Passei a semana inteira revezando entre o apê e a mansão. Algumas vezes, eu deixava os dois de lado para ir com Jacob levar Harry para o parque. Incrivelmente o gato está mais interativo agora que recompensamos ele todas as vezes em que parecia mais a vontade. Acabou que nunca mais tocamos no assunto sobre o meu surto em fazer perguntas idiotas para ele, embora não estejamos mais nos divertindo como antes.
Já é sábado quando Lisa entra no meu quarto como se fosse dela. Quero dizer, eu sei que não é meu, mas a essa altura, é muito menos dela. Harry toma um susto e sobe em cima da escrivaninha de Alison.
— Acorda, princesa, vamos sair hoje. — Ela fala já puxando a coberta de cima de mim.
Lisa está arrumada, maquiada e até calçada. Entendo bem pouco a necessidade de um saldo alto para andar dentro de casa.
— Onde vamos? — Pergunto coçando os olhos. Apanho meu celular para ver a hora e m*l passa das 8 da manhã.
— As compras. Hoje eu tenho um evento de caridade para ir. Mais uma aparição para você, e você vai falar bem de mim para todas aquelas pessoas importantes. — Lisa começa a caminhas dentro do quarto, com o barulho insuportável dos seus saltos no chão. — E principalmente, Bob Vance.
Sento na cama.
— Quem é esse aí? — Pergunto.
— Alguém com muito dinheiro que precisa gostar muito de mim. Vamos, é um evento vespertino.
Suspiro. Sei que Lisa está tramando algo, mas algo me diz que é bem melhor eu estar por dentro disso, do que por fora.
Me levanto e vou ao banheiro tomar um banho. Lisa aguarda no meu quarto enquanto mexe nas coisas de Alison. Por sorte, tenho o Laptop dela num lugar bem escondido que apenas ela e eu acharíamos.
Após o banho, visto uma camisa básica, um jeans largo e rasgado e tênis. Se ela quer ir as compras as 8 da manhã para um evento de tarde, vamos caminhar bastante.
E foi dito e feito.
Já eram 1 da tarde quando finalmente paramos para almoçar sem ter comprado nada, pois segundo Lisa, tudo que eu vestida me deixava gorda demais, ou extravagante demais, ou só demais, num sentindo r**m.
Eu odeio o fato de ela criticar tanto o meu corpo. Hoje ela falou que meus braços são muito gordos para alcinhas, que minhas coxas são muito grossas para uma minissaia e que deus me livre de algo marcando meu quadril. Foi absolutamente humilhante ouvir todas aquelas criticas, e ela ainda fazia questão de pedir roupas com numeração 34.
Nem ela mesma veste esse número.
Eu visto 36. As vezes 38 para ficar mais confortável, e mesmo eu falando isso diversas vezes, as vendedoras apareciam com roupas menores.
Sentamos em uma mesa num restaurante bem arejado. O lugar é lindo, todo decorado com plantas e uma boa distribuição de cores claras.
Lisa e eu olhamos o cardápio. Acabou que eu não consegui tomar café da manhã, então estou faminta. Lisa pede uma salada com molho, o que embora pareça saudável, sei que não é bem assim. E eu pedi um dos maiores hambúrgueres da casa. Na mesma hora, Lisa mandou o garçom cancelar e pediu uma salada para mim também.
Após almoçarmos, Lisa finalmente encontrou a roupa perfeita, segundo ela. Um conjunto super formal, com uma calça de cano curto, uma blusinha e um blazer. Bem feminino e chique.
Tudo no mesmo tom de azul.
Por sorte, nessa loja não havia mais o número 34, então Lisa foi obrigada a aceitar um 36. Ela finalizou o look com um salto preto e pagou.
Passamos no salão de beleza, pois segundo ela, algo tinha que ser feito na moita que eu carregava na cabeça. Lisa mandou alisar ao extremo até o último fio de cabelo na minha cabeça. Eu particularmente, odiei. Achei que perdi 70% da minha personalidade nisso.
Quando voltamos a mansão, encontro Jacob me esperando na sala. Lisa olha para ele, mas desvia o olhar quando o mesmo se levanta, e então, segue em frente.
Jacob me recebe com um carinhoso beijo no rosto.
— O seu cabelo tá diferente...— Ele fiz analisando de olhos semicerrados.
— Pode dizer f**o, eu deixo. — Digo abrindo um sorriso divertido.
Jacob retribui.
— Eu não diria f**o, apenas diferente.
— Diferente de mim.
Jacob passa os dedos numa mecha de cabelo e eu quase consigo sentir seu toque.
— Então...o que traz você aqui? — Pergunto.
Jacob estala os dedos.
— Vim buscar você, estamos indo agora ao Six Flags, as meninas já estão no carro.
Suspiro.
Eu sempre quis ir ao Six Flags. Não é tão caro, cerca de 80 dólares o passe mais barato, mas é tão longe que acaba ficando o triplo do valor.
— Eu...eu gostaria muito de ir. Mas não posso.
Na mesma hora, Jacob endurece as feições. Ele olha para as sacolas nos meus braços.
— Por que não? — Ele pergunta, e me parece estar com medo da resposta.
— Eu prometi a Lisa que acompanharia ela num evento.
Jacob balança a cabeça.
— Quer dizer que depois do que eu vi, você ainda vai fazer favores pra ela?
Sim, pois essa é minha vida agora.
— Me desculpa, eu vou outro dia com vocês, prometo. — Insisto, tento tocar Jacob, mas ele desvia.
Ele me olha como se não me reconhecesse e isso me machuca duramente.
— Quer saber? Vai pra sua festa com sua mãe. Divirta-se com a pessoa maravilhosa que ela é.
Jacob dá as costas para mim e só não bate a porta pois o mordomo abre e fecha pra ele.
Merda!
Logo hoje! Por que Jacob teria que aparecer aqui hoje? Por que Lisa tinha que me ocupar hoje?
Perto das 4 horas, vou me arrumar. Visto a roupa, faço uma maquiagem básica e me perfumo. Lisa e eu saímos logo em seguida.
— Que cara é essa? — Ela pergunta dentro do carro.
— Nada, só estou um pouco triste. — Respondo.
— Pois trate de ficar feliz.
Fomos até a outra parte da cidade. Uma parte que eu também nunca andei. Enquanto Bel Air é repleto de mansões, esse lugar é repleto de super coberturas tão caras quanto. E o evento é numa dessas.
Somos recebidas pelos anfitriões. O lugar todo está decorado sofisticadamente para um evento vespertino. Lisa, por uma hora inteira, me apresenta para todos os convidados. Até que chegamos num senhor alto e esbelto.
— Oh! Senhor Vance! Que surpresa! — Lisa diz afetada. Ela leva a mão ao peito. — Como vai?
— Vou muito bem, e você? — Ele pergunta.
— Bem, obrigada. Deixa eu apresentar minha filha, Alison Le Blanc. Alison, esse é Robert Vance.
Levanto a mão para cumprimentar o homem e ele a agarra forte, balançando pra cima e pra baixo.
— Olha só, que graciosa, vai ser um prazer negociar com essa parte da família Le Blanc. Me chame de Bob.
— Negociar? — Pergunto.
O homem abre um sorriso só dentes. Bob não é um homem atraente. Seus cabelos ainda não decidiram que parte vai começar a ficar branca primeiro, então há uma desigualdade alarmante nos cabelos que restaram na cabeça. Ele tem muitas rugas e é tão magro que o terno parece caber dois dele.
— Casamento também são negócios, uma bonita maneira de dar um golpe de estado, não acha?
Na mesma hora, me viro para Lisa, que parece nervosa.
— Ahn, Bob, que tal conversarmos perto daquela bela estatua de gelo? Você gosta de arte, não é? — Lisa põe a mão detrás das costas do homem e começa a encaminha-lo.
— Eu adoro obras de arte, mas tenho um maior apego a arte históricas, confesso. — Eles já estão longe quando me dou conta do que aconteceu.
Lisa pretende se casar? Por que ela se casaria com esse homem? Por poder e dinheiro, certo. Mas qual o interesse dele? O que ele quis dizer com golpe de estado.
Sinto um gosto amargo na boca com as teorias que minha cabeça está criando.
Por que ela precisa de mim para isso? Se ela acha que casar com um homem poderoso é p bastante para dar um golpe em toda família Le Blanc, está bem enganada.
Talvez ela saiba disso. E Bob também. E agora ela tem a mim, principal herdeira da fortuna de Mary e provavelmente da empresa.
Lisa me disse que Mary deserdou ela, então quanto da fortuna realmente iria para Alison?
Toda?
Isso não está cheirando bem e eu estou ficando com dor de barriga só de pensar que estou contribuindo com algo.
Começo a evitar Lisa. Com isso, acabei conhecendo a festa inteira. Principalmente o bar. Embora passem alguns garçons aqui e ali com taças de champanhe, eu descobri uma mina de outro. Simplesmente o bar, com um barman que sabe preparar absolutamente tudo que eu pedir.
Acabei até me divertindo provando os diversos sabores diferentes, com diversas frutas diferentes.
Nunca pensei que gostaria de um drink de pitaya, mas aqui estou eu, tomando até a última gota. E acho que o próprio barman gostou de preparar todos esses drinks, já que eram poucos os que vinham fazer um pedido. Em geral, homens vinham pegar uma dose de Whisky.
Já era noite quando eu decidi que estava bêbada o suficiente para ir embora. Peguei meu celular para chamar algum
Uber, quando vejo que tem mensagens de Kim. Ela me mandou fotos no parque. E Jacob está em todas.
Murcho na cadeira.
Na mesma hora, vejo Lisa me procurando. Levanto da cadeira, tentando não chamar atenção e caminho até o banheiro.
Por sorte é perto, mas acabo esbarrando em duas mulheres no caminho. Na mesma hora, olho para trás e vejo que Lisa me encontrou.
Aperto o passo até o banheiro mas antes que eu pudesse entrar, sinto um puxão no braço. Lisa começa a me arrastar para uma parte escura da festa e só para quando estamos longe de qualquer pessoa.
— O que você está fazendo? — Ela me pergunta.
— Eu só...eu só queria ir ao banheiro. — Digo tentando parecer o mais sóbria possível.
Não tenho muita experiência nisso, já que nunca precisei realmente fingir para ninguém. Mas eu sou uma atriz, acho que eu posso interpretar uma pessoa sóbria.
— Você tá bêbada? — Lisa pergunta, sussurrando alto.
Ou gritando baixo.
— Não, eu só...— começo a falar e então recebo o baque. Um t**a de mão aberta bem no centro da minha bochecha esquerda.
Levo a mão no rosto imediatamente, sentindo o ardor ao toque.
— Você acha que eu estou brincando com você? Que isso tudo é uma grande brincadeira? Vá pra casa, eu não quero você me envergonhando na frente de toda essa gente. — Lisa diz e dá as costas pra mim.
Meu rosto está pulsando e eu não tenho outra reação a não ser, chorar. Um misto de sentimentos me atingem. Eu quero gritar e sumir daqui e ao mesmo tempo, me sinto...oprimida por Lisa.
De onde eu estou, encosto minhas costas na parede e deslizo até o chão. Agarro minhas pernas e choro o quanto eu preciso.
Não sei quanto tempo depois, finalmente me levanto e vou atrás de algum taxi na rua. Quando entro em Bel-Air, o motorista me pede instruções e eu automaticamente dou as coordenadas da casa de Jacob.