Episódio 1
Barulhos apressados e constantes de passos preenchiam o longo corredor sinuoso e bem iluminado, atraindo a atenção das poucas pessoas pelo local. Porém, assim que reconheciam de onde o barulhos exagerados se originavam, logo desviam seus olhares, com medo de que aquela fúria m*l contida, fosse direcionado a si. Afinal, o ômega pálido, não fazia nenhum esforço para esconder o quão irritado parecia. Tanto pelo barulho alto, quanto pela expressão de desgosto que seu rosto bonito sustentava. E ninguém queria estar destinado a toda aquela irritação.
Chegando ao final do corredor e ignorando a secretaria que tentou o parar, o homem apenas abriu violentamente a porta dupla a sua frente, assustando um pouco a mulher sentada do outro lado da mesa.
_Eu tentei o parar, Doutora Min. Mas como sempre ele não me ouviu...- comentou a recepcionista rapidamente, controlando a respiração ofegante por ter que correr alguns centímetros para tentar para o ômega irritado em um par de saltos que sem duvidas não fora feito para isso.
_Está tudo bem, Dohyun. Eu o conheço muito muito bem...- respondeu exasperada, se arrumando contra a cadeira e acenando levemente em direção a mais nova.- Apenas saia e feche a porta por favor. Pode tirar seu horário almoço mais cedo hoje.
Seguindo a ordem sem pensar duas vezes, a beta fez uma rápida reverência e saiu do cômodo. Suspirando, Seojin finalmente se virou em direção ao garoto parado em sua frente, que a encarava como se fosse uma espécie de inimigo mortal.
_Luiz...- ela murmurou, percebendo que seu filho não fizera nenhuma tentativa de se pronunciar.- Você veio aqui apenas para me olhar ou tem um motivo mais justificável, para invadir meu escritório e atrapalhar meu trabalho.
O ômega bufou alto, quase como se não conseguisse acreditar que havia mesmo ouvido aquela pequena frase. Seus olhos estavam apertando, os tornando ainda menores do que já eram. Suas bochechas redondas estavam coradas por um vermelho saudável, mas que não parecia ser de vergonha e sim, de pura raiva. E, se isso não fosse óbvio, ainda tinha deus lábios entreabertos, com os dentes pequenos fortemente firmados um contra os outros, como um cachorro bravo que a qualquer momento fosse a atacar.
_Você está brincando com a minha cara, mamãe...?- o substantivo soou como se fosse um xingamento muito ofensivo. Deixando ainda mais explícito o quão difícil seu temperamento estava naquele momento.
Suspirando, a mulher retirou seus óculos de grau e o colocou sobre sua mesa, fechando os documentos que lia antes da entrada dramática de seu único filho. Seu olhos já demonstravam o cansado que sentia pela conversa que iria começar. Porém, não era como se ela não esperasse por algo assim.
_Luiz, ouça...- tentou, sendo interrompida quase imediatamente.
_Não, mãe. Ouça você...!- exclamou mais alto que necessário, batendo suas mãos contra a mesa a sua frente, tentando nivelar suas alturas, já que a alfa estava sentada.- Quem você pensa que é?! Eu já deixei claro que não quero a p***a da sua "ajuda" com a minha vida pessoal! Quantas fudidas vezes eu já disse para não se meter?!
_Linguagem, Luiz.- comentou distraidamente, não se importando com a ignorância do mais novo. Ele sempre era assim, sempre fora na verdade. Quando o via corado de tão irritado quanto naquele momento, ela podia jurar que era o mesmo garotinho de apenas três anos de idade, que havia brigado com ela por pegar um de seus doces sem pedir sua permissão antes. Ele era tão temperamental, que a mulher tinha certeza que o garoto seria um alfa. Havia sido mesmo uma enorme surpresa para si, quando o pequeno encrenqueiro na verdade se tornou um ômega. Ainda azedo e estressadinho como sempre fora, mas claramente um ômega.
_Linguagem, minha b***a! Você prometeu! Prometeu que não faria isso de novo!- aquela última sentença soou quase chorosa, como se estivesse tentando expressar toda a sua frustação com aquele assunto. Que era enorme, chegando a formar um nó doloroso em sua garganta.
_Sim, eu disse isso. Mas você também me prometeu algo, Luiz...- respondeu calmamente, recebendo uma risada desacreditada, que para ser sincero mais se assemelhava a um rosnado, como resposta.
_Você é inacreditável! c****e! Você ainda acha que está certa?!- questionou com um tom muito mais irritado do que antes.
Dando de ombros, a mulher apenas o encarou com os olhos levemente franzidos.
_Você não cumpriu com a sua palavra, eu não cumpri com a minha... onde estou errada?
O assunto em questão, era algo que já vinha se arrastando há anos entre mãe e filho. Algo que os fazia brigar sempre que entrava em pauta. Algo, que sempre acabava com um Min Luiz para lá de estressado e uma Senhora Min, completamente frustrada.
Um companheiro, um alfa para acasalar.
Por algum motivo que a doutora não conseguia entender, seu filho se negava completamente a arranjar um alfa. E não, ela não estava sendo exagerada. Luiz já estava quase na casa dos 30 e ainda não tinha nem mesmo namorado com um única pessoa ou se envolvido romanticamente. Ninguém, absolutamente ninguém mesmo. E ela simplesmente não conseguia fingir que aquele problema "celibatário", não a incomodava.
Desde que se lembrava, seu filho sempre fora... diferente dos outro. Quando criança, sua inteligência e curiosidade era incontrolável. Ele estava claramente a um nível superior aos de seus colegas e até mesmo de alguns adultos. Ela sempre pensou que o garoto seria um alfa, não por ser mais notável que os outros, mas sim pela sua independência. Tanto emocional, quanto física. Seojin conseguia contar nos dedos, quantas vezes o garoto havia chorado desde que se tornou mais consciente sobre a vida. E uma dessas poucas ocasiões, sendo quando descobriu sobre a morte de sua mãe ômega.
Ela não consegue descrever em palavras o quão grande foi sua — e de todos que o conheciam — surpresa, quando em seu primeiro cio, o mais novo se apresentou como ômega. Seojin chegou a pensar que aquilo talvez mudasse o garoto. Já que ninguém naquela circunstância atual, era ignorante ao tratamento inferior que os ômegas tinham perante a sociedade, por serem considerados a classe mais frágil e fraca. Entretanto, lá estava novamente seu filho a surpreendendo.
Em vez de ser desmotivado por sua denominação lupina, Suga parecia ter se tornado ainda mais forte e decidido. Não deixando que ninguém pensasse em si com algo menos do que incrível. Ele conseguiu não apenas se forma em Medicina, como também conseguiu seu PHD, se destacando com um dos melhores médicos da última década.
Sua mãe não podia estar mais orgulhosa, afinal, ela também se destacava nessa área como uma Doutora de prestígio, sem dúvidas era reconfortante saber que o sobrenome Min seria ainda mais reconhecido naquele meio. Todavia, isso não significava que sua satisfação era completa. Para chegar onde chegou, Luiz tinha se dedicado muito. Tanto, ao ponto de simplesmente ignorar sua vida social. Seu filho tinha se tornado uma espécie de máquina programada apenas para trabalho, trabalho e trabalho. Deus, ela nem mesmo consegue se lembrar — ou se já chegou a presenciar — Luiz saindo com alguém da sua idade ou apenas curtindo sua vida. E era aí, que entrava a discussão do momento presente.
Ela havia, mais uma vez, tentando o arranjar alguém.
Sim, mais uma vez...
Seojin não se sentia muito orgulhosa em dizer, porém no último ano, ela estava realmente agindo como uma espécie de mãe de elite, que tentava jogar seu filho ômega para algum alfa de prestígio. Como Kim Jin, que também era um médico muito conhecido. Ou Kim Nam, um físico molecular que vinha se destacando em sua área de trabalho. Ela até mesmo tentou fazê-lo se interessa pelo CEO da grande comparação Jung, Jung ou seu irmão mais novo, Jeon . Todavia, todos haviam sido friamente dispensados e ela não negava que até mesmo nisso seu filho era ótimo, já que por algum motivo, nenhum deles queriam se encontrar uma segunda vez com Luiz.
Para ser sincera, parte de si, se sentia m*l por colocar seu filho naquelas situações e até mesmo tentar o coagir a encontrar alguém. Todavia, uma parte muito maior, a lembrava que apesar de suas constantes afirmações sobre estar muito bem sozinho e "não precisar de um alfa irritante o enchendo o saco", Yoon ainda era absurdamente solitário. Ele não tinha ninguém além de si. Ninguém. Nem mesmo um amigo sequer, já que os que não se sentia intimidados pela sua inteligência, se sentiam assustados pelo seu temperamento explosivo. E ela preferia ser vista como uma vilã pelo seu amado filho, do que continuar a assistir o mesmo se isolar cada vez mais em seu próprio mundo de solidão.
E, era esse o motivo de raiva do ômega a sua frente. Depois do encontro desastroso entre Luiz e Jung — tão r**m ao ponto do alfa simplesmente a bloquear e a ignorar em qualquer tipo de interação social — ela havia prometido não tentar mais o juntar a ninguém se, por escolha própria, seu filho tentasse encontrar pelo menos um amigo. E depois de mais reclamações, ele enfim aceitou. Entretanto, 03 meses se passaram e o garoto nem mesmo tentou cumprir com sua promessa. Então, por que ela tinha que manter a sua parte do acordo?
_Você ao menos tentou o conhecer? Ele é um bom alfa...- comentou distraidamente, esfregando seus olhos com os dedos, se sentindo cansada da falação sem fim do garoto. Esse que a olhou com um sorriso pingando de deboche.- Você devia ao menos tentar o conhecer melhor...
_O isso não foi necessário. Apesar de nesse momento ele já deve saber o quão bom de mira eu sou.- respondeu rapidamente, fazemos sua mãe se questionar o que o coitado havia sofrido nas mãos da Yoon.
_O que você fez dessa vez?- perguntou, mesmo não querendo saber. No fundo, ela se sentia culpada pelo pobre Kim . Ele era realmente um bom garoto.
_Nada que você não saberá em breve...- comentou com um brilho muito m*****o em seus olhos, aumentando o sorriso malicioso em seus lábios. Seus olhos olharam para sua mãe, como se a desafiasse a perguntar o que aquilo significava e ela estava realmente e pronta para fazer isso. Porém, antes que pudesse verbalizar, seu telefone sobre a mesa apitou, com uma pequena luz vermelha brilhando sem parar.
_Silencio.- comandou a alfa, fazemos o garoto bufar, mas a obedecer. Sua irritação já havia diminuído um pouco, apenas um pouco, Suga ainda sentia que precisava gritar mais para se sentir melhor. Todavia, ele percebeu que aquilo não seria possível, quando a postura de sua progenitora mudou, se tornando mais rígida, enquanto suas mãos apertavam fortemente o gancho do aparelho em sua mão.
_Tudo bem, eu entendi. Chame a equipe alfa e executem o código 42 imediatamente.- a voz da alfa era autoritária e sem nenhuma brecha para discussões, muito diferente do tom usado consigo a poucos segundos atrás.
_Qual é o problema?- Luiz questionou nervoso, se virando em direção a saída ao ver a mulher quase correr sobre seus saltos, rumando em direção contrária à seu escritório.- Nós ainda não terminamos de conversar!
_Agora não, Luiz!- foi tudo o que ela se limitou a responder, enquanto aumentava seus passos e caminhava ainda mais rápido. Luiz percebeu que ela parecia estar seguindo em direção aos laboratórios SH, onde híbrido em reabilitação ou tratamento intensivo eram mantidos e cuidados. Uma parte individual do hospital.
_Mas, mãe!- tentou reclamar, porém a mulher nem mesmo interrompeu seus passo.
_Vá para o seu consultório, agora! Vá e tranque sua porta, Luiz! Só saia quando eu disser.- e com essa última ordem, a mulher sumiu pelo final do corredor, deixando Min parado sozinho e olhando para o nada.
Suspirando, o garoto olhou a sua volta, como se tentasse entender o desespero de sua progenitora, todavia apenas se viu sozinho naquele enorme corredor branco assustador. Bufando, ele se virou em direção a sala de alimentação, pensando que talvez conseguir um doce tornasse seu humor melhor. As palavras de sua mãe sendo completamente ignoradas, já que era bem capaz dela ter somente inventado toda aquela situação, apenas para fugir de si. Não seria a primeira vez.
Entretanto, essa linha de raciocínio foi imediatamente interrompida quando um barulho soou a sua volta. Não, não era apenas um barulho. Aquilo era claramente um rosnado. Um rosnado muito ameaçador.
Arregalando seus olhos, Luiz se virou lentamente para trás, tentando ver o que estava acontecendo. E foi então que ele entendeu que sua mãe não estava fingindo. Realmente havia uma emergência. Uma das grandes. Afinal, parado ali, em uma posição de ataque e o encarando como se fosse o devorar, estava uma fudida Pantera n***a.
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