Ahura foi embora na manhã seguinte, levando consigo uma grande frustração. Levou algum tempo para que voltasse à floresta. Uma forte tristeza o abateu e por alguns dias ele não deixou os muros do palácio. Seu pai, também sombrio com as recentes informações que tivera, m*l conseguia olhar para o filho.
Apenas após alguns dias, mas não menos enevoado, Ahura deixou o modesto castelo e se entregou à luz do sol. Caminhou por entre as pequenas casas cinza onde moravam os soldados à procura de Tyr, e soube que ele estava treinando dois jovens no lugar de sempre. Foi até lá e os assistiu lutar com espadas por um tempo, até que o amigo e conselheiro de seu pai foi ter com ele.
— Boa tarde, Alteza. — Tyr fez uma pequena reverência.
— Boa tarde, Tyr. Não me chame assim, por favor. — Ahura fez um sinal para que ele interrompesse a reverência.
— Eu gostaria de saber se você poderia voltar a me treinar. — o príncipe pediu com uma incomum seriedade.
— Eu estou treinando esses dois... — hesitou Tyr. — Mas posso encaixá-lo.
— Ótimo. Eu agradeço, Tyr. Prometo que dessa vez será diferente. — Ahura agradeceu novamente e saiu.
Tyr sabia que provavelmente ele desistira rapidamente, mas como era o príncipe, uma recusa não seria bem vista. No entanto, estava descrente. Ahura sempre fora indisciplinado.
Passaram-se muitos dias e Ahura não havia desistido. Tyr tinha até o elogiado para Rudra, dizendo que o príncipe levava mesmo muito jeito com a espada e estava muito mais concentrado, já não fazia dancinhas e gracejos como antes. O rei se orgulhou do filho e vez ou outra o via treinar com Tyr. Sempre com aquela centelha de preocupação a lhe incomodar.
Idrya ficou um pouco enciumado, pois além de não ir mais para a floresta com o amigo, parecia que Ahura também estava dispensando sua ajuda no treinamento militar. Mas a preferência do príncipe tinha se dado apenas pelo fato de Tyr não gostar muito de conversa. E, naqueles dias, Ahura simplesmente não queria falar. Mas aos poucos ele foi voltando a treinar com o amigo, mas não deixou de receber ensinamentos de Tyr. Treinava com os dois, diariamente, e estava empenhado em se tornar um homem, porque algo dentro dele tinha mudado de alguma forma. Depois daquele beijo. Depois que seu coração se partiu.
Então, ele resolveu voltar à floresta. Em poucos meses já parecia outra pessoa. Bebeu, escutou o bardo com emoção, cantou e encontrou Laya. Ela o abraçou saudosamente.
— Senti tanto a sua falta, seu tonto. — ela sussurrou em seu ouvido.
— Eu também, Laya. — ele falou baixo em seu ouvido. Com uma sisudez que ela desconhecia no amigo.
— Você ainda está bravo comigo? — ela perguntou, agora olhando em seus olhos.
— Não estou. — respondeu sério e sorriu brando e curto.
Ela sorriu largamente, abraçando-o mais uma vez. E se pôs a cantar. Ahura a ouviu por toda a noite. Viu-a também, cantando com os cabelos soltos e um vestido preto. Fechava os olhos e sentia as palavras, os sons, aqueles sons que saíam da amiga e se dirigiam para dentro dele.
A namorada dela não estava lá. E ele bebeu como nunca antes, mas misteriosamente o álcool não o deixou embriagado como na noite em que bebeu menos e se perdeu pela floresta. Ficou levemente entorpecido e avisou Idrya que dormisse em outro lugar, que naquela noite ele levaria alguém para o quarto. E naquela noite Ahura dormiu acompanhado. De uma mulher que ele havia conhecido na taberna e que havia beijado durante a canção. E foi com ela que, aos vinte anos, o príncipe conheceu o prazer carnal. Um pouco ébrio, num quarto na estalagem de Becca, no meio da floresta, ouvindo em sua mente ainda a voz profunda de Laya.
Quando acordou, a bela jovem de longos cabelos escuros já tinha ido embora e ele não pôde saber se tinha sido satisfatório para ela. Talvez não, já que ela havia fugido. Ficou levemente frustrado.
Sabia que no seu reino algumas garotas queriam ir para a cama com o príncipe em Shakya, mas na floresta elas não se interessavam muito por essas coisas. O que em sua visão era bom, pois ele tinha a certeza de que se deitaria com alguém que quisesse realmente se deitar com ele. E embora lembrasse dos gemidos da jovem morena da noite anterior, imaturo como ainda era, queria perguntar se ela tinha ficado bem satisfeita. Mas sua fuga o impediu de tal feito.
Ahura já tinha se entregado aos beijos com algumas garotas filhas de soldados e até algumas aldeãs. Não muitas, porque ele era avoado demais para prestar atenção no interesse feminino, mas ir para a cama com uma era a primeira vez. E ele tinha ficado satisfeito. Conhecia sexo de ouvir falar na taberna de Becca, ou nas de Shakya, que visitava menos, porque lá, como era príncipe, havia um interesse que ele considerava artificial por parte das garotas. Não que ser príncipe de Shakya fosse uma coisa muito importante, porque não era. Shakya era uma cidadela se comparada à Hybria e por isso algumas jovens fugiam para lá, na esperança de se casar com um nobre. Geralmente se davam m*l. Mas algumas jovens tinham o sonho de se tornar princesa em Shakya mesmo.
Como Ahura era um jovem belo, de cabelos escuros grossos e pele clara, um olhar curioso e penetrante, tudo ficava mais interessante para as jovens casadoiras do pequeno reino.
Mas ele se sentia melhor na floresta, porque lá ele não era ninguém. Era praticamente um desconhecido. As guardiãs eram muito mais importantes do que ele e lá ele era verdadeiramente livre. E como só conhecia as relações sexuais pelos relatos, principalmente de Idrya, que contava suas peripécias com as garotas, enfatizando os detalhes que as fazia gostar dele, Ahura usou o que sabia de ouvido junto com o seu instinto na sua primeira vez com uma mulher.
No dia seguinte, antes que conseguisse sair da estalagem, Laya já o aguardava.
— Eu vim conversar com você pra gente resolver de uma vez isso. — ela anunciou.
— Laya, não temos o que resolver. Está tudo bem. — ele informou calmamente, mas sem ter certeza de que falava a verdade.
— Não quero ficar brigada com você. Faz tempo que você não vem pra cá e eu sei que é por minha causa.
— Está tudo bem. — ele se esquivou. — Eu trouxe meu arco. Você não quer treinar comigo? — ele pediu.
— Claro! — ela sorriu, vendo naquilo um sinal de que tudo estava realmente bem. Mas assim que começaram a treinar, ela percebeu que tinha outro Ahura diante dela. Mais focado, centrado, maduro. Espantou-se, mas nada disse. Treinou por algumas horas, falando apenas o necessário. O mesmo ocorreu no dia seguinte e nos quatro encontros que sucederam aquele. O príncipe queria treinar. E treinava, incansavelmente. Para fugir de seus pensamentos.
— Você está cada vez mais rápido... eu não imaginava que parar de dançar durante os treinos podia melhorar tanto sua velocidade... — Laya brincou.
— Nem eu! — ele atirou uma, duas, três, quatro flechas em poucos segundos, todas no alvo.
— Você está muito melhor, Ahura, parabéns. Só não pode parar de praticar, porque o braço enfraquece de um dia pro outro. — ela explicava. — E obrigada pelas flechas novas.
— Por nada. — ele disse, com um sorriso leve, que retornava aos poucos ao seu rosto. Mas tinha ficado muito mais sério do que antes. Com todo mundo.
— Agora preciso ir, porque vai chegar o momento do meu turno nas árvores. — ela avisou e eles se despediram.
Ahura se sentou em uma pedra para descansar e resolveu tomar banho em uma cachoeira. Aproveitou que o dia estava aprazível e foi a cavalo até lá. Idrya o esperava na estalagem e a cachoeira não era longe dali. Agura foi sozinho, portanto. Tirou a roupa, a cota de malha que vestia, exigência de seu pai para que deixasse o reino, por segurança, as meias, as botas, tudo. E entrou rapidamente na cachoeira. A água estava horrivelmente gelada, mas ele suportou alguns minutos. Logo saiu, deu alguns pulos para que o excesso de água saísse de seu corpo e começou a se vestir. Alguns raios de sol penetravam pelas árvores e junto com o vento que tomaria no cavalo, suas roupas se secariam no corpo.
Quando já estava calçando as botas ouviu alguém falar com ele do outro lado da cachoeira.
— Ei, príncipe... — ouviu uma voz feminina suave e olhou para a direção de onde vinha o som. Viu uma arqueira com capa verde avoaçando, dando a impressão de longe de que ela estava de vestido, mas quando ela se aproximou, passando por dentro da cacheira, Ahura viu que ela vestia calças. Tinha o sorriso tão sereno e sutil, que Ahura pensaria se tratar de uma fada, não fosse o arco e flecha nas mãos.
Olhou-a com espanto. Não era comum guardiãs falarem com ele. Apenas Laya, que era sua amiga, falava. E ele ficou congelado esperando a mulhera se aproximar.
Ao estarem bem próximos ele notou que ela não tinha os cabelos longos como Laya e a namorada, mas na altura dos ombros e claros como os raios de sol que atravessavam as folhas.
— Eu sou Kalish. — ela estendeu a mão, com um sorriso acolhedor.
— Ahura. — ele correspondeu ao cumprimentou ainda um pouco assustado.
— Você não se lembra de mim, não é mesmo? — ela perguntou.
— Não. Eu sinto muito... eu estava nervoso... — ele se referia ao dia em que viu todas elas.
— Não se desculpe. Não tem problema. Eu vim até aqui, Ahura... porque eu queria saber se posso ver sua marca de perto. — ela pediu.
— Pode... — meio tímido, ele aquiesceu, afastando o tecido molhado da pele e estendendo o pescoço para que ela olhasse.
Ela foi rápida.
— Ah, não há mesmo dúvida. — Kalish sorriu.
— Afinal, o que quer dizer essa marca? — ele inquiriu.
— Quer dizer que você será rei. Os espíritos da floresta confirmam e sua marca é tão profunda que me disseram que ela está até mesmo no seu corpo azul. — ela disse.
— No meu corpo azul? E o que é isso? — ele estranhou.
— Corpo azul é o que vocês chamam de alma. Ele habita o mundo azul e é feito do mesmo material de lá, por isso não podemos ver aqui. Nós temos muitos corpos, príncipe, que vivem ao mesmo tempo em vários mundos. Mas existe uma coisa que une todos eles: o cordão prateado. E quando esse cordão se rompe, nós morremos aqui nesse mundo. Mas não morremos nos outros. – ela explicava.
— Nossa. Que difícil... — Ahura levantou as sobrancelhas pretas.
— É! É bem difícil mesmo. Mas nosso corpo azul deixa nosso corpo de carne toda noite quando dormimos e vai pro mundo dele, o mundo azul, fazer as coisas dele. E a única coisa que junta os dois corpos durante o sono é essa corrente prateada. Ela liga um corpo no outro. — dizia Kalish.
— Mas e agora que estamos acordados? — ele perguntou ressabiado com aquela história estranha.
— Agora o corpo azul está dentro de nós, quieto, trabalhando só com os nossos desejos. Só quando o corpo azul sai do corpo de carne que o fio de prata surge, para manter os dois unidos... eu posso te explicar mais depois... se Devah e Kala permitirem, eu posso te levar para tomar um chá que te faz entrar no mundo azul e se lembrar... se você quiser... — ela ofertou.
Ahura a olhou com desconfiança.
— Isso pode me matar? — ele questiono.
— Não. — ela sorriu. — É como um sonho. Como eu disse, todos nós vamos pra lá quando dormimos, essa bebida faz com que você se lembre apenas. Que fique consciente. — ela explicou suavemente.
— Hum... eu gostaria de tomar. — ele falou.
— Vou falar com elas, então... mas, enquanto isso... eu te vi treinar. Você é bom, mas está muito duro. Há uma leveza em você, use-a para atirar, como quando você dançava... você pode dançar e atirar... — ela sorria e se movia lentamente para pegar uma flecha.
— Veja. — ela atirou uma flecha enquanto dançava e rodopiava como um pássaro, ou uma folha caindo da árvore, graciosamente.
— Uau! — Ahura se impressionou.
— Laya é uma ótima instrutora e uma ótima arqueira. Não estou dizendo que ela ensina errado. Jamais diria isso. Ela é maravilhosa. Mas existem várias formas de se relacionar com o arco, de se entrosar com ele e com as flechas... a dela é pela força, a sua pode ser pela leveza... não que você não vá precisar de força, porque precisa ter os braços fortes... — ela falava com tanta calma e paciência, e sua voz era tão agradável, que Ahura esqueceu que estava molhado e que tinha frio.
— Nossa. — Ahura exclamou, olhando para ela com um certo encantamento, pois Kalish era, talvez, a mais encantadora e misteriosa das guardiãs.
— Tem uma música que eu sempre escuto na minha mente quando estou praticando, você quer que eu toque pra você tentar e ver como se sai? — ela perguntou, tirando uma flauta da parte interna da capa.
— Quero. — Ahura sorriu e pegou o arco e as flechas.
Kalish se pôs a tocar e a dançar. Sorria para ele, chamando-o para deixar a música envolvê-lo. Ele fechou os olhos e embalou o corpo, quando abriu, lançou uma flecha e sentiu como se o arco fizesse parte do seu corpo. Não era mais tão pesado como antes, a canção realmente o ajudava. Ele a olhou e ela sorriu, e ele continuou mirando e atirando em um tronco seco, como se a música o relaxasse e permitisse uma concentração maior. Assim ficaram os dois, dançando e atirando flechas na floresta até perderem a noção do tempo e até a noite começar a engolir o dia.
Antes do final do crepúsculo, a guardiã se despediu.
— Posso treinar com você novamente? — Ahura perguntou antes que ela se fosse.
— Claro. Eu encontro você. — ela tilintou o arco de longe, vestiu a touca da capa verde e desapareceu entre as árvores.
Ahura voltou à estalagem e encontrou Idrya nervoso e com pressa para ir embora. Não deu satisfação de onde estava e apenas o esperou montar em seu cavalo para voltarem a Shakya.
A taberna, que também era uma estalagem, ficava bem próxima à ponte que permitia que se cruzasse o rio a caminho do reino de Shakya. Tinha sido instalada no ponto mais distante possível da borda sul da mata, para que, de Hybria, não se pudesse ser vista a fumaça das lenhas queimando.
Mas os soldados sabiam bem onde ficava a estalagem e a vila dos autelanos e só não haviam chegado até lá porque eram sempre interceptados pelo povo da floresta e e pelas guardiãs.
A localização do pequeno vilarejo era estratégica. Caso houvesse de fato uma invasão, seus moradores atravessariam a ponte e a derrubariam, fugindo para Shakya. Havia mais duas pontes. Uma era de conhecimento dos soldados de Hybria e estrategicamente situada em local visível, mas havia uma a leste, conhecida apenas pelos moradores da floresta, pelas guardiãs e pelos soldados de Shakya e por isso, em caso de invasão, os autelanos poderiam derrubar aquela ponte próximos da qual estavam instalados, pois havia uma outra secreta. E aquela, Hybria desconhecia totalmente.
Ideia de Kalish, a melhor estrategista daquelas terras. E quem a visse poderia até mesmo supor se tratar de uma pessoa frágil e quase indefesa. Mas sua mente era a mais ágil. Trabalhava nesse e em outros mundos e agora tinha se tornado amiga de Ahura. Treinou com ele diversas vezes depois daquele encontro. Tocando sua flauta, rindo e dançando.
Laya ainda o treinava também, mas suas lições eram mais duras e severas. Ahura aceitava as duas com a mesma dedicação, mas sorria e dançava apenas com Kalish. Laya observava das árvores e sentia uma dor no peito. Não brigava nem se indispunha com a amiga, porque guardiãs não brigavam e não se intrometiam na vida das outras. Ela apenas via de longe. Como ele era desenvolto e leve com a amiga, e sempre tenso com ela.
Numa noite, depois de o bardo ter tocado suas canções na taberna, Becca o expulsou, pois estava cansada. Mandou todos para casa ou para os quartos da estalagem. Ela trabalhava o dia todo e tinha noite que se cansava da cantoria e mandava todo mundo de volta para o lugar de onde veio. Ninguém ousava reclamar com Becca, aquela doce senhora gordinha, já com os cabelos bracos e sempre com seu gato malhado andando atrás dela.
Em algumas noites ela cismava que o gato estava cansado das música e o usava como pretexto para botar todos para correr dali. Mas Muli ficava deitadinho no balcão e m*l se importava com o que acontecia. Exceto quando alguém gritava, ele odiava gritos. Então, ele descia e ia procurar lugar mais calmo para dormir. Mas gostava de ficar onde estava cheio de gente, não por gostar das pessoas, mas porque ficava quente. Muli gostava mesmo era de Becca, de seu colo e de ficar perto de seu fogão a lenha.
Como os humores de Becca não estavam dos melhores naquela noite, o bardo resolveu esticar a cantoria na floresta. Mas quando isso acontecia, apenas uns poucos eram convidados. Ahura nunca era, mas naquela noite foi. E com ele foram umas poucas pessoas, todas jovens. Laya e a namorada estavam lá, cantando em volta da fogueira.
Idrya conversava com uma garota e Ahura ouvia Laya cantar, quando de repente ela emudece e se só ouvia o bardo e seu instrumento de corda.
O príncipe notou que a outra guardiã presente também pareceu assombrada com alguma coisa e ele sentiu alguém sentar ao seu lado.
— Oi, príncipe. — saudou Kalish, deixando as companheiras boquiabertas. Nunca a haviam visto à noite. Somente quando encontraram Ahura. Mas ela estava ali, sentada ao lado de Ahura, que não fazia ideia do quão insólita era a sua presença ali.
— Oi, Kalish! Que bom te ver aqui! — ele abriu um sorriso ao cumprimentá-la e as outras duas permaneceram olhando a cena.
— Pode continuar a cantar, Laya, querida. Estava lindo! Ouvi de longe... — ela disse a Laya, com um sorriso honesto e simpático.
— Claro... — Laya engoliu saliva, olhou para Tyra e continuou cantando, enquanto via o amigo e Kalish conversando e rindo gostosamente em volta da fogueira.
Mas ali estava também uma quarta guardiã, Tiana, totalizando quatro, num mesmo local, quatro entre as mais novas. Apenas Nohe era mais nova que as que estavam ali, mas ela morava com Vena, que era quem a treinava e como os treinamentos a deixavam muto cansada, ela não costumava passear à noite na floresta com as amigas.
Tiana ainda estava em treinamento também, mas o seu já era mais leve. Aos dezenove anos, morava com Nimah, que tinha trinta e a treinava desde de os dezessete anos. Nimah namorava um morador da floresta havia muito tempo, mas como não tinha a intenção de se casar ou viver maritalmente com ninguém, convidou sua pupila para morar com ela e ambas dividiam a moradia. Kalish era uma das poucas a morar sozinha. Apenas ela e Kalpa.
Devah, por exemplo, morava o esposo, Shin, um antigo curandeiro que dominava a arte de misturar plantas e fazer remédios, assim como ela. Eles tinham um filho, Nis, e a casa de Devah, por esse motivo, era a única de conhecido público.
Todos precisavam conhecer sua casa, porque era para lá que corriam quando havia alguém doente. Devah e Shin eram praticamente os únicos curandeiros de toda a floresta. Havia um em Shakya, que vez ou outra ia até a floresta atrás deles para receber ensinamentos. O povo acreditava que Shin era um bruxo, um mago, pois curava doentes que estavam à beira da morte de um dia para o outro, assim como Devah, a segunda guardiã mais velha, e a que assumiria o lugar de líder quando Kalpa morresse.
Mas lá estava as mais jovens, cantando em volta da fogueira e tomando uma bebida amarga que um dos moradores da floresta carregava em um recipiente de couro de serpente. Eles compartilhavam a bebida, riam e cantavam, enquanto Kalish e Ahura pareciam estar num outro lugar, paralelo àquele, ouvindo outra música, vendo outras cores.
A voz de Laya saía do tom, Tyra olhava desconfiada, não gostava do garoto, e Tiana, impressionada, encantada por ver Kalish à noite, por tanto tempo e tão de perto, m*l se importou que não era para ela que atenção da arqueira ia. A pequena Tiana suspirava.
As outras duas, não.
Os dois conversavam sem se preocupar com os outros.
Até que uma chuva forte apagou a fogueira e fez com que todos se dispersassem.
Mas Kalish não tinha ido pela música. Ninguém sabia. Ela ficou pela música e pela companhia do príncipe por quem ela se afeiçoara, mas ela tinha ido com um propósito. Avisar Ahura que não fosse embora, pois ela tinha conseguido autorização das mais velhas e no dia seguinte, ele conheceria o mundo azul.