p**o o motorista assim que chegamos em frente a casa de Jacob. Mary me deu um cartão Black após me ver andando de taxi e tendo dificuldades para pagar o motorista uma vez, mas prometi usar apenas em ocasiões como essa.
Paro em frente a porta, ciente que meu rosto está vermelho, inchado e molhado. Eu desejo muito que seja Jacob a me receber, pois seria difícil explicar a situação atual para outra pessoa.
Eu mandei mensagem para ele, mas ainda não visualizou e sei que o parque fecha as 8 da noite, então ele já deve estar em casa. Toco a campainha enquanto tento me arrumar, quando finalmente a porta é aberta.
Não por Jacob. Mas por Irina, sua mãe.
Na mesma hora, a reação dela é levar a mão ao peito.
— Se não é um dejavu.— Ela diz. — O que aconteceu com você?
Irina parece preocupada, mas há um tom frio na sua voz, o mesmo que ela sempre tem comigo.
— Jacob está?
Irina balança a cabeça.
Ela então solta o ar pelo nariz e olha em volta.
— Não, ele ainda não chegou com as meninas. — Irina coça a cabeça, como se lago estivesse incomodando ela.
Como se eu estivesse incomodando ela. Então eu sinto uma raiva pulsando dentro de mim. Sei que raiva é direcionada a Lisa, porém no estado de embriaguez atual, acabo soltando em Irina.
— Escuta aqui! Você tem algum problema comigo? — Pergunto. Sei que estou falando alto, mas eu sinceramente não ligo mais. — Tem que ser essa rainha do gelo até mesmo me vendo assim?
No mesmo momento, Irina me puxa para dentro de casa e fecha a porta. Ela começa a me arrastar, sempre olhando em volta, e entramos dentro de um escritório. Ela só me larga quando tranca a porta atrás de si.
— Escuta aqui, você, garota. Eu sei que você não é a Alison, eu sei que você faz parte de algum plano m*****o de Lisa, eu soube no momento que eu te vi. Eu estou em contato com Alison há quase um ano e eu sei que ela ainda está na França.
Minha boca seca. Minha língua seca. Todas as ameaças de Lisa vem a tona , e agora, todas as consequências parecem reais.
— Eu...eu...— Tento falar, mas até as palavras parecem pesadas demais.
— Eu entendo você. Eu me casei por dinheiro, eu sei o que é ser uma vira-lata e ter a chance de se passar por uma c****a de raça. E eu quis fazer algo, mas eu vi que o que fosse que Lisa queria com você estava indo por água abaixo, e como ter Alison de volta fez essa família ganhar vida...fez Emily ganhar vida...
Claro. Minha aparição fez toda pressão que Emily sentia, sumir. Fez os mais velhos verem que ser jovem e diferente não é r**m.
— Não me entenda m*l, eu verdadeiramente amo todos, principalmente as meninas...e eu juro que estou tentando sabotar Lisa, mas é tão...
Irina então leva a mão até meu rosto. Ela suspira.
— Está acontecendo com você, não é? — Ela pergunta e eu assinto. — Achou que entrar pra essa família seria dinheiro fácil e agora está descobrindo a realidade. Acredite, eu entendo, e sinto muito por Lisa.
— Ela é h******l! — Exclamo e Irina pede silêncio. — E embora eu tenha sabotado todas as vezes que ela tentou se redimir comigo em público, descobri que eu estou fazendo parte de algo maior.
— Como assim?
— Hoje ela me apresentou a um tal de Bob Vance que deu a entender que os dois casariam e dariam um golpe de estado.
Irina bate com as pontas dos dedos no queixo. Está claro pra mim agora que eu estou com uma mulher extremamente inteligente na minha frente. Não sei se onde Irina veio, mas ela tem a sagacidade que só alguém que viveu poucas e boas tem.
— Bob Vance...da onde eu já escutei esse nome? — Ela então pega o celular e começa a digitar algo. — Aqui está! Bob Vance. Ele é um sócio minoritário anônimo da Le Blanc. Você sabe o que isso significa?
Embora meu cérebro esteja menos funcional que o normal, eu entendo exatamente o que significa.
— Lisa vai dar um golpe em Mary e Anne. — Digo.
— E ela está usando você pra isso. Alison vai herdar toda a parte de Mary da empresa, se ela tiver seu apoio, ela consegue convencer uma quantidade suficientes de sócios para dar um golpe.
Sinto minha cabeça girar.
— Então é isso que ela quer comigo? O apoio da filha? — Pergunto. Procuro um lugar para me escorar. — Bom, acho que ficar bêbada numa festa importante pra ela foi uma boa escolha então.
Irina anda de um lado para o outro, rapidamente. Suspeito que tão rápido quanto sua mente está trabalhando agora.
— Foi sim. E você vai fazer somente boas escolhas a partir de agora. Eu poderia ir lá e desmascarar você, acabar com toda essa farsa...
— Por favor, não...— É o que eu consigo falar, baixinho, quase como um gemido. Tenho as lágrimas entaladas na garganta.
— Ou podemos trabalhar juntas.
— Qualquer opção é melhor do que a primeira. — Digo.
Isso momentaneamente faz Irina rir.
— Trabalhamos juntos para acabar com a Lisa de vez. Descobriremos tudo que pudermos do plano dela e no fim, você some como sempre planejou.
— Parece uma proposta boa demais...o que tem nisso? Vou ter que devolver o dinheiro?
Irina pensa um pouco.
— Bom, talvez sim. Quanto ela te pagou?
— Cinquenta mil.
Irina levanta somente uma sobrancelha pra mim.
— Você tá de brincadeira? Por o que? Um mês? — Ela pergunta e eu concordo. — Esse não é o preço da bolsa mais barata que ela usa. Você está sendo explorada aqui.
Eu sabia que pela forma que Lisa aceitou os 50 mil rápido demais, algo estava errado. E agora, vendo a realidade dessa família, está bem claro que 50 mil dólares não é nada pra eles.
— Eu precisava do dinheiro. Meu gato quase morreu, estou atolada em dívidas e ainda estou sem trabalhar.
Irina levanta as duas mãos.
— Acredite, você não precisa se explicar pra mim. Pelo amor de Deus, eu não faria por menos de 300 mil. Não precisa devolver nada, aproveita um pouco os luxos, acredite, não é nada pra eles, mas tenho uma condição pra isso.
— E qual seria?
— Já te falei, eu casei por dinheiro, eu entendo bem você. Mas o meu filho vai ficar fora disso, estamos entendidas? Se eu souber que você e Jacob estão se envolvendo, eu entrego você.
Engulo seco.
— Jacob é apaixonado por Alison, não sei se consigo quebrar o coração dele...
— Por Deus, não. Não machuque meu filho. Apenas não se envolva e vá embora em seguida. Eu não sou um monstro que pediria pra você partir o coração do meu próprio filho.
Assinto.
— Eu posso fazer isso. — Digo.
Irina vira a cabeça levemente.
— Pode mesmo? O que veio fazer aqui mesmo? — Irina não está brava, em vez disso, ela está com um sorriso divertido no rosto.
Suspiro.
— Foi uma noite complicada.
Irina se aproxima um pouco e volta a tocar meu rosto.
— Lisa LeBlanc é um monstro e juntas vamos acabar com ela, tá bom? — Concordo com ela. — A propósito, qual o seu nome? É estranho para mim te chamar de Alison.
Então eu dou uma risada fraca.
— Meu nome é Alison. Alison Forbes.
Irina leva a mão a boca.
— Como isso é possível? Quer dizer, vocês não são idênticas, mas tem a mesma fisionomia. Os mesmos olhos, os mesmos lábios, o mesmo tom de pele, o cabelo indomável e quase que o mesmo corpo, sabe? E ainda assim, eu não saberia dizer qual das duas é mais bonita.
— Lisa achou o mesmo quando me viu no restaurante. — Digo.
Irina na mesma hora me questiona sobre e acabo contando a ela toda a trajetória até aqui. Algo nela me diz que posso confiar. Paramos de falar imediatamente quando ouvimos vozes. Parecem ser as meninas fazendo uma algazarra.
— Eles chegaram. — Irina diz. — Jacob havia tido um problema com o carro e Eric foi busca-los na mesma hora.
Percebo que as bochechas dela vão ficando vermelha na medida que os passos se aproximam, e quando ela escuta a voz de Eric, é até perceptível um sorriso.
— Pensei que tinha se casado por dinheiro. — Digo, brincalhona. Irina percebe que está com cara de boba e limpa a garganta.
— Eu casei. O que veio depois disso foi...surpreendente.
— Você casou com Eric pelo dinheiro e se apaixonou? Poderia ser mais perfeito? — Pergunto.
Irina dá de ombros.
— Eric e eu temos uma história. Nos conhecemos desde jovens, e eu sempre soube que merecia o dinheiro. Mas ele me fez perceber que eu também mereço o amor.
Balanço a cabeça concordando.
— Eu adoraria interpretar você num filme. — digo.
Isso faz Irina rir.
— Acho que meu limite é você interpretar um parente por vez.
Irina e eu conversamos até todos irem para a cama. Depois ela me tirou da casa em silêncio e voltei a mansão. Por sorte, Lisa não passou a noite em casa, então pude descansar no quarto de Alison. Resolvi escrever no laptop sobre o dia de hoje e assistir alguns vídeos antes de dormir.
Acordo no domingo com a luz irradiando pela janela. Acabei esquecendo de fechar as cortinas. O dia claro e bonito na vista de Bel Air me faz lembrar de que hoje faz 23 dias que estou aqui. Falta apenas uma semana para tudo isso acabar.
Então algo me surge. Enquanto eu relia todo o diário de Alison outro dia, eu descobri a data do aniversário de Alison.
Daqui 10 dias, Alison faz 20 anos. Na mesma hora, mando mensagem para Irina. Ela entende o que eu quero na hora. Adiantar o aniversário de Alison e fazer uma grande festa para toda a família para desmascarar Lisa parece ser a ocasião perfeita.