Da minha janela consigo ver Jacob. Saio do quarto às pressas, até que tento me conter, e vou mais devagar. Chego à porta da frente assim que a abro, preciso tomar fôlego. Jacob hoje penteou o cabelo e usou gel. O cara parece ter pulado pra fora de uma revista, com todo aquele photoshop e parado aqui na minha frente, perfeito assim.
Ele ta usando um jeans escuro que se encaixa perfeitamente no seu corpo, como se o costureiro tivesse feito a calça em volta do seu corpo. Na parte de cima, ele usa uma camisa de botões, com os dois primeiros abertos, mostrando uma pequena parte do seu peito. Mas é claro que a camisa, embora apertada nos braços, esteja perfeita também.
E ele abre um sorriso.
E nesse momento, eu sinto que virei uma amoeba.
E o mais incrível? Jacob parece ter a mesma reação que eu.
— Você...você tá...— Jacob tenta falar. E eu nem posso culpá-lo por não conseguir, já que sei exatamente o que ele está sentindo.
— Você também. — Digo a ele.
Apenas respiramos e nos olhamos.
— Eu me lembro a primeira vez que olhei nos seus olhos cinzas. — Ele diz e então, faz um gesto para que eu me aproxime. E eu faço. — Agora, parecem olhos completamente diferentes, embora sejam da mesma cor, seus olhos agora têm uma selvageria...tem história neles.
Jacob toca meu rosto.
— Foram 7 longos anos...— Falo desviando o olhar do dele, mas gentilmente, Jacob traz meu olhar de volta.
— Eu te conheci por 12 anos. E agora é como se eu tivesse te conhecendo de novo. Eu gosto disso. Eu gosto de quem to conhecendo. — Mais uma vez, Jacob fala que gosta de mim. Não de Alison Le Blanc. Mas de Alison Forbes. — E eu m*l posso esperar para ver o lugar que você vai me levar.
— Bom, se você quer mesmo me conhecer, é para lá que estamos indo.
Jacob então vai até o carro e abre a porta para mim. Só então me dou conta que não é o seu carro. É um carro normal, como os dos motoristas da família.
— Cadê seu carro? — Pergunto.
— Aposentado até segunda ordem. — Ele responde.
Entro no carro e espero por ele. Assim que Jacob se senta ao meu lado, começo a enchê-lo de perguntas. Eu não queria que Jacob desistisse do carro. Eu apenas não queria enxergá-lo como os playboys que sempre odiei. Talvez eu tenha exagerado.
— Alison, tá tudo bem. Eu gosto desse carro também. Não tenho problema em dirigir ele. — Ele avisa e sai com o carro. — Então, para onde vamos?
Coloco o endereço no GPS e deixo o resto com Jacob. Já fui ao bar que estamos indo algumas vezes. É um lugar gostoso, música boa, comida boa, bom atendimento. Além de ser o lugar que conseguiu me deixar com a maior ressaca que já tive no outro dia.
Chegamos ao bar e levo Jacob até dentro. Do lado de fora, não conseguimos ouvir tanto a música, mas assim que o segurança abre a porta pra gente, a música ecoa de tão alta.
Vamos nos sentar em um sofá com uma mesa na frente. Daqui conseguimos ver a banda tocando, mas não estamos perto o suficiente para não nos escutarmos mais.
Logo uma garçonete vem nos atender. E eu não sinto a menor falta do meu emprego.
— Sejam bem-vindos, gostariam de pedir algo? — A moça pergunta e aponta para os cardápios na mesa.
Jacob e eu pegamos um cada. Fico aliviada quando vejo que os preços estão na média.
— Vou querer um X-burguer com batata extra...Não, na verdade vou querer um X-bacon. — Digo.
— Eu vou de X-burguer duplo, batata extra e sem molho. Para beber, uma cerveja. — Jacob pede.
— Espera! Na verdade, traz o X-burguer mesmo, e em vez da bebida rosa, traz uma cerveja também...e a bebida rosa. Trás as duas.
A garçonete, fazendo seu trabalho, sorri para nós dois e se retira. Jacob me olha curioso. É, eu sou indecisa, é um dos meus defeitos, tento mantê-lo bem escondido, já que estou interpretando um papel, mas eu sou péssima.
— Jacob Le Blanc, bebendo cerveja? — Provoco Jacob para que ele não tenha a chance de perguntar sobre minha indecisão.
— Eu gosto do sabor, e não é porque cerveja é barata que os ricos não bebem.
—Sério? Já imaginou sua mãe bebendo cerveja? Ou a minha? — Pergunto.
Jacob ri.
— Ah...não. No mínimo um vinho mediano, mas cerveja? Nunca. — Ele diz. — Talvez os ricos sejam realmente mimados. Mas você sabe disso.
Rio com ele. É, eu sei. Mas não por ser.
Logo os lanches e as bebidas chegam e comemos juntos. Conversamos sobre coisas cotidianas, Jacob me fala mais sobre o trabalho dele na empresa e eu tento me esquivar das perguntas sobre minha suposta vida em Paris. Falo coisas genéricas que vi em filmes e seriados, a verdade é que Jacob sabe tanto quanto eu, e até mesmo menos que eu, sobre Paris.
Terminamos nossos lanches e pedimos mais bebidas. Dessa vez peço a cerveja com um drink transparente. Sempre gostei de misturar. O gosto salgado da cerveja com o gosto doce de alguma fruta no drink. Intercalo entre um e outro, exatamente como fiz no dia que estava nesse lugar pela última vez.
Algum tempo depois, eu já estou rindo à toa. E Jacob também.
— Ta aí uma coisa boa de descobrir. Alison Le Blanc bêbada. Com certeza não é algo que eu veria a Alison de 12 anos fazer.
Solto uma gargalhada.
— Não mesmo!
Jacob ri também, e continuamos nos olhando, até que os sorrisos se desfazem. Principalmente o de Jacob.
— 7 anos. Fazem 7 anos desde aquele dia h******l. Eu nem consigo imaginar como foi pra você. — Ele agora, com a voz mais séria.
— Você tá falando...— Tento puxar mais informações dele.
— Do dia que sua mãe expulsou você de casa. O dia que você chegou na minha casa apenas com uma escova de dentes na mão, o rosto sangrando e m*l conseguindo falar. Foi o dia mais assustador da minha vida, eu não sei como você não ficou com uma cicatriz.
Sinto meu corpo gelar.
— Eu nunca pude perguntar o que você achou daquilo. — Digo.
Jacob olha para os lados e dá um longo suspiro.
— Foi aterrorizante. Ver você daquele jeito...E quando meu pai viu...Ele simplesmente saiu correndo pra sua casa, minha mãe te abraçou e eu segui meu pai. E quando a gente chegou na sua casa... — Jacob faz uma pausa e me olha, ele parece estar tentando saber se estou bem, então, dou um olhar encorajador para ele continuar a falar. — Sua mãe estava maluca, com cabelo seu nos dedos, sangue seu na roupa dela e gritando o quanto você tinha inveja dela. Foi quando ela contou que bateu sua cabeça na parede várias e várias vezes.
Fico chocada.
— Ela tentou me m***r?— Pergunto e só então me dou conta da pergunta. — Quer dizer, você acha que ela tentou me m***r?
— Sinceramente? Se você não tivesse perfurado ela com um lápis, eu acho que sim. Ela tava descontrolada, só vocês duas em casa...
Sinto um frio na barriga. Por quê? Por que Lisa fez isso? Não consigo imaginar aquela mulher fina e elegante como o animal que Jacob descreveu.
— Eu nem acredito que passei por isso. Que minha mãe foi capaz disso. — Falo.
— Você parece bem chocada. — Jacob fala, com desconfiança na voz.
— É uma história forte para mim. É sempre chocante ouvir. — Digo tentando disfarçar.
— Você se lembra do que a sua avó disse aquela noite? — Jacob pergunta.
Merda. m***a.
Mil vezes m***a.
Eu sabia que se desenterrasse a vida de Alison assim, uma hora ou outra, teria que responder uma pergunta pessoal.
Olho para os lados, em busca de alguma saída. Vejo a garçonete que nos atendeu e faço sinal para ela vir até a mesa.
— Eu me lembro. Mas chega de falar disso, vamos nos divertir. — Digo com um sorriso e a garçonete chega ao meu lado. — Quatro shots para nós, por favor.
A mulher assente e se retira.
Jacob está me olhando, eu sei que ele está desconfiado, que está achando estranho tudo isso.
— Eu não entendo apenas. Se você se lembra do que a Tia Mary disse, por que está aqui, se dando bem com sua mãe, como se nada tivesse acontecido?
O que diabos Mary falou para Alison?
— Eu estou dando a ela uma segunda chance. — Respondo.
— Você deu a ela uma segunda chance há 8 anos. E a terceira. A quarta. Até que aquilo aconteceu.
Como vou sair dessa situação? O que eu aprendi com improvisação, é que o inesperado distrai e convence.
A garçonete põe as 4 doses na mesa, então vejo a chance.
— Shots! — Grito e começo a virar os copinhos, uma trás do outro. Sem dúvida, vou me arrepender disso alguma hora.
— Que isso? — Jacob pergunta, mas ele agora tem um sorriso confuso no rosto, o que significa que eu consegui distraí-lo.
— Traz 8 doses dessa, por favor? — Peço a garçonete.
De repente, de relance, me vêm à memória que cada dose dessa custa 5 dólares.
— Vamos, bebe comigo! — Peço a ele com um olhar pidão.
Jacob está com uma expressão divertida, parece curioso, mas não o bastante para perguntar. Eu chuto que ele quer ver até onde isso vai dar.
Não demora para a garçonete voltar, e desafio Jacob a tomar um cada. Passamos um tempo sentados rindo de coisas aleatórias, e toda vez que Jacob perguntava algo pessoal, eu o desafiava a beber.
E quando as doses acabaram, puxei ele para perto do palco e dançamos e pulamos juntos. Jacob não conseguiu sequer iniciar uma conversa, pois toda vez que ele abria a boca, eu dava o meu melhor para jogar os braços ao seu redor, jogar a cabeça para trás e fingir que estava muita bebada.
A verdade é que não foi tão difícil fingir. Eu estava completamente fora de mim. Decidimos que era hora de ir embora e eu fui pagar a conta. Por pouco eu não tinha o dinheiro. Jacob e eu entrelaçamos braços para ir embora, enquanto riamos da situação em que Jacob deixou uma gorjeta de 100 dólares sem querer para a garçonete.
Ele quase pega de volta, mas eu não deixei. Sei bem o quanto uma boa gorjeta ajuda. E a mulher ficou tão extasiada que nos agradeceu 3 vezes.
Saímos do bar e de repente, há uma série de flashs em nós. Não demora muito, e logo conseguimos ver dois paparazzis entrando num carro e indo embora.
Eu já me imaginei várias vezes sendo fotografada por paparazzis, afinal, meu sonho é ser uma atriz famosa, porém, a experiência é um tanto desconcertante.
— É. Em breve estaremos em alguma revista ou site. — Jacob diz e dá de ombros. — Ao menos não será mais uma matéria negativa sobre mim.
Ah, sim. Isso é verdade, Jacob tem várias matérias negativas sobre ele. Várias em que ele aparece em festas, visivelmente irritado com o rosto vermelho. As matérias são sempre as mesmas. Um típico playboy de Los Angeles que vive para curtir e não perde uma festa sequer.
A questão é, onde está esse playboy das revistas?
Jacob, por ter bebido, chama um taxi e liga para um motorista buscar seu carro. A viagem de taxi até Bel Air foi divertida, ficamos medindo o tamanho das nossas mãos e foi quando descobri que tenho a mão do tamanho da de uma criança.
— Ah, nem é tão pequena. Quer dizer, nunca vi dedos tão curtos, mas é até fofo. — Ele diz rindo.
Faço uma cara de brava para ele.
— Fofo não é elogio, Jacob.
— Como não? Você é fofa.
— O que acharia se estivesse dando em cima de mim e eu dissesse: "Ah, Jacob, você é um fofo".?
Jacob joga a cabeça para trás rindo.
— Alison, você realmente é uma fofa, ainda não percebeu que estou dando em cima de você desde o momento que pus os olhos em você?
Fico com a boca entreaberta, mas rapidamente me recomponho.
— E você está sendo um fofo. — Respondo.
Jacob estreita os olhos para mim.
— Touché.
E então, caímos na gargalhada juntos. O taxista, obviamente não entendendo nada e nos ignorando por completo. Ao chegar na casa de Mary, Jacob paga o homem e desce comigo.
— Você não vai pra casa? — Pergunto.
— Primeiro vou garantir que você chegue em segurança na sua cama.
Faço beicinho.
— Olha só como você é fofo. — Digo e Jacob revira os olhos.
— Ta. Ta. Você já provou seu ponto. — Jacob fala.
Entramos na casa tentando não fazer barulho, com Jacob atrás de mim o tempo todo. Subimos as escadas e entramos no meu quarto. Imediatamente, Harry vem andando rápido com o r**o levantado e miando escandalosamente.
— Shhhiii! — Repreendo o gato, que não me dá bola e continua seu escândalo.
— O que ele quer? — Jacob pergunta.
— Comer. Esqueci de deixar ração no pote. — Falo já indo colocar a ração de Harry. — Ta bom! Chega, já to colocando.
Despejo a quantidade recomendada no pote, e o gato escandaloso para de miar e começa a comer.
— Minha nossa. Isso é ter um gato? — Jacob pergunta.
— Você não sabe de nada. Esse gordo desastrado já foi inventar de escalar durante a noite e caiu em cima da minha cara enquanto eu dormia. — Falo e Jacob começa a rir antes mesmo de eu terminar a história.
— Bom, então é isso. — Ele diz.
— É isso. — Repito.
— Boa noite, Alison.
— Boa noite, Jacob.
Nosso olhar se pendura um no outro por longos segundos, até Jacob ir embora.
E eu me jogo na cama, e tento dormir, mas estou tão animada que não consigo. Por fim, passo horas em ligação com Peyton até o dia amanhecer e eu finalmente dormir.