Rapidamente, me abaixo e me escondo na mesa de Jacob. Olho para Jacob, que está com o olhar mais confuso do mundo todo. Então ele se abaixa e se senta ao meu lado.
— Alison, me dá um motivo para não interna-la, por favor?
Mesmo sentado, sua cabeça está passando da altura da mesa, e vejo que ele está desconfortável em se encolher todo vestido num terno.
— Eu vim te pedir desculpas pela maneira que agi ontem. — Digo, tentando fazer ele ignorar minha súbita maluquisse.
— Por que agiu daquela forma? — Ele me pergunta.
Outra pergunta que não posso responder.
— Que tal um jantar? Eu p**o. A gente sai, você me perdoa. Que tal?
Então, mesmo parecendo tenso, Jacob ri balançando a cabeça.
— Você não vai me contar por que estamos sentados detrás da minha mesa e muito menos por que brigou comigo noite passada, não é?
— Oferta única, jantar com direito a sobremesa. — Insisto e dou o melhor sorriso fofo que consigo.
Jacob olha para frente, respira fundo, de olhos fechados e quando os abre, está olhando pra mim com um pequeno sorriso.
— Amanhã as 7?
Assinto.
— Perfeito! E ao fim dessa noite, você vai ter me perdoado e vamos ser como sempre fomos. Bons amigos.
Jacob está olhando nos meus olhos. E embora pareça desconfortável, não é. A proximidade, o olhar, a beleza dele, tudo isso me faria dizer algo desconcertante para sair dessa situação o mais rápido possível. Mas eu estou gostando. Não é desconfortável para mim, é divertido, excitante e me faz sentir bem.
Não é desconfortável nem mesmo quando Jacob começa a intercalar os olhares entre meus lábios e meus olhos. E muito menos, quando eu faço o mesmo. Eu me sinto à vontade. Me sinto desejada.
Então escutamos dois toques. Como se alguém estivesse batendo num vidro.
Jacob virar a cabeça para olhar.
— Ah! Olá, tia Mary! Como vai a senhora?
Mary?
Vou me levantando para ver, mas Jacob põe a mão na minha cabeça e a força para baixo. Para continuar escondida.
— Oi meu querido, estou muito bem. Você viu Alison? Ela disse que ia ao banheiro, mas acho que se perdeu.
Jacob balança a cabeça.
— Alison está na empresa? — Ele pergunta.
Há uma pausa silenciosa.
— Sua secretária disse que ela entrou aqui. — Mary fala com desconfiança na voz.
Jacob se mexe ao meu lado.
— Ah! Alison! Sim, ela passou aqui para dar um "oi", mas já foi. Deve estar procurando o banheiro desse andar.
— Vou continuar procurando então. — Mary avisa.
Após alguns segundos, Jacob volta a sentar ao meu lado.
— Essa foi por pouco. — Ele diz suspirando.
Não consigo evitar e caio na gargalhada.
— Por pouco? Você é o pior mentiroso que conheço.
Jacob dá de ombros.
— É você que está tratando isso como se fosse um defeito.
— Touché. — Digo a ele.
— Por mais que eu goste de ficar sentado no chão escondido atrás da minha mesa de trabalho com você, acredito que a Tia Mary está procurando você pela empresa toda, então... — ele diz fazendo uma careta.
Com cuidado, checo o lado de fora para ver de a barra está limpa. Sem sinal de Kiara ou de Mary.
— Então vou indo. Até amanhã. — Me levanto e passo a mão na minha calça, tirando qualquer poeira vinda do chão.
— Até amanhã.
Saio da sala de Jacob e vou atrás de Mary. Não demoro para encontrá-la em frente ao banheiro feminino.
— Vovó! Estou aqui. — Digo quando me aproximo.
— Onde você se meteu? Estou te procurando há um tempão!
— Eu acabei me perdendo e lembrei daquele banheiro que vimos no térreo, então fui até lá.
— Alison, meu Deus, aquele banheiro é quase um banheiro público, na próxima vez, use os banheiros que temos próximo as salas.
Banheiro público? Quando fui humilhada numa audição nessa empresa, aquele foi o único banheiro que me mostraram.
— Tudo bem, agora já sei onde tem um. — Aponto para o banheiro feminino que estamos em frente.
— Eu não acredito que estou há um tempão esperando alguém que nem conheço sair desse banheiro. Achei que fosse você! — Ela exclama. Dou uma risada e ela me dá um tapinha carinhoso no braço. — Vamos tomar um café.
Acompanho Mary. Saímos da empresa e vamos até uma cafeteria próxima. Sentamo-nos no lado de fora. É uma bela cafeteria estilo vitoriana. Mary pede dois cafés para nós então põe os braços sobre a mesa, com as mãos entrelaçadas.
— Então...queria conversar com você. — Ela diz.
Sinto meu coração palpitar. Lisa não sabe que estamos aqui e algo me diz que isso foi proposital.
— Claro! Sobre o que a senhora quer falar?
— Você sabe que ameacei deserdar Lisa pelo que ela fez com você. Quando eu descobri...nossa, foi um baque. E então ela trouxe você para provar que aquilo são águas passadas e você já a perdoou.
Aquilo? O que é aquilo? O que diabos aconteceu?
De repente, um medo me sobe. Me dou conta que estou assumindo a identidade de alguém, fazendo escolhas por ela, escolhas que podem mudar a vida dela para sempre.
— Sim, eu sei.
— E como está? Isso é verdade?
Respiro fundo. Eu preciso saber mais sobre o que aconteceu. Eu preciso entender a situação, antes de fazer essa escolha por Alison.
— Na verdade, vovó, eu ainda estou pensando sobre isso. Mamãe tem sido ótima, mas não consigo te dar uma resposta agora sobre isso.
— Claro. Claro. Eu entendo. Bom, você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, não hesite em falar comigo se Lisa fizer algo. — Ela diz a mim.
Assinto.
— Obrigada, vovó.
A garçonete chega com os cafés e começamos a conversar sobre a família. Mary me conta sobre todos os acontecimentos importantes dos últimos 7 anos.
Ela me contou sobre o Natal que o Peru foi abolido pelos veganos da família. Me contou sobre a cirurgia de siso do tio Marc, sobre o aniversário de 16 anos de Kim.
Aparentemente, Alison perdeu muita coisa. E eu não consigo ver motivo para me afastar dessa família, são todos tão unidos e amorosos uns com os outros. Estou decidida a saber o que aconteceu com Alison, antes de tomar mais uma decisão em nome dela.
Não demoramos muito na cafeteria, Mary recebe uma ligação e voltar a empresa. Então decido voltar para casa, já que tenho que dar o remédio de Harry em algumas horas.
O motorista da família me leva em casa. Está perto da hora do almoço, um dos empregados me pergunta o que vou querer para comer e peço apenas um sanduiche com suco. Não demora para me trazerem e vou comer na sala de cinema, enquanto ponho minhas séries em dia.
Antes que eu perceba, já está na metade da tarde e Kim e Jenifer aparecem, ainda com o uniforme da escola. As duas vieram me ver e falar sobre a festa. Conversamos por alguns minutos, até eu interrompê-las para pegar o remédio de Harry.
— Ele toma direitinho? — Jenifer pergunta.
— Esse bobão? É só enrolar num pedaço de presunto, ou vocês acham que ele tá desse tamanho atoa?
Elas riem.
—Eu posso dar? — Kim pergunta.
Dou a pílula enrolada em presunto a ela. Ensino a Kim o que ela deve fazer. Gatos são diferentes de cachorros em muitos aspectos. São felinos, parentes de leões e panteras. Você não chega nele falando fofo e passando a mão na cabeça.
Digo a Kim para que se abaixe e primeiramente, ofereça seu dedo a ele. Como esperado, Harry cheira o dedo. Agora digo que ela, ainda por baixo, faça carinho em Harry. E por fim, ofereça o presunto.
Harry cheira o presunto, e com a boquinha fresca de gato, ele vai comendo até não se dar conta que comeu a pílula.
Isso não funciona com todos os gatos, Harry é um caso esfomeado a parte.
—Ah! Ele é tão fofo, dá vontade de apertar! — Jenifer quase guincha falando.
— Você quer ir lá em casa amanhã depois da escola, te convidaria hoje, mas temos treino? — Kim pergunta.
— Na verdade já tenho planos para amanhã.
Jenifer bate palminhas.
— Que legal! Podemos ir?! — Ela pergunta animada.
Hesito.
— Ahn...claro. Na verdade, vou levar Jacob para jantar, para me desculpar.
Kim dá um empurrão em Jenifer.
— Jenifer! Esqueceu que temos treino amanhã também? Não podemos ir. — Kim diz olhando para a irmã.
As duas parecem se entender.
— Ah! Verdade. Temos treino de líder de torcida. Fica pra próxima. — Jenifer fala.
Como atriz, eu devo elogiar a performance das duas.
Não demora para que as duas me encham de perguntas sobre Jacob. Prometi a elas que não há nada demais acontecendo, e fiz a promessa a mim mesma também.
O fato de Jacob me deixar tão à vontade é perigoso e preciso me policiar sobre isso, afinal, é mais uma escolha que vou fazer por Alison. Uma bem importante.
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O final da segunda-feira passou rápido. Mas terça-feira está devagar. m*l dá para imaginar que hoje é meu 4º dia sendo Alison Le Blanc. Parecem semanas.
Passei o dia completamente nervosa. Ansiosa por encontrar Jacob e furiosa por estar ansiosa. Um dia de emoções controversas. Pensei em desmarcar 15 vezes só na última hora. E o pior, eu me ofereci para pagar. Onde diabos posso levar Jacob Le Blanc e pagar a conta sem sair devendo até minhas calcinhas?
Eu conheço lugares, mas não vou levar Jacob para comer burritos, ou hot dogs, ou tacos. Que saudade de uma boa comida de rua. Não que eu esteja reclamando de frutas a vontade, sanduiches de salmão defumado...
Como diabos vou voltar a minha vida antiga depois disso?
Perto das 7, decido então ligar para Peyton. Se tem alguém que pode me ajudar, é ela. Peyton me fala de um lugar legal próximo a casa dela, onde uma ex namorada dela toca. Um bar vintage com música ao vivo.
Decido então que esse será o lugar e vou me arrumar. Decido por um visual mais noite e Rock and Roll. Um coturno no pé, com certeza, uma calça jeans rasgada, embora caríssima, um cropped preto de mangas longas e detalhes como se fossem rasgos no b***o e no braço direito. Ponho um cinto quadriculado vermelho, uma maquiagem básica com lápis de olho e resolvo prender minha juba.
Faço um r**o de cavalo bem volumoso, o que não é difícil, visto que volume é a interpretação perfeita do meu cabelo.
Combino isso com uma velha bolsinha preta que m*l cabe meu próprio celular e já são 7 horas quando termino de me arrumar e fico esperando Jacob, até ouvir o som de um carro parando no lado de fora.