Ela não estava muito disposta, seu pai a questionou por não ter almoçado, mas Hannah não poderia contar-lhe o verdadeiro motivo, não por agora. Ele dirigia enquanto contava os detalhes da reunião, ela tentou o máximo ouvir atentamente, porém seu cérebro estava numa luta psicótica contigo e falhava vez ou outra.
Com passos rápidos e firmes ele caminhava para dentro do recinto após estacionar em sua vaga especial. Hannah apertou o passo e logo o alcançou no saguão.
_ Boa tarde senhores o senhor Otávio já começou a reunião. – informou a secretária para os senhores que chegavam.
O elevador ficou lotado com rapidez e Hannah se sentia abafada. Parecia que aquelas longas paredes de ferro iriam lhe apertar até perder o ar, ela tinha que sair dali rápido. Seus olhos acompanharam o indicador acima da porta indicar o andar desejado e suspirou aliviada quando as portas se abriram.
_ Bom dia senhor Mark, estávamos planejando de fazer os produtos com sua marca o que acha? – Otávio alcança seu patrão assim que sua presença tomou lugar naquele andar, e Mark o olhou satisfeito. A loja de roupas que ele tinha acabado de abrir já estava fazendo sucesso.
_ Acho bom será um ótimo negócio o que acha Hannah . – se virou para a filha, mas aquela altura nada mais entrava em sua cabeça, tudo estava girando e ela soube que suas pernas não suportariam por muito tempo o peso do próprio corpo.
_ Eu não estou me sentindo muito bem – levou a mão até a cabeça e fechou os olhos na tentativa de retomar o equilíbrio, mas a consciência a denunciou.
Quando abriu os olhos se encontrou no quarto de um hospital. As paredes eram beges, as cortinas brancas impediam que a luz solar entrasse no cômodo, olhando em volta notou que era a única ali. O médico passou pela porta com uma prancheta em mão analisando e sorriu ao vê-la acordada.
_ Que bom que acordou senhorita Marques, preciso te fazer algumas perguntinhas.
_ Onde está meu pai?
_ Ele precisou sair, mas logo retornará, sua mãe está vindo te ver.
Ele sentiu o incômodo perturbador no olhar da jovem e sorriu amigavelmente na tentativa de deixá-la melhor.
_ Você sabia que estava grávida?
Aquela pergunta a pegou de surpresa e ele notou isso, respirou fundo e sentou nos pés da cama.
_ Sabe que terei que informar seus pais, não sabe? É melhor que eles saibam traves de você. Ou prefere que eu diga?
_ Não, pode deixar, direi assim que chegar em casa. – pediu nervosa.
_ Está bem, você já passou no médico para ver os medicamentos e vitaminas?
_ Sim.
_ Ta bom, então já está dispensada. – seu aparelho apitou em seu bolso do jaleco, ele observou a mensagem e sorriu – sua mãe já chegou.
A senhora Marques estava acompanhada por Otávio era ele quem havia lhe trazido e permanecido ali a espera de alguma informação sobre a filha do patrão.
_ Você está bem querida? – sua mãe lhe abraçou preocupada.
_ Sim mãe, o médico disse que foi só a queda de pressão. Hoje está muito quente. – sorriu fraco, mais calma do que imaginou que ficaria.
_ Está mesmo, que bom que foi apenas um susto, pedirei para o Otávio te levar para casa, terei que ir até a empresa, tudo bem?
_ Perfeito.
_ Faria isso por mim? – se virou para Otávio.
_ Sim senhora.
_ Até mais tarde minha querida. – ela beija a testa da filha sem deixar de afagar seu cabelo e logo se retira.
_ Venha, estacionei logo ali.
Ele seguiu na frente, Hannah o seguia pensando em como adiar a noticia que mudaria a vida de todos em casa, seu pai era do tipo certinho que nunca admitiria que sua filha solteira fosse mãe, e ela sentia que não tinha muitas alternativas a escolher, tinha que pensar em alguma coisa.
_ Você está bem mesmo?
A pergunta do Otávio a pegou de surpresa e voltou em si, estavam a caminho de casa e com sua forte distração nem notou que já tinham embarcado no carro e dado a partida.
_Sim, acho que esse calor está me fazendo muito m*l. – passou a mão na testa.
_ O que vai fazer mais tarde? – quis saber.
_ Vou dormir e descansar, por quê?
_ Estava pensando em te levar pra jantar.
_ Vamos deixar para outro dia.
_ Combinado. – sorriu a olhando pelo retrovisor fazendo-a devolver o sorriso – chegamos, está entregue.
_ Obrigado Otávio.
Ela entrou em sua casa e subi correndo direto para seu quarto e trancou a porta encostando-se nela, mesmo sabendo que mais ninguém estaria lá temeu por imaginar alguém tentando abri-la. Sua mãe mataria quando lhe contar que estava grávida.
O que foi que fiz? Sair com o Jonathan assim e nem nos prevenir, a culpa era minha, o que eu tinha na cabeça? – culpou-se.
Por um momento o desespero tomou conta dela, agarrou a toalha e correu pro banheiro pra jogar uma água no corpo.
Não foi fácil pegar no sono, sua mente trabalhando freneticamente a impedia de pensar em qualquer coisa sólida, mas tinha que tentar. Depois de várias tentativas pôde enfim dormir.
Acordou com o despertador a tocar, eram oito da manhã de sábado, era o dia que sua irmã voltaria dos Estados Unidos. Fez então sua higiene pessoal e se vestiu não se demorando em descer pro desjejum.
Todos estavam à mesa já tomando o café da manhã, sua mãe lhe lançou um grande sorriso a vê-la entrando.
_ Bom dia família! – saldou todos, feliz pela boa disposição.
_ Bom dia filha, pelo jeito dormiu muito bem. – sua mãe disse pegando sua xícara de café.
_ Sim. – sentou-se à mesa.
_ Está melhor querida? – papai pergunta se servindo para ela.
_ Estou sim – sobre a mesa alcançou um pão de queijo e se serviu um pouco de cappuccino, por incrível que pareça ela estava faminta essa manhã.
_ Filha preciso que você busque sua irmã no aeroporto, irei pra uma reunião no Rio.
_ Pode deixar.
Hannah sentia mais feliz com a irmã em casa, sabia que teria alguém para conversar e não via a hora dela chegar.
Após a refeição todos foram para a empresa deixando-me assim em casa ansiosa observando o relógio fazer seu famoso 'tique-taque'.
Quando à hora finalmente chegou, Hannah já estava à espera de sua irmã. A cabine onde os passageiros do avião 859 sairiam estavam lotados, muitos dos passageiros passavam por ela com malas e bolsas de viagem. A ansiedade não permitia que Hannah se acalmasse e isso só aconteceu depois que seus olhos encontraram sua irmã em meio a multidão.
_ Maninha! – Júlia dois anos mais nova que Hannah lhe abraça forte, feliz por estar enfim em casa.
_ Que saudades sua pequena!
O abraço demorou mais um pouquinho, até que se separam.
_ Como foi a viagem? Os Estados Unidos superou suas expectativas? – Hannah quis saber ajudando com as malas enquanto começavam a andar.
_ Sim! Foi muito bom, conheci um garoto muito lindo saímos algumas vezes, mas como não moramos no mesmo país ficaria difícil um relacionamento. E você, novidades?
_ Ah eu fui para uma festa há algumas semanas com algumas amigas.
_ Sério? Como foi?
_ Pensei que a mamãe tinha te contado.
Elas alcançam o carro e colocam as malas no porta-malas.
_ Não, não conversamos sobre isso. Mas me diga, você saiu com alguém?
_ Sim. – Hannah sorriu sozinha ao relembrar da noite que marcou sua vida – ele se chama Jonathan, aquele que eu te falei algumas vezes.
_ Sério? Ele finalmente te notou?
_Não só isso. – Hannah entrou no carro e deu a partida – nós tivemos um lance bem bacana.
Um lance não era o nome ideal para descrever aquela noite. Ela queria dizer excepcional, mas contar os detalhes para sua irmã caçula a colocaria contra a parede e automaticamente cairia no choro ao imaginar da gravidez indesejada, então guardou para si aquele momento.
_ Quem diria hein, arrasando corações! – ela sorriu divertida.
Julia contava todas as suas experiências nos Estados Unidos enquanto estudava e Hannah contente escutava tudo com atenção.
Após o banho Hannah ouve murmúrios no andar de baixo, olhando à hora em seu celular nota que já passa das sete, certamente Otávio a esperava para o jantar. Após se vestir, ela desce para o seu compromisso e vê seu amigo conversando divertidamente com sua irmã.
_ Podemos ir? – pergunta recebendo a atenção.
Otávio para por alguns instantes e observa a dama no vestido preto listrado e vê o quão magnífica a filha do seu chefe estava e sorriu.
_ Com certeza. – ele se vira para a Julia – até mais pequena. – passa a mão em seu cabelo espalhando seus fios.
Ao lado de Hannah, Otavio segue até o carro e embarcam.
_ Para onde vamos? – pergunta Hannah alcançando o espelho retrovisor e o abaixa para ver seu reflexo nele.
_ Gordon Ramsey.
_ Nossa, é o meu restaurante preferido. – ela se anima vendo o amigo sorrir por ter acertado o lugar praquela noite.
_ O meu também, olha que bacana temos uma coisa em comum. – comenta extrovertido enquanto dirigia.
_ Quem imaginaria.
_ Não é?
O caminho até lá foi tranqüilo e um tanto silencioso, Hannah observava o movimento dos carros enquanto acidentalmente seus pensamentos a levam para aquela noite em que realizara o melhor sonho de sua vida. Jonathan nunca lhe mandou mensagem depois daquilo e nem a procurou, não é que Hannah esperasse algo desse tipo vindo dele, sabia da fama de garanhão que ele tinha e temeu por um instante ao imaginar ela sendo apenas mais uma que caiu nas artimanhas dele.
Imaginou por alguns instantes quantas garotas ele deve ter levado em seu apartamento antes dela e quantas observaram seu corpo nu, como ela fez antes de partir. Ele deve ter feito muitas outras suspirarem antes dela e Hannah se entristeceu por estar só de passagem em sua vida.
_ Chegamos.
A voz de Otávio a fez voltar de volta para dentro do carro, ao lado ela vislumbrou a entrada excepcional do restaurante e sorriu ao imaginar saborear seu prato favorito. Otávio como qualquer outro cavalheiro lhe abriu a porta permitindo que os funcionários engravatados dali vissem a maravilhosa dama a quem lhe fazia companhia. O motorista lhe pediu a chave para que pudesse levar o veiculo para o estacionamento do restaurante e assim ele fez.
Hannah caminhava elegantemente enquanto Otávio tocava sutilmente nas costas enquanto a guiava para dentro.
_ Sejam bem-vindos ao restaurante Gordon Ramsey, têm reserva?
A mulher sorria amigavelmente, estava em pé atrás de um balcão que continha apenas um computador, seu vestido de marca da cor vinho combinou perfeitamente com seus olhos escuros, o cabelo solto ficou perfeito.
_ Otávio Guimarães. – respondeu sorrindo.
A mulher consultou o computador e sorriu ao ver aquele nome na lista.
_ Por aqui, por favor. – disse guiando-os para o interior do recinto.
Tudo era muito bem elaborado, mesas de casais ficavam perto dos violinistas, os que haviam mais de três lugares ficavam no sentido contrario, mas tudo ali era bem agradável e confortável.
Após a recepcionista levá-los até seus lugares se retirou, dando a vez para o garçom que estava à espera.
_ Boa noite, sou Caio e sou eu quem vai lhes atender essa noite. – o jovem não mais de vinte e cinco anos sorri.
_ Boa noite – Otavio abre o menu muito bem elaborado e observa – vou querer um filé de salmão com arroz e vinho branco.
_ Eu quero cogumelos recheados e uma porção de salada, e um suco de laranja natural.
_ Fez um ótimo pedido, só um instante. – o jovem sorri anotando tudo no caderninho e se retira.
_ Você tá bem mesmo? – Otávio brinca.
_ Sim por quê?
_ Você pediu um suco ao invés do vinho. – sorri.
_ Tudo tem uma primeira vez - ela também sorri e dá de ombros.
Sabia que agora com a gravidez não pode tomar nada alcoólico e começará a comer comida bem mais saldáveis.
_ Verdade, o que você pretende fazer agora que terminou a faculdade?
_ Não sei o certo, mas enquanto não decido pretendo trabalhar com meu pai.
_ Isso é bom, assim eu vou poder te ver mais vezes – brinca olhando em volta.
Hannah sorri pelo bom humor dele e observa o garçom se aproximar com os pratos sobre um pequeno carrinho, pôs tudo sobre a mesa e colocou o pequeno balde de metal com gelo e o vinho dentro no canto já enchendo a taça de Otávio.
_ Obrigada. – Hannah sorri para ele que sorri e se retira. E volta sua atenção para o amigo – você trabalha com meu pai há muito tempo?
_ Já tem sete anos, comecei como estagiário. – diz orgulhoso por ter conseguido manter o cargo após o fim do estágio.
_ Ele gosta muito de você. – comenta espetando seu cogumelo e o levando até a boca.
_ Eu também gosto muito dele, porém gosto ainda mais da filha dele. – brinca bebericando seu vinho.
_ Eu também gosto de você – ela sorri tímida
_ Não do jeito que eu queria – ele deposita a taça sobre a mesa e sorri fazendo-a sorrir um tanto constrangida.