta de sua língua. Seu coração havia se tornado um pouco mais acelerado, só por saber que o moreno realmente sentia aquilo. Céus, ele odiava como o hibrido era tão direto e sincero consigo, mas odiava ainda mais, como se sentia um bobo em relação ao outro... Luiz apenas se limitou a ficar quieto, não confiando no que sairia de sua boca caso dissesse algo. Mais isso não pareceu desmotivado o puma, que - sem ter nenhuma ideia dos problemas internos que o ômega enfrentava no momento - reforçou seu aperto, escondendo seu rosto contra o pescoço cheiroso do mais velho, aspirando grandes quantidades de seu perfume. Um suspiro fugiu pelos lábios do médico quando um selar delicado foi colocado no osso de seus clavícula, seus olhos se fechando quase em um ato automático. Luiz sempre se sentiu orgulhoso por ser quem era. Ao longo de sua vida, ele sempre tinha que lidar com alguém que o jugava e diminuía por sua classificação. Ainda assim, ele retaliava mostrando que era melhor do que eles um dia poderiam tentar ser. Que era corajoso o bastante para correr atrás de seus desejos e não se assustar com o longo percurso. Que era corajoso... Afinal, quando foi que ele mudou? Nesses últimos dias, Luiz vinha se sentindo tudo. Tudo mesmo, de calmo a louco. De quieto a desesperado. De sonolento a ansioso. Tudo. Ainda assim, estava bem longe de nutrir qualquer resquício de coragem e isso se devia a todos aqueles novos sentimentos inesperados que havia desenvolvimento pelo hibrido felino. Min se sentia intimidado demais por estar enfrentando algo que nunca pensou que iria sentir. Seu desinteresse por qualquer outra pessoa - seja alfa, ômegas ou betas. Mulheres ou homens - sempre foi algo comum desde que crescera o bastante para entender sobre atração s****l e romântica. No entanto olhe para ele agora, com quase 30 anos e agindo como um garotinho adolescente tímido sobre o seu interesse amoroso. Era ridículo. E - talvez - o mais ridículo ainda, era não conseguir realmente se ressentir ou odiar tudo aquilo. O ômega nunca imaginou que aquele clichê que fazia tantos suspirar, fosse realmente algo bom. Era bom se sentir atraído por alguém... Era bom querer alguém. E talvez essa fosse a sua maior frustação. _Você não está bem...- um sussurro muito perto de seu ouvido o chamou a atenção para a realidade. Entreabrindo seus olhos, ele encarou o rosto alheio, lindos e envolventes olhos castanhos que o desestruturava sempre.. Esses que se encontravam bem a cima do seu, o encarando perto demais para ter alguma consideração sobre espaço pessoal, o que realmente não era novo. _Como?- questionou em voz baixa, deixando seus olhos analisarem todos os pequenos detalhes que já vinha decorado, mas não se permitia assumir isso. Ainda assim, ele sempre se assustava com o quão bonito o puma era. E isso só o deixava ainda mais frustrado. _Você não está bem...- voltou a repetir, fazendo uma leve careta ao ouvir um "por que você acha isso?" como resposta.- Seu cheiro está diferente. Além disso, você está quieto. Uma risada fraca fugiu dos lábios finos de Luiz ao ouvir a segunda parte da sentença. Ele sabia que o hibrido não dissera aquilo por maldade, entretanto, o médico se sentiu um pouco envergonhado por ser visto como uma pessoa que falava demais e isso nem mesmo era verdade. Quão grande seria a surpresa de Onix, se soubesse que do lado de fora daquelas paredes, ele era conhecido por ser muito formal e fechado? Ao ouvir sua risada, o alfa se aproximou ainda mais e o olhou fixamente. Com certeza suas bochechas estavam coradas. _Desculpe, estou distraído.- foi tudo o que respondeu, apenas para fazer com que aquele olhar de devoção no rosto alheio sumisse logo. Deus, ele sentia vontade de se encolher e esconder seu rosto em um dos travesseiro abaixo de si. Todavia o seu plano não surtiu efeito, ou seja, nenhuma distância foi obtida. Ambos ainda permanecendo naquela proximidade íntima. Os olhos de Luiz se pegaram desviando para baixo, acompanhando a curva estranhamente redonda que os lábios alheios faziam. Era bonito. Assim como tudo no alfa. E, inevitavelmente, ele se viu pensando em qual seria o gosto dos mesmo. Seria tão bom quanto o seu cheiro? Ou então tão macios quanto pareciam? Ele retribuiria o beijo? Ele percebeu a boca do outro homem se mover e deixar claro que o mesmo estava falando alguma coisa. Porém, a cabeça de Min pareciam estar afundada abaixo d'água, impossibilitando de sequer conseguir ouvir o que estava sendo dito. E o mesmo parecia estar sendo feito com seus pensamentos, já que mesmo sem ter certeza do que fazer, ele se viu inclinar e juntar sua boca ao do outro em um selinho simples. Levou apenas alguns segundos para que a ficha de Luiz caísse e ele percebesse o que havia feito, se afastando imediatamente para trás, uma expressão alarmada tomando seu rosto. Entretanto, antes que pudesse verbalizar seus pensamentos e declarar vários pedidos repetidos de desculpas, ele observou dessa vez Onix seguir seus movimentos anteriores e acabar com a distância entre seus corpos, o beijando. Com um suspiro de alívio, Luiz apenas entrelaçam seus dedos contra os fios negros sedosos e o puxou para mais perto de si, aprofundando o contato. Nesses seus últimos anos de vida, Min havia tido várias experiências reais de felicidade. Quando se formou com honras na faculdade de Medicina. Quando, ao contrário do que normalmente acontecia, ele foi um residente disputado por alguns hospitais de prestígio, que afirmavam querer o "futuro" ao seu auxílio. Ou quando sua tese de doutorado chegou a ganhar um prêmio pela ideia e proposta inteligente apresentada. Quando ele viu o sorriso orgulhoso no rosto sempre sério de sua mãe alfa, ou quando visitou o túmulo de sua mãe e "a mostrou" sua grande conquista, imaginado o quão feliz ela estaria seja onde estivesse. Tudo isso, todos esses momentos maravilhosos, tinham um espaço alegre em seu coração. Mas aquilo. Aquilo era diferente. Era como se uma parte muito importante de si acostumada a funcionar sozinha sem nem mesmo saber que estava incompleta, de repente se visse junta a uma outra metade perfeita. O sentimento de êxtase, a alegria sem precedentes e a vontade de nunca mais precisar continuar só, parecia o entorpecer de todos os lados, todos os seus sentidos. O médico sabia que tinha alguns sentimentos forte nunca sentindo antes pelo hibrido a sua frente, ele só não pensou que fossem tão grandes ao ponto de firmemente percebe que considerava o alfa, seu segundo porto seguro. Lugar vazio desde o falecimento de sua progenitora. Entretanto não havia dúvidas, nem mesmo pequenas, de que aquele era um dos novos - até o mais forte - momentos de felicidade acrescentado e marcado em seu coração. E talvez o fato dessa nova adição não ser exatamente ligada à uma conquista individual sua, o fizesse se sentir inseguro sobre tudo, sendo acostumado demais a depender apenas de si e seus sentimentos de superioridade por uma longa linha de tempo. Todavia, ao se lembrar quem o fazia se sentir tão... livre, ele se acalmava imediatamente. Afinal, era Onix. Seu alfa. Sorrindo pequeno, Luiz sentiu o hibrido se afastar, deixando que ar finalmente fosse para seus pulmões e o ômega percebesse como estava ofegante pelo mesmo. Sem dizer nada, ele sentiu uma pequena trilha de beijos serem dados entre sua bochecha direita e seu maxilar. Seu sorriso aumentando de tamanho. Sim. Era Onix. Era tudo o que o importava. [...] Luiz encarava o nada com uma expressão animada. Suas bochechas estavam coloridas em um rosado escuro saudável, enquanto um sorriso gengival contornava seus lábios finos. Ele podia imaginar como se assemelhava a um bobo sorrindo pro nada agora e não podia estar mais agradecido por estar na sua sala, sem dúvidas longe de qualquer um que pudesse perceber seu bom humor. Esse que ele não conseguia evitar. Não quando sua mente insistia em repassar os acontecimentos da noite anterior e sua mente vivida o fazia sentir aquela pressão invisível sobre sua boca. Pelos céus, se ele soubesse que seria tão bom beijar alguém, ele já teria feito isso antes - apesar de ter certeza que não seria tão bom com qualquer um, quanto era com Onix. Sua mente continuou repassando a noite anterior, onde depois do primeiro beijo, se seguiu mais e mais. Os dois aprendendo juntos e pegando o título um do outro, até que tudo estivesse perfeito. E quando percebeu as horas, já estava bem tarde, o forçando a ir embora. Não que ele não tivesse repassado tudo milhares de vezes em sua mente, animado demais para conseguir pegar no sono. Exatamente como fazia agora... Luiz estava tão distraído, que quase pulou da cadeira quando uma batida soou pelo ambiente. _Pode entrar!- declarou, se ajeitando rapidamente e tentando assumir uma posição mais formal, mesmo com s áurea alegre a sua volta o deixando com olhos brilhantes e pequenos sorrisos.. Logo a porta se abriu e a figura bem vestida de sua mãe se fez presente. _Podemos conversar ou você está ocupado?- perguntou, mesmo que já houvesse entrado no cômodo e fechado a porta atrás de si, logo tomando um acento em frente à mesa do ômega, antes que qualquer resposta pudesse ser dita. Revirando discretamente os olhos, o ômega apenas se sentou corretamente, a destinando um olhar entediado. _O que você quer, apesar de já saber que a resposta é não?- comentou com ironia, vendo a mulher repetir seu mesmo movimento anterior, ou seja, revirar seus olhos. As vezes ele ficava surpreso como suas mães eram completamente diferentes, mas ainda se amaram até o último dia. Ele tem certeza absoluta que se usasse nem que fosse 01% daquela sua arrogância com sua falecida mãe, ela já teria o feito beijar o chão, enquanto o enchia de tapas e repreensões.- Se for sobre encontros com idiotas desconhecido, já vou avisando que pode sair. _Não estou aqui para falar sobre isso.- murmurou a alfa, vendo a expressão defensiva de seu filho diminuir ao saber que o assunto em questão não era sua futura vida conjugal. _Então...?- incentivou, menos arisco que anteriormente. Ainda assim, aquele olhar sério no rosto de sua progenitora não o deixava relaxar por completo. _Vim falar sobre um dos seus pacientes... _Ah, então é sobre trabalho... A algo de errado? Aconteceu alguma coisa? _Não... ainda.- Min percebeu a maneira que sua mãe pareceu pensar sobre sua próxima frase, como se não soubesse como se expressar de maneira correta e isso o deixou agitado. _Mãe...?- chamou inquieto. _Assim como eu, alguns outros funcionários repararam que você está muito... íntimo com o hibrido 30921. _Onix?- perguntou apenas para confirmar, ele nunca havia realmente chamado o outro homem pelo seu número de registro. _Sim, Onix...- pareceu concordar a muito contragosto, uma expressão que o ômega não conhecia muito bem tomando seu rosto.- Agora, Luiz... Sei que melhor do que qualquer um aqui, que não preciso te lembrar sobre isso... Porém é completamente irresponsável se apegar a um hibrido recebendo tratamento. _É claro que eu sei disso...- resmungou em um tom emburrado. _... Que além de tudo, irá ser movido para uma instituição ou ONG assim que for considerado apto para retornar à sociedade.- continuou como se não houvesse sido interrompida, ignorando totalmente seu filho. _Onde você quer chegar com isso, mãe...?- murmurou em um claro tom mau humorado, não gostando de que sua mãe estivesse certa sobre a sua irresponsabilidade sobre se apegar a um paciente temporário, como se fosse algum residente juvenil. E, gostando ainda menos, da direção que aquele assunto estava sendo levado. Suspirando, a mulher se ajeitou em seu assento. Seus olhos fixo no rosto alheio que a lembrava tanto sua companheira falecida, antes de continuar. _Aquele híbrido não é um alfa para você, Luiz.- foi direta, até mesmo pegando ao ômega de surpresa. Esse que colocou sua melhor expressão "está falando sério?", mesmo que se sentisse incomodado pela aquela afirmação. Era como se ela estivesse o ofendendo diretamente. _Então você veio até aqui apenas para me dizer isso?- debochou, desviando seu olhar para a papelada a sua frente e começando a arrumar, fingindo que estava prestando atenção no que fazia. O que claramente era uma enorme mentira.- Se já terminou, pode sair. Eu nunca quis sua ajuda na minha vida pessoal e não é agora que irei "aceitar seu concelhos" matrimoniais. _Luiz...- chamou, tentando não deixar o mais novo se esquivar do assunto. Algo que ele sempre fazia quando não queria discutir sobre algum assunto específico. _Estou ocupado, Diretora Seojin.- respondeu petulante, nem mesmo levantando seus olhos para encarar a mulher. Essa que bufou frustrada e decidiu mais uma vez, ser direta. _A psicóloga o deu uma faixa verde na última verificação...- disse lentamente, estudando o rosto de seu filho teimoso. Esse que sentiu seu corpo se tornar rígido, seus olhos encarando os papéis em sua mão sem realmente o enxergar ao tentar digerir aquela nova informação. O tratamento pela qual Onix - e a maioria dos híbridos "selvagens" - estava passando, era dividida entre três etapas bases, visando facilitar tanto o número de médicos cuidando de tal paciente, quanto de atitudes necessárias caso houvesse algum problema. A vermelha era normalmente usada quando eles davam entrada, em sua maioria muito ariscos e antissociais para serem considerados aptos para serem liberados ou cuidados por qualquer um médico sem preparação. Em sua maioria, apenas alguns realmente com traumas - como Onix - ficavam mais do que um mês nessa faixa, sendo considerados adequados para o próximo passo quando perdiam a "raiva inicial" ao não se sentirem mais em perigo sobre onde estavam. A segunda era a amarela. Essa era uma espécie de meio termo, quando o hibrido em questão conseguia trilhar um bom caminho em seu desenvolvimento emocional e social, não sendo considerado mais uma ameaça. Aceitando e reagindo bem aos tratamentos impostos, com uma grande esperança para recuperação. E havia a terceira faixa, que obviamente era a verde. Aquela que significava que o hibrido estava pronto o suficiente para começar um novo caminho, uma nova vida. Ou sendo ainda mais direto, que estava pronto para ser movido para outro lugar e recomeçar sua vida em alguma ONG ou reserva florestal, onde teriam mais cuidados específicos para seus problemas e uma perspectiva melhor sobre o futuro. E Onix receber aquela marcação, só significava uma coisa... Ele iria embora. _Mas... Só tem três meses que ele está passando por acompanhamento psicológico! Não é muito cedo?!- perguntou com urgência, ignorando o olhar culposo nos olhos de sua mãe. _Ele teve um progresso realmente surpreendente nessas últimas semanas. Ele até mesmo está conseguindo interagir com outro híbridos sem ficar arisco ou violento. Esse é o momento exato para que ele seja incentivado a dar mais um novo passo.- murmurou em um tom formal, como se explicasse para alguém que não fazia a mínima ideia de como tudo naquele hospital funcionava. E Luiz até podia se sentir irritado por isso, se não estivesse tão... confuso. _Mas...- tentou pensar em algo para refutar aquela decisão, entretanto realmente não havia nada que pudesse fazer. Sua mãe estava certa, aquele era o caminho mais comum e normal a se seguir. E ele não devia estar feliz pelo híbrido? Como seu médico, ele devia estar muito feliz por Onix enfim ter a chance a uma nova vida. Era assim que ele se sentiu antes por todos que chegou a ajudar... Era assim que ele devia se sentir pelo alfa. _Eu consegui encontrar uma vaga para ele em uma ONG especializada em híbridos selvagens. Lá ele terá outras pessoas como ele, além de acesso direto a natureza e uma casa só para ele. Ele será transportado na semana que vem.- comentou ao perceber que Luiz não diria mais nada. Observando a expressão no rosto do seu filho e fazendo um grande esforço para não fazer algum comentário invasivo. Ela sabia bem como o mais novo prestava sua independência e privacidade e por mais que quisesse o aconselhar sobre aquela situação, se manteve calada, apenas o observando. _Onde?- perguntou curioso, mesmo que soubesse que não poderia ser ali na Coreia. Ele conhecia todas as reservas daquele lugar e em sua maioria, eram apenas para ômegas que não queriam contatos com alfas ou alguns híbridos domésticos que haviam passa o por situação de maltratados. Nenhum era para híbridos selvagens. _Tailândia.- Luiz apenas se limitou a concordar com a cabeça, arrancando num suspiro de sua progenitora.- Luiz... _Não, está tudo bem.- murmurou rapidamente, vendo o olhar de preocupação que sua mãe ostentava. Se a mulher estivesse com alguma dúvida sobre o "quão íntimos" os dois haviam se tornado nesses últimos meses, sem dúvidas, não existiam mais. Respirando fundo, o ômega decidiu seguir pelo caminho mais profissional e racional. Afinal, não era como se ele não tivesse conhecimento que teria que se afastar do alfa em algum ponto no futuro. Ele só havia sido pego de surpresa sobre o quão cedo seria... de o quão despreparado se encontrava para aquilo.- Eu só estou... surpreso. Já disseram para ele? _Na verdade, decidi vir discutir isso com você antes. Amanhã durante a última consulta dele com a psicóloga, ele será notificado sobre a mudança. _Ah, entendo. Isso é... bom. Fico feliz por ele.- declarou no automático, agindo dessa mesma forma até que minutos depois de uma conversa que seu cérebro não registrou e sua boca apenas disparou resposta simples, sua mãe saísse e o deixasse sozinho encarando a parede sem graça do seu consultório. - a mesma que uma hora atrás, parecia muito encantadora. Ou talvez isso só devesse aos sentimentos que sentia e agora, estavam muito diferentes para serem comparado. Olhando para o computador ao seu lado, o mesmo se viu agindo por impulso e pesquisando sobre o lugar de destino do alfa, até que que finalmente se desse conta do quão grande era aquela situação. Onix iria embora. Para exatos 3.585 km de distância de onde ele estaria. Um voo de - com muita sorte - 04 horas ininterruptas. Em uma semana, apenas sete dias, ele teria que dizer adeus ao outro homem. Talvez para sempre. E ele não sabia como digerir essa informação. Deveria ficar feliz? Triste? Com raiva? Ele realmente não sabia! Sua mente estava tão cheia e não era como se houvesse alguma forma de evitar a transferência do alfa, de o manter ao seu lado. Sim. Não havia nada o que ele pudesse fazer... Nada. .________________.
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