Capítulo 11

1457 Words
Levanto-me na quarta-feira bem tarde. Por sorte, Harry não me acordou para comer, então consegui dormir até as 3 da tarde. Eu não lembro a última vez que passei das 10 da manhã. Desço para comer alguma coisa e decido fazer uma refeição leve. Todos parecem não estar em casa, então volto ao quarto de Alison. Fico pensando sobre a história que Jacob me contou. Preciso saber mais sobre isso, mas não posso sair perguntando, ontem já foi arriscado demais. Me pergunto se não tem algum diário por aqui. O quarto de Alison está intocável, segundo sua avó, e alguém com a vida de Alison deve ter documentado isso. Se até mesmo eu tinha um diário sobre minha vida sem graça, imagine ela. Então começo a abrir gavetas, olhar debaixo do colchão, revirar o armário de Alison, mas não encontro nada. Se eu morasse nesse quarto, a metros de uma mãe maluca, onde eu esconderia meu diário? Vou até o closet de Alison e olho em bolsos de roupas, mas não há nada. Por fim, como um tiro no escuro, tateio com a mão entre os casacos dobrados. Encontro algo. Puxo para mim com cuidado, já que estou na ponta do pé, e parece ser maior do que pensei. Não é um diário. É um laptop cor de rosa. Lembro de ter visto um carregador dentro das gavetas enquanto procurava. Era justamente o carregador do Laptop. Coloco na tomada e espero alguns minutinhos para ligar. Não demora muito e logo aparece uma tela pedindo uma senha. Tento 1234. Tento 4321. Tento 0000. Nada. No fim, só sei que é uma senha de 4 dígitos. O aniversário de alguém, talvez. Tento então, o aniversário de Alison. Alison nasceu dia 25/08. Senha incorreta. Então me lembro do que Jacob me disse. Do que Alison era pra ele. Provavelmente, ele era o mesmo para ela. Pego meu celular e pesquiso por Jacob Le Blanc. Logo sua data de nascimento aparece. Estou quase deixando o celular de lado, quando vejo...eu. A foto que o paparazzi tirou de mim e Jacob na noite passada está em um site. Então o abro. A foto ficou boa. Estou segurando o braço de Jacob, rindo com as bochechas rosadas, e Jacob está olhando pra mim, rindo também. A matéria fala apenas que fomos vistos juntos no bar, parecíamos felizes e fala de um possível romance. A matéria também aponta que Jacob e eu não somos primos de primeiro grau. Agora assim, deixou o celular de lado e digito o aniversário de Jacob como senha: 14/10 Senha correta. E o laptop inicia. Conecto no Wi-fi, primeiramente e começo a fuçar. Primeiro olho as fotos. Fotos de Alison pequena com a família. É incrível o quanto somos parecidas. Encontro uma foto de Alison, Jacob, Kim, Jenifer e Emily. Todos pequenos, Jacob o mais alto e mais velho. Encontro uma foto de Alison com o pai. Se eu me achava parecida com Alison, é porque não vi seu pai. Tony poderia ser irmão do meu pai. Ele parece ser mais velho que meu pai, tem algumas características fortes diferentes, mas os olhos são cinza, como do meu pai. Continuo passando as fotos. Vejo todos nas fotos, menos Lisa. Continuo investigando. Dessa vez, os documentos de Alison. Acho trabalhos escolares, listas de afazeres, até que vejo um com o nome "Its my life". Abro então. Parece ser uma espécie de diário. Então começo a ler do começo. Dia 1 Meu nome é Alison Le Blanc. Minha família tem mais dinheiro do que precisa e talvez esse seja o motivo de eu ser tão infeliz. Começo esse diário hoje para ter em registro minha infelicidade. Sendo mais específica, começo esse diário sobre minha mãe. Hoje aconteceu algo estranho, e por isso resolvi começar a escrever. Hoje foi o dia do meu recital de balé. Eu estava animada, minha família também, apesar da mina mãe ter falado que eu não estava preparada e iria passar vergonha na frente de todos. Fiquei me sentindo muito m*l, mas Jacob disse que eu me sairia bem. Sentei com minha família na plateia esperando minha vez. E quando a primeira garota apresentou um número muito parecido com o meu, minha mãe a elogiou. Disse que ela estava linda e graciosa. Então, achei que dessa vez, eu não iria decepcionar minha mãe. Porém, quando subi no palco, ela me olhava como se eu estive já fazendo algo errado. Mas minha família parecia tão feliz, que comecei a dançar. E eu achei que fui muito bem. Meu avô me trouxe flores, todos me elogiaram e minha avó prometeu nos levar para comemorar. Minha mãe então, enquanto todos estavam ao meu redor, torceu o tornozelo. Ela disse que torceu, mas eu a vi caminhar normal. Minha avó a mandou ir pra casa, que ia me levar para comemorar, e ela começou a chorar, dizendo que ninguém ligava pra ela. Por fim, fomos todos ao hospital com ela, e quando estávamos sozinhas, ela fez questão de me dizer o quanto eu estava f**a, o quanto eu dancei m*l perto das outras. Então, hoje eu desisti do balé. É um diário longo. Alison parece ter pulado alguns dias, e outros são dias com menos conteúdo. Mas em todos os dias relatados, nem que seja uma pequena situação, Lisa destratou Alison. Continuo lendo até achar algo mais interessante, e encontro um dia que Lisa não foi má. Dia 19 Hoje minha mãe não gritou comigo. Não disse que estou f**a. Não me mandou passar alguma maquiagem, e eu até tirei uma foto sem precisar mostrar pra ela. Ela está me tratando normal, como se me amasse. Dia 20 Hoje minha mãe me trouxe um bolinho, sem comentários sobre o quanto eu estou gorda, mesmo eu achando que não estou. Dia 21 Hoje minha mãe me elogiou. Hoje, eu acho que ela me ama. Dia 22 Hoje não foi legal. É meu aniversário de 11 anos. Minha avó me deu uma pequena festa. Apenas para a família. Eu ganhei presentes. Um deles, são dois ingressos para ver Justin Bieber. Minha mãe ficou feliz e quis que eu a levasse, mas dessa vez eu achei que poderia levar alguém que eu quisesse. Que eu poderia ter essa escolha, já que ela estava sendo tão legal comigo. Eu estava errada. Falei que levaria uma amiga da escola e ela começou a falar coisas horríveis sobre minha amiga. Ela disse que eu deveria ser eternamente grata por ter ela como mãe e que eu gosto de ver ela m*l. No fim, eu me senti tão culpada que falei que ela poderia ir. Minha mãe rasgou meus ingressos, pois disse que eu fazia por pena, e ela era importante demais para se ter pena. Lendo tudo, consigo enfim entender Alison. Lisa é manipuladora, parece simplesmente não amar a própria filha. E Alison parece sentir culpa o tempo todo. Parece que Alison precisa merecer o amor de Lisa. Continuo lendo por muito tempo. Dia 102 É aniversário de Emily. Ela fez 9 anos hoje. Fomos todos para a casa da tia Anne. Batemos parabéns para Emily e ela ganhou vários presentes. E Irina abraçou ela. Eu não me lembro a última vez que minha mãe me abraçou. Não me lembro a última vez que eu mereci seu abraço. Jacob percebeu que eu estava triste e me trouxe um pedaço de bolo. Minha mãe disse que eu já estava gorda, mais uma fatia, faria o que? Coloquei a fatia de lado. Daqui dois meses é meu aniversário de 12 anos, talvez ela me deixe comer bolo. Se eu emagrecer até lá. Alison não era gorda. Alison era como eu era, uma criança forte, sem ossos a vista, mas dentro do peso para sua idade. Nunca nenhum parente meu ao menos mencionou que eu estava gorda. Não imagino como deve ser. Dia 165 Hoje é meu aniversário. Completei 12 anos. Eu não pude comer bolo, minha roupa estava apertada demais, meu cabelo estava muito volumoso e até mesmo minha pele estava branca demais. Minha mãe disse que eu não saí bonita em nenhuma das fotos, então, apagou todas. Jacob tirou uma foto minha e guardou pra ele. Disse que eu estava mais linda do que nunca. Eu sorri com isso. 12 anos. Foi a idade que Alison foi embora. Acredito que estou perto do dia que tudo aconteceu. Já está quase anoitecendo. Nem acredito que passei tanto tempo de frente com esse laptop. Antes de eu continuar a leitura, ouço batidas na porta. Rapidamente escondo o laptop embaixo do travesseiro. — Pode entrar! — Digo. A porta se abre, e Mary entra. — Querida, vamos jantar fora. Saímos em 40 minutos. Talvez não dê tempo de ler tudo hoje.
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