Capítulo 5

3141 Words
Chegamos em Bel Air já de noite. E eu nunca vi nada parecido. Nunca em toda minha vida, eu vi tantas mansões num só lugar. Das mais modernas até as mais coloniais. Todas são incríveis e lindas, com jardins impecáveis. E Lisa me tira dos meus pensamentos, cutucando minha costela. — Teremos um jantar pra você, hoje. Para comemorar sua chegada. Todos estarão aqui. Assinto. Estou vestida numa saia quadriculada de uma marca que não sei pronunciar o nome. Uma blusa branca com mangas cheias e um pequeno decote, acessórios de prata e um sapato que Lisa disse ser simples, mas é um Chanel. No meu colo, Harry dorme dentro da sua bolsa chique. E logo, o carro estaciona, na frente de uma das casas mais incríveis que vi na vida. Ela é toda moderna, dá pra ver. Deve ter uns três andares, com jardins nas sacadas e um quintal enorme ao redor. — Chegamos à casa LeBlanc. — Lisa avisa. O motorista agora, abre minha porta. Lisa segura meu braço e me arrasta com ela enquanto ajeito a bolsa de Harry nos meus braços. O motorista começa a tirar as malas do carro e vamos todos juntos até a entrada da casa. — Nervosa? — Ela pergunta. — Até que não. — Digo dando a ela um sorriso, completamente nervosa e surtando por dentro. E Lisa toca a campainha. Logo a porta se abre. Um homem vestido num libré nos cumprimenta e nos anuncia para dentro da casa. Acho engraçado eu lembrar do nome da roupa dele. Lembro de ter estudado isso nas minhas aulas de francês, na escola e desde que Lisa despertou minha curiosidade, tenho das uma olhada aqui acolá nas minhas anotações antigas de francês. — Lisa e Alison, senhora. — O mordomo anuncia abrindo a porta para nós. Escuto vozes animadas. — Ah! Minha neta! Que alegria! — Uma voz diz se aproximando. A verdade é que a casa é imensa. E o mordomo nos encaminha até o que parece ser uma sala de jantar. De cara, já recebo um abraço. Mary passa os braços por cima do meu e me aperta contra ela, e a mulher é maior que eu. — Alison, querida, você encolheu? Está tão linda! — Ela desfaz o abraço, mas ainda bem próxima de mim, analisa meu rosto. Abro um sorriso gigantesco pra ela e a puxo para mais um abraço. — Vovó! Que saudade que eu estava da senhora! Sinto ela sorrir mais ainda — Olha só, como minha netinha cresceu...bom, não muito, né? Sempre achei que você ficaria da altura da sua mãe. — O homem que deve ser meu avô, se aproxima e me dá um beijo na testa. Mary dá um leve t**a no braço do homem. — Ela é perfeita como ela é. — Ela diz e vejo os cantos dos seus olhos se encherem de lágrimas enquanto ela me olha. Agora consigo visualizar melhor a sala de jantar. Imagino que Alison tenha crescido aqui, então, tento não parecer completamente encantada com o lugar. Tem várias pessoas na mesa nos olhando, rostos que eu deveria conhecer, então tento não parecer impactada com tantos rostos bonitos. Uma senhora se levanta e abre os braços até mim. Acredito que seja a tia de Lisa. Minha tia Anne. — Tia Anne! — Exclamo e dou um abraço na senhora. — Oh! Que alegria você aqui! Ela e Mary entram numa conversa sobre como eu estou mais velha e Phillip, meu avô, sorri pra mim e volta para a mesa. — Mãe, por favor, Alison está cansada, com fome...Vamos logo começar esse jantar. — Lisa interrompe elas. Então várias pessoas da mesa se levantam. — Não sem antes eu dar um abraço na minha sobrinha. — Um homem muito bonito diz entre as pessoas. — Sim, tia Lisa, deixa a gente abraçar nossa prima! E então, meu cérebro começa a associá-los as fotos. O primeiro a me cumprimentar é Marc. Tio Marc. Irmão de Lisa, deve ter seus 35 anos e é muito bonito. Ele tem cabelos escuros, um sorriso perfeito claramente comprado e olhos claros. Alison e ele deveriam ter certa i********e quando mais jovens, pois ele me dá um abraço caloroso e quase chora falando sobre como era divertido quando saiamos juntos. Depois, duas jovens garotas vêm em minha direção. São Jenifer e Kim, com seus 14 e 16 anos, respectivamente. Elas tinham metade da idade quando viram Alison pela última vez então começo a falar o quanto elas cresceram e quando elas começam a me perguntar se tenho namorado ou se estou ficando com alguém, decido que elas são duas pentelhas que não vão me deixar em paz por um mês inteiro. Logo, seu pai, Archie, primo de Lisa que acredito que devo chamar de tio, já que todos se tratam assim aqui, empurra as meninas para longe de mim e me olha como se dissesse "É, elas são difíceis, desculpe por isso." Dou a ele um sorriso caloroso e o cumprimento. E por último, Eric, irmão de Archie e primo de Lisa. Ele me dá um cumprimento educado e se junta a esposa, que apenas acena pra mim. — Bom, podemos? — Lisa bate uma palma e olha para todos. — Não seja boba, Jacob e Emily ainda não chegaram e ele está doido para ver Alison. — Anne diz. Kim e Jenifer se olham e fazem "hummm" baixinho. Mas alto o bastante para que todos ouçam. Elas levam um olhar repreensivo do pai, mas aparentemente, não dão bola. Jacob Le Blanc. Gostaria de ter tido tempo de estudar mais essa família. Não tenho muitas lembranças sobre esse rapaz em específico, mas acho que já vi alguma revista ou matéria da internet falando sobre ele especificamente. E pelo que me lembro, não era algo bom. O mordomo volta a sala de jantar. — Jacob e Emily, senhora. — Ele anuncia a Mary. E então, uma garota pequena e magra aparece na sala. Ela é tão linda quanto a foto que Lisa me mostrou. Consigo ver várias das semelhanças dela com a mãe. E a mistura de uma mulher que parece uma modelo italiana com um homem com uma típica beleza californiana resultou em Emily. Ao contrário das primas, Emily não simpatiza tanto comigo. Ela apenas acena e se junta aos pais. — E Jacob? — Irina, sua mão, pergunta. — Logo atrás de mim. — Emily responde indiferente, como se estivesse no automático. —Alison. — Ouço uma voz grave chamar meu nome. Minha atenção estava toda em Emily e não vi que Jacob já estava na sala de jantar, olhando para mim fixamente. Limpo a garganta, e então reajo da forma mais calorosa que consigo. — Jacob! — Exclamo e vou ao seu encontro, dando a ele um abraço quase desajeitado. Ele retribui e então, tira a bolsa de Harry da minha mão. Levanta Harry até a altura do seu rosto, e pelos furos na bolsa, ele olha para meu gato. — Uau! Andando por aí com um gato gordo e f**o, realmente quase não te reconheço. — Ele diz olhando Harry. — Harry não é f**o! Ele até é um gato de beleza mediana. — Defendo meu gato, já tendo uma péssima impressão sobre esse Jacob. Então ele põe a bolsa no chão, abre o zíper e deixa Harry livre. — Ahn...Jacob, deixe o gato preso, vamos jantar. — Irina diz, lá longe, bem longa da nossa conversa, mas incrivelmente acha que está participando. — Pelo amor, olha o tamanho desse gato, deve estar claustrofóbico dentro da bolsa, deixe que ele conheça a casa. — Jacob passa a mão na cabeça de Harry, que sai da bolsa e começa a se esfregar nele. Gato burro, esse homem acabou de te chamar de f**o e gordo. Se bem que Harry realmente está parecendo um balão, e essa sua cara amassada não é uma das suas melhores qualidades. Mas chego a rir quando Jacob diz que Harry devia estar claustrofóbico. Gatos não tem claustrofobia, se tem uma coisa que eles gostam, é se enfiar em lugares que não cabem. Harry diversas vezes já ficou preso em vasos de plantas, potes, caixas muito pequenas...Em parte, por ele ser muito desastrado. — Ele é uma graça, querida. — Mary diz a mim. — Podemos comer agora? — Lisa pergunta, colocando a mão nas minhas costas e me empurrando em direção a mesa. Me sento ao lado dela, e pra minha surpresa, Jacob se senta no meu outro lado. Todos então começam a se acomodar nas cadeiras. Mary manda a comida entrar, e então, na minha opinião, um show começa. Obviamente, apenas a minha opinião, afinal ninguém está dando a mínima para empregados saindo de todos os lados com pratos divinamente lindos nas mãos. Logo, tudo está na nossa frente. Algumas pessoas conversam, sem dar atenção aos empregados que tentam servi-los. Os pratos são enormes, mas a quantidade de comida é inversamente proporcional. Pequenas porções de folhas, algum tipo de vegetal com molho e algo pastoso, como um purê. E assim, um dos empregados servem meu prato. Olho para o restante da mesa, ainda tem diversos tipos de comidas intocados, mas todos começam a comer, então dou uma garfada nas folhas e coloco na boca. O sabor é normal, apenas uma junção de espinafre e outras folhas. Sinto meu rosto esquentar por algum motivo e então, percebo que Jacob me olha. Ele tem um sorriso divertido no rosto que me faz sentir uma...pobre. Isso mesmo, com a boca lotada de espinafre e um homem simplesmente lindo me olhando sorrindo, me sinto completamente deslocada. — O que está fazendo, Jacob? — Pergunto a ele, quando termino de mastigar. — Apenas me perguntando se você se lembra da nossa última conversa. Merda. Talvez eu esteja errada e Jacob seja uma preocupação, não há como Lisa saber o nível de i********e que Alison e Jacob tinham. — Claro que lembro. — Respondo a ele e encho a boca novamente, dessa vez com o vegetal. Assim, tenho um tempo para pensar o que diabos vou dizer a Jacob. — Você ainda pensa assim? — Ele me pergunta. Assim como? Tento colocar a cabeça para funcionar. Alison e Jacob tiveram um pequeno romance. Se casaram quando crianças, talvez a última promessa deles tenha sido uma promessa de amor. E isso, eu preciso evitar ao máximo. — Bom...não. Sou uma pessoa diferente hoje, não sou mais a Alison que você conheceu. Você entende? — Tento soar amigável, mas ainda assim, estou dando um fora nesse homem lindo. Completamente fora da minha zona de conforto. Jacob assente apenas, e então, se vira para o prato. Mas, antes que eu possa continuar comendo, ele volta a me olhar, dessa vez de uma forma diferente. Tento ignora-lo. Mais rápido do que eu gostaria, termino meu prato. Logo sinto algo peludo passando pelas minhas pernas e sei que Harry está embaixo da mesa. Consigo ver exatamente por onde ele passa, apenas prestando atenção nas pessoas tomando um susto com ele. Logo, uma quantidade maior de pessoas termina de comer e os empregados começam a retirar os pratos. — Então, Alison, como é a França em Junho? — Pergunta um dos meus tios. Dou de ombros. — É bom. A temperatura fica mais amena, se parece mais com aqui. — Respondo a ele. — Interessante. Achava que Paris era frio o ano todo. — Essa agora é minha prima mais nova. A mais velha, então, se vira pra ela. — Na verdade, as estações em Paris são bem definidas. E realmente nessa época do ano, está mais quente. Fico aliviada por ter estudado ao menos em básico de Paris, já que tenho uma sabe-tudo na mesa. — E como são as pessoas lá? — A mais nova me questiona. — Os franceses são...interessantes. São pessoas com muitas emoções, por assim dizer. — Digo a ela. — Alison, isso sabemos pois todos assistimos Emily em Paris. Conte coisas que não sabemos. — A mais velha me olha com expectativa. Merda. Fui descoberta. A verdade é que meu estudo sobre Paris foram 2 temporadas de Emily em Paris. Limpo a garganta, agora, todos estão me olhando. — Pouca gente sabe, mas, Paris é superestimada. O verdadeiro tesouro da França está em Nice. Tive a oportunidade de conhecer no ano passado e vocês não podem ir a França sem conhecer esse lugar. Várias pessoas da mesa balançam a cabeça, satisfeitas. Inclusive Lisa. Até eu tenho vontade de fazer isso, tirei essa informação de uma das minhas aulas de francês...ou geografia. Ou foi de um livro? Então, os empregados voltam e me servem um novo prato. Dessa vez, mais cheio. Acredito que o purê e as verduras tenham sido entrada. E agora, temos o prato principal. Um pedaço grande e gordo de carne para mim. Do jeitinho que gosto. Um molho escuro por cima e uma porção de salada. Nem todos tem o mesmo prato que o meu, algumas pessoas estão comendo algo que parece ser cogumelos. Kim, Jenifer, Archie e Irina. E parecem estar maravilhados com o prato. — Então, vocês não gostam de carne? — Pergunto as minhas primas. Primas de Alison. — Jenifer e eu adotamos o Veganismo há 2 anos. — Kim, a mais nova, responde. — O papai ainda é apenas vegetariano, ele começou tem apenas alguns meses, e é melhor começar assim. — Jenifer explica. — Já Irina, é vegana há 5 anos. — Uau. É uma atitude muito honrosa. — Digo a todos. Então, sinto algo se movimentando suspeitamente ao meu lado, e pego no flagra Jacob dando um pedaço de carne para Harry. Sem pensar direito, dou um tapinha no seu braço. — Não! Não dê carne pro Harry, ele está cirurgiado e precisa emagrecer o mais rápido possível. Jacob rapidamente recolhe a mão com o susto. — Ai! Eu não sabia, para ele ser gordo assim, no mínimo deve comer tanto quanto você. Levanto as sobrancelhas pra ele. Não sei se ele me insultou. O tom dele não foi acusatório ou nada do tipo, mas eu senti um insulto reprimido, ainda mais com meu prato quase vazio novamente enquanto todos ainda estão na metade. Decido, por fim, não dar bola a Jacob. Obviamente ele está magoado por eu dar o fora nele, bem aqui. Seguimos todos com uma conversa divertida sobre Kim e Jenifer, até que todos terminam de comer, os empregados retiram os pratos e logo servem a sobremesa. Um tiramisu. Eu amo tiramisu. Mas esse não é nada comparado ao tiramisu de Crystal Rhodes. Hoje, aqui, sentada nessa mesa, a minha vida de garçonete parece outra vida. Logo o jantar se encerra. Mary dispensa todos, para que eu possa descansar e me mostra meu quarto. O quarto de Alison, que ela afirma estar exatamente como ela deixou. Como eu deixei. Há 7 anos. Conhecendo esse quarto, consigo conhecer melhor Alison. É um quarto colorido com cores pastéis, onde o verde se sobressai. Tem uma cômoda com espelho e alguns acessórios, uma escrivaninha, um lindo tapete no chão e vários quadros e nichos nas paredes, decorando o quarto. É apenas o quarto dos meus sonhos. Quando eu tinha 12 anos. — Nossa, é como voltar 7 anos. — Digo a Mary. Ela abre um sorriso materno e me dá um último abraço. — Seja bem-vinda de volta a sua casa. Vocês dois. — Ela diz a mim e então, dá uma olhadinha para Harry, que aproveita a cama de Alison primeiro que eu. E ela me deixa só. Respiro fundo. Esse mundo é completamente diferente do meu. começo a arrumar minhas coisas nos armários e as coisas de Harry também. Tomo um banho quente, mesmo a noite estando agradável, visto um dos pijamas que compramos hoje e me jogo debaixo dos lençóis. É inimaginável pra mim que essa sensação realmente exista. A sensação de um tecido caro e comportável tocando minha pele, juntamente com lençóis extremamente confortáveis, nem parecem os meus, que dá para enxergar através deles de tão finos. Harry se aninha ao meu lado. — É amigão, é assim que descobrimos o quão pobre somos. Ouço algumas batidas na porta. Levanto-me e vou até lá para abrir. Lisa entra no meu quarto, bastante familiarizada com o lugar e já se senta em uma das cadeiras, da pequena mesa de Alison. Me junto a ela. — Então...— Começo, mas já sou interrompida. —Você foi mágica. Foi mais Alison do que minha Alison. Devo dizer que cada nota gasta com você valeu a pena. — Ela diz abrindo um sorriso. Imediatamente, sorrio também. Pois eu também acho que fui muito bem essa noite. — Mas — Lisa continua. — Precisa se comportar melhor. Comeu que nem uma sem-teto. Talheres são de fora pra dentro, tenha postura, sem cotovelos na mesa e pelo amor de Deus, mastigue a comida antes de engolir. Pisco algumas vezes. E faço o que fiz mais cedo. Fui a filha perfeita de Lisa. — Você está certa. Vou tentar melhorar. Lisa relaxa os ombros. Ela olha ao redor, como se lembrasse de algo. — Sabe, sinto falta da criança que costumava viver aqui. — Talvez ela também sinta falta de você. Lisa balança a cabeça. — Acredite, eu morri para Alison. E se minha mãe souber, eu vou morrer para ela também. Lisa se levanta e vai embora. O que diabos ela fez que deixou Alison tão furiosa? Eu entendo Alison de certa forma, Lisa é uma pessoa repugnante, porém, nas raras vezes que ela acaba parecendo ao menos uma pessoa normal, eu sinto pena dela. E odiaria descobrir que estou sentindo pena de alguém que possa ter feito algo tão h******l que a filha a odeia eternamente. Decido deixar isso de lado e voltar para cama, amanhã tenho um longo dia. Talvez esse trabalho não seja tão difícil. Talvez eu consiga sair desse lugar inteira, com meu dinheiro e voltar a minha vida simplista. Já de olhos fechados, meus pensamentos que estavam quase se dissipando para dar lugar a algum sonho, são interrompidos por algum barulho vindo do lado de fora da minha janela. Me levanto devagar, Harry fica à espreita. Com cuidado, empurro a cortina e quase caio para trás, ao ver Jacob no lado de fora da minha janela, que fica no 2° piso da casa. — Mas que p***a é essa? — Não consigo evitar o palavrão. E Jacob mesmo, ri. Ele aponta para a trava na janela e eu abro-a. Confusa, fico esperando alguma explicação quando o homem de 1,85 entra pela janela, mas ao firmar os pés no chão, Jacob vem na minha direção, puxa-me e cola os nossos lábios num beijo forçado. Completamente forçado. Eu não queria. Eu não quero. Então por que diabos eu estou o beijando de volta?
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