PARTE 4

3545 Words
A primeira visita é coletiva, mas o casal sabe quem Murilo é por conta das fotos dentro da ficha do menino. Eles entram no pátio do abrigo sendo rodeados pelas crianças que os admiram, felizes. Apesar dos sorrisos, muitos têm os olhos tristes, pedindo por amor, o que emociona Beatriz. Quantos ali passaram pelo mesmo que o Murilo? Pergunta Beatriz olhando as crianças. Bee tenta encontrar Murilo no meio de todas aquelas crianças, mas nem sinal de seu rosto, o que a preocupa a fazendo pensar no que poderia ter acontecido.  — Bee, olhe ali – avisa Flávio apontando para o extremo do pátio. Lá está o menino de cabelos castanhos lendo um livro desbotado, alheio a toda movimentação. Beatriz segura na mão do marido e caminha em direção ao menino que parece não se preocupar com a aproximação. Flávio senta de um lado e Beatriz do outro. O menino levanta os olhos, encarando primeiro Flávio e depois Bee.  — Reinações de Narizinho? –pergunta Flávio tentando puxar assunto. Murilo sacode a cabeça afirmando e continua lendo seu livro.  — Esse foi o primeiro livro que eu li – comenta Flávio olhando para Beatriz, que não entende. Ele aponta com a cabeça em direção a Murilo e continua — Amava viajar para o Reino das Águas Claras.  — Realmente, o príncipe Escamado é tão receptivo – continua Beatriz entrando na ideia de Flávio.  — E o Reino das Maravilhas, aquelas princesas são muito simpáticas. Eu prometi que voltaria – continua Flávio.  — Assim que pegasse mais ** de pirilimpimpim.  — Você tem ** de pirilimpimpim? – pergunta Murilo, curioso.  — Sim, eu tenho – responde Flávio, sorrindo.  — Como você conseguiu? – pergunta Murilo, desconfiado — E o que está fazendo aqui? Você poderia estar em qualquer lugar do mundo inteiro...  — Eu consegui com um amigo e já estive em todos os lugares do mundo que sempre quis...  — E por que está aqui? – pergunta Murilo.  — Bom, eu encontrei o que eu queria – responde Flávio sorrindo em direção à Beatriz — E agora decidi passar o ** para uma pessoa aventureira. Você grande conhecedor dos poderes do ** de pirilimpimpim, conhece alguma pessoa para me indicar?  — Algumas... – responde Murilo, pensativo — mas nenhuma delas pode sair daqui sem um pai ou mãe que os queira de verdade... Então acho que você não poderia dar o ** para alguém daqui.  — Você é uma pessoa aventureira? – pergunta Beatriz.  — Sou sim –responde Murilo fechando o livro — Sou mais valente que o Padrinho e mais astuto que a Narizinho.  — Então eu acho que o Flávio pode dar o ** para você... O que acha Flávio?  — Uma excelente ideia – concorda Flávio.  — Mas eu também não posso sair... Não tenho pai nem mãe...  — Hummm... E agora, Flávio? –pergunta Beatriz.  — Acho que podemos dar um jeito nisso... – responde Flávio.  — De que forma? –questiona Murilo, curioso.  — Bom... Não posso te dizer agora, mas posso adiantar que nós seremos grandes amigos – comenta Flávio tocando no queixo de Murilo.  — Você... Você veio me adotar? – pergunta Murilo.  — Você é um menino esperto. Ainda não sabemos... Já que é você quem deve tomar essa decisão. Beatriz olha no relógio, o tempo passou tão rápido que a visita tinha acabado há meia hora.  — Bom, tomem uns dias para decidirem sobre a adoção – sugere Carolina.  — Pode parecer precipitado, mas eu não quero esperar – responde Beatriz.  — Nem eu – admite Flávio — Nós queremos continuar a aproximação com Murilo. **** Seis meses depois... Beatriz e Flávio caminham de mãos dadas pelo pátio do orfanato em direção a Murilo que os aguarda ansioso. O menino acena sorridente em direção ao casal. Ele gosta bastante da companhia dos dois que tornam aqueles dias de visitação, os melhores de sua vida até agora. E não apenas pelos livros que Flávio sempre trás, ou os sorvetes que Beatriz o oferece, mas pelas conversas e brincadeiras também. Porém nota que dessa vez Flávio não trouxe nenhum embrulho, bem como não há nenhum sorvete com Beatriz, deixando o menino curioso: — Olá rapazinho – fala Beatriz se aproximando do menino. Ela se abaixa para ficar na altura de Murilo que lhe oferece um sorriso tímido — Como está? —Estou bem – responde Murilo que agora observa Flávio também se abaixar em sua frente — Como vocês estão? —Estamos ótimos – responde Flávio sorrindo para o Murilo. Então fica sério e pergunta — Murilo, você não sentindo falta de alguma coisa? —Estou, mas é falta de educação perguntar... —Mas se você quiser, pode perguntar – propõe Beatriz olhando para Flávio. — Eu notei... Que vocês... Não trouxeram nenhum livro ou sorvete... – começa Murilo sem jeito olhando para seus pés — Tem algum motivo? — Sim, tem sim Murilo – responde Flávio se levantando e acompanhado por Beatriz — Nós recebemos informações que não podemos mais trazer livros ou sorvetes para você aqui no orfanato.   — Não podem? Por quê? – questiona Murilo fechando o semblante para não demonstrar seu desapontamento. — Eles disseram que seus livros e sorvetes devem ser guardados na sua casa – explica Beatriz. —Tá, mas eu não tenho casa – comenta Murilo encarando o casal. — Informaram para nós que você tem sim – alega Flávio. — Ah é? Então, onde ela fica? – questiona Murilo cruzando os braços, desconfiado. — Que tal nós levarmos o Murilo até a casa dele? – propõe Beatriz para Flávio. — Ótima ideia, Beatriz – concorda Flávio que volta a encarar o menino. — Que tal irmos até a sua casa? — Mas a minha casa é aqui – alega Murilo sério. — Não mais – fala Beatriz sorrindo. — A minha casa é fora daqui? – pergunta Murilo surpreso. — É sim – responde Flávio sorrindo. Ele estende sua mão em direção ao menino — Vamos? Murilo dá dois passos se afastando do casal, com receio, enquanto olha em direção ao portão do orfanato: — Eu não posso sair daqui – fala o menino, amedrontado. — Por que não? – pergunta Beatriz, nervosa com a reação do menino. —Eu disse pra vocês... Eu só posso sair daqui com um pai ou uma mãe... Ou os dois. – responde Murilo que recebe dois enormes sorrisos com lágrimas em sua direção — Por que estão sorrindo e chorando? — Por nada – responde Beatriz enxugando suas lágrimas. Ela estende sua mão em direção ao menino — Se o problema é você não ter pais, ele está resolvido. Prazer, Murilo, eu sou sua mãe. — E eu sou seu pai – completa Flávio ao menino que os encara admirado. — Agora, que tal irmos para casa? — Por mim tudo bem – responde Murilo tímido. O menino ergue sua mão com calma em direção a mão de Beatriz e então segura fortemente. Depois faz o mesmo com Flávio. Os três caminham animados em direção ao portão do orfanato, onde Murilo hesita em passar por alguns instantes. Ele olha para trás observando as crianças brincando no pátio, com certa tristeza.  Olha para Flávio e depois Beatriz, oferecendo seu melhor sorriso, então voltam a caminhar em direção ao carro, onde Murilo fecha os olhos rezando para que aquela fosse sua última vez.   **** — Qual a cor da minha casa? – pergunta Murilo admirando a paisagem. — Amarela – responde Beatriz sorrindo em direção a Flávio que dirige. —E tem livros nela? —Tem uma biblioteca enorme – responde Flávio. —E tem geladeira? – pergunta Murilo, curioso. —Tem sim – responde Beatriz olhando para trás – Por quê? —Para por sorvete dentro – responde Murilo erguendo os braços. — Tem piscina? —Tem piscina – responde Flávio sorrindo. — Hum... E tem quarto? — Vários quartos – responde Beatriz sorrindo das perguntas do menino. — Sério? Tem até pra mim? – pergunta Murilo com os olhos arregalados. —Que tal você verificar com seus próprios olhos – propõe Flávio estacionando. Ele abre a porta para Murilo que desce do veículo animado. Depois vai até a porta de Beatriz, ajudando a esposa a descer. —Uau – solta Murilo admirando a entrada da mansão. Ele se vira em direção ao casal — Vocês disseram que era uma casa e não um castelo. **** O tamanho da casa estilo colonial feita de arenito amarelo claro que pertence ao casal, deixa Murilo deslumbrado. Todas as janelas mantêm o estilo do século XIX. As portas principais são feitas de madeira bordo. As paredes são brancas e com vários quadros pendurados, alguns são retratos dos antepassados de Flávio. No teto, lustres antigos de cristal. O piso de madeira parece ter sido encerado recentemente de tão brilhoso. Eles seguem até o final do corredor onde tem uma belíssima escada principal que os leva para o segundo andar. No pé da escada Leninha e Miranda os aguardam com um enorme sorriso no rosto. Elas se aproximam de Murilo que se esconde no braço de Flávio que sorri com o gesto do garotinho. —Murilo, essa é a Dona Helena – apresenta Flávio — Ela é a governanta da casa e cuidará de você. —Olá Murilo – cumprimenta Leninha se abaixando com certa dificuldade —E essa é a sua avó – fala Beatriz apontando para Mirando que se abaixa, ficando na altura de seu neto — Miranda. — Já disseram que você é um menino muito bonito? – pergunta Miranda — Já sim, mas eu não acredito – responde Murilo fazendo os adultos rirem. — Seu Flávio – começa Leninha se aproximando do patrão — Seus pais ligaram... — Eles não virão, não é mesmo? – completa Flávio, sério. —Disseram que surgiu um imprevisto... E tiveram de permanecer em Cambridge. — Que tal a Leninha levar você para conhecer a biblioteca da casa? – propõe Beatriz abaixando ao lado do menino. —Mas vocês vão vir juntos, né? – pergunta Murilo olhando para Beatriz. —Claro que sim – responde Beatriz. — Nós já vamos. —Então, tudo bem – responde Murilo segurando na mão de Leninha. Eles observam Leninha e Murilo caminharem pelo corredor até chegar à enorme porta de madeira que Leninha abre, dando acesso para Murilo admirar a enorme biblioteca com suas imponentes estantes de madeira que vão até o teto, repleta com os mais diversos livros. —O que foi? – pergunta Beatriz encarando Flávio. — Meus pais se recusaram a conhecer o Murilo – revela Flávio, irritado — Essa é a forma deles dizerem que não permitirão que o Murilo utilize o nosso sobrenome. — Ou talvez realmente tivessem um imprevisto – argumenta Miranda tentando ser otimista. —Por que você não liga para eles Flávio, e tira essa dúvida? – propõe Beatriz. —Sim, farei depois. – responde Flávio abraçando Beatriz — Agora quero comemorar a chegada do nosso filho *** Murilo caminha de boca aberta admirando cada canto do lugar, até chegar ao globo antigo comprado pelo bisavô de Flávio que se aproxima. —Uau – exclama Murilo girando o globo devagar. Ele olha para Flávio e pergunta — Você já conheceu todos esses lugares? — Uma boa parte – responde Flávio. — Usando o ** de pirilimpimpim? – pergunta Murilo, curioso. —Exatamente – responde Flávio sorrindo. Ele se aproxima da orelha do menino— Quer saber onde eu o guardo? — Quero – sussurra Murilo para que as mulheres não possam escutar o grande segredo. —Eu o espalhei em todos esses livros, assim só um grande aventureiro poderá usá-lo – responde Flávio erguendo os braços — Você é esse aventureiro? — Sim, senhor! – responde Murilo animado. — Então, Sir Murilo, se ajoelhe – pede Flávio se afastando. Ele se levanta e diz em voz alta — Pelo poder concedido a mim, eu declaro você, Sir Murilo: o aventureiro. Beatriz, Miranda e Leninha batem palmas enquanto Flávio abraça Murilo. Eles saem da biblioteca e continuam o tour até chegar ao lado externo da mansão, onde a piscina os aguarda, bem chamativa. Flávio coloca Murilo nos ombros e pula na piscina sem pensar duas vezes, para o desespero de Miranda que entra em busca de toalhas e roupas para eles. Beatriz enrola um pouco na beirada da piscina, mas acaba sendo puxada para dentro por Flávio, sob gritos de Murilo que incentivava o lorde a puxá-la.  Os três então se divertem dentro da piscina até os últimos raios de sol desaparecer no horizonte. Bee ajuda seu filho a se secar, enquanto Flávio ajeita as roupas que o menino irá vestir. Depois de todos arrumados, eles caminham até a sala de jantar para saborear a refeição preparada por Leninha. Mas o que Murilo quer mesmo é a sobremesa que não demora a ser servida. Os quatro estão saboreando o sorvete de flocos, quando Murilo olha em direção a janela por um tempo, com um olhar triste. Ele volta a tomar o seu sorvete, mas não com a mesma vontade de antes, chamando a atenção de Flávio e Beatriz. — Está tudo bem, Murilo? – pergunta Beatriz, preocupada. — Sim... – responde o menino, triste. — Tem certeza? – questiona Flávio encarando Murilo. —Tenho... É só que daqui a pouco preciso ir embora – responde Murilo. — Ir embora para onde? – pergunta Miranda, sem entender. —Pro orfanato, oras – responde Murilo comendo mais um pouco de sorvete. — Murilo – chama Beatriz atraindo atenção do menino — Você não vai mais voltar para o orfanato. —Tem certeza? – pergunta Murilo, com receio. —Absoluta – responde Flávio —Essa é a sua casa agora. Sua casa para sempre. —Mesmo, mesmo? – questiona Murilo mais uma vez. — Sim, por que a preocupação? – pergunta Beatriz. — É por que foi isso que a última família disse e eu acabei voltando pra lá – responde Murilo, sério — E eu não quero voltar pra lá. Porém, se quiserem me enviar pra lá, eu entendo.  As outras já fizeram isso também. Beatriz solta sua colher tentando conter a emoção, enquanto Flávio observa o menino terminar seu sorvete tranquilamente. Ele esfrega os cabelos de Murilo que sorri. ****      Após o sorvete, Miranda foi embora e Beatriz, Flávio e Murilo fizeram uma noite de filmes no quarto do casal que deixaram o menino escolher o filme que gostaria de assistir. Não foi surpresa quando o menino escolheu uma animação para a família que assistiu animada ao desenho. No segundo filme, Murilo já adormecia entre Beatriz e Flávio que o levou nos braços até o quarto decorado com os personagens do Sítio especialmente para ele. Flávio coloca seu filho na cama, enquanto Beatriz o cobre. Ambos dão um beijo de boa noite no menino e voltam para o quarto para dormir também. Flávio deita na cama, pega seu livro de cabeceira e o folheia negligentemente, chamando atenção de Beatriz que terminava de vestir sua camisola. Ela deita ao lado do marido, colocando a cabeça em seu ombro: —Em que está pensando, meu amor? – pergunta Bee acariciando o peitoral de Flávio. — Nos meus pais... Eu sabia que eles iriam dificultar as coisas com a adoção do Murilo, mas não a esse ponto de recusar a conhecê-lo. — Amor, talvez tenha realmente acontecido um imprevisto. – argumenta Beatriz. — O único imprevisto é que eles não contavam que o herdeiro do título fosse adotar uma criança e assim colocar a hereditariedade dos Wilkinson em risco – comenta Flávio. — E agora? – questiona Beatriz. —Agora, para o meu pai permitir que o Murilo utilize o nosso sobrenome, só existe duas opções: aceitar o Murilo e com isso colocá-lo na linha de sucessão ao ducado, ou... —Ou? —Ou, ele solicita que eu abdique do meu direito e dos meus títulos e assim fico livre das minhas responsabilidades. Eu me torno um cidadão comum. — E você seria capaz de abdicar da nobreza para dar o sobrenome ao Murilo? – questiona Beatriz, preocupada — Eu sou capaz de tudo pelo Murilo, Bee. – responde Flávio beijando a testa da esposa — Mas não se preocupe meu pai não exigirá isso de mim, tenho certeza disso. Agora vamos dormir. – finaliza desligando o abajur. Porém a noite de sono não dura muito e eles escutam gritos vindos do quarto de Murilo os fazendo acordar desesperados. Assim que eles chegam ao quarto encontram Murilo chorando. Eles sentam na cama o abraçando, enquanto ele explica o pesadelo que teve.  Os três ficam no quarto do menino e acabam adormecendo. **** Aquela não foi a última noite de pesadelos de Murilo e também não foi o único problema a surgir após a chegada do menino, já que era tudo novo para os três.  Flávio continuava com vários trabalhos, bem como Beatriz, se esforçando ao máximo para não deixarem o menino sozinho por muito tempo, algo bem difícil, devido à rotina. Todas as vezes que saíam, Murilo tinha ataques de pânico, achava que a qualquer momento a assistente social viria buscá-lo Na escola, Murilo enfrentava dificuldades em acompanhar a turma, bem como estava sempre envolvido em alguma briga, fazendo com que a diretora sempre chamasse seus pais. Em uma dessas brigas, Murilo acabou machucando o nariz a ponto de fazê-lo sangrar, para o desespero de Beatriz que foi chamada a comparecer ao hospital por conta disso. Ela o conduz até o carro, ajudando a entrar, enquanto o menino segura uma bolsa de gelo no nariz. Bee entra no carro e dirige em silêncio, enquanto pensa no que pode estar acontecendo com o menino: — Desculpa – pede Murilo de cabeça baixa. — O que está acontecendo com você, Murilo? – pergunta Beatriz, preocupada. — Nada – responde Murilo — Eu sou defeituoso... —Você não é defeituoso – n**a Beatriz olhando para Murilo — Quem disse isso pra você? —Os outros – responde Murilo, triste. — Que outros? Seus coleguinhas? – pergunta Beatriz. —Não, meus outros pais – responde Murilo encarando Beatriz que estaciona o carro abruptamente. Ela encara o menino que continua — Eles disseram que sou defeituoso... Que sou uma criança que não merece um lar. Alguns... Batiam-me pra tentar me consertar, outros me queimavam, ou me colocavam nas pedrinhas... Alguns me ensinaram a fazer coisas no corpo deles para que eu pudesse aprender a não ter mais defeito. Porém nunca conseguiram me consertar... Então me devolviam. — Mu – começa Beatriz bem devagar— Você está brigando com seus amiguinhos para mostrar para mim e para o Flávio que você é defeituoso? —Não – responde Murilo encarando Beatriz. Ele abaixa a cabeça — Eu estou brigando com eles porque eu estou gostando de morar com vocês. — Não entendi – fala Beatriz — Por que brigar com eles é uma forma de demonstrar que gosta de ficar conosco? — Não é uma forma. É que... Se eu gostar muito de vocês... E você me devolverem, eu vou ficar muito triste. Como eu ainda estou só gostando... Se eu brigar, vocês vão me devolver e eu não vou ficar tão triste. Entendeu? —Entendi sim – sussurra Beatriz que volta a dirigir — É melhor irmos para casa, a Leninha irá cuidar desse seu novo machucado. —Será que dessa vez ela pode colocar o curativo do Hulk? – pergunta Murilo fazendo Beatriz soltar um leve sorriso. **** — Quer dizer então que ele está brigando para que a gente possa devolvê-lo antes que comece a gostar de nós? – questiona Flávio deitado na cama. Ele abraça a esposa. — Basicamente isso – confirma Beatriz, triste. — De onde ele tirou que nós iremos devolvê-lo? – questiona Flávio inconformado. — Não sei amor.  Nós vimos sua ficha, não somos os primeiros a tentar adotá-lo... Talvez nós... Esquece – diz Beatriz ajeitando os cabelos. —Fale Bee. O que acha que pode ser? – pergunta Flávio, preocupado. — E se nós estivermos passando a mensagem de que não somos a família dele? – pergunta Beatriz nervosa. Ela olha para o marido e pergunta — Você alguma vez já cogitou a hipótese de devolver o Murilo? —Não claro que não – pergunta Flávio rapidamente — E você? —Não, mas algo que nós estamos fazendo está mostrando isso pra ele. – comenta Beatriz. — Talvez ele não se sinta da família – alega Flávio. —Impossível, minha mãe adora ele. Já até pedimos para ela maneirar com os presentes durante esses meses que se passaram – comenta Beatriz. — O problema não está na sua família, mas na minha – revela Flávio — Ele não consegue se conectar com a minha família e vive dentro da história dela. — E o que sugere? – pergunta Beatriz acariciando o peitoral do marido. — Cambridge – responde Flávio recebendo um olhar surpreso de Beatriz — Está na hora de Murilo ir a Cambridge conhecer os meus pais. — Flávio, você sabe que se irmos a Cambridge, seu pai tocará naquele outro assunto. – recorda Beatriz —Eu sei, mas estou fazendo isso pelo nosso filho – responde Flávio.   
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